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Adendo aos anos 70 do Prof. Basílio



Caros Redistas,
Durante a semana três alunos da pós-graduação na UFRPE me indagaram sobre o doutorado em Estatística na Inglaterra nos anos 70, uma vez que o Prof. Basílio Pereira descreve um
cenário positivo, como sendo um privilégio para
qualquer um conviver com estatísticos famosos do século XX,
em oposição à minha experiência lá que foi péssima. Finalizo aqui este tema com alguns comentários adicionais à sua narrativa
e para enfatizar aos mais jovens que uma parte não-desprezível da Estatística do País foi feita com MUITO SUOR e LÁGRIMAS. Esclareço de imediato que o Prof. Basílio foi o primeiro brasileiro a concluir o doutorado em Estatística no Imperial College (IC), em 1976, e que eu fui o segundo, em 1982. Entre nós, ninguém mais.
Minhas grandes restrições se referem tão somente aos estatísticos do Imperial que demonstravam grande preconceito e infinito sarcasmo contra os "overseas", e não em relação a
outros doutorados em Estatística na Inglaterra. Também tive péssimas experiências com os médicos londrinos mas isso não
cabe descrever aqui. A orientação de doutorado na Estatística
do IC aos latinos era dada com grande desprezo, sem nenhum suporte científico e sem qualquer clima de cordialidade, corroborando ainda mais para o affair entre alunos ingleses e "overseas".
Entre setembro e dezembro de 79, três latinos saíram de lá por causa da acirrada disputa promovida pelos ingleses: Flávio Bartman (um dos estatísticos brasileiros mais brilhantes que conheci sendo inclusive reportagem de capa de revista
americana de grande circulação) se mandou para Princeton e Emiro Molina e Federico Rojas foram para Bristol.
Após um seminário que ministrei em fevereiro de 81 expondo vários resultados - diga-se que obtidos por mim sem ajuda de ninguém-, as coisas para o meu lado pioraram exponencialmente
ao longo do ano com agressões covardes deferidas por aqueles
que entraram no doutorado antes de mim e por estatísticos do staff. Não me mandei do Imperial, pois não tinha grana para
uma transferência radical e porque os resultados da minha tese estavam concluídos, à exceção da datilografia que gastei quase
5 meses usando uma máquina de escrever IBM de múltiplas
esferas.
Concordo que os seminários promovidos pela Royal Statistical Society eram bons. Todos os brasileiros citados pelo Prof. Basílio (exceto eu) fizeram doutorado em outras instituições
do Reino Unido. O importante não é ele dizer que "todos concluiram o doutorado" mas avaliar as suas condições de contorno. O Peter McCullagh que ele citou era arrogante, prepotente, um grande ENGANADOR, que me penalizou muito. Não me surpreende que ele tenha dito alguns anos antes ao Prof. Basílio que iria ser fazendeiro na Irlanda.
O Prof. Basílio afirma que decisões de ir para o exterior são pessoais. DISCORDO literalmente de sua assertiva. Minha escolha do IC foi fortemente influenciada por ele. O meu dileto amigo João Sabóia à época me aconselhou Berkeley. Nunca sugeri a nenhum brasileiro fazer doutorado no IC após meu retorno.
Minha ortogonalidade ao Prof. Basílio é porque ele OMITIU o clima de hostilidade reinante no Imperial que ele conhecia muito bem, quando o considerava um grande amigo. Já que falou no Restaurante do Leme, lembro, também, que oferecí-lhe (e à sua esposa de então), em maio de 79, um jantar no meu apartamento
de Botafogo para que ele me desse algumas dicas do IC. Com certeza ele deve se lembrar muito bem do evento. A sua
grave omissão pode ser constatada na sua carta de 14 de
outubro de 81 para mim cujo kernel é "Não entendi o seu cartão de Southport, pois as coisas para mim também não foram fáceis...  Se eu puder pedir alguma coisa a você?".
Todos os pontos relevantes da minha vida entre 1965 e 1994 estão anotados no meu diário. Contra fatos reais não existem argumentos! Amizade e confiança são coisas importantes e preciosas bem acima de quaisquer interesses. As omissões graves e que penalizam provocam ortogonalidade.
Saudações e um bom final de semana a todos.
Gauss Cordeiro