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Segredos Familiares do Professor Carlinhos
- Subject: Segredos Familiares do Professor Carlinhos
- From: Basilio de Bragança Pereira <basilio@hucff.ufrj.br>
- Date: Thu, 03 Apr 2008 14:00:08 -0300
O texto abaixo foi lido na na seção da 9 EBEB em Homenagem ao Carlos
Basilio
Como irmão seria difícil falar de Carlinhos sem entrar em confidencias
familiares.
Filho de classe media , media baixa , ou como diria nosso amigo
?comunista? Zé Ferreira ( conhecido atualmente como Carvalho de Campinas)
, família pequena burguesa . com todas as suas implicações morais, éticas.
Nossa infância foi feliz , nascemos em Copacabana na Maternidade Arnaldo
de Morais, como medico de família Dr. Arlindo Noia ,assistente do famoso Dr
Delamare, moramos ate os 3 ou 4 anos no Catete e em seguida mudamos para o
Leblon , na época local longe da cidade. Ai vivemos nossa infância e
adolescência e ate hoje e o nosso refugio (atualmente residência da irmã
caçula e sobrinha)., sem luxo, mas felizes e alegres.
Com um pai Basílio, comerciário , vendedor de maquina operatrizes , típico
carioca , boêmio, filho preferido da mãe, Sra do interior do Rio, Cambuci e
de um avo professor de português ex seminarista., O melhor retrato de nosso
pai nos foi apontado recentemente pelo amigo Sergio Weshler ao nos mostrar
uma crônica do Arnaldo Jabour sobre seu avo.
Nossa mãe Nazareth ,embora não tenha estudado mais que o primário , não
so por costume da época mas principalmente por causa da crise mundial dos
anos 30 que trouxe a pobreza ao nosso avo materno , na época dono de quase
toda Terezopolis (cidade serrana próxima do Rio de Janeiro), quando a mesma
tinha 12 anos. De uma família de com 32 irmãos de dois casamentos de nosso
avo, teve uma educação caseira aristocrática italiana, sabia tudo de
etiqueta e musica clássica. Com todas essas restrições se aposentou em 1992
como Assistente Social Provisionada da FIOCRUZ e foi a grande responsável
pela educação dos filhos. Espelhou em nos suas impossibilidades de estudar e
em suas palavras : colocaria um diploma na mão de cada filho.
Bolão como era conhecido , desde pequeno foi sempre um grande sedutor e
persiste ate hoje.Conseguia tudo, sendo o preferido desde a empregada-babá
Tereza, do pai, vizinhos , amigos de rua e infância e dos professores.
Ao terminarmos o primário, nosso pai desempregado não pode pagar mais
nossos estudos. Nossa mãe descobriu que a ENCE(Escola Nacional de Ciências
Estatísticas) inaugurava um Curso Comercial Básico (Ginásio) e no ultimo
conseguiu nossa matricula. Começamos na estatística com 11(ele) e 12 anos
(eu).
Lá tivemos os melhores professores , não só no Comercial como em seguida
no Técnico em Estatística: Catedráticos da UFRJ, Pedro II, Itamarati
etc.Entre eles Albert Ebert (Química), Arthur Weiss (Historia), Espiridião
Faissol (Geografia), Helena Lacourt (Descritiva) Jose Carlos de Mello e
Souza e Adão Pereira (Matemática) e outros.
Nesta faze sempre foi bom aluno com exceção de descritiva . e sempre o
preferido dos professores especialmente dos de matemática ( suas únicas
concorrentes eram Sonia e Silvia nossas musas de adolescência).
Mesmo sedutor nunca deixou de ser preciso e nunca usou isso para
beneficio acadêmico. Não sei dos outros colegas , mas de minha parte devo a
ele muita ajuda em Português no vestibular e Probabilidades mais tarde na
graduação.
Ainda no ultimo ano do Técnico ( já nesta época tínhamos o Zé Ferreira e
Helio Migon como colegas de turma) , em 1963/64 começamos a trabalhar, ele
em controle de qualidade na GE-General Eletric. Fazíamos o 3 Técnico de
manha, trabalhávamos a tarde e fazíamos cursinho vestibular a noite. Em
seguida saiu da GE para a FIOCRUZ como Instrutor no curos de Saúde Publica
da ENSP ( Escola Nacional de Saúde Publica), isto durou toda a graduação.
Não deixo de mencionar que a escolha caseira de indica-lo para a
FIOCRUZ foi não só para livra-lo da distancia da GE , mas principalmente por
eu acha-lo mais capaz . Ainda hoje não sei se ele lembra esta minha opinião
da época.
Durante a graduação participamos das manifestações dos tumultuados anos
1964-1968. Ele sempre maneiroso , em vez de bater de frente como eu , com os
?adversários? de direita procurava e conseguia o apoio da maioria dos
?inocentes úteis? ou ?alienados? na s votações das assembléias que
pipocavam na época.
Uma outra característica que nos difere ate hoje , já despontava esta
época, por exemplo: enquanto eu primeiro lia toda a teoria do livro de
Calculo do Kaplan, ele ia direto a lista de exercícios e começava por
resolve-los. Isto lembra a frase de Einstein : em ciência e mais importante
criatividade que conhecimento. Nisto Carlinhos é imbatível.
Durante a graduação foi sempre bom estudante em uma turma de 36 (
acredito que deve ter terminado 2 ou 3 colocado. Certamente atrás de nosso
finado e querido Ronaldo Eckstein mas na frente de meu 6 lugar.). Isto em
uma turma de alunos em que, pelo menos 5 obtiveram o PhD no exterior como
Aloisio Pessoa de Araújo, Jose Ferreira de Carvalho e Frederico Antonio
Azevedo de Carvalho e todos de alguma forma incentivados pelo Caio Dantas.
Após a graduação e 11 anos na mesma sala de aula , continuei no Rio e
ele foi para São Paulo onde obteve uma formação sólida em Matemática e
Genética e que marcaram sua carreira ate hoje. Mais tarde nossa Genealogia
Estatística novamente se ligou após minha estadia por um ano nos EUA em
2003 ( ver www.po.ufrj.br/basilio)
Considero Carlinhos o melhor e mais ? scholar? dos Estatísticos
brasileiros, no sentido de não pautar sua carreira em um só assunto ou
técnica , nem em problemas pequenos que no fundo só resultam em mais um
?paper?. Ele sempre pensa em problemas importantes e quer resolve-los de uma
maneira original sem olhar soluções já obtidas, como fazia com o livro do
Kaplan.
Eu embora tenha tentado divulgar a Estatística Bayesiana no Rio ( 1978-
Aplicação de Previsão Bayesiana na Demanda de Eletricidade em FURNAS , 1980
- Descoberta Petrolífera usando Regressão Logística Bayesiana na Petrobrás,
e promovendo a visita por 3 meses na UFRJ em 1980 do Professor Adrian Smith
) ele Carlinhos foi realmente o primeiro Bayesiano brasileiro e conseguiu
motivar e inspirar a maioria dos Bayesianos no Brasil.
Como filho preferido que recebia ensinamentos privilegiados de nosso
pai, recentemente ele tem me repassado alguns. Um destes , bem machistas
explica porque Carlinhos não é perfeito:
? Para estar tranqüilo frente a cobranças , o homem tem que ter remorsos.?
Carlinhos foi uma bela oportunidade poder abrir meu coração e falar
coisas que guardava com carinho do irmão.
Basílio de Bragança Pereira
9 EBEB- Maresias , SP , 24 de fevereiro de 2008