[Prévia cron] [Próxima Cron] [Prévia por assunto] [Próxima por assunto]
[Índice cronológico] [Índice de assunto] [Índice de autor]

Re: Homem-máquina



Em Qui 06 Set 2001 01:32, você escreveu: 
> <html><div style='background-color:'><DIV> 
> <P><BR>Olá :-)</P> 
> <P>Esse assunto é muito interessante, pois entraríamos inevitavelmente no 
> problema da consciência - mas não no sentido de consciência moral. </P> 
> <P>Acho que no fim, esse sempre será o ponto diferencial entre máquina e 
> homem: o fenômeno - ainda inexplicado da consciência. Não há uma definição 
> que esgote esse termo. Na psicologia ele tem um sentido, que é diferente na 
> neurociência, que é diferente na neurolingüística, que é totalmente 
> diferente no sentido moral.</P> 


 Me parece que, nesta discussão, não está muito claro em que sentido está 
sendo usada a palavra "consciência". Por isto vou tentar definir qual o 
significado que estou atribuindo à esta palavra, antes de comentar sobre 
ela. 

  Pois bem, pelas mensagens enviadas parece que se está falando de 
consciência como a "sensação de existência" de uma criatura. Vejam bem que 
ela não é uma condição necessária para a sobrevivência: um animal poderia 
perfeitamente viver e reagir a estímulos do ambiente sem precisar "saber" que 
ele próprio existe. Uma ameba tem consiência? Não posso afirmar com certeza, 
mas eu chutaria que não. Pelo menos não no sentido dado acima, uma vez que 
ela nem mesmo tem um sistema nervoso para poder "sentir" sua própria 
existência. Ela apenas reage cegamente a estímulos químicos e/ou mecânicos do 
ambiente em volta dela. Vista desta forma, não parece estranha a idéia de uma 
máquina ser capaz de "emular" muito bem o comportamento de uma ameba. 

  Vamos agora acompanhar a escala evolutiva: esponjas têm consciência? 
medusas e anêmonas do mar têm? e os peixes? anfíbios e répteis 
"sabem" que existem? todas as aves e mamíferos têm consiência também? Notem 
que é muito difícil fazer qualquer afirmação, pois não estamos "na pele" 
dessas criaturas para saber se elas pensam e se, ao pensar, elas desenvolvem 
consciência. 

 <P>Mas acho que a aproximação 
> hardware/corpo e software/máquina serve a um propósito ideológico um tanto 
> espúrio. Essa redução positivista pode tanto ser depreciativa do caráter 
> digamos "poético", como a Evelyn quis ressaltar, quanto do caráter mais 
> social, como disse o Paulo. Será difícil realmente separar as diferenças, 
> porque embora a máquina dificilmente venha conseguir a imitar uma 
> consciência humana, para todos os efeitos práticos pode ser que ela venha a 
> exibir um "comportamento" tão parecido que diferença será não só 
> imperceptível como até <U>irrelevante</U>. 


  Aqui é que vem o ponto que quero discutir! Fala-se da consciência como se 
ela fosse algo imutável, que existe o tempo todo durante a vida de um ser 
humano. Mas talvez ela seja apenas uma sensação, da mesma forma que a 
sensação de frio, fome, raiva, simpatia, etc... Esta impressão de que 
podemos observar o funcionamento de nosso organismo como se tivéssemos uma 
existencia independente dele talvez não passe exatamente disto: uma 
impressão! 

  Para raciocinar sobre fatos e objetos que observamos à nossa volta, nosso 
cérebro normalmente cria representações mentais destes objetos para poder 
manipulá-los. Por exemplo, ao observarmos um cão correndo atrás de um gato, 
vários modelos mentais são criados e  relacionados internamente: a idéia de 
"cão", a idéia que representa "gato", a idéia da ação "correr" associando as 
idéias "cão" e "gato", etc. Tratam-se de representações que o cérebro 
necessariamente precisa criar para compreender os fatos que ele observa, 
captados pelos órgãos dos sentidos. 

  Algumas vezes, para compreender determinados fatos, o cérebro precisa 
criar uma representação do próprio organismo no qual ele funciona. Seria 
esta representação mental aquilo que estamos chamando de "consciência"? Se 
for este o caso, de forma alguma podemos considerá-la única, constante e 
imutável durante toda a vida de uma pessoa: sempre que precisasse, seria 
criada uma representação nova. Poderia, isto sim, se basear em lembranças 
para reconstruir a nova representação do "eu" mais rapidamente, e raciocinar 
fatos novos sobre esta representação. 

  Pela linha de raciocínio acima, a consciência deixa de ser uma "coisa" que 
existe o tempo todo e passa a ser apenas uma consequência do funcionamento 
do sistema nervoso. Então o que somos nós? O que faz eu saber que sou eu e 
não você?   (xiii, esta frase ficou bem no estilo Patropi... :-D  )  Bom, 
diria que o que caracteriza unicamente cada pessoa são suas memórias, nada 
mais. 

  Se fosse possível copiar integralmente as memórias de alguém para algum 
outro suporte (uma máquina, ou até outro organismo mesmo) e se fosse 
adicionada alguma forma eficiente de processá-las (raciocinar sobre estas 
memórias), me parece correto afirmar que este alguém foi copiado para algum 
outro suporte, e que é capaz de continuar "existindo" nele. Não seria 
necessário copiar também a "consciência" de uma pessoa para a máquina ou 
para o novo organismo: a consciência surgiria ao se raciocinar sobre as 
memórias da pessoa. De certa forma, isto ocorreria espontaneamente mesmo! 

  Comentei uma vez com um amigo que não seria necessário programar uma 
máquina para pensar, a fim de que ela pudesse imitar o comportamento de um 
ser humano. Deveríamos fazer exatamente o contrário: no dia em que 
conseguirmos programar uma máquina para imitar com  exatidão o comportamento 
de um ser-humano, ela já estaria pensando. Só precisaríamos nos preocupar 
com a relação da máquina com o mundo externo, pois o "pensamento" da máquina 
surgiria espontaneamente quando ela fosse capaz de imitar um ser humano de 
forma convicente. :-) Quem sabe neste exato momento ela se tornaria 
"consciente" de sua existência... 

  Talvez a consciência sejam apenas momentos de estabilidade que surgem, vez 
ou outra, dentro do caos que é o sistema complexo adaptativo formado pelos 
nossos neurônios... :-)

> Moralmente isso tudo seria um 
> grande problema.</P> <P>Sobre a questão da consciência, há um bom autor, 
> John R. Searle, nome importante num campo da filosofia muito presente nas 
> discussões de filosofia atuais, a Filosofia da Mente.</P> <P>Alguns de seus 
> trabalhos mais importantes são "Speech Acts", "Intencionalidade" e "Mente, 
> Linguagem e Sociedade". E podemos talvez dar "mais corda" nos aspectos 
> morais da discussão da comparação entre homem e máquina, a que propósito 
> ideológico tal comparação serve, se essa comparação é mais que uma mera 
> figura de linguagem, se ela já é uma mentalidade corrente que opera de modo 
> excludente.</P> <P>Fica aíi a deixa pra mais discussão :-)</P> 
> <P>[ ]'s</P> 
> <P>Vinicius</P></DIV> 
> <DIV>&nbsp;</DIV></div><br clear=all><hr>Get your FREE download of MSN 
> Explorer at <a 
>