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Segredos Familiares do Professor Carlinhos



O texto abaixo foi lido na na seção da 9 EBEB em Homenagem ao Carlos
Basilio


Como irmão seria difícil falar de Carlinhos sem entrar em confidencias familiares. Filho de classe media , media baixa , ou como diria nosso amigo ?comunista? Zé Ferreira ( conhecido atualmente como Carvalho de Campinas) , família pequena burguesa . com todas as suas implicações morais, éticas. Nossa infância foi feliz , nascemos em Copacabana na Maternidade Arnaldo de Morais, como medico de família Dr. Arlindo Noia ,assistente do famoso Dr Delamare, moramos ate os 3 ou 4 anos no Catete e em seguida mudamos para o Leblon , na época local longe da cidade. Ai vivemos nossa infância e adolescência e ate hoje e o nosso refugio (atualmente residência da irmã caçula e sobrinha)., sem luxo, mas felizes e alegres.
Com um pai Basílio, comerciário , vendedor de maquina operatrizes , típico 
carioca , boêmio, filho preferido da mãe, Sra do interior do Rio, Cambuci e 
de um avo professor de português  ex seminarista., O melhor retrato de nosso 
pai nos foi apontado recentemente pelo amigo Sergio Weshler ao nos mostrar 
uma crônica do Arnaldo Jabour sobre seu avo.
  Nossa mãe Nazareth  ,embora não tenha estudado mais que o primário , não 
so por costume da época mas principalmente por causa da crise mundial dos 
anos 30 que trouxe a pobreza ao nosso avo materno , na época dono de quase 
toda Terezopolis (cidade serrana próxima do Rio de Janeiro), quando a mesma 
tinha 12 anos. De uma família de com 32 irmãos de dois casamentos de nosso 
avo, teve uma educação caseira aristocrática italiana, sabia tudo de 
etiqueta e musica clássica. Com todas essas restrições se aposentou em 1992 
como Assistente Social Provisionada da FIOCRUZ e foi a grande responsável 
pela educação dos filhos. Espelhou em nos suas impossibilidades de estudar e 
em suas palavras : colocaria um diploma na mão de cada filho. 

  Bolão como era conhecido , desde pequeno foi sempre um grande sedutor e 
persiste ate hoje.Conseguia tudo, sendo o preferido desde a empregada-babá 
Tereza, do pai, vizinhos , amigos de rua e infância e dos professores.
  Ao terminarmos o primário, nosso pai desempregado  não pode pagar mais 
nossos estudos. Nossa mãe descobriu que a ENCE(Escola Nacional de Ciências 
Estatísticas) inaugurava um Curso Comercial Básico (Ginásio) e no ultimo 
conseguiu nossa matricula. Começamos na estatística com 11(ele) e 12 anos 
(eu).
 Lá tivemos os melhores professores , não só no Comercial como em seguida 
no Técnico em Estatística: Catedráticos da UFRJ, Pedro II, Itamarati 
etc.Entre eles Albert Ebert (Química), Arthur Weiss (Historia), Espiridião 
Faissol (Geografia), Helena Lacourt (Descritiva) Jose Carlos de Mello e 
Souza e Adão Pereira (Matemática) e outros.
   Nesta faze sempre foi bom aluno com exceção de descritiva . e sempre o 
preferido dos professores especialmente dos de matemática ( suas únicas 
concorrentes eram Sonia e Silvia nossas musas de adolescência).
  Mesmo sedutor nunca deixou de ser preciso e nunca usou isso para 
beneficio acadêmico. Não sei dos outros colegas , mas de minha parte devo a 
ele muita ajuda em Português no vestibular e Probabilidades mais tarde na 
graduação.
   Ainda no ultimo ano do Técnico ( já nesta época tínhamos o Zé Ferreira e 
Helio Migon como colegas de turma) , em 1963/64 começamos a trabalhar, ele 
em controle de qualidade na GE-General Eletric. Fazíamos o 3 Técnico de 
manha, trabalhávamos a tarde e fazíamos cursinho vestibular a noite. Em 
seguida saiu da GE para  a FIOCRUZ como Instrutor no curos de Saúde Publica 
da ENSP ( Escola Nacional de Saúde  Publica), isto durou toda a graduação.
  Não deixo de mencionar que a escolha caseira  de indica-lo para  a 
FIOCRUZ foi não só para livra-lo da distancia da GE , mas principalmente por 
eu acha-lo mais  capaz . Ainda hoje não sei se ele lembra esta minha opinião 
da época.
  Durante a graduação participamos das manifestações dos tumultuados anos 
1964-1968. Ele sempre maneiroso , em vez de bater de frente como eu , com os 
?adversários? de direita procurava e conseguia o apoio da maioria dos 
?inocentes úteis? ou ?alienados?  na s votações das assembléias que 
pipocavam na época.
  Uma outra característica que nos difere ate hoje , já despontava esta 
época, por exemplo: enquanto eu primeiro lia toda a teoria do livro de 
Calculo do Kaplan, ele ia direto a lista de exercícios e começava por 
resolve-los. Isto lembra a frase de Einstein : em ciência e mais importante 
criatividade que conhecimento. Nisto Carlinhos é imbatível.
 Durante a graduação foi sempre bom estudante em uma turma de 36  ( 
acredito que deve ter terminado  2 ou 3 colocado. Certamente atrás de nosso 
finado e querido Ronaldo Eckstein mas na frente de meu 6 lugar.). Isto em 
uma turma de alunos em que, pelo menos 5 obtiveram o PhD  no exterior como 
Aloisio Pessoa de Araújo, Jose Ferreira de Carvalho e Frederico Antonio 
Azevedo de Carvalho e todos de alguma forma incentivados pelo Caio Dantas.
    Após a graduação e 11 anos na mesma sala de aula , continuei no Rio e 
ele foi para São Paulo onde obteve uma formação sólida em Matemática e 
Genética e que marcaram sua carreira ate hoje. Mais tarde nossa Genealogia 
Estatística novamente se ligou após minha estadia por um ano nos  EUA em 
2003 ( ver www.po.ufrj.br/basilio) 

   Considero Carlinhos o melhor e mais ? scholar? dos Estatísticos 
brasileiros, no sentido de não pautar sua carreira em um só assunto ou 
técnica , nem em problemas pequenos que no fundo só resultam em mais um 
?paper?. Ele sempre pensa em problemas importantes e quer resolve-los de uma 
maneira original sem olhar soluções já obtidas, como fazia com o livro do 
Kaplan.
   Eu embora tenha tentado divulgar a Estatística Bayesiana no Rio ( 1978- 
Aplicação de Previsão Bayesiana na Demanda de Eletricidade em FURNAS , 1980 
-  Descoberta Petrolífera usando Regressão Logística Bayesiana na Petrobrás, 
e promovendo a visita por 3 meses na UFRJ  em 1980 do Professor Adrian Smith 
) ele Carlinhos foi realmente o primeiro Bayesiano brasileiro e conseguiu 
motivar e inspirar a maioria dos Bayesianos no Brasil. 

     Como filho preferido que recebia ensinamentos privilegiados de nosso 
pai, recentemente ele tem me repassado  alguns. Um destes , bem machistas 
explica porque Carlinhos não é perfeito:
? Para estar tranqüilo frente a cobranças , o homem tem que ter remorsos.?

Carlinhos foi uma bela oportunidade poder abrir meu coração e falar coisas que guardava com carinho do irmão.

Basílio de Bragança Pereira
9 EBEB- Maresias , SP , 24 de fevereiro de 2008