Reconhecido por sua postura pacífica e profundo discernimento, o professor Polcino recebeu homenagens de amigos conhecidos ao longo de sua carreira

No dia 10 de outubro de 2024, autoridades do Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo (IME-USP), amigos, alunos e familiares do professor César Polcino se reuniram no Auditório Jacy Monteiro para prestigiar sua Cerimônia Solene de Outorga de Título de Professor Emérito, realizada pela Congregação do Instituto. Docente Sênior do departamento de Matemática, Polcino estava acompanhado de sua esposa, Sandra Gasman Polcino, seu filho, Marcos Daniel Gasman Polcino, e duas amigas, Célia Patarra e Purificacion Trigo Rodriguez.
O professor Polcino recebe o nono título de Professor Emérito na história do Instituto, o qual é outorgado a professores aposentados que se distinguem por atividades didáticas e de pesquisa que tenham contribuído de modo notável para o progresso da Universidade.
Compondo a mesa da Cerimônia Solene, estavam os professores doutores Sergio Muniz Oliva Filho, diretor do Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo (IME-USP); Ronaldo Fumio Hashimoto, vice-diretor do IME-USP; David Pires Dias, chefe do departamento de Matemática do IME-USP; e Francisco César Polcino Milies , professor sênior do Departamento de Matemática do IME-USP e homenageado da sessão solene.

Foto: Sérgio Oliveira
A Cerimônia também contou com a presença ilustre dos professores doutores Siang Wun Song, diretor do IME de 1998 a 2002 e Professor Emérito com o título conferido em junho de 2024; Clodoaldo Grotta Ragazzo diretor do IME de 2014 a 2018; Junior Barrera, diretor do IME de 2018 a 2022; Ivan Chestakov, Professor Emérito do IME com o título conferido em 2022 e outorgado em 2024; entre outros docentes que prestigiaram a outorga como amigos e colegas de trabalho do homenageado.
O diretor do IME, Sergio Muniz Oliva Filho, abriu a Sessão Solene com seu discurso que destacou além do impacto do professor Polcino na história do instituto, sua postura pacífica:
Calma e paz de espírito, são características do César, pela tranquilidade com que ele consegue abordar problemas complexos. Eu acho que o Instituto é formado por pessoas, a gente toma algumas decisões para problemas muito complexos, pois envolvem pessoas e estamos mediando interesses. Então você tem que ter essa calma e tranquilidade para lidar com essa diversidade que compõem o nosso Instituto, e o professor tem essa capacidade, além de toda a capacidade de liderança científica.
Em adendo, o professor Ronaldo Fumio Hashimoto, vice-diretor do IME-USP, também discursou:

Foto: Sérgio Oliveira
O professor Polcino é, sem dúvida, um exemplo notável de comprometimento e qualidade. Sua trajetória acadêmica sobressai pela sua liderança e dedicação, seu entusiasmo pela investigação científica e pelo ensino. Não só promoveu avanços importantes, como também motivou diversos estudantes e colegas reforçando sua posição como uma referência em sua especialidade.
Como chefe do departamento de Matemática, o professor David Pires Dias destacou a trajetória acadêmica e os grandes feitos de César Polcino, e o professor Eduardo do Nascimento Marcos, subiu ao púlpito para compartilhar histórias e considerações sobre o homenageado:
O César e os alunos dele ficam amigos no final das contas. Se você conversar com os alunos que fizeram curso com o César, não é que eles não veem defeitos no César, eles são inteligentes, todo mundo tem defeitos, mas todos eles reconhecem o César como um grande amigo, uma pessoa que tá aí do lado.
A cerimônia também contou com o discurso de um dos orientandos de doutorado do professor Polcino, Tiago Augusto Silva Dourado.

