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Mario de Andrade e nós
- Subject: Mario de Andrade e nós
- From: Carlos Alberto de Bragança Pereira <cpereira@ime.usp.br>
- Date: Mon, 20 May 2013 00:18:15 -0300
Notaram os redistas o vazio que pairou nestes últimos dias? O que
acontrece periodicamente?
Divirto-me muito e muitas vezes aprendo muito com o que se produz na
nossa rede. Lembrei-me muito de uma entrevista do ótimo jogador de
futebol, o Ramires do Chelsea. Um conterrâneo que só me orgulha.
Em uma entrevista perguntaram ao jogador o que o dinheiro que vem
ganhando mudou nele. Sua resposta foi:
?O dinheiro não muda ninguém só faz mostrar quem a pessoa realmente é?.
Recordei-me muito de meu mestre Euclydes que dizia: ?Carolo, se
queres conhecer alguém lhe dê poder?.
Claro, dinheiro é poder! Será que artigos publicados também são fonte
de poder? Alguns se sentem com poder de mediação sem nunca terem sido
eleitos para este fim. Pelo menos por nós da rede nunca o foram!
Eis onde queria chegar: a liberdade de expressão é assim;
A palavra com Liberdade nos faz ver quem realmente a pessoa que
escreve é. Só com ela, liberdade, podemos conhecer aqui na rede o que
realmente uma pessoa pensa e como age, em muitos casos sem mesmo
conhecê-la pessoalmente. Assim, não fiquem chateados quando alguém se
apresenta sem polidez ou de forma prepotente ou mesmo com os que se
auto valorizam (ou auto promovem), desmerecendo o trabalho de outros.
Acordamos pela manhã com coisas que gostaríamos de falar ao mundo. É
porque a maioria de nós é de acadêmicos e por isto gostamos de ser
ouvidos.
Eu em particular considero tudo isso ótimo, pois só com a atitude
?corajosa? alguém se mostra de coração aberto, sem vergonha das
BABOSEIRAS que apresenta.
O vazio desta semana, sem discussão de assuntos como a tradução ou
interpretação de palavras importantes usadas por nós sem mesmo
sabermos o verdadeiro sentido delas, me provocou saudade.
Hoje aprendi que alguns de nossos colegas dispensam-nos cultura que
nunca havíamos pensado. Pena que meus ancestrais não puderam nos dar
as mesmas formações culturais que integrantes de comunidades
diferenciadas recebem normalmente.
Pô! Eu acho tão fácil apagar e-mails de determinados canais e
aproveitar positivamente o de outros. Por que devo eu assim criticar
os que não gosto? Falando nisso sinto falta de textos dos meus colegas
torcedores do tricolor carioca. Normalmente trazem tanto conflito que
só nos fazem crescer ao ficarmos matutando como defendê-los ou
contestá-los.
Para que não fiquem muito aborrecidos comigo, envio um texto para meus
velhos companheiros que como Mario devem estar sofrendo do mesmo mal:
o pouco tempo que ainda provavelmente teremos. Meu primeiro exercício
para meus alunos de análise Bayesiana de dados foi a predição do
número de anos que ainda viverei!
Aprecio muito o texto do Mario de Andrade que aqui vai
http://www.youtube.com/watch?v=54khV0S7NTc
MARIO DE ANDRADE: O VALIOSO TEMPO DOS MADUROS.
Contei meus anos e descobri que terei
menos tempo para viver daqui
para a frente do que já vivi até agora.
Tenho muito mais passado do que futuro.
Sinto-me como aquele menino que
recebeu uma bacia de cerejas.As primeiras,
ele chupou displicente, mas percebendo
que faltam poucas, rói o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões onde desfilam
egos inflamados. Inquieto-me com invejosos
tentando destruir quem eles admiram,
cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para conversas intermináveis,
para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias
que nem fazem parte da minha.
Já não tenho tempo para administrar melindres
de pessoas, que apesar da idade cronológica,
são imaturos.
Detesto fazer acareação de desafetos
que brigaram pelo majestoso cargo de secretário
geral do coral. ?As pessoas não debatem conteúdos,
apenas os rótulos?.
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos,
quero a essência, minha alma tem pressa?
Sem muitas cerejas na bacia, quero viver ao lado
de gente humana, muito humana;
que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com
triunfos, não se considera eleita antes da hora,
não foge de sua mortalidade, caminhar perto de
coisas e pessoas de verdade,
O essencial faz a vida valer a pena.
E PARA MIM, BASTA O ESSENCIAL!
O essencial do paper é a sua qualidade e não o fator de impacto da
revista que o publicou. É aquilo que está ali escrito. JOSA certa
vez publicou um artigo numa revista do paquistão.
Mas aquele artigo esta sendo citado no jasa, no annals e no jrss.
Isto é o essencial: as pessoas gostam do que é útil.
--
Carlos Alberto de Bragança Pereira
http://www.ime.usp.br/~cpereira
http://scholar.google.com.br/citations?user=PXX2AygAAAAJ&hl=pt-BR
Stat Department - Professor & Head
University of São Paulo