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artigo de John Schwartz sobre a bolha pontocom
- Subject: artigo de John Schwartz sobre a bolha pontocom
- From: Paulo Eduardo Azevedo Silveira <peas@linux.ime.usp.br>
- Date: Sun, 25 Nov 2001 19:51:24 -0200 (BRST)
oi pessoal
esse assunto eh batidissimo, mas ele faz um estudo sobre os efeitos da
queda das torres sobre a nova economia, e sobre os valores dos
trabalhadores do conhecimento que mudaram repentinamente.
o artigo saiu recentemente no New York Times, vale a pena ler.
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O fim do sonho pontocom
Por John Schwartz :: 16:38 25/11
Analistas acreditam que os ataques de 11 de setembro geraram uma volta a
antigos valores, uma necessidade de realização pessoal e não apenas de
ganhar dinheiro. Para muitos, os ideais que surgiram com a nova economia e
com a ascensão das empresas pontocom deixaram de representar o pensamento
norte-americano
Há pouco mais de um ano, os arautos da Nova Economia e aqueles que
realmente acreditavam neles na imprensa afirmavam ter mudado todas as
regras. Não apenas revistas de tecnologia como a Wired, mas moderados
culturais com estilo próprio como a New York Magazine, declararam que os
anos 90 se transformaram na "e-Década." Em uma matéria de capa de 1999, o
colunista Michael Wolff - ele próprio um executivo pontocom fracassado -
anunciou um admirável mundo novo. "Há, no centro da e-experiência, a
fantasia de que nós podemos nos libertar das leis econômicas," ele
escreveu. "Para que as pessoas enriqueçam, bastam vontade e desejo." Não
era suficiente enriquecer. Eles queriam fazer história.
Agora eles próprios são história. Todos os dias, os antigos ídolos parecem
desaparecer ainda mais no passado obscuro, sem serem lembrados em um país
em que palavras como "revolução" e "guerra" deixaram de ser simplesmente
metáforas do mundo dos negócios. Este é o próximo passo após o estouro da
bolha econômica pontocom - o estouro da bolha cultural, o fim dos "nerds"
como um sucesso, dos "zilionários" da bolsa como um modelo para os
universitários.
A mudança de visão pode ser vista nas pequenas coisas. Como Henry Blodget,
o analista industrial que ficou famoso por prever cedo que as ações da
Amazon.com chegariam a US$400, anunciando que ele está comprando metade
das
ações de uma companhia e abandonando a Merill Lynch com apenas 35 anos.
Há uma onda crescente de livros que focalizam não apenas o caminho
pontocom
trilhado pelos ricos mas também sua queda no abismo. Ao não conseguirem
vender seus sonhos, eles agora estão tentando vender seus fracassos. Um
documentário sobre a ascensão e queda de uma empresa do Vale Silicon foi
narrado por Sebastian Nokes da "Startup.Com" e lançado no último inverno.
Livros escritos por ex-executivos pontocom estão chegando às lojas. Dois
destes primeiros são "A Very Public Offering: A Rebel's Story of Business
Excess, Sucess and Reckoning" (Uma Oferta Muito Pública: A História de um
Rebelde sobre Excessos, Sucessos e Avaliações nos Negócios) de Stephan
Paternot, fundador da Theglobe.com e "Dot.bomb: My Days and Nights at an
Internet Goliath," (Ponto.bomba: Meus Dias e Noites em um Golias da
Internet) de J. David Kuo. Outro será lançado em breve: "Boo Hoo," a
crônica do fracasso espetacular do Boo.com, o site de luxo sobre moda que
queimou US$185 milhões de seus investidores e teve uma vida on-line de
apenas seis meses, contada por seus pródigos fundadores.
Por acaso mencionamos que Blodget está escrevendo um livro?
Para a maioria das pessoas, no entanto, o fluxo de histórias dos fracassos
das empresas pontocom não está despertando interesse. Os livros que contam
tudo encalharam nos estoques da Amazon.com, sem passar pelo território dos
best sellers. E por que não? Por que os antigos ídolos têm pés de barro.
Em "A Very Public Offering," um livro escrito de forma tão amadora quanto
a
maneira como a companhia foi administrada, será que nós precisávamos da
imagem de Paternot dançando a noite toda com uma calça de plástico?
A nova série de Ellen DeGeneres, "The Ellen Show," é construída em torno
da
idéia de uma executiva voltando para sua cidade natal após o fracasso de
sua empresa pontocom, mas o programa está em 93o. lugar no ranking das
séries - atrás de "Emeril," a comédia de celebridades - apesar do
considerável carisma de DeGeneres.
