[Prévia] [Próxima] [Prévia por assunto] [Próxima por assunto]
[Índice cronológico] [Índice de assunto]

Re: [ABE-L]: Matéria VEJA - Estatística deveria ser obrigatória?



Maravilha!!! Chegamos ao "coul de sac". Nada de cultura, somente 
materias "práticas". Estatística é melhor do que filosofia, como matéria de 
ginasial? Por que uma e não a outra? 

O ensino já é isso mesmo. Formamos gente "prática", sem cultura. Nada de 
português, ora bolas! O ginasiano sabe falar, não é? Para que regras 
gramaticais? Para que ler Camões? Shakespeare, nem pensar. Música: Xitãozinho 
e Xororó bastam; para que Mozart? 

O estatístico pode falar em coeficiente de achatamento. Para que "curtose"?

É... mas a conseqüência de falta de cultura é a incapacidade de formular 
modelos, de entender processos físicos, de acompanhar nomes da medicina, e 
por aí vai. 

É... "smalltalk" vai ser nossa língua. Ela basta, "companhero"!

Triste... Seriamente - eu ficaria com português, com várias línguas 
estrangeiras, com filosofia, com história, com muita física, química, 
biologia e matemática. E, claro, por que não, até com estatística. Ah, não 
esqueçam do latim. Grego, quem sabe? Como dizia Paulo Francis, daquele jeito 
arrogante, rabugento e, de seu modo, simpático, "cultura não  ofende a 
ninguém".

Rafael, esse trecho é interessante, mesmo. O apelo ao ensino da estatística é 
interessante. Mas nem caberia discussão sobre ensinar filosofia e sociologia? 
Questão: há professores? O curso será um mero meio de doutrinar, de ensinar 
um "pensamento" político? Mas esses são problemas e aberrações. Em tese, sim, 
vamos ensinar filosofia.

