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Quem somos nós?



Caros redistas:

Creio que nossas discussões, tirando algum mal entendido, estão sendo úteis para
todos ou mesmo alguns, se eu não estiver enganado.  Ao colocar as nossas idéias
no ?papel? estamos mostrando quem realmente somos e como agimos na nossa vida
universitária.  Dessa forma, vejo que precisamos ter coragem para escrever para
um grupo seleto como o nosso.  Parabéns a nós mesmos!
Tenho aprendido muito com os argumentos do Luis, pois ao não concordar com
alguns (apenas alguns) pontos, estes me obrigam a refletir sobre a razão dessa
discordância e a lógica atrás de nossos raciocínios.  No entanto estou vendo que
estamos chegando a um ponto onde não estamos caminhando para frente.  Precisamos
dar uma pausa na divulgação de nossas ?teorias? e pararmos um pouco para
pensarmos na nossa ?prática?. 

Quero primeiramente chamar a atenção para a característica de professores
universitários como nós.  Somos mesmo um pouco pedantes e às vezes prepotentes.
 Vou dar um exemplo do que quero dizer.  Certo amigo, brilhante matemático,
acostumado a reclamar da nossa situação como professores universitários, não
cansava de dar exemplos sobre a vida fora da universidade.  Certa ocasião,
falando de um indivíduo, ícone de nossa sociedade na área de marketing, tentou
me mostrar a escolha ruim que fizemos na vida como professores universitários. 
Falou então de quão rico o cara era e, logicamente, comparou seus ganhos com o
daquele ex-colega.  Contou-me então como o cara colava nele pedindo ajuda em
matemática, física e química.  No entanto ele, o marketeiro, vivia como um
nababo enquanto nosso amigo sofria as agruras da vida universitária.  Minha
pergunta foi simples: Mas todos os alunos, seus colegas, foram desse porte? 
Todos tiveram sucesso? Respondeu-me então: claro que não, pois aquele seria o
único de sua ex-turma com esse tipo de sucesso na vida.  Minha derradeira
pergunta foi: Porque você só se compara com este indivíduo e não com os outros?
 Se você não tivesse vindo para a universidade seria mesmo do nível deste ou dos
outros?  Qual a probabilidade de você estar perto do sucesso e claro do
fracasso?  Terminamos o papo ali naquele ponto.  

Muitos de nós dizemos estar ocupados com tarefas cotidianas da nossa
universidade.  Caso contrário, artigos, dormindo na gaveta, já estariam
submetidos e logicamente publicados.  Meu amigo e Guru Professor Frota Pessoa
diria que este é o claro argumento da incompetência.  Se realmente os artigos
fossem submetidos, seriam mesmo publicados?  A tarefa de escrever é mesmo dura e
difícil!  A satisfação de ver um artigo escrito, no entanto, é enorme.  Ontem,
por exemplo, trabalhei a tarde toda em um artigo de uma colega da fisioterapia.
 Uma coisa muito simples, mas ao final foi uma grande satisfação ver o artigo
terminado com nossas idéias no papel.  Para aumentar a satisfação com nosso
produto, recebi o telefonema de uma colega do Butantã dizendo que mais um artigo
de nosso grupo tinha sido aceito em Mutation Research (revista Qualis A em todas
as áreas da CAPES, exceto lógico,...). 

Eis o que eu queria dizer: Chegamos num ponto onde precisamos parar para
reflexão e dizer claramente o que somos, para que viemos e o quanto fazemos.  No
momento que há a generalização ? todo pesquisador nível A é um professor ruim ?
é sinal de ressentimento e talvez amargura.  Sabemos todos que há bons e mal
professores, sendo estes pesquisadores ou não.  Eu por mim posso dizer que sou
um professor ruim em certas ocasiões, mas em outras tenho certeza que sou
excelente.  Como sei isso? É porque fico feliz com certas das minhas aulas e
muito infeliz com outras.  No semestre passado teve um dia que pedi desculpas a
minha turma pela aula anterior.  Penso muito no que faço e no que posso causar a
outras pessoas, sendo elas amigos, adversários e principalmente alunos.  Só sei
que classifico uma boa aula quando gosto e uma ruim quando não gosto. 
Certamente não saberia aqui definir para um jovem como seria dar uma boa aula. 
Tenho alguns colegas que quando dão aula produzem um quadro-negro maravilhoso;
digno de uma foto.  Há outros professores cujo quadro-negro é um caos. 
Entretanto, teríamos alunos que iriam preferir o primeiro tipo de aula e outros
que detestariam o primeiro com preferência para o segundo tipo.  
Pelo exposto acima, gostaria de desafiar o colega LPVB: É um bom professor? Como
você definiria um bom professor? Qualitativamente, como você se classificaria?
Dentre as atividades para as quais fomos contratados ? ensino, pesquisa,
administração e extensão ? qual a que o colega exerce melhor?  E qual a pior?  O
colega poderia ordenar essas atividades pela preferência e pela qualidade?

Do meu lado eu poderia dizer que participo de todas as atividades de minha
universidade.  Atualmente sou chefe de departamento e já fui diretor do IME. 
Creio que me consideraria um sofrível chefe ou diretor.  Quanto à extensão, das
minhas atividades, é a que considero de maior qualidade.  Embora tenha sido
paraninfo por duas vezes, penso ser ensino uma atividade que pratico de forma
sofrível: Nunca consegui escrever um texto adequado para meus alunos.  Como
orientador de teses e dissertações tenho cumprido meu papel com número razoável
de alunos.  Já na pesquisa não avalio minha participação como excelente.  Uso
minhas atividades de extensão para construir minha carreira de pesquisador:
tenho produzido na área exclusiva da estatística menos, talvez, do que
desejável.  Mas essa é mesmo minha escolha, pois é assim que trabalho com
alegria.  Certa vez, solicitei reclassificação ao CNPq, sou A2 faz algum tempo.
 A resposta que me foi dada foi muito interessante, pois a conclusão foi a de
que, embora tenha produzido cientificamente de forma considerável, minha maior
produção estava fora da estatística.  Essa é mesmo a minha auto-avaliação, nada
tive a contestar ? acabo de ter minha bolsa renovada em nível A2.  

Como disse anteriormente, somos mesmo prepotentes, pois como pode ser notado,
nunca me avaliei de forma totalmente negativa.  Assim caro colega, seria de
extrema utilidade, já que foram produzidas críticas contundentes, apresentar o
que você consideraria como uma participação universitária de valor e como você
se classificaria dessa forma.  

Na verdade o que quero saber é como seria a real valorização do ensino.  Claro,
também gostaríamos de ter a forma de se valorizar as outras atividades:
extensão, administração e pesquisa.  

Carlos Alberto de Braganca Pereira <cpereira@ime.usp.br>