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Como minha mensagem anterior saiu truncada estou consertando
aqui.
Caros Redistas,
Certamente, não podemos competir com os EUA em termos de salário-docente, o que explica a evasão de alguns brasileiros para este País, muito bem retratada na Estatística pelo Luís Paulo. Entretanto, esta evasão é reduzida em relação ao contingente global e só vale para os grandes cérebros, muito acima da média do País. Outros motivos descritos pelo José Carvalho cooroboram neste sentido.
Outro ponto: o professor doutor das federais vive melhor no Brasil do que o seu colega europeu, pois o nosso poder de paridade de compra (PPC – um conceito bem familiar dos economistas) é maior. Certamente, isso é verdade em relação
ao Reino Unido, que exporta em larga escala seus pesquisadores para os EUA. Minha assertiva principal continua, no meu entender, verdadeira: o professor doutor das federais ganha muito bem para o padrão brasileiro. Por exemplo, um médico
no País trabalhando em dois plantões públicos totalizando 48 horas/semanais ganha uma média mensal de US$ 1600 (dados de todo o Brasil - entre 1992 e 2003 -, de uma tese da Faculdade de Medicina da UFPE que ajudei a analisar).
Quanto à pergunta intrigante do Francisco Cribari (um dos
alunos mais brilhantes que tive na minha vida acadêmica)
 “por que a Probabilidade avançou mais cientificamente do
que a Estatística no Brasil?” acho que as respostas devem
ser também intrigantes.
Eu não gosto de comparar áreas diferentes que têm suas
próprias peculiaridades, principalmente, porque a
Probabilidade é uma área que funciona na interseção entre Estatística (o meu conceito aqui é amplo) e Matemática.
Mas como a pergunta ficou no ar gostaria de enaltecer alguns pontos. Primeiro, temos que definir o que vem a ser “avançar cientificamente”. Se a definição for dada em termos de doutores (e/ou mestres) formados, a Estatística cresceu
muito mais do que a Probabilidade nos últimos anos. Hoje,
temos grupos de pesquisadores trabalhando em Estatística (teórica e/ou aplicada) em inúmeras cidades do País, enquanto
a Probabilidade está concentrada em grupos (extremamente
ativos é claro) no triângulo Rio, São Paulo e Campinas.
Assim, a resposta coincide com a sugestão do Francisco:
problema de escala, só que com a Estatística ganhando.
Se a definição for dada em termos de produção científica internacional per capita, acredito que a Probabilidade deve ganhar da Estatística, embora não tenho dados para fazer inferência neste sentido. Entretanto, notem bem, que o contingente de probabilistas é muito menor no País do que de estatísticos e a produção média per capita pode naturalmente
ser maior (veja meu exemplo no final deste texto).
Uma outra resposta para este fato deve-se à concentração das sub-áreas da Probabilidade no País ser muito maior do que na Estatística, cuja diversidade de sub-áreas é imensa.  Se temos uma maior concentração de sub-áreas de atuação, a produtividade per capita deve ser maior. Se há uma maior diversidade de sub-áreas, a produtividade deve baixar. Outrossim, entendo, que a Estatística e a Probabilidade não devem ser comparadas em termos de produção científica, pois são áreas completamente diferentes. Para anelar este fato, cito que quando o Canadian Journal of Statistics fez um levantamento da produtividade científica em PERIÓDICOS MAIS IMPORTANTES de todas as instituições no mundo, tratou os periódicos das duas áreas PROBABILIDADE e ESTATÍSTICA em SEPARADO. Neste rank, o Canadian Journal of Statistics colocou a UFPE na década de 90 na 4a posição mundial em Estatística, juntamente com as Universidades de Aarhus (1a posição) e de Buenos Aires (3a posição) em termos de publicações em periódicos internacionais per capita, somente porque estas instituições tinham muito pouco docentes (no caso da UFPE era só eu, sem qualquer cabotinismo). Distorções como estas acontecem quando se examina pequenos grupos numa mesma área, pois a média de um pequeno grupo pode ser muito superior
à média de um grande grupo.
Cordiais Saudações,
Gauss Cordeiro