On Tuesday 01 July 2008 23:55:22 Rafael Bráz wrote:
> Caros,
>
> Hoje me deparei com um texto muito interessante quando visitei o sitio da
> UOL, nele encontra-se uma matéria intitulada de " Para que filosofia e
> sociologia obrigatórias?     ".
>
> Neste e-mail coloquei um título com o nome Estatística, pois é sobre ela
> que fala realmente a matéria. O texto fala sobre a introdução de filosofia
> e sociologia no currículo, quando devia-se realmente incluir a estatística
> .
>
> Abaixo algumas frase retiradas do texto.
>
> "Se                                  fosse para incluir uma nova disciplina
> em nosso                                  currículo, adoraria que fosse
> estatística."
>
> "Sem                                  uma comprovação empírica, qualquer
> pensamento                                  é apenas uma tese."
>
> "hoje vejo que a matéria mais importante é                           
> estatística." --------
> Link da página
>
> http://veja.abril.uol.com.br/gustavo_ioschpe/notas_300608.shtml
> ------------
> Texto completo abaixo:
> --
> Notas
>                          Errar é humanas
>
> Eu só descobri que não entendia nada                            de
> matemática quando conversava com um colega                           
> russo, no mestrado, sobre o assunto. Aquilo que pra                        
>    mim exigia um grande esforço mental, de montagem                        
>    de equações e de tentativa de operações                           
> algébricas, para ele era visivelmente algo automático,                     
>       instintivo, como a construção de uma frase                           
> em sua língua natal. Não sei exatamente                            como os
> russos ou os asiáticos ensinam a matemática,                            mas
> hoje entendo por que o nosso ensino é tão                            fraco.
> No Brasil, não se ensina matemática.                            Se ensina a
> resolução de problemas matemáticos. Nossas escolas explicam a mecânica da
> coisa.                            Pra somar e subtrair, você "passa um pra 
>                           lá", "tira um de lá" e                           
> pronto, está aí o resultado. Multiplicação                            é
> simples: basta decorar a tabuada e, para números                           
> maiores, adicionar a mecânica da adição.                            A
> divisão é também uma questão                            quase geográfica:
> coloque o divisor aqui, o dividendo                            ali, na
> "cadeirinha", puxe a tabuada da memória                            e vá
> seguindo até que se encontre o resultado                            e o
> "resto". Trigonometria é um exercício                            de
> decoreba de fórmulas e ângulos. Geometria                            é como
> se fosse um quebra-cabeça com algumas                            peças
> faltando: basta saber que a soma dos ângulos de um triângulo é 180 graus,
> ou o teorema                            de Pitágoras ou a fórmula do raio
> de uma                            circunferência para se resolver todo e
> qualquer                            problema. Os problemas costumam ser de
> uma inutilidade                            total, mais na linha de "um
> círculo inscrito                            em um quadrado de lados..." do
> que "para colocar                            uma pizza em uma caixa
> quadrada...". O problema é fundamentalmente filosófico,                    
>        epistemológico: a maioria das pessoas entende                       
>     a matemática como uma ferramenta que precisamos                        
>    dominar para resolver alguns problemas do cotidiano.                    
>        Mas a matemática não é isso. A                            matemática
> é uma linguagem que descreve                            o mundo. Todo o
> mundo físico é traduzível                            em números, com
> acuidade muito maior do que a                            descrição feita
> por palavras. Além                            disso, a matemática é a
> árvore                            da qual brotam os frutos das ciências
> exatas:                            física, química, biologia, estatística, 
>                           engenharia, medicina - nada disso seria possível 
>                           sem a matemática.
>
> Eu só fui descobrir isso quando já estava                            no
> mestrado. De tudo que estudei na vida - e acabei                           
> estudando, na faculdade, história, ciência                           
> política, psicologia, sociologia, economia, geologia,                      
>      marketing, administração, contabilidade,                           
> crítica literária, filosofia e outras                            que nem me
> lembro mais, não apenas por desejo                            e curiosidade
> próprias, mas porque o sistema                            americano impõe
> essa multidisciplinaridade -                            hoje vejo que a
> matéria mais importante é                            estatística. Achava a
> matéria um porre                            quando a cursei, no primeiro
> ano. O que é natural,                            aliás: aos 18 anos, o
> cérebro humano está                            demasiadamente encharcado de
> hormônios para que os pensamentos possam nadar. Agora vejo que a
> estatística                            é a base de tudo, é o que
> possibilita                            a distinção entre a opinião e o     
>                       fato, a aparência e a realidade (as "formas"         
>                   platônicas). Sem estatística não                         
>   pode haver ciência exata nem ciência social.                           
> Cada vez mais entendemos que comportamentos que antes                      
>      podiam ser debatidos apenas por filósofos, romancistas                
>            e poetas agora são explicáveis através                          
>  da aplicação rigorosa de métodos                            estatísticos.
> É claro que a estatística                            não responde as
> perguntas fundamentais da existência                            - como
> viver a boa vida? - mas tampouco o faz a filosofia,                        
>    com a agravante que uma filosofia desprovida de estatística             
>               é apenas um teatro para o duelo de visões                    
>        antagônicas e insubstanciadas, com resultados                       
>     potencialmente nocivos. "Errar é humanas",                           
> disse um professor de história da arte da Unicamp                          
>  que me acompanhava em um debate anos atrás, numa                          
>  daquelas manifestações de auto-ironia                            que não
> têm sinceridade nenhuma. Não,                            errar não é
> humanas. Há muito acerto                            - e muito erro -
> naquilo que se produz nas humanas.                            O difícil,
> sem o auxílio da estatística,                            é separar o joio
> do trigo. Não é                            que errar seja humanas, é que a
> convicção                            do acerto só pode vir com a ajuda das
