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Comentário ao texto: Por que a Carreira Docente Unificada da ANDES é prejudicial às Universidades e à Ciência Brasileira?



Porque não pensar é prejudicial à academia*

Luis Paulo Vieira Braga

Dentre os muitos textos contra o projeto do ANDES-SN, o artigo da profa. R.C.S. da UNIFESP, publicado no site do PROIFES, vem sendo divulgado como uma referência de bom senso e juízo para a classe docente às voltas com uma das mais longas greves desde 2001. A professora inicia com uma declaração de que tudo fará contra a tese da unicidade da carreira docente pois seria danosa à universidade brasileira, apesar dos professores do ensino básico e tecnológico federal (EBT) gostarem da opção.


Sem me ater a corporativismos em favor dos professores universitários ou dos professores do EBT, o que me faz simpatizar com o projeto é a valorização da carreira aonde ela se faz mais necessária nesse momento – exatamente no ensino básico e tecnológico – de nada adianta qualificar professores, distribuir computadores, construir escolas se os salários continuarem tão desafados. Se queremos pessoal docente de qualidade no ensino básico a remuneração precisa ser muito maior do que é atualmente. Um bom passo é a equiparação com os docentes do ensino superior federal, o que necessariamente pressionaria os setores estadual e privado a fazerem o mesmo para não perderem bons quadros. Já para a professora é absurdo dois professores com a mesma  titulação e o mesmo tempo de serviço ganharem o mesmo salário, desde que um trabalhe em um colégio e o outro em uma universidade...Como evidência favorável a essa posição apresenta a carreira universitária como uma verdadeira provação, na qual ensinar é o último cravo pregado no professor - Sabemos que a carreira acadêmica é permeada por uma competição internacional. É necessário publicar, participar ou organizar congressos nacionais e internacionais, orientar teses, participar da extensão, ter envolvimento institucional além de ministrar as aulas-.  No entanto, omite a remuneração adicional das bolsas de pesquisa, das consultorias em projetos, dos estágios no exterior, das passagens e diárias que tornam a carreira mais atrativa.


Em um caso hipotético a docente  apresenta duas trajetórias no contexto da proposta do ANDES, ao final das quais o professor do EBT ganharia mais do que o professor universitário. Ocorre que no exemplo o professor universitário passou sete anos investindo em sua carreira, parte dela provavelmente fora do país, custeado com recursos públicos, enquanto que o outro passou sete anos no exercício de uma profissão altamente estressante. Em face dos benefícios extra-orçamentários que  professores pós-doutorados necessariamente usufruem a vantagem salarial do EBT se diluiria rapidamente. No exemplo extremo da professora não se considerou ainda  uma posição intermediária na qual um professor universitário usualmente consegue afastamento remunerado para se titular, acumulando portanto tempo de serviço.


Continuando com tintas fortes, a professora pinta um quadro dramático para a ciência brasileira, se a proposta for adotada professores talentosos abandonarão a universidade em busca de carreiras mais promissoras. Mas isso já vem ocorrendo há muito tempo. As universidades (federais, estaduais e privadas) estão em crise, se não houver uma reformulação de sua estrutura e funcionamento essa situação só vai piorar. Os doze anos de governo petista passaram ao lardo dessa questão, preferindo medidas isoladas, sem considerar os impactos sobre o sistema como um todo. Os efeitos estão por toda a parte – infraestrutura precária, evasão, retenção, desmotivação, etc. Achar que a carreira única será responsável pelo fim da universidade é o mesmo que achar que o último a acender a lâmpada é o responsável pelo apagão que se sucedeu.


A proposta do PROIFES é um arremedo de carreira, não se sustentará por mais que um par de anos. E o hiato entre o ensino médio e o universitário continuará a ser escondido por medidas protelatórias como cotas, ENEM-SISU, BI´s e assim por diante.

*Comentário ao texto: Por que a Carreira Docente Unificada da ANDES é prejudicial às Universidades e à Ciência Brasileira?