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Policia no Campus
Caríssimos redistas:
Será que vamos terminar o ano sem uma boa discussão?
Faço aqui minha provocação:
Vai abaixo o texto do Nêumanne no Estadão de ontem.
Tem ainda o editorial do estadão mas esse aqui abaixo está melhor.
O que acham os redistas?
Devemos ter mesmo uma polícia diferenciada?
e os caras em processo administrativo devem mesmo ser expulsos?
Tenho cá minha opinião sobre responsabilidade de todos,pobres e ricos,
cultos e incultos, povão e elite, etc....
Ai vai _
http://www.eagora.org.br/arquivo/a-usp-da-exemplo-para-o-brasil-seguir
A USP dá exemplo para o Brasil seguir
José Nêumanne, O Estado de S. Paulo, 21/12/11
Os estudantes e sindicalistas de extrema esquerda que se rebelaram
contra a presença da Polícia Militar (PM) no câmpus da Universidade de
São Paulo (USP), sem querer, e o reitor da instituição, João Grandino
Rodas, no pleno e voluntário exercício da autoridade de que foi
investido, estão fazendo história.
O episódio é notório e recente, mas convém resumi-lo para a
argumentação ficar clara: em maio, no ápice de estupros, assaltos
relâmpago e outras atitudes violentas de bandidos que se aproveitavam
da falta de policiamento nos espaços vazios da Cidade Universitária
Armando de Salles Oliveira, um estudante foi morto num assalto. A
direção da universidade houve por bem firmar convênio com a PM para
substituir com soldados fardados da corporação os poucos e desarmados
agentes de segurança própria. Ruminando seu ódio contra a presença de
agentes da lei num território que consideram, se não fora, no mínimo,
além da lei, funcionários, docentes e estudantes filiados a grupos de
extrema esquerda encontraram num caso isolado motivo suficiente para
armar um fuzuê e tentar forçar a saída dos policiais de uma área
pública da qual se acham donos. Três alunos foram flagrados fumando
maconha e isso deu origem à ocupação de um prédio administrativo da
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), invasão
depois estendida à Reitoria. Expulsos pela PM cumprindo ordem
judicial, os invasores foram levados à delegacia e libertados sob
fiança.
Na semana passada, o professor de Filosofia Contemporânea Carlos
Alberto Ribeiro de Moura reprovou por faltas 60 alunos que não
compareceram ao número regulamentar de aulas para engrossarem o coro
dos rebeldes descontentes na greve de novembro. E, pela primeira vez
em dez anos, a USP expulsou seis alunos que, sob idêntico pretexto de
protesto, ocuparam salas da Coordenadoria de Assistência Social
(Coseas) dizendo reivindicar melhoria nas condições de moradia e
aumento do número de vagas no Conjunto Residencial da USP (Crusp), na
mesma Cidade Universitária, no ano passado. Tanto em 2010 como no mês
passado, os pretensos rebeldes quebraram computadores, destruíram
prontuários e depredaram os prédios invadidos, construídos e mantidos
com dinheiro público.
Como era de esperar, os dirigentes de centros acadêmicos e sindicatos
de funcionários acusaram o reitor Rodas de perseguição política,
classificando as expulsões de ?autoritárias? e as reprovações impostas
por Moura, de ?intempestivas?. As acusações baseiam-se em confusão
idêntica àquela com a qual pretenderam confundir a presença da polícia
para garantir a vida das pessoas e exercer a força legítima em nome do
Estado Democrático de Direito com ocupações manu militari da época da
ditadura. Agora o argumento mentiroso é que as expulsões foram
baseadas num regimento introduzido por decreto durante o mesmo regime
arbitrário. O regimento, na verdade, data de 1990, sob a égide da
Constituição de 1988 e de um presidente eleito democraticamente.
A mistificação tem o mesmo objetivo cínico de jogar areia nos olhos do
cidadão comum, que sustenta com muito sacrifício os privilégios
usufruídos pelos estudantes da USP e tem como recompensa por isso a
destruição de prédios e equipamentos comprados com seu dinheiro e
tendo muitas vezes de pagar escola particular para os próprios filhos.
Os invasores dos prédios em novembro usaram a desfaçatez deslavada de
considerar instrumento de tortura os ônibus em que foram transportados
para a delegacia e tiveram a caradura de se dizer ?presos políticos?
durante as poucas horas em que foram fichados pela Polícia Civil antes
de serem liberados sob fiança bancada pelos sindicatos de servidores
da USP. Ou seja, por mim e por você, leitor, pois tais sindicatos,
como quaisquer outros, vivem do imposto sindical arrecadado de um dia
de trabalho de todo portador de carteira assinada no Brasil,
sindicalizado ou não. Isto é: os baderneiros que se amotinaram para
deixar o câmpus ?sagrado? livre para a atuação de estupradores,
assaltantes, assassinos e traficantes de entorpecentes destruíram
patrimônio adquirido com o suor do cidadão, inclusive o mais pobre, e
foram soltos sob fiança desembolsada por todos os trabalhadores.
Nem todos os 73 desalojados dos prédios ocupados estavam matriculados
na USP. Cabe à autoridade informar à sociedade o que fazia em tais
edifícios gente alheia à atividade acadêmica fingindo protestar em
defesa dela.
Convém lembrar que quadrilheiros do crime organizado de facções como o
Comando Vermelho (CV), no Rio, e o Primeiro Comando da Capital (PCC),
em São Paulo, aprenderam nos cárceres em que a ditadura os misturou
com presos políticos o emprego da definição de ?preso político? para
conquistarem a simpatia da população e o beneplácito da autoridade. Os
estudantes e seus agregados na invasão não são os primeiros nem serão
os últimos a recorrer ao eufemismo como tábua de salvação.
Portanto, as atitudes exemplares do professor Carlos Alberto Ribeiro
de Moura e do reitor João Grandino Rodas não apenas restauram a
autoridade da administração de uma instituição de ensino e pesquisa
que já foi mais respeitada. Elas também deveriam servir de exemplo em
outros ambientes institucionais nos quais a leniência quanto ao
cumprimento da lei e o relaxamento da ordem põem em xeque o conceito
fundamental da democracia, que é o da igualdade de todos perante a
norma jurídica. Nesta República do vale-tudo para alguns e onde nada
podem quase todos, políticos são autorizados a movimentar caixa 2 em
campanha eleitoral, o que não é permitido a cidadãos comuns na escrita
de suas contas. A punição a quem cabulou aulas e destruiu equipamentos
na USP deveria servir de ponto de partida para atitudes semelhantes no
exercício da política e na gestão pública.
Carlos Alberto de Braganca Pereira <cpereira@ime.usp.br>