> exatas.                            Sem uma comprovação empírica, qualquer  
>                          pensamento é apenas uma tese. Os filósofos        
>                    e historiadores que me lêem deve estar nauseados,       
>                     mas mal sabem eles que esse axioma os cerca em todo    
>                        lugar. Os remédios que eles tomam quando estão      
>                      doentes só são aprovados ao passar por                
>            um processo estatístico que os separe de um placebo             
>               ineficaz. Todos os processos produtivos/industriais          
>                  que geram os bens que consumimos são calibrados           
>                 e controlados por ferramentas estatísticas de              
>              controle de qualidade. As peças dos carros que                
>            dirigimos são submetidas a testes estatísticos                  
>          que asseguram sua confiabilidade. O computador no qual            
>                você lê esse artigo só existe por uma ferramenta estatística
> que determina a sua                            eficiência. A civilização
> moderna                            não é possível sem a estatística.       
>                     E, ainda assim, está na moda praguejar contra          
>                  números. Até professores renomados, como                  
>          esse da Unicamp, podem falar bobagens como "os                    
>        números são criações humanas                            e, como tal,
> têm uma intencionalidade" e                            se sentir bem, como
> se não estivessem cometendo                            um crime
> intelectual. Essas idéias me vêm à mente quando                           
> vejo que filosofia e sociologia foram incluídas                           
> como matérias obrigatórias no currículo                            do
> ensino médio. Veja só: nosso sistema                            educacional
> é um fracasso tão retumbante que, na última medição em que o               
>             desempenho dos alunos foi dividido em níveis,                  
>          o SAEB de 2003 apontou que 55% dos alunos da quarta               
>             série estavam em situação crítica                            ou
> muito crítica em leitura, o que quer dizer                            que
> eram praticamente analfabetos. A maioria dos alunos                        
>    que faz a prova de Matemática no SAEB acha que                          
>  "3/4" é 3,4, e não 0,75. Não                            entendem nem a
> notação de uma fração.                            Achar que esses
> professores, com essa qualidade, conseguirão                           
> ensinar filosofia e sociologia a esses alunos é                           
> o que os ingleses chamam de wishful thinking,                            um
> otimismo despropositado. No primeiro semestre da faculdade, li um texto
> muito                            bom de Paulo Freire, em que ele dizia que
> era preciso                            read the word to read the world (ler
> a palavra para                            ler o mundo). Não sei se ele o
> escreveu em inglês                            ou se a tradução foi
> especialmente fortuita,                            mas o enunciado é
> verdadeiro: é impossível                            entender a complexidade
> do mundo se você não                            sabe ler. É impossível
> estudar filosofia                            se você não sabe ler. Essas
> aulas serão                            apenas uma maneira mais escancarada
> de se praticar o                            doutrinamento do marxismo
> rastaquera que impera em nossas                            escolas. Eu
> particularmente ficaria muito contente se                            os
> nossos alunos saíssem do ensino médio ignorantes de filosofia e sociologia,
> mas conseguindo                            ler um texto e entendendo-o,
> para que tomassem suas                            próprias conclusões
> filosóficas                            ao lerem seus próprios livros. E se
> fosse para                            incluir uma nova disciplina em nosso
> currículo,                            adoraria que fosse estatística. A
> maioria dos                            alunos a detestaria e aprenderia
> muito pouco, mas talvez                            uma minoria conseguisse
> extrair daí o ferramental                            que lhe permitiria
> julgar, com a sua própria                            racionalidade, a
> veracidade das teorias com que são                            bombardeados
> na escola, nas ruas, na mídia. O                            que de melhor
> pode haver no processo educacional do                            que a
> capacidade de não apenas instigar a capacidade                           
> de questionamento dos alunos, mas também dar-lhes                          
>  o instrumental que lhes permitirá solucionar                           
> esses próprios questionamentos sozinhos?
> ------------------------------------------------------------------- Ainda
> números
>                                                                            
>                                                                            
>        Para quem gosta de números e, mais ainda, para                      
>      quem não gosta, vale a pena ver o filme Quebrando                     
>       a Banca (assista a crítica do filme no                           
> vídeo abaixo), que conta                            a história verídica de
> alunos do MIT que                            se aproveitam da estatística
> (mais especificamente                            o ramo da probabilidade)
> para encontrar uma maneira                            honesta de derrotar o
> cassino no jogo de blackjack                            e ganhar milhões de
> dólares no processo.                            O filme saiu de cartaz há
> pouco em São                            Paulo, então deve chegar às
> locadoras                            em breve. Recomendado para todos os
> professores de matemática                            que não conseguem
> fazer seus alunos se interessarem                            pela matéria.
> Quem gostou do filme gostará                            ainda mais do livro
> que lhe deu origem, Bringing                            Down the House, de
> Ben Mezrich (Quebrando a Banca,                            na tradução
> brasileira, da Companhia das                            Letras). Outro bom
> (e pequeno) livro para aqueles que querem                            gostar
> de números é Fermat's Last Theorem,                            de Amir
> Aczel (que eu saiba, inédito em português.                            Não
> confundir com O Último Teorema                            de Fermat, de
> Simon Singh).
> ---------------------------------------------------------------------------
>------------------------
>
>
> Abs
>
> Rafael Bráz
> http://www.ime.usp.br/~rfarias
>
>
> ---------------------------------
> Novos endereços, o Yahoo! que você conhece. Crie um email novo com a sua
> cara @ymail.com ou @rocketmail.com.



-- 
José F. de Carvalho, PhD
Statistika Consultoria
+55-19-3236-7537