3. Debate sobre mestrado profissionalizante proposto pela Capes divide cientistas
Ari Gomes reporta de SP:
A comunidade academica esta dividida e ainda nao chegou a uma conclusao sobre a proposta de mestrado profissionalizante, objeto de portaria da Capes, publicada em 16/12/98.
Pelo menos e o que se depreende do debate promovido e organizado pelo Depto. de Psicobiologia da Universidade Federal de SP/Escola Paulista de Medicina (Unifesp) e pela Associacao dos Docentes da Escola Paulista de Medicina, em SP.
Iniciados os debates, Elisaldo Carlini, um dos coordenadores do evento, surpreendeu a plateia afirmando que desconhecia a participacao da comunidade na discussao do assunto, acreditando que as discussoes em torno do tema haviam sido escassas.
Uma pergunta de Carlini desencadeou os debates: "O que vem a ser, claramente, mestrado profissionalizante, quais sao as diferencas entre ele os cursos de especializacao, pos e doutoramento?”
Carlini ressaltou que ha pouco tempo, quando se comecou a discutir a proposta do Capes, "teve que sair ‘a procura de informacoes e que pouco gente conhecia precisamente do que se tratava."
Carlini foi contestado por Esper Cavalheiro, pro-reitor de pos-graduacao da Unifesp, que afirmou que ha mais de quatro anos o assunto vinha sendo discutido, tendo suas afirmacoes sido reforcadas pelo pro-reitor da UFMG Ronaldo Barbosa, que se posicionou a favor da portaria da Capes.
Barbosa afirmou ainda que o mestrado profissionalizante, de fato, ja existe na UFMG, "porem, sem esse nome".
Ele destacou as mais de 400 dissertacoes que a Escola de Engenharia da UFMG produziu entre os anos de 71 a 98.
Embora destacassem algumas duvidas em relacao ao mestrado profissionalizante, Sonia Barros de Oliveira e Hernan Chaimovich nao so apoiam a ideia desse cursos, como, segundo eles, a USP, que representam, ja avancou na questao, "chegando a um consenso sobre o assunto".
Chaimovich apresentou algumas conclusoes a que a USP teria alcancado, e Sonia afirmou que ate ja existem propostas de 10 especialidades, que ja estao sendo analisadas por relatores.
Afirmando que o "mestrado profissionalizante tem um carater terminal, porque cumpre com objetivos de ensino previamente definidos" (terminal, aqui entendido como nao se constituindo em degrau para o mestrado ou doutorado academico).
Ela acredita que no proximo semestre algumas das propostas ja poderao estar definidas.
Os professores defendem a ideia segundo a qual os alunos que vao fazer o mestrado profissionalizante dificilmente vao para o doutoramento, porque tem outro perfil.
O presidente da SBPC, Sergio Ferreira , que falou em seu nome, porque a SBPC ainda nao se posicionou oficialmente sobre o assunto, discordou dos colegas da USP.
Ele afirmou que a simples normatizacao pela USP do mestrado profissionalizante nao resolve o problema de outras instituicoes publicas ou privadas que irao realiza-lo.
No processo original, so poderiam dar cargos de mestrado as instituicoes com cursos de pos-graduacao classificados como A e B.
Esta condicao desapareceu da portaria.
Sergio ressaltou ainda que, na verdade, o mestrado profissionalizante e instrumento politico que futuramente podera ser utilizado na classificacao entre Centros Universitarios ou universidade.
Ele lembrou que pela Lei de Diretrizes e Bases existe a necessidade de um numero determinado de professores serem titulados como mestre ou doutores, para caracterizar uma universidade.
Mesmo concordando com a proposta apresentada na portaria, Sergio criticou a Capes, afirmando que ate hoje ela fez muito pouco para esclarecer e discutir com a comunidade seus propositos a longo prazo.
Sergio afirmou ainda que o mestrado academico e’ peca-chave na educacao do futuro professor e cientista, ressaltando que o mestrado deve ser realizado em instituicao de alta categoria e que realmente faca ciencia.
Ele tambem criticou "os burocratas" da Capes que pensam, freqüentemente e erroneamente, que e mais dificil ensinar um doutorando do que um mestrando.
Para ele, o mestrando exige a continua presenca do professor, ao contrario daqueles que fazem o doutoramento, que podem percorrer o seu caminho sozinho.
"O tempo de duracao do mestrado podera ser diminuido pela passagem direta para o doutorado dos estudantes que apresentarem desempenho cientifico adequado", disse Sergio.
Acrescentou que o encaminhamento para a educacao cientifica deve comecar o mais cedo possivel, "desde a educacao da mae, passando pelos demais graus ate chegar ao ensino superior".
Ele destacou que nos EUA ha um projeto para, ate 2063, reeducar os cidadaos daquele pais com vistas ‘a compreensao cientifica dos fatos.
As demais manifestacoes, tanto da plateia quanto de Carlini, todavia, levantaram suspeitas sobre o carater, a abrangencia e a finalidade dos mestrados profissionalizantes.
Alguns chegaram a destacar que tem muito receio da proposta, pois ela esta "parecendo um pacote que chegou pronto para ser digerido, mas que as consequencias so vamos descobrir mais tarde".
Mesmo saindo do encontro com um pe’ atras, os palestrantes foram muito
aplaudidos pelos cerca de 200 professores e cientistas presentes.
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Last modified: Thu Jul 1 13:23:29 EST 1999