Os contos do escritor americano Howard Phillip Lovecraft (1890-1937) figuram entre os mais conhecidos da cultura pop. O mythos criado pelo autor figuram e ecoam nos mais diversos âmbitos do gênero de horror. Monstros anciães e horrores que penetram nas partes mais profundas das nossas mentes são o alicerce da sua obra. No entanto, um dos horrores latentes em sua obra é muito real, infelizmente. Um racismo quase não tão velado se esconde, não apenas em declarações polêmicas de Lovecraft, como também em partes de sua obra.
Nessa toada, o escritor nova iorquino Matt Ruff tece em Território Lovecraft um romance que coloca em jogo a mitologia de HPL face ao racismo social e muito real da sociedade americana. Com narrativas episódicas passados nos anos 50 e num Estados Unidos prestes a eclodir na luta pelos direitos civis, os personagens negros transitam por territórios cujo terror é tão real quanto o sobrenatural.
Atticus, Letitia, Caleb, Hyppolitta são os personagens dessa obra e se interligam através de suas próprias histórias pelo tema recorrente do estranhamento. Seja uma viagem para desvendar recém descobertas raízes ou o aluguel de uma casa em uma vizinhança nada amigável, o horror quase velado de Território Lovecraft, vai além do monstro aparente. O que se propõe com êxito impressionante é a desmistificação do status quo americano naquilo que é considerado seu auge: o período do pós-guerra até as revoluções culturais do fim dos anos 60 e anos 70.
O horror cósmico e contemplativo lovecraftiano parte da premissa do encontro aterrorizante do humano com o ancião e inalcançável. Ou seja, monstros cósmicos mais velhos que a terra, cujo medo arrepiante é causado pela mera presença e estranhamento. Ao transportar tal cosmologia para o social e político, Matt Ruff empresta voz a uma sociedade marginalizada. O livro acrescenta ao imaginário estadunidense o olhar ignorado durante muito tempo de quem foi tratado como monstro por séculos.
Essa é uma obra contemporânea altamente recomendada, tanto que já se tornou até série da HBO com Jonathan Majors e Jurnee Smollett. A BIME sugere a leitura de Território Lovecraft, pois, além de altamente crítico e de importância social, o romance de Matt Ruff é altamente divertido.
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