Curso deve permitir dedicação parcial do aluno, professor não precisa ter pós e haverá novas formas de avaliação
Lisandra Paraguassú
Para tentar incentivar a criação de mais mestrados profissionais no
País, o Ministério da Educação publica hoje uma portaria estabelecendo
novas regras para o credenciamento e a avaliação desses cursos.
Atualmente uma espécie de "primo pobre" do sistema de pós-graduação,
esses mestrados são voltados para profissionais do mercado, mas não
despertam muito interesse das universidades, especialmente as públicas.
A partir de agora, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
do Ensino Superior (Capes) fará uma avaliação especial dos mestrados
profissionais, levando em conta suas especificidades. Uma das ideias é
atrair instituições que tenham boas especializações para que elas sejam
transformadas em mestrados profissionais. Isso pode ocorrer até mesmo
com residências médicas.
Com isso, o ministério espera que esses
cursos cheguem a ser pelo menos 25% dos mestrados existentes no País -
hoje, com cerca de 250 cursos, representando 18% do total. Em 2007,
último dado disponível na Capes, o número de alunos matriculados em
mestrado profissional era de 7.638, ante 84.358 estudantes em mestrado.
As
mudanças na avaliação incluem, por exemplo, a admissão de professores
que não tenham mestrado ou doutorado, mas possuam expertise reconhecida
na área em que vão ensinar. Hoje, em um mestrado acadêmico todos os
professores precisam ter doutorado.
Os detalhes dos requisitos
de avaliação ainda não estão todos prontos, mas a Capes trabalha com a
possibilidade de que algo entre 40% e 50% dos professores dos mestrados
profissionais sejam do mercado. E os demais, apesar de serem titulados,
terão de ter experiência profissional na área do curso. "Acredito que
muitas instituições não têm interesse nos mestrados profissionais
porque eles seriam avaliados pelos mesmos padrões dos cursos
acadêmicos. Havia o temor da nota baixa", avalia o ministro da
Educação, Fernando Haddad.
A forma de avaliação dos alunos
também deverá ser mais variada. Em vez da tradicional dissertação, o
estudante poderá apresentar um artigo, a patente de um produto ou um
protótipo, projetos, e até mesmo algum tipo de produção artística, caso
seja essa a área.
Além disso, esse curso permitirá dedicação
parcial do aluno, ao contrário da pós-graduação acadêmica. Voltada para
a formação de professores, ela costuma exigir até a assinatura de um
documento em que o aluno diz quantas horas de seu dia vai dedicar ao
curso.
PRÓXIMOS PASSOS
Nos próximos dias será
lançado um edital para chamar as instituições de ensino superior que
planejam transformar suas especializações em mestrados ou as que
pretendem criar novos cursos.
"A atual situação inibe a demanda.
Muitos cursos de especialização lato sensu têm todas as condições e
características para se tornarem mestrados profissionais, mas não o
fazem por conta da avaliação", afirma Haddad.
Um exemplo são
as residências médicas, conforme o Estado antecipou em maio. Nenhuma
delas hoje no Brasil tem grau de mestrado, apesar de serem cursos de
pelo menos dois anos, com alta carga horária e especialização.
A
intenção do MEC é que alguns passem a ser mestrados, dando ao médico o
grau de mestre, além do certificado de especialista em uma área.
Uma
das intenções com a ampliação dos mestrados profissionais é facilitar o
cumprimento da meta do Plano Nacional de Pós-Graduação de formar 16 mil
doutores por ano até 2010. Atualmente, o País ainda forma pouco mais de
10 mil ao ano.
"Hoje uma pessoa que faz uma especialização ou
uma residência médica tem de voltar para fazer um mestrado acadêmico e
aí seguir para fazer o doutorado. Com o mestrado profissional,
poderíamos encurtar esse caminho, o que permitiria, com vantagens, o
cumprimento das metas do plano", explicou o ministro.
MUDANÇAS
Professores: O corpo docente deverá ter parte dos professores com experiência profissional
reconhecida no mercado e parte com titulação de mestrado e doutorado, mas que também tenham experiência profissional
Prazo: A duração do curso poderá ser de um ou dois anos, admitindo o regime de dedicação parcial dos alunos
Conclusão:
O trabalho de conclusão não terá de ser, obrigatoriamente, dissertação.
Poderá incluir, por exemplo, um artigo, um registro de patente, o
desenvolvimento de protótipos, relatórios de pesquisas e produção
artística
Outros dados: Permitirá créditos por trabalhos, como consultoria, feitos para o mestrado, mas fora da sala de aula
Avanço
do setor: O número de alunos matriculados em mestrados profissionais
passou de 862 em 1999 para 7.638 em 2007. Já o total de estudantes
titulados subiu de 56 para 2.331 no mesmo período