Caros,
Apenas reforçando a mensagem do Dani.
Muitas, das principais avaliações educacionais (nacionais e regionais) realizadas no Brasil, se utilizam, em menor ou maior escala, dos recursos da TRI. Nesse tipo de estudo, comumente, surgem detalhes para os quais não existem metodologias da TRI que sejam tão apropriadas quanto se necessita. Isso dá margem a pesquisas científicas e, nesse sentido, a academia tem bastante a contribuir.
Cordiais Saudações,
Caio
--- Em qua, 1/4/09, Dani Gamerman <dani@im.ufrj.br> escreveu:
De: Dani Gamerman <dani@im.ufrj.br> Assunto: [ABE-L]: ENEM, unificação dos vestibulares e a TRI Para: abe-l@ime.usp.br Data: Quarta-feira, 1 de Abril de 2009, 22:39
Caros
A mensagem do Presidente do INEP abaixo contendo uma proposta de
unificação dos vestibulares foi enviada hoje aos professores do IM/UFRJ.
Acho que a pessoa mais apropriada para envio dessa msg à ABE seria o
nosso colega Heliton Tavares, Diretor do INEP responsavel pelo ENEM.
Além da discussão importante sobre o conteúdo da proposta, gostaria de
pontuar aqui nessa lista a menção explícita e uso de Teoria de Resposta
ao Item (TRI) e alguns de seus conceitos, como modelo de 3 parâmetros e
proficiência. Isso é consequência do trabalho de muitos anos de alguns
de nossos colegas.
Aproveito para informar que estaremos organizando o I Congresso
Brasileiro de Teoria de Resposta ao Item de 9 a 11 de dezembro de 2009
em Florianópolis. Oportunamente estaremos passando mais detalhes sobre
esse evento mas adianto que parte das pessoas responsáveis pela
disseminação da TRI no Brasil estará presente.
Atenciosamente
Dani
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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA
Brasília-DF, 30 de março de 2009
Senhor Presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições
Federais de Ensino Superior - Andifes
Proposta: unificação dos processos seletivos das Instituições Federais de
Ensino
Superior a partir da reestruturação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem)
1. A razão da proposta: cenário atual
Os exames de seleção para ingresso no ensino superior no Brasil (os
vestibulares) são um instrumento de estabelecimento de mérito, para
definição
daqueles que terão direito a um recurso não disponível para todos (uma vaga
específica em determinado curso superior). O reconhecimento, por parte da
sociedade, de que os vestibulares são necessários, honestos, justos,
imparciais
e que diferenciam estudantes que apresentam conhecimentos, saberes,
competências
e habilidades consideradas importantes é a fonte de sua legitimidade.
Parte-se aqui, portanto, do reconhecimento da necessidade, importância e
legitimidade do vestibular. O que se quer discutir são os potenciais ganhos
de
um processo unificado de seleção, e a possibilidade concreta de que essa nova
prova única acene para a reestruturação de currículos no ensino médio.
Ainda que o vestibular tradicional cumpra satisfatoriamente o papel de
selecionar os melhores candidatos para cada um dos cursos, dentre os
inscritos,
ele traz implícitos inconvenientes. Um deles é a descentralização dos
processos
seletivos, que, por um lado, limita o pleito e favorece candidatos com maior
poder aquisitivo, capazes de diversificar suas opções na disputa por uma das
vagas oferecidas. Por outro lado, restringe a capacidade de recrutamento
pelas
IFES, desfavorecendo aquelas localizadas em centros menores.
Outra característica do vestibular tradicional, ainda que involuntária, é a
maneira como ele acaba por orientar o currículo do ensino médio.
A alternativa à descentralização dos processos seria, então, a unificação
da
seleção às vagas das IFES por meio de uma única prova. A racionalização
da
disputa por essas vagas, de forma a democratizar a participação nos
processos de
seleção para vagas em diferentes regiões do país, é uma responsabilidade
social
tanto do Ministério da Educação quanto das instituições de ensino
superior,
em
especial as IFES. Da mesma forma, a influência dos vestibulares tradicionais
nos
conteúdos ministrados no ensino médio também deve ser objeto de reflexão.
