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a sociedade atual por verissimo
- Subject: a sociedade atual por verissimo
- From: cpereira@ime.usp.br
- Date: Thu, 26 Jan 2012 23:22:46 -0200
Recomendo fortemente para uma boa reflexão. Não sei se os jovens vão
entender pois ted boy marino era de minha época.
Saudade do Ted Boy Marino
26 de janeiro de 2012 | 3h 09
Verissimo - O Estado de S.Paulo
Alguma coisa aconteceu no coração do Brasil quando acabaram com as
lutas de "catch". Elas eram um sucesso na TV e seus astros viajavam em
caravanas pelo País, apresentando-se em ginásios e circos. As lutas
não eram lutas, eram teatro. Não eram exatamente combinadas, mas
seguiam um roteiro estabelecido e havia um acordo tácito de que
ninguém sairia do ringue machucado, mesmo que saísse arremessado. O
roteiro básico não variava: era os bons contra os maus, e os bons
sempre ganhavam. Ou só perdiam quando o adversário traiçoeiro recorria
a um golpe especialmente baixo, sob uivos de raiva da plateia. E a
reação da plateia fazia parte do teatro. Havia uma suspensão
voluntária de descrença, e todos torciam pelo Bem contra o Mal - ou
pelo bonito contra o feio, o esbelto contra a barrigudo, o correto
contra o falso - com um fervor que não excluía a consciência de que
era tudo encenação.
Era fácil distinguir os bons e os maus. Os bons eram atletas como o
Ted Boy Marino, caráter tão irretocável quanto os seus cabelos loiros,
que lutava limpo. Os maus tinham nomes como Verdugo e Rasputin, e
comportamento correspondente ao nome. Lembro de um Homem Montanha, que
mais de uma vez derrubou o juiz junto com o adversário. E não havia um
Tigre Paraguaio? Os bons geralmente começavam apanhando e, quando
parecia que estavam liquidados e que o Mal triunfaria, vinha a
eletrizante reação, durante a qual o inimigo pagava por todas as suas
maldades. Humilhação e vingança, nada na história do teatro é tão
antigo e tão eficaz. Nove entre dez novelas de televisão têm o mesmo
enredo.
Não sei se ainda fazem espetáculos de "catch" pelo interior do País.
Hoje na TV o que se vê é o "ultimate fighting", ou "mixed marital
arts", dois lutadores simbolizando nada trocando socos e pontapés sem
simulação, quando não se engalfinham no chão como um bicho de duas
costas e oito patas em convulsão. Nessas lutas não vale, exatamente,
tudo - parece que esgoelar o outro e xingar a mãe não pode. Mas é o
"catch" despido da fantasia, com sangue de verdade. Não há mais
mocinho e vilão, apenas duas máquinas de brigar, brigando. Nem Ted Boy
Marino nem Homem Montanha, apenas a violência em estado puro. Sei não,
acho que empobrecemos.
Carlos Alberto de Braganca Pereira <cpereira@ime.usp.br>