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Re: FW: [ABE-L]: Correlação Positiva?



Oi Tereza,

 

Este tipo de estudos em que um pesquisador nao tem poder de decidir quem e "rico" e quem "pobre" sao chamados de "estudos observacionais"; nao sao experiencias estatisticas completas como por exemplo quando dividimos um grupo de ratos de laboratorio aleatoriamente em dois grupos e damos um medicamento a um dos grupos; nesse caso, como os dois grupos sao exactamente iguais com a unica diferenca que um grupo recebeu um medicamento e outro nao, se observarmos que o grupo de "tratamento" tem uma incidencia menor de doenca ou mortalidade, entao podemos dizer com seguranca que ou "tratamento" tem um impacto na doenca.

 

No caso do suposto estudo que observou correlacao entre nivel socio-economico de estudantes e os pontos em teste de QI, o "tratamento" sera o nivel socio-economico dos participantes na experiencia. O grande problema de estudos observacionais e' que o pesquisador nao tem poder de dizer (aleatoriamente) que " agora a pessoa A e rica" ou a "agora a pessoa B e pobre". Isso quer dizer que o grupo de pessoas ricas e pobres tem outras diferencas para alem das diferencas socio-economicas, por isso quando se observam diferencas a nivel de QI nao podemos dizer que essa diferenca e somente devido ao nivel socio-economico (o nome tecnico para as "outras diferencas" e de "variaveis escondidas" ou em ingles "lurking variables" ou "possible confounding factors").

 

Neste caso em particular, ha "variaveis escondidas" muito obvias (dou dois exemplos):

1) Qualidade das escolas que os participantes frequentaram antes de fazer o teste

2) Ambiente familiar em que foram educados

Como e que estas variaveis escondidas podem confundir a correlacao observada?

Pense no assunto deste modo:

Se voce tem um participante abaixo da media em termos socio-economicos, ha uma grande probabilidade que tenha tido uma qualidade de educacao abaixo da media tambem; ai podemos dizer que os niveis baixos de QI sao devidos a ma qualidade de educacao e nao devido directamente a ser pobre; ou seja, a associacao entre pobreza e niveis baixos de QI e' so indirecta.

E' preciso saber mais detalhes do estudo do Senhor Charlton para saber se ele pensou com cuidado em todas as possiveis variaveis escondidas (coisa que e tradicionalmente dificil fazer) e se controlou essas variaveis (por exemplo, se ele teve o cuidado de comparar ricos e pobres que frequentaram escolas semelhantes e tiveram ambientes familiares semelhantes).

Se o Senhor Charlton nao controlou estas variaveis entao nao se pode dizer que haja uma "seleccao natural dos melhores" como o ele diz, mas sim que simplesmente um grupo de pessoas tem maiores possibilidades de se preparar para testes QI que outras. Na verdade, ao ler a noticia, deu-me a sensacao que ele nao fez um estudo cuidado desta questao (ate porque ele usou estes "estudos" para apoiar uma opiniao em relacao a outra questao: o facto que ha maior proporcao de pessoas de estratos sociais superiores em universidades - questao ainda mais susceptivel a "variaveis escondidas"!!!)

 

Em geral, como nao se podem planejar experiencias completas (como a dos ratos acima, em que o "tratamento" seria o nivel socio-economico); sera muito dificil provar que uma pessoa rica e' intrisicamente mais inteligente que uma pessoa pobre.

 

Ha outra coisa importante a dizer: o Senhor Charlton assume que os teste de QI sao uma boa medida de "superioridade intelectual"; coisa que qualquer psicologo lhe dira nao e verdadeira de modo nenhum.

 

Eu gostaria de dizer que e preciso ter muito cuidado quando se tenta anunciar ao mundo conclusoes deste genero; pessoalmente eu tenho de dizer que o rigor cientifico do Senhor Charlton nao me inspira muita confianca. 

 

 Bruno Mendes.


--- On Sat, 5/24/08, Tereza Silva <tiz_ce@hotmail.com> wrote:

From: Tereza Silva <tiz_ce@hotmail.com>
Subject: FW: [ABE-L]: Correlação Positiva?
To: abe-l@ime.usp.br
Date: Saturday, May 24, 2008, 8:06 PM



 
 


Sobre a correlação positiva... a que fatrores ela se deve? como pôr abaixo essa afirmação "equivocada"?
 
Mas... desculpe... acho que tal afirmação tem lá seu "q" de verdade...
 
É meu ponto de vista extremamente singelo. De uma estudante que acompanha seus interessantíssimos colóquios, e que provêm de uma classe social menos favorecida!
 
 

          






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