1.1 Democratização das oportunidades de concorrência às vagas federais de
ensino
superior
Exames descentralizados favorecem aqueles estudantes com mais condições de se
deslocar pelo país, a fim de diversificar as oportunidades de acesso às
vagas em
instituições federais nas diferentes regiões. A centralização do processo
seletivo nas IFES pode torná-lo mais isonômico em relação ao mérito dos
participantes.
Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2007 (Pnad/IBGE) mostram
que, de todos os estudantes matriculados no primeiro ano do ensino superior,
apenas 0,04% residem no estado onde estudam há menos de um ano. Isso
significa
que é muito baixa a mobilidade entre estudantes nas diferentes unidades da
Federação. Ainda que o Brasil seja um país com altas taxas de migração
interna,
isso não se verifica na educação superior.
Para efeito de comparação, nos Estados Unidos aproximadamente 20% dos
estudantes
cruzam as fronteiras estaduais para ingressar nas instituições de sua
escolha.
As estatísticas do National Center for Education Statistics apontam que, em
1998, 19,2% dos estudantes ingressaram em colleges ou universidades
americanas
fora de seu estado de origem.
Reestruturar o Enem para utilizá-lo como prova unificada evidencia o papel
que o
exame já cumpre. Afinal, ao longo de onze edições, a procura pelo Enem subiu
de
150 mil para mais de 4 milhões de inscritos, sendo que mais de 70% dos
participantes afirmam que fazem a prova com o objetivo maior de chegar à
faculdade.
Tabela - Motivos alegados para fazer o Enem - Brasil - 2008
Categoria de Respostas
Freqüência Absoluta
Percentual
Todas as categorias
Categorias válidas
Para testar meus conhecimentos / minha capacidade de raciocínio
377.306
12,92
15,37
Para entrar na faculdade / conseguir pontos para o vestibular
1.811.079
62,01
73,79
Para ter um bom emprego / saber se estou preparado(a) para o futuro
profissional
255.619
8,75
10,41
Não sei
10.481
0,36
0,43
Subtotal
2.454.485
84,04
100,00
Sem informação
294.313
10,08
Resposta inválida
10.683
0,37
Não entregou o questionário socioeconômico
161.079
5,52
Subtotal
466.075
15,96
Total
2.920.560
100,00
Fonte: Questionário socioeconômico do Enem 2008
1.2 Novo Enem como instrumento de indução da reestruturação dos currículos
do
ensino médio
A nova prova do Enem traria a possibilidade concreta do estabelecimento de
uma
relação positiva entre o ensino médio e o ensino superior, por meio de um
debate
focado nas diretrizes da prova. Nesse contexto, a proposta do Ministério da
Educação é um chamamento. Um chamamento às IFES para que assumam
necessário
papel, como entidades autônomas, de protagonistas no processo de repensar o
ensino médio, discutindo a relação entre conteúdos exigidos para ingresso
na
educação superior e habilidades que seriam fundamentais, tanto para o
desempenho
acadêmico futuro, quanto para a formação humana.
Um exame nacional unificado, desenvolvido com base numa concepção de prova
focada em habilidades e conteúdos mais relevantes, passaria a ser importante
instrumento de política educacional, na medida em que sinalizaria
concretamente
para o ensino médio orientações curriculares expressas de modo claro,
intencional e articulado para cada área de conhecimento.
2. Requisitos da proposta
A proposta é que o Exame Nacional do Ensino Médio - Enem seja utilizado pelas
instituições de ensino superior para subsidiar seus processos seletivos. No
intuito de viabilizar a utilização de seus resultados para tal finalidade, o
Inep/MEC propõe uma reestruturação metodológica do exame, que seria
aplicado
no
mês de outubro e cujos resultados consolidados seriam entregues no início do
mês
de janeiro.
