Caros Pledson,Basílio,Luiz Sergio Vaz, Gauss , Rômulo e demais redistas.
Há tempos deixei de escrever para a rede, apesar de considerá-la um instrumento muito importante de comunicação e troca de ideias em nossa comunidade. O fiz por ter sido tomado de grande desânimo quanto ao futuro de nosso pais devido a letargia coletiva - só sendo essencialmente ativos os mercadores do erário público, aí incluídos entre outros : políticos , empresários de transportes , da construção civil, aquele que já foi considerado o empresário mais rico do mundo( posição que alcançou com recursos do BNDES) , empresários da educação e da saúde, etc. As manifestações recentes que se iniciaram com o “ Movimento Passe Livre” alcançaram dimensões inimagináveis. Acho que a melhor forma de enfrentarmos essa situação é realmente praticarmos “ reflexão e prudência”, pois a complexidade da situação de transição da letargia para a revolta e mobilização política exige esses dois atributos e também ação.Como estou entre os mais velhos da comunidade, talvez o mais velho, vivi vários episódios da natureza que ora enfrentamos.Sempre participei da vida acadêmica e da atividade política em nosso pais. Entrei na FFCL da USP no curso de licenciatura em Física em 1954. Naquele ambiente extraordinário amadureci politicamente participando da Diretoria do Grêmio da FFCL . Vivemos o período da tentativa de golpe de estado abortado com a participação do Marechal Lott , que permitiu a eleição de Juscelino Kubischek. Participei ativamente do Partido Socialista Brasileiro(PSB) até o mesmo ser tomado de assalto pela tropa de choque de Janio Quadros , triste e trágica figura da vida nacional. Fui para Berkeley em 1961 para fazer o doutoramento em Estatística e lá pouco depois de chegar ocorreu a renúncia do Janio . Estive lá de julho de 1961 até junho de 1966. Nesse período ocorreram dois fatos de grande importância , dos quais Berkeley era o principal centro de ação: o movimento pelos direitos civis e o movimento contra a guerra do Vietnã. Na Universidade da Califórnia, Berkeley , no outono de 1964 ocorreu o “ Free Speach Movement “ ( FSM)e foi formado o “ Vietna Day Committee” (1), que tiveram papel de destaque no movimento contra a guerra.Do ponto de vista de nossa discussão registro que ao chegar a Berkeley vindo da FFCL fiquei muito desapontado, pois do White Hall,predío da matemática e da estatística , onde ia estudar alguns sábados e domingos, a única atividade que eu presenciava era o desfile que precedia os jogos de foot-ball americano , tendo na ala de frente as “ majorettes” com suas bandeirolas. A calmaria foi rompida por um movimento parecido com o que presenciamos no momento no Brasil. De início não havia lideranças claras exceto aquelas ligadas ao movimento negro. A meu ver o que deflagrou o movimento foram as imagens difundidas pela televisão da morte de um grande número de soldados americanos e das atrocidades cometidas pelo exercito americano no Vietnã e também as imagens das atrocidades cometidas pela Ku Klux Klan contra negros e ativistas brancos no sul dos Estados Unidos.Para aqueles que não viram aconselho que vejam o filme “ Mississipi Burning”
Aqui a luta para derrubar a ditadura culminando com o movimento das diretas já tem semelhanças com os movimentos mencionados nos Estados Unidos, e o estudo dos mesmos nos auxilia a compreender o que esta ocorrendo.
Para não alongar-me finalizo chamando atenção que há uma grande imprevisibilidade do que ocorrerá no futuro e muito dependerá de uma interpretação, tão lúcida quanto possível dos fatos, e do engajamento de cada um de nós na construção desse futuro.
(1) Há um farto material sobre os acontecimentos de Berkeley nas duas obras seguintes:
“The Berkeley Student Revolt , Facts and Interpretations”, Edited by Seymour Lipset e
Sheldon Wolin. A Doubleday Anchor Original, 1965.
“Berkeley: The New Student Revolt”,by Hal Draper-Introduction by Mario Savio . Grove Press, Inc;New York1965.
Abraços Caio Dantas
Citando Celso Rômulo <celsoromulo@gmail.com>:
Prezados:
Uma das características destas manifestações é a ausência de lideranças marcantes. Então a recomendação de "...analisar as propostas dos governos(federal, estadual e municipal)" não me parece ser razoável, pois qualquer tentativa de negociação com quer que seja esbarra na falta de representatividade.
Além disso, onde está o clima de guerra civil? Pelo que eu entendo, guerra civil acontece quando grupos organizados dentro de uma mesma nação lutam por objetivos distintos. Esta definição só caberia se dividíssemos a nação em dois grupos: aqueles interessados no interesse comum e aqueles interessados nos seus interesses pessoais.
Celso Rômulo B. Cabral
Prof. Associado
Departamento de Estatística
Universidade Federal do Amazonas
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