Caros(as)
Não creio que a introdução da estatística no ensino básico (esta terminologia, como sabem, refere-se atualmente a fundamental + médio). deva necessariamente passar pela criação de uma nova disciplina. Temos que inseri-la no que já existe.
O desenvolvimento da estatística formal deu-se em meados do século passado para atender as expectativas dos pesquisadores das ciências experimentais. Foram então introduzidos cursos de formação na pós (ainda incipiente) e na graduação, mas nas áreas experimentais. Fiz bacharelado em matemática na USP, na década de 60 (tempo não?), e a única disciplina que fiz de estatística foi como optativa, no curso de Ciências Sociais (isso era olhado com desdém pela comunidade, não somente por ser considerado um curso fraco, mas porque trabalhar com ?dados reais? era uma espécie de violência!).
Hoje a disciplina está em praticamente todos os cursos universitários, mas é pouco. Além de ser pouco desenvolvida no ensino universitário (considerada por alunos e professores como um apêndice a ser extirpado da graduação, pois em geral não é considerada nas demais disciplinas), os alunos chegam da escola básica em sua maioria com raciocínio determinista, despreparados para raciocinar em termos de variabilidade e de incerteza (quando perguntamos ? vocês tiveram estatística no ensino médio, a resposta é: sim professora, média, mediana e moda). E o que dizer dos que não irão para a Universidade? Temos mais de 50 milhões de alunos do ensino médio no país e cerca de 5 milhões na Universidade. O contingente que ficará refém de informações externas é enorme.
Além disso, o MEC, em suas diretrizes, estabelece que -
O ensino médio (15-17 anos) deve fornecer
ao aluno a possibilidade de analisar dados e
de tomar decisões apropriadas.
E também que os alunos devem ter as seguintes habilidades:
Habilidades requeridas:
Descrever e analisar dados, fazer inferências e fazer previsões
Precisamos encontrar espaço para que seja desenvolvido o raciocínio estatístico no nível pré-universitário. A estatística pode ser a interface entre a aprendizagem matemática & projetos interdisciplinares, permeando todo o conteúdo escolar, principalmente nas disciplinas que favorecem a pesquisa experimental. A expressão ?Estatística para Todos? inclui todas a áreas do conhecimento. Devemos trabalhar junto às licenciaturas de todas as áreas para que isso seja uma abordagem natural e desejada em sala de aula.
O IMPA fez um trabalho de análise de textos datuais usados no ensino médio. Pinçando alguns comentários: ?
Probabilidade só manipulativa, Probabilidade sem criatividade, Estatística sem ligação com Probabilidade, Probabilidade sem ligação com tomada de decisão, Estatística sem motivação ? somente cálculos, erros conceituais e de cálculos.
A partir de dezenas de oficinas que ofereci para professores de escola pública ouvi com grande frequência: ?nunca tivemos formação estatística e não temos segurança para introduzir esse tema.? Daí ficarem em média, mediana e moda, como disse acima.
Seria bom se os jovens se interessassem pelo tema (já há alguns, felizmente). Longo trabalho pela frente...Poderíamos formar um mutirão, como parte de responsabilidade social. Quem se habilita?