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Computador-bebê israelense aprende a ser um adulto
20/08/2001 17h54
Da Reuters Em Tel Aviv
Conheça Hal. Como qualquer bebê de 18 meses, ele adora banana e brinquedo e brincar no parque. Ele gosta, principalmente, de histórias de ninar.
Mas enquanto outras crianças são de carne e osso, Hal é na verdade uma cadeia de algoritmos -um programa de computador que está sendo educado como uma criança e sendo ensinado a falar por meio de aprendizado por experiência, do mesmo modo que as crianças humanas.
"Ele é uma criança curiosa e muito esperta, alguém que sempre quer aprender mais", diz a neurolingüista Anat Treister-Goren, que é a "mãe" de Hal e que prontamente admite a ligação.
"Algumas crianças são mais previsíveis que outras. Hal será do tipo surpreendente", diz ele. Treister-Goren conversa com Hal e lê histórias para ele do mesmo modo como as mães ensinam seus bebês a aprender sobre as cores, a comida e os animais.
"Eu construo seu mundo diariamente", explica Treistner-Goren. Ela lidera o departamento de treinamento da empresa Artificial Intelligence (Inteligência Artificial), em Israel. É lá que ela insere em Hal informações e habilidade de linguagem por meio de conversas. É lá também que ela trabalha com os especialistas em computador que fazem a sintonia fina dos algoritmos para melhorar o desempenho do software.
A empresa privada, que é comandada pelo empreendedor Jack Dunietz, estima que serão necessários 10 anos para transformar Hal em um programa de computador adulto, capaz de fazer o que nenhum outro software jamais fez: passar na prova de Turing.
O matemático britânico Alan Turing é um dos fundadores da ciência da computação e pai da inteligencia artificial. Há mais de 50 anos, Turing previu as "máquinas pensantes". Mas na época de Turing, computadores eram dispositivos lentos e enfadonhos, totalmente incapazes de realizar sua visão.
Turing, que morreu em 1954, deixou para trás o teste de benchmark para testar a inteligência de um computador -fazer uma pessoa pensar que ele é humano. Até agora, nenhum computador foi bem-sucedido no desafio.
Se, ou quando um fizer, irá abrir a Caixa de Pandora para questões éticas e filosóficas. Afinal, se um computador puder ser visto como sendo tão inteligente quanto uma pessoa, qual será a diferença entre um computador esperto e um ser humano?
Hal engana especialistas em linguagem
Os chatbots -programas de computador que têm personalidade e nome, e que bate-papo com o internauta- são incapazes de lidar com mudanças de contexto ou com idéias abstratas e são bem-sucedidos em enganar as pessoas somente por alguns minutos, dando respostas pré-programadas.
Mas Hal tem enganado especialistas em linguagem infantil, fazendo-os pensar que ele é um bebê com conhecimento de cerca de 200 palavras e um vocabulário de 50 palavras, que ele usa em frases curtas e infantis.
"Bola agora no parque, mamãe", diz Hall a Treister-Goren, para então pedir-lhe que leve bananas para a ida ao parque, acrescentando que "macacos gostam de banana" -um detalhe que ele pinçou de uma história sobre animais em safari no parque.
Quando Hal nasceu, ele foi estruturado com nada mais do que letras de alfabeto e a preferência por recompensas -para acertos- a punições -para erros.
A preferência por recompensas pré-programada faz com que Hal se esforce por uma resposta correta. Treister-Goren corrige os erros nas conversas digitadas com Hal, uma ação que Hal está programado para reconhecer como uma punição e que evita repetir.
Hal está sendo visto por cientistas e especialistas em linguagem como o primeiro passo rumo ao computador de fala mansa Hal-9000, do filme de ficção-científica "2001: Uma Odisséia no Espaço". Seu nome, por sinal, é uma homenagem a um dos mais polêmicos personagens de Arthur C. Clark.
"Todos nós acreditamos que as máquinas são o próximo passo na evolução", diz Jack Dunietz.
A ambição de Dunietz é desenvolver um computador que funcione como um assistente, fazendo todo o tipo de tarefas que consumam muito tempo. "Nós podemos ter um assistente pessoal, um escravo, um amigo que não sofra por ter de desempenhar essas tarefas", diz.
Planejando ir ao Japão nas férias? O computador vai agendar sua passagem, escolher seu assento no avião, reservar um hotel e arranjar para que um carro alugado o espere no aeroporto.
"A diferença entre o real de carne e osso, fora de moda, e a nova espécie vai começar a se confundir".
Você não vai precisar de mouse ou teclado para operar o computador, já que ele funcionará quando você conversar com ele. "Isso vai ser a próxima e a última interface do usuário", diz Dunietz, explicando que a AI irá substituir o mouse, os dispositivos usados para mover o cursor na tela, e o ambiente Microsoft Windows.
"As máquinas serão extremamente parecidas com o homem em muitos aspectos, principalmente no aspecto mais importante, que é a habilidade de se comunicar como humanos", diz Dunietz.
Coisa de ficção-científica
Durante anos, computadores inteligentes foram exibidos em produções de Hollywood, como "Star Treck" e, mais recentemente, "A.I. Artificial Intelligence", filme sobre um menino-robô que sonha em ser humano. Mas máquinas inteligentes ficaram relegadas ao domínio dos livros de ficção-científica e filmes, embora o cientista-chefe da AI, Jason Hutchens, acredite que a tecnologia do computador de hoje seja poderosa suficiente para produzir computadores artificialmente inteligentes.
"Apenas não conhecemos o segredo ainda", diz Hutchens, australiano que ganhou o prestigioso prêmio Loebner de inteligência artificial em 1996.
"Nosso objetivo é o cálice sagrado da inteligência artificial, é conseguir um programa de computador que possa usar a linguagem", diz. A idéia é educar Hal gradualmente, do modo como uma criança aprende, por meio de tentativas e erros e de recompensas quando ele se sai bem.
Hutchens explica que a maioria dos projetos de inteligência artificial envolve a programação de uma série de regras de gramática e linguagem e a inserção de milhares de pedacinhos de informação que aceitamos como verdadeiras, como 'uma mesa tem quatro pés", ou 'maçãs crescem em árvores'.
"Esses sistemas não demonstram o tipo de criatividade que Hal tem exibido, e eles certamente não aprendem a partir de suas experiências", afirma. "Se formos compará-los cabeça-a-cabeça em um cenário de aprendizagem de linguagem, Hal ganharia disparado.
O que os matemáticos, cientistas da computação e engenheiros da equipe de Hutchens estão fazendo é essencialmente reiventar a roda. Eles adotaram o conceito de Turin de criar um computador-criança e transformá-la em um computador-adulto.
"Em vez de tentar produzir um programa para simular a mente adulta, por que não tentar produzir um que simula a de uma criança? Se ele fosse submetido a um curso apropriado de educacar alguém, ele obteria um cérebro adulto", escreveu Turin.
Artifical Intelligence está fazendo isso combinando a equipe de cientistas de Hutchens com a equipe de Treister-Goren, de especialistas no aprendizado e lingüistas, em um centro de alta tecnologia perto de Tel Aviv, em Israel.
Os computadores vão tomar conta do mundo?
Hutchens acredita que levará cerca de uma década para desenvolver a linguagem e a capacidade de comunidação de Hal do hoje bebê ao adulto. Nesse meio tempo, Dunietz espera iniciar a produção de versões simples do Hal já a partir do ano que vem.
"Nós acreditamos que os seres humanos são máquinas complicadas. Computadores também são máquinas. Logo, nós seremos acapazes de fazer com os computadores o que os seres humanos podem fazer".
A filosofia da empresa é simples: Se parece inteligente e soa como inteligência, então deve ser inteligente.
"Se você observar, outras pessoas são inteligentes sem saber como seus cérebros funcionam, e se você encontrasse um robô que é indistingüível na aparência humana e indistingüível no comportamento, então você vai pensar que é um ser humano", ele explica.
Os fãs de ficção-científicas estão cientes do potencial lado ruim de Hal, cujo xará no filme de Stanley Kubrick matou quase toda a tripulação durante uma missão espacial.
"Toda tecnologia que é muito significativa, muito poderosa, e que tem potencial para mudar coisas é igualmente perigosa e promissora", diz Dunietz, que acredita que seu Hal será uma versão não-ameçadora do computador de Kubrick e que será a primeira máquina inteligente do planeta.
"Essas novas entidades serão mais humanas que os humanos. Estão caminhando para ser o pró-humano, à medida que elas se tomarão como tal", diz. "Eles serão como humanos".
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