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Sobre as federais+bolsa do CNPq



Caros Redistas,
Tenho recebido de alguns amigos e-mails positivos sobre o meu artigo ?Um excelente momento para a Estatística?. Irei tecer ? baseado neste feedback ? alguns comentários adicionais que me parecem oportunos.
1. Os salários dos professores doutores das federais ? cerca
de US$ 2500 mensais-, são MUITO BONS (face à realidade brasileira)-, para os recém-doutores.
Somem-se a isso a estabilidade, pouca cobrança e o regime estatutário. No passado, os professores eram celetistas.
Poucas empresas privadas no País ou cargos públicos do
executivo pagam estes salários aos jovens que, atualmente,
estão no mercado de trabalho. Isso é verdade.
Não quero aqui discutir os cargos do legislativo e
judiciário pois, nestes casos, há inúmeras aberrações. Entretanto, estes salários se tornam apenas regulares para àqueles professores que têm (digamos) 20 anos
de doutorado (concordando agora com o meu caro Luís Paulo) e
que são super-produtivos. Isso é, também, verdade.
O problema GRAVE é que não existe uma verdadeira carreira docente nas federais que separe aqueles que produzem dos
que pouco fazem. Professores doutores super-produtivos (ou improdutivos) com 20 anos de casa recebem quase o mesmo
salário que seus pares doutores recém-ingressos. O fato aberrante é que não há estímulo à produção científica nas universidades federais. O único diferencial ainda na carreira destas universidades, e na grande maioria das estaduais do
País, é o cargo de professor titular. Muitos professores ainda se comportam como funcionários públicos. Acabaram até com a
GED (gratificação de estímulo à docência) que eliminava
algumas distorções no sistema das federais.
Com a política reinante no País de hoje não acredito que esta situação vai mudar. Nos anos 70, apesar dos salários medidos pelo poder de paridade de compra serem menores que os de agora, havia uma gratificação (eu recordo que era pequena) de produtividade. Outro problema gravíssimo é que muitos professores DE participam muito pouco da vida das universidades federais ? isso ocorre com muito mais intensidade na área
médica -, e, mantém, rotineiramente, outras atividades profissionais. Há um nivelamento PERVERSO por baixo no que
tange aos salários. Com a expansão atual do sistema das federais, este nivelamento poderá (no longo prazo) penalizar
os salários daqueles que produzem. Oxalá isso não aconteça!
2. Faço um pequeno cálculo aqui para mostrar que o valor da bolsa de produtividade de pesquisa do CNPq é MUITO BAIXO. Seu valor mensal da ordem de US$ 500 equivale a 5 (cinco) pneus novos de um carro popular. O meu amigo Dani Gamerman (grande pesquisador e formador de jovens talentosos em Estatística) disse-me no IMPA que isso é muito, mas eu quero mostrar que (verdadeiramente) não é. Se um pesquisador mantiver por 30
anos sua bolsa de produtividade acumulará no final destes anos todos apenas 30x12xUS$ 500 = US$ 180.000. Uma vida dedicada
à pesquisa! Qualquer estatístico com alguma habilidade computaciona poderá ganhar muito mais do que isso abraçando inteiramente a consultoria. Nestes termos, eu novamente
concordo com o Luís Paulo. Outro exemplo: um economista do
Banco Mundial ganha mais do que isso por ano. O filho
de um grande amigo meu, de 32 anos, ganha US$ 210 mil/ano trabalhando na América Latina para esse banco.
Saudações,
Gauss Cordeiro