A biblioteca digital
José Rincon Ferreira
As Bibliotecas Digitais
As novas tecnologias, as infovias, a globalização, o acesso à informação sem fronteiras e à
produção reconceituada como conhecimento exigem um novo compor-tamento centrado na
competitividade/cooperação, na qualidade e no aprendizado. Esse novo comportamento repousa sobre a
informação, fator básico do "setor conhecimento" da economia. Nesse contexto, os centros de documentação
e informação, arquivos e bibliotecas são componentes econômicos essenciais.
Cada país possui uma infra-estrutura de informação que pode elevar a qualidade de vida de
seus integrantes. As novas tecnologias de redes que distribuem a informação estão sendo usadas
para solucionar um número grande de necessidades das sociedades modernas. Esse mercado global
conta com novos sistemas de informação que podem efetivar alguns dos projetos de desenvolvimento
nacional.
A convergência dos avanços na computação e nas tecnologias de comunicação tem tido um
impacto significativo na maneira como os sistemas de informação estão sendo criados, administrados e
utilizados. As bibliotecas, especificamente, estão incorporando novas políticas de desenvolvimento
de suas coleções e disponibilizando novos produtos e serviços de informação na Internet.
Muitas bibliotecas têm alcançado o nível de bibliotecas digitais ao usarem sistemas
on-line. Segundo Lucier (1995) e Fox (1995), elas têm incorporado:
· serviços humanos (como publicações eletrônicas, pessoal especializado e educação a distância);
· conteúdo (fontes primárias, comunicação informal, textos eletrônicos);
· ferramentas (para uso no
browser escolhido);
· novos tipos de recursos de informação;
· novas propostas de aquisição;
· novos métodos de armazenagem e preservação;
· novas formas de classificação e catalogação;
· e novas formas de interação com os usuários.
A maioria dos autores é unânime em afirmar que o que define uma biblioteca como sendo
digital é o fato de consistir em várias bibliotecas e não em uma universal e suas tarefas básicas serem
as responsáveis por seu caráter transformador. Algumas dessas tarefas são:

· criar um ambiente compartilhado que conecte os usuários à coleções de informação
pessoal, coleções encontradas em
bibliotecas convencionais e coleções de
dados usadas por cientistas;
· desenvolver interfaces de informação gerais ou especializadas relevantes aos seus usuários;
· prover acesso a um grande número de fontes de informação e coleções de qualidade, ambas
em versões on-line, integrando-as com os objetos físicos da informação;
· promover um ambiente que permita a experimentação e incorporação de novos serviços e produtos;
· facilitar a provisão, disseminação e uso da informação por instituições, grupos e indivíduos;
· armazenar e processar informação em múltiplos formatos, incluindo texto, imagem, áudio,
vídeo, 3-D, etc.;
· e intensificar a comunicação e colaboração entre os sistemas de informação para benefício da
sociedade em geral.
Para Steele (1995), a biblioteca digital é claramente o paradigma da "sociedade da
informação"e uma resposta das bibliotecas ao fenômeno da explosão informacional.
O que está sendo considerado é a necessidade de uma avaliação das novas atividades, visando:
· os riscos que o uso da rede representa;
· as oportunidades para a melhora na qualidade dos serviços e produtos;
· e as múltiplas tarefas que os bibliotecários enfrentarão ao lidarem com esta nova tecnologia e
sua crescente demanda.
A passagem da biblioteca tradicional para a biblioteca digital parece estar sendo uma das
melhores opções para que os sistemas de informação proporcionem um apoio real no aumento da qualidade
da educação e no desenvolvimento científico e tecnológico de uma sociedade.
Foi nos Estados Unidos onde fun-cionaram pela primeira vez bibliotecas digitais, resultado
de vários anos de pesquisa e de grandes investimentos por parte do governo e do setor privado. Desde
o início, as universidades, bibliotecas e outras instituições centradas na recuperação e difusão do
conhecimento fizeram parte dos projetos de bibliotecas digitais.
A idéia inicial desses projetos foi fazer sistemas de informação através dos quais as
pessoas pudessem conectar-se com bibliotecas e bases de dados remotos usando uma rede de
computadores como meio de ligação.
Algumas dessas iniciativas são:
Em 1995, com o avanço tecnológico das bibliotecas digitais e reconhecendo a importância
crescente que os sistemas de informação em rede estão tendo, o governo dos Estados Unidos através da Library
of Congress estabelecia The National Digital Library Federation composta por 14 bibliotecas e arquivos,
a Commission on Preservation and Access e a National Archives and Records Administration. A
Federação consta de dois grupos de trabalho: o encarregado pelas políticas e diretrizes e o encarregado pela
parte técnica e administrativa. O trabalho da Federação tem tido como base um plano que incorpora todos
os projetos de bibliotecas digitais naquele país, dentro de um grande corpo de recursos de
informação disponível irrestritamente.
Essa iniciativa está sendo repetida na Europa e em outros países que, igualmente, reconhecem
que todos os projetos de bibliotecas digitais encontrados na Internet possuem a qualidade de reunir
um grande número de instituições privadas e públicas desejosas de dar acesso a informações
próprias e alheias através da rede.
De maneira geral, essas instituições procuraram identificar tecnologias que se adaptassem
às necessidades dos seus usuários e aos seus orçamentos. Devido ao alto custo desses
empreendimentos, elas decidiram fazer projetos em parceria com editoras, universidades, empresas,
fundações e órgãos de pesquisa. Mais uma vez está sendo comprovado que o intercâmbio e a cooperação
entre sistemas de informação será o fator que impedirá a duplicação dos esforços, como está
acontecendo no caso da digitalização de coleções.
Alguns dos serviços e produtos que estão sendo disponibilizados por esses projetos de
bibliotecas digitais são:

O estado atual das Bibliotecas Digitais no Brasil
No Brasil as bibliotecas digitais têm se convertido em um dos tópicos mais atuais entre os
profissionais da informação. É um fato reconhecido que as bibliotecas digitais revolucionarão a
maneira como estudantes, professores, pesquisadores e cidadãos comuns acessarão e usarão a informação.
Até maio de 1997, a Secretaria Técnica do Grupo de Trabalho/Bibliotecas Virtuais do
Comitê Gestor Internet/Brasil identificou um total de 190 bibliotecas brasileiras com
sites na Internet. Os endereços eletrônicos estavam distribuídos por estado de acordo com a
Tabela 1.
A distribuição geográfica não faz referência ao conjunto de bibliotecas que cada
site representa mas àquelas que disponibilizaram algum tipo de informação na forma de
site. Por esse motivo, pode ser percebido que o estado do Rio de Janeiro ficou com mais de 25% do total de bibliotecas na
Internet, seguido pelo Rio Grande do Sul e por São Paulo.
Na Tabela 2 são apresentadas as bibliotecas brasileiras na Internet segundo a sua
vinculação institucional. O propósito dessa categorização foi enumerar os
sites de bibliotecas e reconhecer o tipo de instituição que tenha trabalhado mais com o acesso eletrônico em rede. O resultado exibiu a
presença predominante das universidades, fato que vem sendo acompanhado regularmente pelo IBICT e
o Grupo de Trabalho/Bibliotecas Virtuais.
A respeito do tipo de produtos e serviços disponibilizados nos
sites, ficou comprovado o estado inicial em que se encontravam as bibliotecas brasileiras até maio de 1997: do total, 21 ofereciam algum tipo
de acesso ao catálogo da própria biblioteca, e unicamente 7 permitiam recuperação de textos completos
pelos usuários. Em 190 sites, 142 continham apenas informações sobre a instituição que representam.
O levantamento feito pela Secretaria Técnica do GT/BV mostra as bibliotecas que estão
utilizando atualmente a rede e trabalhando na disponibilização e manutenção de informação no formato
eletrônico. Essas bibliotecas representam a possibilidade do aparecimento no âmbito nacional de
novos projetos que tenham como objetivos a produção e distribuição mais ampla de informações,
viabilizados com o uso de um número maior dos recursos da tecnologia digital.

Os novos desafios
As bibliotecas e centros de informação não poderão contar com os recursos e serviços que o
acesso remoto provê se continuarem dentro dos moldes antigos de desenvolvimento de coleções. A fim
de facilitar o uso e a conexão com outras bibliotecas, certas metodologias e normas devem ser seguidas:
· integrar as funções básicas da biblioteca (aquisição, organização, recuperação, e manipulação
da informação) com as características do acesso em rede, enfatizando a produção e a disseminação
da informação;
· desenvolver cenários que mostrem como as pessoas podem usar a biblioteca digital;
· e coletar dados empíricos que provejam elementos para o
design de bibliotecas digitais no país.
As bibliotecas brasileiras são as instituições sociais que mais podem ajudar na preservação
da herança cultural e na administração de sistemas de informação científico-tecnológicos e de
negócios do país. Por esse motivo, além de disponibilizar seus próprios produtos e serviços de informação
na Internet, as bibliotecas podem constituir-se em locais de acesso público à Internet nas comunidades.
No atual modelo de globalização de informação, os países em desenvolvimento
precisam disponibilizar seus acervos em grandes quantidades, para poder participar das decisões que os
países desenvolvidos cheguem a tomar e dessa maneira poder prever os seus efeitos. No Brasil, todas
as instituições envolvidas com a educação e a pesquisa no setor privado e público devem se
comprometer a prover grandes bases de dados de textos eletrônicos que sejam acessíveis com maior rapidez
através da rede.
Por último, a tendência de dominação dos países desenvolvidos necessita ser contrabalanceada
com a participação mais ativa dos países em desenvolvimento, capacidade que, no caso do Brasil,
dependerá da maneira como o país irá desenvolver e introduzir novos produtos e serviços de informação
baseados na pesquisa e nas suas habilidades tecnológicas.
BIBLIOGRAFIA
FOX, Edward A. "Digital Libraries", in
Communications of the ACM, 38(4), April/1995, pp. 23-8
LUCIER, Richard E. "Building Digital Library for the Health Science: Information
Space Complementing Information Place", in
Bulletin of the Medical Library Association, 83(3),
July/1995, pp. 346-50.
STEELE, Colin. "Millennial Libraries: Management Changes in a Eletronic Enviroment", in
The Electronic Library, v. 11, n. 6, Dec./1993, p. 394 .
JOSÉ RINCON
FERREIRA
é diretor do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia -
ibict.
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