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Deu no UOL: ... a taxa de expulsÃo nos EUA



10/01/2011 -

Uma estatÃstica que as escolas particulares escondem: a taxa de expulsÃo nos EUA

The New York Times
Sarah Maslin Nir
Nova York (EUA)

Milhares de pais que estÃo tentando colocar os filhos em escolas particulares estÃo agora ocupados enviando cartÃes de agradecimento para as sessÃes de admissÃo e roendo as unhas enquanto aguardam uma resposta.

Mas para um pequeno nÃmero de pais que jà passaram por esse desafio, essa Ãpoca do ano traz outro tipo de aviso â o de que seu filho està na corda bamba â à medida que comeÃa um processo ainda mais doloroso: o âaconselhamentoâ para que os alunos que nÃo tiveram sucesso deixem as escolas.

Este âaconselhamentoâ, que nÃo à discutido nas primeiras visitas Ãs escolas nem em seus panfletos coloridos, Ã, no entanto, uma prÃtica comum em muitas escolas particulares. Diferente do sistema pÃblico de ensino, as escolas particulares nÃo sÃo obrigadas a lidar com crianÃas que tÃm dificuldades para acompanhar os estudos, e com frequÃncia nÃo estÃo preparadas para isso.

âNÃo vamos renovar a matrÃcula de alguns alunosâ, diz Pamela J. Clarke, chefe da Trevor Day School em Manhattan, âou porque elas nÃo conseguem fazer o trabalho e nÃs nÃo conseguimos ajudÃ-las, ou em geral, porque isso pode estar combinado com problemas de comportamento que nÃo conseguimos superar.â

âIsso significa que essa crianÃa precisa de uma escola diferenteâ, diz Clarke.

As escolas nÃo divulgam quantos alunos expulsam dessa forma, mas o nÃmero costuma ser uma pequena porcentagem da matrÃcula. Mas alguns sites de pais apresentaram a suspeita de que as escolas retiram os alunos mais atrasados para proteger outra estatÃstica que elas gostam de divulgar: as notas de admissÃo de seus alunos nas principais faculdades. Frank C. Leana, um conselheiro universitÃrio independente do Upper East Side, diz que essa visÃo à equivocada.

âEles [os pais] estÃo tentando justificar seus prÃprios filhos, ou os amigos de seus filhos, que foram aconselhados a sair da escolaâ, diz ele.

Pais e filhos que foram aconselhados a desistir â ou expulsos, como dizem alguns â descrevem a experiÃncia como uma das mais difÃceis de suas vidas. Eles foram lanÃados num mundo que atà entÃo desconheciam, de aulas particulares intensivas, consultores especiais, e, em alguns casos, escolas especializadas ainda mais caras.

Quando o filho de Sandra Klihr, William, comeÃou a ir mal na Collegiate School, a instituiÃÃo lÃder para educaÃÃo de rapazes no Upper West Side, a escola ofereceu a ele uma ajuda extra. Mas as aulas em ritmo acelerado acabaram se tornando frustrantes e desencorajadoras. Ele foi tirado da escola na quarta sÃrie.

âA escola simplesmente nos chamou e disse: 'sabe, ele parece de fato muito infeliz, e sentimos que jà oferecemos atenÃÃo exclusivaâ, disse Klihr.

Ele acabou indo para a Summit School no Queens e agora està no colegial, tirando boas notas na Smith School no Upper West Side, duas entre vÃrias escolas alternativas que atendem crianÃas com problemas emocionais ou de aprendizagem que nÃo se deram bem em outras escolas.

Para manter seus filhos nas escolas, alguns pais usam vÃrios professores particulares ou procuram programas intensivos como o Lindamood-Bell Learning Processes, cujo curso de leitura de cinco semanas e quatro horas por dia, depois do horÃrio das aulas, custa US$ 11.500 (R$ 19.412). Os pais âsabem que o filho tem dificuldadeâ, diz Jennifer Egan, diretora do centro Lindamood-Bell na cidade de Nova York, mas fazem o possÃvel para mantÃ-lo na escola escolhida. âSair parece uma derrota para algumas pessoas.â

Embora Ãs vezes seja eficiente, ter vÃrios tutores pode sobrecarregar uma crianÃa jà estressada.

âChega um ponto em que isso à destrutivoâ, diz Carla Howard Horowitz, avaliadora educacional que ajuda a orientar alunos nesse estado intermediÃrio.

No momento em que ela à chamada, diz Horowitz, as escolas normalmente jà fizeram sua cabeÃa em relaÃÃo ao aluno.

