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Promessa



Eu gostaria de seguir o conselho do Mestre CABP e limitar-me aos assuntos 
técnicos e não adjetivar. Entretanto, só vou conseguir manter a segunda 
recomendação.

Tenho defendido aqui e em outros fóruns a reordenação do regime de cargos e 
salários dos professores das IFES de forma a que reflitam o trabalho 
efetivamente desempenhado e o fim dos expedientes para aumentar salários, 
sejam eles pela via da acumulação de cargos, de obtenção de bolsas-salário, 
ou outra extravagância qualquer. Requerer um marco regulatório eficaz é a 
melhor garantia contra salários baixos e desamparo nas aposentadorias e 
pensões. Os especialistas em teoria da relatividade da ABE parecem se 
esquecer de que quando se aposentarem não levarão nem a bolsa, nem o cargo 
acumulado para o benefício, obviamente, o mesmo também não ocorrerá com as 
pensões dos seus dependentes (a imortalidade só será garantida para as suas 
obras). 

Recentemente foi veiculada nesta lista e em outras também uma reportagem 
sobre o progresso científico do Brasil (medido em número de publicações pela 
Thomson Reuters(TR). Certamente é uma ótima notícia, porém, denota o 
crescimento de uma atividade cuja sustentabilidade corre riscos. Segundo o 
prof. F, temos por volta de 20.000 bolsistas de pesquisa, ora estamos 
formando 10.000 doutores por ano, mesmo que nem todos sigam o caminho da 
pesquisa, a demanda por bolsas vem aumentando, o que já gerou um movimento 
organizado de jovens pesquisadores por melhores critérios de distribuição de 
bolsas (aquelas que são julgadas pelos pares). É improvável que o CNPq vá 
bancar uma folha salarial que contemple um porcentual muito elevado dos 
119.368 docentes das instituições públicas de ensino superior (dados do 
censo 2008 do INEP). Não estou nem colocando na conta os 219.522 docentes 
das instituições particulares.

Além disso há um outro dado preocupante, de enorme repercussão pública. 
Observando-se a série histórica de ingressantes e concluintes de cursos 
presenciais nas IFES, nota-se que há uma  evasão muito grande  que oscila 
entre 29% a 43%. Se estabelecermos um intervalo de 4-5 anos para efeito de 
comparação (uma medida arbitrária possível) observamos que em 2001 
ingressaram 274.816 alunos nos cursos púbicos de graduação presencial. Em 
2005 concluíram o curso 195.554 alunos e em 2006,  183.085 alunos.  O que 
dá  entre 29% a 33% de perda. Em 2002 ingressaram 320.354 alunos presenciais 
nas IFES, em 2006 concluíram o curso 183.085 alunos e em 2007, 193.531. O 
que dá entre 40% a 43%. Em 2003 ingressaram 321.689 alunos presenciais nas 
IFES, em 2007 concluíram 193.531 e em 2008 concluíram 187.758. O que dá 
entre 40% e 42%. Sem dúvida é uma avaliação questionável, mas o número de 
concluintes está sempre bastante abaixo do de ingressantes. Uma das razões 
para isto é a desvalorização da carreira de professor, nos seus aspectos 
salarial e moral. Vários colegas da universidade (permitam-me chamá-los de 
colegas) só se identificam como pesquisadores, o que no Brasil significa 
publicar em um periódico da lista QUALIS (de preferência do topo da lista, 
que é feita pelos próprios interessados). Ora se há um ator que pode 
contribuir fundamentalmente para mudar este quadro é o professor que atua na 
graduação com compromisso. Há renomados departamentos com mais de 50% de 
bolsistas de produtividade científica que estão formando menos do que meia 
dúzia de alunos por ano, embora anualmente recebam de 40 a 60 ingressantes. 
Qualquer avaliador iniciante do SINAES não terá muita dificuldade em saber 
aonde usar o lápis vermelho.

Como já foi dito acima a produção científica brasileira medida pela TR 
cresceu substancialmente, a questão é manter este crescimento de forma 
sustentável sem ser predatório em relação às outras atividades inerentes à 
vida acadêmica. O professor B. desafiou a extensão e a tecnologia a seguir o 
caminho da pesquisa brasileira. Poderia ter incluído também a cultura, pois 
a universidade também produz cultura. Entretanto, assim como as atividades 
de pesquisa necessitam de financiamento e reconhecimento, o mesmo ocorre com 
a produção tecnológica e cultural. Atividades de extensão valem míseros 
pontos em qualquer formulário de avaliação. Mesmo para o INEP estas 
atividades têm peso muito menor que as  atividades ditas de pesquisa. Por 
isso o Brasil patina em tecnologia e a universidade contribui relativamente 
pouco para a cultura brasileira. Se não houver um programa sério de apoio a 
estas atividades, elas continuarão sendo marginais e de pouca expressão. 

Caríssimo prof.CABP admiro, dentre as suas muitas qualidades, o respeito com 
que trata seus pares, mas não concordo que devamos, mesmo nesta lista tão 
específica, ficar alheios ao contexto que nos envolve, até porque isso não é 
possível, por mais que o desejemos. Não acho que vamos resolver os problemas 
da educação no Brasil, mas tampouco os problemas da educação no Brasil 
poderão ser resolvidos sem a nossa participação, por menor que seja. 

   


Prof. Luis Paulo
C.P. 2386
20001-970 Rio de Janeiro, RJ

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