Platini pede tregua

[Carlos Alberto de BraganÃa Pereira <cpereira@ime.usp.br>]

PLATINI PEDE TRÃGUA



Tive a sorte de encontrar Michel Platini na Bahia e entrevistÃ-lo
sobre o futebol e a Copa de 2014. O jogador, que  atualmente preside a
UniÃo EuropÃia da Football Association, fez na entrevista um pedido da
maior importÃncia que precisa ser divulgado. O texto foi publicado na 
Folha de S. Paulo, mas eu o publico tambÃm aqui, na esperanÃa de que
os leitores o difundam. O Brasil merece ganhar verdadeiramente a Copa.
Para tanto, como me disse Platini, ele deve deixar que a Copa aconteÃa
como deve acontecer, ou seja, no contexto  da paz social.

BM - HÃ vinte anos, um tempo antes da Copa do Mundo de 1998 eu o
entrevistei para um livro meu, O PaÃs da Bola.  NÃs entÃo falamos do
estilo do futebol brasileiro. Passaram-se quinze anos. O que mudou
neste estilo ?
P - O futebol se acelerou a partir de 1990, porque as regras mudaram.
Hoje, existem bolas em torno do campo. NinguÃm mais perde tempo para
buscar a bola quando ela sai. Por outro lado, o goleiro nÃo està mais
autorizado a pegar com  a mÃo a bola passada por um jogador do time
dele, Ã obrigado a enviÃ-la chutando. Com isso, o jogo ficou muito
mais rÃpido, ele se tornou mais tÃcnico.

BM - Acha que à possÃvel ainda falar de um futebol brasileiro?
P - Verdade que o brasileiro tende a brincar, mas o estilo se
mundializou. Depende sobretudo do tÃcnico. Antigamente, dependia
sobretudo do jogador. O jogo hoje à funÃÃo do tÃcnico e do dinheiro. E
o jogador nÃo està mais ligado a um ou outro clube, ele circula entre
os clubes.  AlÃm disso, o estilo do jogador tambÃm à determinado pelo
clima do paÃs onde ele se encontra. Com 40 graus, no Brasil, o jogo Ã
um. Com 5 graus, na Europa, Ã outro. E tem  ainda a condiÃÃo do campo.
Num terreno Ãmido, a gente nÃo joga como num terreno seco. No Ãmido, o
risco de se machucar à menor e a ousadia à maior. Me machuquei mais
jogando na FranÃa, onde o terreno à Ãmido do que na ItÃlia, onde  ele
à seco.

BM - O futebol se tornou mais duro no mundo inteiroâ
P - Diria que ele se tornou mais rÃpido. Nunca foi tÃo bom.

BM - O futebol ainda à portador de valores coletivos?
P - De valores coletivos nÃo porque ele se cristalizou em torno da
pessoa do jogador. Mas à portador de valores sociais porque, atrÃs da
equipe, existe um paÃs inteiro e todos os paÃses desejam ser bem 
representados.

BM - O que vocà espera da prÃxima Copa?
P - Se eu tiver que assistir aos jogos ladeado por seguranÃas, por
militares, nÃo virei ao Brasil. Prefiro assistir pela televisÃo. O
mundo inteiro deseja que a prÃxima Copa seja uma grande festa do
futebol brasileiro. Espero que nÃo haja manifestaÃÃes sociais durante
a mesma. Que haja uma trÃgua para o futebol. Ã tÃo importante para os
torcedores irem à Copa no Brasil quanto para os muÃulmanos irem Ã
Meca. O Brasil continua a ser o paÃs do futebol.

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Carlos Alberto de BraganÃa Pereira
http://www.ime.usp.br/~cpereira
http://scholar.google.com.br/citations?user=PXX2AygAAAAJ&hl=pt-BR
Stat Department - Professor & Head
University of SÃo Paulo