Eduardo colocou um ponto muito importante que o César nos faz mais do que orientandos, nos faz amigos e com conselhos bastante precisos. Muitas vezes saber o que é certo e fazer o que é certo tem uma diferença, mas ele nos disse muitas coisas que diziam “esse é o caminho”.
Talvez quem não é da área não saiba, mas o grupo de álgebra não comutativa do IME é o melhor e o mais importante grupo de álgebra da América Latina, e isso deve-se muito a ele.
Entre outras participações de amigos de Polcino que entraram em contato pelo chat da transmissão ao vivo da cerimônia ou ligaram para prestar suas homenagens, o professor César contou um pouco mais sobre suas origens e trajetória acadêmica:

A minha carreira foi muito estranha, realmente muito complicada. Estudar matemática no Uruguai – quando eu tentei, não sei como é hoje – não era nada fácil. A pessoa que gostava de matemática ingressava na faculdade de engenharia, passávamos os dois ou os três primeiros anos (eu fiz três) para aprender a análise matemática que era muito forte.
Polcino relata que era uma opção comum para estudantes como ele buscarem uma licenciatura, mas que no Uruguai, também funcionava de uma forma diferente, pois cada disciplina tinha seu trabalho de conclusão.
Eu segui o segundo caminho possível na época que era ir no Instituto da Matemática tentar arranjar algum professor para orientar os estudos. Aí eu ganhei na loteria, eu tive talvez o momento de maior sorte de toda a minha vida, porque foi quando me aproximei do professor [Alfredo Rosário] Jones. Na época não sabia, mas veio a ser a pessoa mais determinante e fundamental de toda a minha carreira quando fui falar com Jones, seguindo a tradição Uruguaia, ele orientou um jovem que não sabia nada: se quer estudar álgebra leia Van Der Waerden. Eu tentei ler, era muito difícil para mim na época, mas o livro era tão maravilhoso e tão elegante que me apaixonei pela álgebra e a partir daí decidi que queria ser um algebrista.

Foi quando seu orientador Jones veio ao Brasil lecionar um curso que Polcino também foi convidado por ele, e soube que poderia dedicar seus estudos à álgebra em São Paulo concorrendo a uma bolsa de estudos. No entanto, houve algumas dificuldades sobre as diferenças de classificação acadêmica entre os dois países.
As circunstâncias aqui foram tão estranhas, mas tão estranhas, porque no Uruguai estávamos na posição em que estávamos porque queríamos aprender matemática. Estudávamos individualmente o livro pelo o que se indicava e quando achávamos que estávamos mais ou menos preparados, fazíamos um concurso para ingressar na universidade. Então naquela época eu era professor no secundário e era professor adjunto na faculdade de economia de Análise em Matemática II, mas não tinha diploma nenhum. Então quando eu vim aqui, vim para fazer mestrado, mas o fator “não ter diploma nenhum” aqui era um problema. Resumindo, no ano de 1971, eu era estudante da graduação, no Bacharelado em Matemática e professor na pós-graduação, dava um curso de álgebra linear e representação de grupos.
O professor relata que enquanto esteve aqui, teve a oportunidade de ser orientado e ter contato com pessoas que admira, como os professores Renzo Piccinini, Waldyr Muniz Oliva, Carlos Benjamin de Lyra e Jacy Monteiro, além de trabalhar com coautores que se tornaram mais que colegas de trabalho:
A verdade é que quando eu olho para esse processo eu não vejo coautores, eu tive muitos amigos, fiz muitos amigos. Com meus alunos também, eu olho para os meus ex-alunos e vejo amigos.
Considerando-se uma pessoa que valoriza muito suas amizades, o professor Polcino diz ser afortunado, pois também foi muito bem recebido no Brasil e relembra que em suas cartas enviadas aos seus pais no Uruguai, descrevia o quanto ele estava maravilhado com o país. Apesar de não aderir ao termo “naturalizado”, pois segundo ele, “implica em deixar de ser” também, César Polcino conta que descobriu ter se tornado brasileiro durante um campeonato chamado El Mundialito, quando na disputa entre Brasil e Uruguai, se encontrou na torcida brasileira.
Não posso deixar de reconhecer que fui um cara extremamente feliz, passei toda a minha vida fazendo o que eu gosto de fazer. E mencionaram por aí que eu faço outras coisas, para além da psicologia também são coisas que eu faço com muito prazer. Então, quase que não é justo a gente receber um título por se divertir a vida inteira, mas já que eu recebi agradeço muito, do fundo do coração, à congregação do Instituto, ao Sergio, meu amigo de anos, e a todos os presentes por estarem me acompanhando.


Após a entrega da medalha e do título, o quadro do professor Polcino, que já compõe a galeria de Professores Eméritos da Congregação, foi revelado no final da cerimônia pelo homenageado, sua esposa e seu filho.
Confira a galeria de fotos completa, por Sérgio Oliveira.
Por Nathalie Rodrigues | Serviço de Apoio Institucional