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Universidade pública no Brasil (Folha de São Paulo)



Folha de São Paulo, 30 de dezembro de 2007

Cai o número de formados na rede pública 

Levantamento mostra que, apesar de mais alunos entrarem nas
universidades públicas, quantidade de formados caiu 9,5% em 2 anos

Resultado revela perda na eficiência das instituições, que são
financiadas com verba pública; evasão é tida como uma das causas 

FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL

O número de alunos que entra nas universidades públicas brasileiras
cresce desde a década passada. Nos dois últimos anos, porém, a
quantidade de estudantes formados nessa rede caiu quase 10%, apontam
dados do Ministério da Educação.
O resultado representa uma perda na eficiência nessas instituições, que
são financiadas com recursos públicos. Neste ano, somente a rede federal
terá R$ 1,7 bilhão para custeio, três vezes mais do que há quatro anos,
segundo o MEC.
Pesquisadores afirmam que a queda ocorre devido ao aumento da evasão
(estudantes que desistem dos cursos). Outro ponto é o aumento do tempo
que os estudantes têm levado para se formar.
Para esses analistas, diversos motivos causam os dois problemas, entre
eles a necessidade de o aluno começar a trabalhar e o descontentamento
com os cursos.
Tabulação feita pela Folha com base nos dados do Censo da Educação
Superior, divulgado neste mês, mostra que 19.177 estudantes a menos se
formaram nas instituições públicas em 2006 do que em 2004 (queda de
9,5%).
A perda de mais de 19 mil alunos representa quase o dobro de vagas
oferecidas pela USP no vestibular para 2008.
Também houve diminuição de formados na rede pública entre 2005 e o ano
passado. Até 2004, a quantidade de estudantes formados nessa rede vinha
aumentando.
O volume de ingressantes cresceu 17% entre 2001 e 2003, quando entrou a
maioria dos alunos que deveriam se formar entre 2004 e 2006. No período
em que as instituições públicas perderam eficiência, houve aumento de
30,5% de formados nas universidades privadas.
Também utilizando dados do censo, o professor Oscar Hipólito (ex-diretor
do Instituto de Física USP-São Carlos e consultor do Instituto Lobo para
o Desenvolvimento da Educação, da Ciência e da Tecnologia) calculou a
evasão na rede pública, a pedido da Folha.
Os dados mostram que o número de alunos que deixaram seus cursos cresceu
de 11,8% para 12,3% entre 2005 e 2006 (variação de 4,2%). "Só isso não
explica a queda de egressos [formados]. Os alunos também estão demorando
mais para se formarem", disse Hipólito.
Segundo seus cálculos, em 2006 apenas 43% dos estudantes concluíram seus
cursos no tempo esperado.
"A queda no número de formandos é preocupante. Representa prejuízo
financeiro para o Estado, além de perdas acadêmicas e sociais", afirmou.
Os resultados do Enade (antigo Provão) mostram que os cursos de melhor
qualidade estão nas instituições públicas.
Na edição 2006 do exame, 21,2% dos cursos das universidades pública
alcançaram o conceito 5 (máximo), ante 1,6% do sistema particular.


"Um pouco é relaxo", diz aluno há 8 anos na USP 

DA REPORTAGEM LOCAL 

No oitavo ano de publicidade na USP, Douglas Kawaguchi, 26, diz que será
jubilado caso não se forme até dezembro de 2008 -o curso é de quatro
anos.
Para explicar a demora, ele diz que cursou mais disciplinas do que o
necessário. "Estava indeciso para que área ia." Além disso, passou um
ano na França.
"Tem um pouco de relaxo, também. Como não pagamos mensalidade, ficamos
menos pressionados a terminar rapidamente. Vejo que meus colegas em
faculdade particular se esforçam mais."
Dos 20 alunos que entraram com ele, três acabaram no tempo mínimo.
Em 2006, a USP começou a discutir novos critérios para "zelar pela justa
ocupação" das vagas. O processo parou com a invasão da reitoria por
exigência dos estudantes. (FT)


Para educadores, desinteresse por cursos e problemas financeiros
aumentam a evasão 

DA REPORTAGEM LOCAL 

Dificuldade para se manter na universidade, desencanto com os cursos e
problemas de gestão são algumas das possibilidades citadas por
pesquisadores e gestores para explicar o aumento da evasão e do tempo de
conclusão dos cursos das instituições públicas.
O presidente da Andifes (associação que reúne as universidades
federais), Arquimedes Diógenes Ciloni, afirma que o aumento das
matrículas que ocorre desde a década passada fez com que entrassem nas
universidades camadas mais pobres da sociedade -que possuem mais
dificuldades para seguir no ensino superior.
"Mesmo que o curso seja gratuito, há gastos com transporte, livros,
alimentação. Fica pesado, principalmente para os que precisam mudar de
cidade. Muitos desistem", afirmou.
O consultor em ensino superior Carlos Monteiro também cita as
dificuldades financeiras dos estudantes. "Durante o ensino superior,
muitos passam a ser chefe de família e precisam começar a trabalhar. Às
vezes não é possível conciliar."
Monteiro aponta também que o modelo do ensino superior pode desagradar.
"Na maioria absoluta dos casos, as aulas repetem o modelo do ensino
básico. O aluno se cansa."
Para Monteiro, uma das principais medidas para "segurar" os alunos no
ensino superior é diversificar o sistema, aumentando os cursos de curta
duração, por exemplo.
O pesquisador Oscar Hipólito, ex-diretor do Instituto de Física USP-São
Carlos, diz que a queda no número de concluintes ocorre principalmente
devido a problema de gestão das universidades. E cita como exemplo o
sistema de créditos, no qual o próprio aluno monta sua carga horária de
aulas. "Do mesmo modo que dá mais liberdade para o aluno, o que pode
ajudá-lo, muitas universidades deixam o estudante solto, e ele acaba se
perdendo."

Gestões Lula e FHC
O Ministério da Educação do governo Lula culpou a gestão FHC (1995-2002)
pela perda de eficiência nas universidades federais do país. Os tucanos
rebateram a crítica.
Para o atual secretário de Ensino Superior, Ronaldo Mota, a queda de
concluintes entre 2004 e 2006 é reflexo de "políticas adotadas" na
década de 2000. Mota cita as verbas de custeio, que, de acordo com ele,
eram, em 2003, cerca de um terço das deste ano.
"O número de concluintes de agora reflete políticas adotadas no período
anterior. Com falta de custeio e carência de recursos humanos, as
universidades se sentiram pouco estimuladas a repensarem seus modelos
acadêmicos e a combaterem a evasão", disse.
Ministro da Educação na gestão FHC, Paulo Renato Souza negou que as
universidades tenham sofrido problemas financeiros em seu período.
De acordo com o ex-ministro, a análise apresentada pelo governo Lula
desconsidera convênios feitos em 2000 que renderam R$ 500 milhões (valor
da época) em equipamentos para as instituições.
"Tanto não houve problema de recursos que o número de alunos nas
universidades federais cresceu na minha gestão", afirmou. Segundo dados
do MEC, entre os anos de 1995 e de 2002, o número de vagas nesse sistema
cresceu 46,43%.
De acordo com o ex-ministro, atualmente deputado federal pelo PSDB-SP, o
número de concluintes caiu nas universidades federais "porque não está
havendo cobrança do governo" em cima das universidades públicas.(FT)


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Francisco Cribari-Neto                            voice: +55-81-32718420
Departamento de Estatística                 fax:       +55-81-32718422
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