Re: [ABE-L]: Para Reflexão: Pura Enganação!

["Jose F. de Carvalho" <carvalho@statistika.com.br>]

Gauss, você deve ter razão. Afinal, sabe bem do que fala, pois está na Universidade e tem participação ativa em tudo que lhe diz respeito.
Tenho três possíveis notas relativas a sua mensagem:

1. Não se deve deixar a professores, ditos incompetentes, a graduação. A esses cabe a porta da rua. A graduação é a época onde se deve cuidar da formação do aluno, não somente técnica, mas também em termos de atitude e de ética. Deixar aos melhores professores a pós-graduação e aos fracos a graduação é desastre futuro. Quem serão os  alunos de pós-graduação? Lugar de incompetente não é no trabalho, qualquer que seja o trabalho. Aliás, eu deveria dizer incapaz, em vez de incompetente. Afinal, competência para se trabalhar é dada aqui no Brasil a quem termina um curso de bacharelado (e. g. estatística), sem avaliação da capacidade real do detentor do canudo.

2. Se você fosse presidente da CAPES,  não poderia fechar coisa alguma. Existe um sistema e um presidente que quisesse, voluntariosamente, mudar o status quo seria demitido em horas. Não acredite, do alto dos sessenta anos, em messianismo. Deu para entender o que seria sua vontade. Mas ela não se realizará com UM presidente de uma CAPES.

3. Finalmente, mas não menos importante. Você vê a pós-graduação apenas como meio de formar cientistas. Isso é coisa antiga. A necessidade de técnicas mais desenvolvidas e o moderno estilo de aprendizado fazem que a pós-graduação seja necessária para formar... técnicos. A indústria precisa de engenheiros e técnicos com doutorado. Há décadas é assim nos EUA e na Alemanha. A necessidade chegou há tempos no Brasil. (Que tal a EMBRAPA, como um exemplo?) O que digo não diminui a força de sua reclamação sobre a qualidade do ensino e  dos professores. Pelo contrário, a responsabilidade é ainda maior, muito maior.

E, para lançar lenha na fogueira: o governo do "nunca antes" é bom de estatística. Aumentou a oferta de vagas, criando com açodamento  universidades em Seca e Meca. Números apenas. Fácil arranjar prédios e montar uma "universidade". Mas onde estão os professores? Pode-se formar professores com a mesma rapidez com que se declara um prédio no interior "uma universidade"?  Sua bronca sobre a qualidade dos professores, Gauss, só vai aumentar nos próximos anos. Inapelavelmente.

Abraços,

Zé Carvalho

PS cuidado com o que escreve. A ser verdade o que você diz (e é!), alguns dos que lerão "fdp" no seu texto dirão que você escreve palavras chulas. (Desculpe a piada!)

On 06/17/2012 09:33 AM, Gauss Cordeiro wrote:

Caros Redistas,

 

Gostaria de deixar bem claro na rede da ABE que, no meu entender, muitos cursos de pós-graduação no País em nada contribuem 

para a ciência. 

O ensino é péssimo, os orientadores não têm publicações internacionais e os alunos têm uma formação totalmente deficitária. 

Muitos mestres e doutores no País, que são formados dessa forma, apresentam nível de conhecimento compatível aos 

alunos de graduação de boas instituições brasileiras. E há ainda um agravante nesses cursos: um corporativismo perverso 

e muitas dissertações e teses são defendidas de forma fraudulenta, sendo muitas meras cópias de textos manjados das suas áreas.

Não é por acaso que o Brasil sendo a 6a economia mundial persiste na 24a posição do ranking internacional de 

publicações internacionais. Tenho 60 anos de idade e trabalho uma média de 10 horas por dia, mesmo em alguns fins 

de semana. Mas, confesso que estou horrorizado e indignado com alguns alunos que almejam um título de Estatística sem 

conhecerem conceitos básicos de cálculo e de Probabilidade. Desconhecem, por exemplo, a fórmula da soma de 

variáveis aleatórios independentes e as "fdp’s" de algumas distribuições clássicas como Weibull e gama. 

E, pior do que isso, existem professores que persistem como orientadores de plantão que, também, não sabem de fatos 

tão triviais como esses. Alguns desses cursos estão na área de Biometria e o CA da CAPES de Agrárias não toma atitudes 

enérgicas - como o fechamento desses cursos. Mas o problema persiste em alguns cursos de Educação Matemática e Matemática à distância.

Professores com ZERO publicações em periódicos internacionais durante quatro ou cinco décadas e que levaram mais 

de 10 anos para concluir um doutorado (tendo sido reprovado em dois ou três antes) posam de orientadores de dissertações 

de mestrado e até de teses de doutorado. A CAPES é uma VERDADEIRA MÃE. Deveria fechar todos os cursos cujos 

orientadores não tenham qualquer publicação em periódico internacional, pelo menos aqueles das áreas de Matemática, 

Estatística, Física, Química, Biologia, Economia, Demografia, Biometria e áreas correlatas com essas. 

Os professores desses cursos deveriam ensinar apenas na graduação. Na pós-graduação devem atuar apenas professores 

que tenham publicações internacionais. Para a coordenação desses cursos deve-se exigir um pesquisador bem experiente. 

Sorte desses famigerados cursos: se eu fosse presidente da CAPES, fecharia mais de 50% dos cursos de pós do País. 

A pós-graduação de uma parcela significativa do Brasil é, com certeza, PURA ENGANAÇÃO!

 

 

Bom descanso a todos!

Cordiais Saudações,

 

Gauss Cordeiro