A nova prova seria estruturada a partir de uma matriz de habilidades e um
conjunto de conteúdos associados a elas. A proposta inicial para a matriz de
habilidades seria similar às diretrizes que hoje compõem o Exame Nacional
para
Certificação de Competências de Jovens e Adultos, o Encceja. Assim, o novo
exame
seria composto por quatro testes, um por cada área do conhecimento, a saber:
(i)
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias (incluindo redação); (ii) Ciências
Humanas e suas Tecnologias; (iii) Ciências da Natureza e suas Tecnologias; e
(iv) Matemática e suas Tecnologias. Esta estrutura aproximaria o exame das
Diretrizes Curriculares Nacionais e dos currículos praticados nas escolas,
mas
sem abandonar o modelo de avaliação centrado nas competências e habilidades.
Em
relação ao conjunto de conteúdos, este seria construído em parceria com a
comunidade acadêmica, neste caso específico, as IFES.
Cada um dos quatro testes seria composto por aproximadamente 50 itens de
múltipla escolha, totalizando 200. Metade deles seria administrada em um
primeiro dia de aplicação e a outra metade em um segundo, além de uma
redação.
Essa configuração permitiria ao Enem ter boa precisão na aferição das
proficiências.
Um cuidado especial deverá ser tomado quanto à complexidade dos itens que
comporão os testes. Tendo por base a finalidade de seleção que o Enem
assumirá e
uma expectativa de candidatos extremamente preparados, é fundamental que o
delineamento dos testes comporte um número razoável de itens de alta
complexidade, capaz de discriminar alunos de altíssima proficiência daqueles
de
alta proficiência. Isso significa que os testes devem ser muito informativos
também para a faixa superior da escala.
O cuidado especial com a elaboração de itens e a composição dos testes
remete a
um planejamento estruturado: (i) itens pautados pela matriz de habilidades e
conjunto de conteúdos a elas associados; (ii) itens elaborados e revisados a
partir de critérios técnicos e pedagógicos estabelecidos com base empírica
e
na
literatura; e (iii) itens pré-testados, identificando parâmetros
estatísticos de
discriminação, de dificuldade e de probabilidade de acerto ao acaso.
Quanto à escala, será utilizada a Teoria de Resposta ao Item, sob o modelo
logístico de três parâmetros, que permite a comparação de resultados entre
diversos ciclos de avaliação. Propõe-se a construção de quatro escalas
distintas, uma para cada área do conhecimento. Cada escala será capaz de
ordenar
os estudantes conforme seu nível de proficiência, sendo possível às IFES
estabelecer distintas ponderações ou pontos de corte para seleção de seus
candidatos.
Espera-se, assim, que a reestruturação do Enem atenda plenamente à demanda
das
IFES por um instrumento de alto poder preditivo de desempenho futuro, capaz
de
diferenciar estudantes em diferentes níveis de proficiência.
O Inep domina a tecnologia de desenvolvimento de testes pela metodologia da
TRI,
que se caracteriza por medir habilidades de cada indivíduo e pela
utilização de
itens de prova com diferentes níveis de dificuldade, que permitem
identificar o
nível de habilidade do alunos a partir do conjunto de itens que ele acerta.
O Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica - Saeb / Prova Brasil,
conduzido pelo Inep, já é desenvolvido a partir da metodologia da Teoria de
Resposta ao Item - TRI há mais de dez anos. Na aplicação da prova para o
ensino
médio, ainda que hoje o Saeb foque as disciplinas de língua portuguesa e
matemática, em 1997 a prova já avaliou conteúdos de física, química,
biologia,
história e geografia. Portanto, a tecnologia em avaliação permite que se
construa exame que atenda à demanda das IFES, e o Inep possui absoluto know
how
para conduzir com sucesso esse processo.
Aliar a capacidade técnica do Inep, no que diz respeito à tecnologia
educacional
para desenvolvimento de exames, à excelência acadêmico-científica das IFES,
é de
suma importância nesse momento. Trata-se não apenas de agregar
funcionalidade a
um exame que já se consolidou no País, mas da oportunidade histórica para
exercer um protagonismo na busca pela re-significação do ensino médio.
Reynaldo Fernandes
Presidente Inep/MEC
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Dani Gamerman
Depto. de Métodos Estatísticos
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