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Re: [ABE-L]: artigo no JB de 6/1/91



Caro Renato (e colegas), 

De fato, seria importante atualizar os dados e também estabelecer marcos
comparativos mais sólidos. Todavia, não creio que esse seja, ao menos
hoje, o elemento central do debate. Desde a publicação do meu artigo no
Jornal do Brasil com o Gauss aprendemos todos muitas coisas. E acho que
a universidade brasileira, a despeito de alguns percalços, avançou
bastante nesse período. No meu entender, há dois aspectos que deveriam
nortear qualquer discussão, a saber: 

1) Avaliação é um aspecto central da melhoria acadêmica de nossas
instituições de ensino superior. A pós-graduação brasileira avançou
enormemente em grande parte por estar sujeita a esquemas rigorosos e
continuados de avaliação (CAPES). A pesquisa também avançou muito graças
aos financiamentos externos acompanhados de avaliações por pares
(destaque para o CNPq e para a FAPESP). Acho que já é tempo de
estabelecermos mecanismos de avaliação do ensino de graduação. Tal
avaliação deveria, a meu ver, ser externa, feita por pares e com
consequências sobre alocações futuras de recursos e vagas. 

2) Há, grosso modo, dois contingentes de professores nas universidades
brasileiras, a saber: (i) aqueles que pesquisam, publicam, avançam a
fronteira da ciência, orientam alunos de doutorado, mestrado, iniciação
científica, orientam pós-doutorado, obtêm financiamento externo,
ministram aulas em cursos de doutorado e mestrado e em graduações,
encaminham bons alunos de bacharelados e licenciaturas para
pós-graduações (no Brasil e no exterior), atuam como pareceristas e em
corpos editoriais de revistas científicas (internacionais e nacionais),
atuam como pareceristas ad hoc de agências de fomento, participam de
bancas examinadoras de mestrado e doutorado, atuam em bancas de
concursos para docentes, organizam encontros científicos e ciclos locais
de seminários, entre outras atividades; (ii) aqueles que ministram aulas
de graduação. 

O debate sobre os caminhos a serem trilhados pela universidade
brasileira é muito importante e deve ser parte do nosso dia-a-dia nas
mais variadas esferas de nossa convivência profissional. De minha parte,
como o Gauss, estou com pouco gás para essa tarefa. Já tive a minha
parcela de desgaste com improdutivos raivosos e estou num momento de
concentração em minhas pesquisas, orientações, aulas e atividades
correlatas. 

Um abraço para você. 

FC

PS. Escrevo esse email da Universidade Federal do ABC, uma nova
universidade federal que está nascendo com concepções bem diferentes das
demais. É refrescante constatar que há algo novo no nosso meio acadêmico
que se confronta à mesmice de nossas federais.