Valdemar W. Setzer
www.ime.usp.br/~vwsetzer
(Última versão: 27/2/07)
Em 17/12/06 fui à praia de Año Neuvo, ao sul de San Francisco, onde Elefantes Marinhos (Elephant Seals) vêm duas vezes por ano: uma, para ter filhotes e depois acasalarem, e outra para trocarem de pele. É preciso marcar a visita com antecedência, pois é sempre feita com um guia:
http://www.parks.ca.gov/?page
Elefantes marinhos são uma espécie de focas muito grandes, tendo os machos uma protuberância no focinho, daí o seu nome:
Os machos chegam a pesar 1.100 kg, as fêmeas até 900 kg, com comprimentos de até 5 m e 3,5 m respectivamente. O guia contou como foi uma tourada pesar um macho; foi necessário usar uma balança de caminhão, mas não havia meio de forçarem os machos a passarem por cima dela... Vi uns 20 machos, sendo alguns pequenos, de 1 ano de idade. Nesta época primeiro começam a chegar os machos, e depois as fêmeas, que vêm prenhes. Os machos logo começam a reservar o seu território, soltando urros muito fortes:
Depois de chegarem, as fêmeas em cerca de 6 dias dão as crias concebidas no ano anterior (11 meses antes) e poucos dias depois começa o período de acasalamento, havendo brigas sangrentas entre os machos para determinarem quem será o "alfa" dominador do território em volta dele. Na verdade, esse território é determinado pelas fêmeas.
Para moverem-se em terra, eles rastejam como vermes; aliás, parecem mesmo vermes enormes, ou rochas:
Durante esta época de inverno, os machos ficam cerca de 3 meses em terra, as fêmeas cerca de 2 meses, absolutamente sem comer e sem beber nada; aliás, eles obviamente não bebem quando estão no mar, vivem da umidade extraída da comida (peixes, moluscos, etc.). A fêmeas têm um leite muito rico, com 55% de gordura; as crias nascem com 35 kg (note como esse pequeno já jogou areia sobre o corpo - não se sabe por que os elefantes marinhos jogam areia sobre o corpo com as nadadeiras, pois fazem-nos com chuva, com sol, com frio ou com calor)
e em menos de 1 mês já pesam 115 a 160 kg. Em 1994/95 nasceram 2.000 crias em Año Nuevo. Um dos problemas dessas crias é não serem esmagadas pelos machos; cerca de 2% morre desse jeito. Outras morrem por se perderem das mães, apesar de poderem às vezes adotar outras mães; algumas crias conseguem mamar em até 3 fêmeas, e atingem 270 kg. As fêmeas perdem peso até o limite de 1% acima do mínimo para sobrevivência; aí abandonam os filhotes e vão para o mar comer e afastar-se da região. Os filhotes no início têm medo do mar, mas aos poucos vão se chegando a ele, aprendem a nadar e acabam indo embora também, cerca de 2 meses depois da desmama (quando já perderam 1/3 de seu peso). Fêmeas com suas crias:
Depois de cerca de três semanas de dar a cria, as fêmeas entram no cio e começam a acasalar. Logo depois da concepção, os embriões não se desenvolvem, para não gastarem as energias das mães, que estão sem comer e beber. Só depois que as fêmeas voltam para o mar é que os embriões começam a se desenvolver, acho que 2 meses depois da concepção.
Um calendário com o ciclo anual desses bichos pode ser visto em
http://www.bigsurcalifornia
A vida deles no mar é a coisa mais incrível que se possa imaginar. Mergulham em geral de 300 a 600 m de profundidade, com um máximo registrado de até 1.530 m de profundidade (os primeiros detectores de profundidade implantados nos bichos foram sendo esmagados, até que se projetaram medidores especiais para essa profundidade). Não se sabe por que mergulham tão fundo. Para ir tão longe, conseguem ficar mais de 1 hora sem respirar, sendo que a média dos mergulhos é de 20 min, ficando cerca de 2 min na superfície; esse ciclo repete-se sem parar, 24 horas por dia. Eles nadam para o norte cerca de 5.000 km, até o golfo do Alaska, os machos para certos locais, as fêmeas para outros. Sempre voltam para a praia de nascimento, para darem cria e acasalarem, e 6 meses depois para trocarem de pele. Não se sabe como se orientam para chegarem a esse lugar.
Tubarões são os inimigos principais; ficam de boca para cima, abaixo da superfície, e quando os elefantes marinhos pequenos retornam para a praia, mergulham direto na boca dos tubarões, que arrancam a sua cabeça de uma tacada só.
Os elefantes marinhos aqui do norte (há outra espécie parecida na Antártida) foram quase totalmente extintos pelos humanos; o guia disse que sobraram só 10, mas em algum lugar eu li que sobraram 50 a 100. Hoje em dia, devido às leis que os protegem, desde a década de 20, são muitos milhares que vêm só para Año Nuevo, de um total estimado de 160.000 existentes no hemisfério norte.
Pode-se chegar até 8 m de distância de um elefante marinho. Nosso grupo chegou mais perto e um deles levantou o focinho; o guia disse para darmos um passo atrás e ele se acalmou novamente. Um deles, bem próximo de um mirante onde estávamos, estava atirando areia sobre o corpo com a nadadeira, parecido com essa foto:
O guia disse que não se sabe a razão de eles jogarem areia sobre o corpo, pois fazem-no com sol e chuva, com frio e calor. Ele também disse que daqui a algumas semanas, será impossível chegar ao mirante, pois o caminho vai estar coalhado desses animais.
Uma coisa interessante de Año Nuevo é que há muita vegetação, quando deveria ser um deserto com dunas de areia (como foi até poucos anos atrás). O guia explicou que essa vegetação é devida ao plantio de alcachofras perto das montanhas, pela mirada acho que a alguns km de lá. Com isso, a irrigação está elevando o lençol freático e alimentando as plantas.
Ao ver esses incríveis animais e conhecer seus fantásticos hábitos, tão diferentes de outros mamíferos, e levando em conta tudo o que se desconhece de sua vida, não pude deixar de achar graça nas explicações evolucionistas de que tudo isso foi devido a mutações e seleção natural casuais. É preciso ser muito ingênuo ou crente para acreditar que essa sabedoria infinita, envolvendo tantos aspectos diferentes e extraordinários, em que talvez se um deles não ocorresse o animal não existiria, seja fruto de mero acaso e luta pela sobrevivência.
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Em 29/12/06 estive em Vista Point, perto de San Simeon, bem mais ao sul. Nesse local, há vários mirantes ao lado da estrada, dando para as praias onde havia talvez uma centena de elefantes marinhos, machos, fêmeas e filhotes, e que podem ser vistos sem a reserva e o pagamento necessários em Año Nuevo. A viagem até San Simeon é feita por uma estrada ladeando a costa, maravilhosa, chamada de "Big Sur".
Leia mais e veja muitas fotos em
http://ourworld.compuserve.com
http://www.parks.ca.gov/?page
http://www.parks.ca.gov/?page
http://en.wikipedia.org/wiki
http://www.pelicannetwork.net
http://www.bigsurcalifornia
http://www.tmmc.org/learning
http://www.whaletimes.org
Para os elefantes marinhos do sul: