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Re: Seres vivos medidos em bits...
- Subject: Re: Seres vivos medidos em bits...
- From: Tiago <tminc@uol.com.br>
- Date: Thu, 30 Aug 2001 21:41:33 -0300
David Machado wrote:
> (1) Apesar de serem bem mais complexos que os protozoários, a quantidade
> de informação genética necessária para "descrever" o organismo de um
> celenterado é bem menor! Entre outras diferenças importantes, um celenterado
> (medusas, anêmonas do mar, corais, etc...) é pluricelular, enquanto um
> protozoário é unicelular. Teria ocorrido uma espécie de "compactação" do
> código genético? Isto é, com o tempo a seleção natural faz com que os seres
> vivos consigam armazenar maior quantidade de informação genética em
> seqüências de dna menores?
Talvez. Tem algo muito mais difícil de descobrir que pode influenciar tudo isso:
o DNA é dividido em blocos, chamados, revezadamente, de exons e íntrons, assim:
...exom-introm-exom-introm-exom...
Na síntese proteica, o RNA é picotado, de modo que só sobrem exons. Talvez o
número de íntrons num protozoário seja proporcionalmente maior.
Os pesquisadores ainda consideram "lixo" a maior parte do DNA. Chamam "lixo" pq
não identificaram função específica para ele. Mas já há casos de íntrons que não
são removidos durante a síntese, promovendo a criação de proteínas com formatos
ou afinidades químicas semelhantes, mas diferentes das originais. Essas proteínas
também participam dos trabalhos da célula. Talvez o tamanho dos íntrons dos
celenterados seja menor, talvez eles tenham uma maior participação no
funcionamento do organismo completo...
> (2) Até a fase dos anfíbios, a quantidade de informação cerebral que um
> organismo precisava armazenar era bem menor que a quantidade de informação
> genética. Os répteis foram os primeiros seres nos quais esta relação se
> inverteu. O que teria ocorrido para motivar esta mudança? O aumento da
> informação cerebral seria apenas conseqüência do aumento da complexidade do
> organismo, medida pela informação genética?
Eu sou contra dizer "precisava": prefiro dizer "podia armazenar". Será que nossos
neurônios são muito diferentes dos deles? Dos anfíbios para os répteis, tem muita
coisa nova: maior separação sanguínea, acompanhada de uma evolução respiratória,
que dá aos répteis independência da respiração cutânea e, consequentemente, da
água. Dentes, ovos com casca, etc; diversificação alimentar; tudo isso é
informação genética. Mas o aumento da quantidade de informação genética não é
grande. Não sei se é maior que o salto entre peixes e anfíbios também, vc não
teve acesso a isso?
É interessante reparar que o salto na quantidade de informação cerebral é enorme,
comparado aos outros. Talvez isso seja um indício interessante...
Achei algo em http://www.cbs.dtu.dk/databases/DOGS/ : enquanto os humanos têm 3,4
bilhões de bases no DNA, a Amoeba dubia tem 670 bi.
> (3) A quantidade de informação genética em todos os mamíferos é
> aproximadamente a mesma. Seguindo o raciocínio anterior, podemos dizer que a
> complexidade de seus organismos são equivalentes.
Opa! A capacidade de segurar objetos é neurológica! O radar dos morcegos
(neurológico) é essencial para sua sobrevivência! As diferenças, digamos, "de
baixo nível", é que são pequenas: todos os mamíferos produzem hemoglobina,
adrenalina, estrógeno; a evolução embrionária é quase idêntica; homeotermia;
leite; por aí vai. A visão felina é muito melhor que a nossa por diversos
motivos, um deles é que eles enxergam mais quadros por segundo, e isso é uma
capacidade cerebral.
Mas sim, podemos dizer que eles têm complexidade equivalente.
> Como não existe grande
> diferença entre a complexidade para controlar os movimentos e reações de seus
> organismos, a quantidade de informação cerebral deveria ser mais ou menos a
> mesma para todos os mamíferos. Por que então o ser humano precisa armazenar
Acho que é precisamente aí que seu raciocínio difere do meu: eles podem ser
equivalentemente complexos, no sentido de serem todos MUITO complexos!! ; )
Mas eles são complexos, cada um na sua área...
> tanta informação cerebral, já que 10^11 bits ou um pouco mais já seriam
> suficientes para garantir o funcionamento de seus organismos e a
> sobrevivência? Por que teria desenvolvido esta capacidade de armazenar mais
> informação em seus cérebros do que a necessária para a sobrevivência (que é o
> que conta para o processo de seleção natural) ?
Provavelmente, essa informação é (ou era, antes de nos afastarmos da vida
natural) muito necessária. Talvez em humanos seja difícil de explicar, mas um
morcego com um radar "quebrado" não vai se alimentar direito, é bem provável que
ele não propague seus genes.
> (4) Atualmente a quantidade de informação existente em forma
> "extra-somática" dividido pela quantidade de habitantes no planeta é muito
> maior que 10^13 bits! A capacidade de armazenar informação cerebral teria
> chegado ao limite? Estaríamos por este motivo desenvolvendo formas de
> armazenar cada vez mais bits em objetos externos?
Que eu saiba, as mentes mais brilhantes usam perto de 10% do cérebro. O modo como
guardamos informação é totalmente diferente do modo como um computador guarda: ao
mesmo tempo em que podemos esquecer coisas ou mudar nossas lembranças (já
explico), temos "grafos" altamente complexos de associatividade entre as
informações. Podemos lembrar de cheiros, podemos associar uma imagem a um cheiro,
e podemos confundir nomes e rostos. Por isso mesmo, armazenamos informação em
objetos externos. E se não fosse a escrita (em qualquer forma), não teríamos o
desenvolvimento social e tecnológico que nos trouxe até aqui.
Quase quebando meu próprio argumento, talvez a estrutura do cérebro seja similar
à do DNA, com exons e íntrons, ou seja, partes que claramente têm função, e
partes que parecem "lixo", ou ociosas, mas que são componente fundamental no
funcionamento do cérebro. Os 10% podem ser ilusórios. "O que está em cima está
embaixo, o que está dentro está fora", como disse o Carl (não o Sagan, o Jung).
> Se esta necessidade cada vez maior de acumular bits é uma espécie de
> "lei natural", cedo ou tarde chegaremos num problema: o que fazer quando não
> for mais possível acumular bits de forma "extra-somática"? Existe um limite
> para esta forma de armazenamento? Na melhor das hipóteses, podemos armazenar
> nossos bits átomo por átomo. Por exemplo, numa cadeia de átomos, um átomo de
> carbono representaria 1, e um átomo de oxigênio representaria 0. Sabendo a
> quantidade de átomos que existe no universo (existe uma estimativa para isto
> também, mas não me lembro quanto é), poderíamos calcular o máximo de
> informação que poderíamos armazenar de forma extra-somática. Mas que faremos
> quando precisarmos armazenar mais de um bit por átomo? Na época em que isto
Faremos como fizeram nossos antecessores: armazenaremos a estrutura: uma ligação
C-O é 1, uma ligação C=O é 2, uma ligação C-H é 0, sei lá. Até lá, é bem capaz
que um só Carbono seja capaz de armazenar vários bits... o que vale é a
interpretação. Num circuito, +V é 1, -V é 0, dependendo do caso. Às vezes, +V é
0, Zero é 1, e -V não faz sentido...
Pode ser que O seja 0, O-- (Oxigênio ânion) seja 1.
Continuo acreditando que armazenar informação em bits é uma coisa muito
primitiva. Mas isso é minha opinião de fé, sem base científica.
> ocorrer, talvez já tenhamos chegado alto demais na escala da evolução, e
> conscientemente decidamos regredir para que o processo todo volte a
> acontecer, desde o começo... :-)
Existe alto demais? Existe baixo demais? Pelo darwinismo, os seres mais evoluídos
do nosso planeta são os insetos: como espécies, eles dominam o mundo, e não há
desgraça ecológica que mate todos. E vez ou outra, umas formigas saúvas podem dar
trabalho para um país inteiro cheio de humanos! heheheh...
Tudo de bom!
Tiago "já vão me por pra fora?" Silveira