Jesse Statman recebeu um prÃmio de matemÃtica de nÃvel colegial quando estava na oitava sÃrie da Escola PreparatÃria Bay Ridge no Brooklyn. Mas ele ficava para trÃs em outras matÃrias. Para ficar concentrado, ele precisava de um ajudante ao seu lado durante as aulas. Ele tambÃm tinha dificuldades para se entrosar com seus colegas de classe.

Eventualmente a escola sugeriu que Jesse saÃsse, disse o pai, Mark, que a princÃpio resistiu. Os pais ânem sempre querem ver o que à melhor; nÃs vemos o que parece ser melhorâ, diz Statman. âPosso dizer aos outros que meu filho frequenta uma escola da Ivy League, ou Andover, ou Choate â mas isso nem sempre se traduz numa boa experiÃncia para a crianÃa.â

Jesse passou por vÃrios programas para alunos com dificuldades na escola antes de ir parar na Smith. Seu pai disse que ele estava indo bem melhor là e que havia sido aceito pelo Eugene Lang College, que faz parte da New School, de onde Statman à professor.

Preenchendo o papel que os reformatÃrios ou escolas militares costumavam ter, escolas alternativas como a Smith, que tem cerca de 35 alunos da 7 à 12 sÃrie, tendem a assumir uma abordagem mais acolhedora. Algumas dessas escolas fornecem uma espÃcie de reabilitaÃÃo educacional: a Stephen Gaynor School no Upper West Side e a Windward School em White Plains sÃo especializadas em recolocar os alunos nas principais escolas depois de alguns anos â Ãs vezes atà nas mesmas escolas das quais saÃram.

Mas com uma taxa grande de funcionÃrios por aluno, elas nÃo sÃo baratas: o valor anual da Windward à de US$ 43 mil (R$ 72,5 mil), cerca de US$ 10 mil (R$ 16,8 mil) a mais do que na maioria das escolas particulares de Manhattan. A anuidade do segundo grau da Smith vai de US$ 29 mil (R$ 48,9 mil) a US$ 41.500 (R$ 70 mil), dependendo da sÃrie e da quantidade de ajuda adicional.

Antes de mandar um aluno embora, a escola pode tentar reforÃar as Ãreas em que a crianÃa està indo mal, usando por exemplo um especialista em leitura da prÃpria escola ou recomendando professores particulares. Quando os pais recebem o golpe de saber que seu filho serà expulso, isso nÃo deve ser uma surpresa, diz Clarke da Trevor School.

âà uma coisa que com certeza jà conversamos durante pelo menos dois anosâ, diz ela.

Mas mesmo assim a experiÃncia pode deixar um gosto amargo, mesmo para os alunos que eventualmente se acertam.

Bennett Allen, hoje com 28 anos, diz que foi aconselhado a deixar a Dalton School um mÃs antes do final da oitava sÃrie por causa de problemas disciplinares como comprar e compartilhar cigarros e por nÃo conseguir acompanhar algumas matÃrias.

âEu era muito novo, e estava testando os limitesâ, disse Allen.

Na Beacon School, a escola pÃblica para onde ele foi, os professores o observavam mais de perto, diz ele, e o ajudaram a canalizar seu comportamento turbulento.

âA Dalton parece aquele tipo de pai que prefere brincar com seu filho, encorajÃ-lo e estimular sua curiosidade, e que leva-o ao mÃdico e lhe dà estimulantesâ, diz ele.

Questionada sobre suas prÃticas de aconselhar os alunos a deixarem a escola, a Dalton respondeu apenas: âa Dalton trabalha junto com as famÃlias pelo interesse dos alunos, para que eles possam crescer e serem bem sucedidos.â

Allen reconhece que foi melhor para ele ser transferido para uma escola que atendia Ãs suas necessidades, embora num local com menos prestÃgio.

âFoi a melhor coisa que eles fizeram por mimâ, disse ele sobre a atitude da Dalton.

Ele cursou a Universidade de Columbia e hoje à pesquisador do Departamento do Trabalho dos EUA.

Ele diz que nÃo guarda ressentimentos em relaÃÃo à escola. Bem, talvez apenas um.

âEu ainda recebo as cartas deles pedindo doaÃÃesâ, diz ele. âNÃo vou dar nenhum centavo para eles.â


TraduÃÃo: Eloise De Vylder





"I had the blues because I had no shoes. Until upon the street, I met a man who had no feet" (Dale Carnegie).


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