Para Amitai Etzioni, sociólogo da Universidade George Washington, o país
está passando por uma mudança cultural abrupta: dos valores liberais e
individualistas que foram expressos na celebração da Nova Economia para a
volta a valores mais antigos trazida pelos ataques terroristas, quando o
governo deixou de ser O Problema e as pessoas deixaram de ser O
Mercado. "Houve uma grande mudança," ele disse. A onda de doações de
sangue
e dinheiro após 11 de setembro marca "o sentimento de que você está
disposto a dar prioridade ao bem comum, à segurança e à saúde pública."
Paulina Borsook, autora de "Cyberselfish," um olhar crítico sobre os
valores das empresas pontocom publicado no ano passado, disse: "As pessoas
na verdade desejam uma lembrança dos valores humanos ligados ao sacrifício
e ao companheirismo e estão se conhecendo com o passar do tempo. Não se
trata de mudar de emprego a cada seis meses e ter opções de investimento."
Nos anos 90, universitários que tinham a esperança de imitar Marc
Andreessen da Netscape e outras estrelas "nerds" migraram para o Vale
Silicon ou para o Silicon Alley de Nova York com currículos fracos e
imagens de Ferraris Testarossas dançando em suas cabeças. Tudo isto está
mudando, disse Thomas T. Field, diretor do Centro de Humanidades da
Universidade de Maryland, condado de Baltimore. "Muitos jovens que eu vejo
vindo para o campus agora dizem que querem empregos que proporcionem
realização, satisfação, não apenas maneiras de ganhar dinheiro," ele
disse. "Isto soa muito familiar, quando você é da geração dos anos 60."
Field sugeriu que a sensação de segurança que nasceu durante o boom fez
com
que os jovens ficassem mais dispostos a questionar o status quo e a se
arriscarem. Durante o frenesi do lançamento de ações de novas empresas,
ele
disse, os universitários não viam a hora de sair da escola e começar a
ganhar dinheiro. Este ano, muitos de seus alunos escolheram estudar em
outros lugares como a China, Nepal, Índia e Egito.
Uma boa resolução, disse Thomas Frank, autor de "One Market Under God:
Extreme Capitalism, Market Populism and the End of Economic Democracy" (Um
Mercado Guiado por Deus: Capitalismo Extremista, Populismo de Mercado e o
Fim da Democracia Econômica). O livro é um ataque às idéias que sustentam
a
promoção da Nova Economia, que ele diz que escolheram a modernidade e o
discurso do populismo para servir à ganância e ao lucro. O livro foi
lançado em brochura com um novo epílogo. "Irá demorar algum tempo até que
afunde," disse Frank. "O Dow não subirá a 36 mil e as empresas pontocom
não
voltarão - e muitas pessoas perderam muito dinheiro."
Kevin Kelly, que há muito tempo é editor da revista Wired e ajudou a criar
um etos heróico em torno dos empreendedores pontocom, admitiu "eles caíram
junto com as torres." Mas Kelly insistiu no fato de que estas pessoas se
levantarão novamente. A geração de executivos novatos fracassados "teve
uma
educação em administração de empresas muito melhor do que teria se tivesse
feito um MBA em Harvard," ele disse. "Eles não tinham a intenção apenas de
aprender, mas estão muito mais espertos agora." Ele prevê que a última
década propiciou a chegada da revolução cultural - ele não conseguiu ser
específico, e suas palavras podem surpreender muitos, enquanto mais
empresas pontocom entram em declínio.
É necessário um tipo especial de análise para as mesmas pessoas que
argumentaram que o "boom prolongado" suspendeu as leis da economia e até
acabou com os ciclos da história, para cair de volta na idéia de ciclos
históricos para sustentar seus argumentos.
Mas para acreditar menos na semente americana, argumentou Jason McCabe
Calacanis, editor do agora defunto Silicon Alley Reporter. O executivo
pontocom, visto hoje como um engano, renascerá, ele disse, mais
inteligente
e mais competitivo, porque ele representa o próprio otimismo. "É a crença
de que o futuro - o futuro dos indivíduos e o futuro da economia - estará
melhor em cinco anos do que está hoje."
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"The software required Win95 or better, so I installed Linux."
"Standards are good! Let us have a LOT of them!"
Paulo Eduardo A. Silveira <peas@linux.ime.usp.br>
UIN: 5142673 www.paulo.com.br