O que é a sociedade da informação?
A sociedade da informação (SI) é uma reorganização da sociedade que põe,
nessa mesma sociedade, a informação em primeiro lugar e se apóia em tecnologias
que tornam possível a difusão dessa informação para fins de consumo públicos ou
privados. Essa definição é um tanto simplória, mas é suficiente para nossa
exposição.
O surgimento e a difusão das novas tecnologias da informação nos últimos
25 anos provocaram uma mudança significativa na sociedade mundial. O
capitalismo, sistema econômico atualmente vigente na maioria dos países do
mundo, incorporou essas mudanças e acabou por provocar uma revolução em si
mesmo, revolução essa que alguns chamam de terceira revolução industrial.
Nos dias de hoje, o sistema de produção das nações desenvolvidas tem
como peça chave a tecnologia da informação (TI). A TI tornou possível a
expansão das grandes corporações a procura de novos mercados, de recursos
naturais e de mão-de-obra barata. Ela torna possível integrar um sistema de
produção cujas fábricas distribuem-se ao redor do mundo todo, sistema esse que
põe em cheque os modos antigos de produção.
Mas a SI não beneficia apenas as grandes empresa, o cidadão comum também
pode ser beneficiado. Em países onde a SI já é uma realidade, a TI já permite o
compartilhamento de um enorme volume de informações: a Internet. É possível
usufruir de serviços gratuitos, fazer compras e serviços bancários sem sair de
casa, participar de discusões, relacionar-se com outras pessoas, etc.
Aparentemente, a SI é menos burocrática que nossa antiga sociedade, a automação
e a necessidade crescente de velocidade pra realizar transações tornam a
burocracia obsoleta.
Enfim, há beneficios na implantação da SI. Mas quem afinal será mais
beneficiado? A sociedade ou as grandes corporações? Essa preocupação tem um
peso significativo para os países pobres, uma vez que esses têm mais sociedade
que grandes corporações.
Esse trabalho propõe uma análise da implantação de SI em países pobres.
Não sabemos se faz sentido fazer uma análise local de um processo de dimensões
globais, mas os países pobres constituem a maior parte da sociedade humana,
constituindo dessa forma uma maioria em qualquer processo global.
O que é preciso para construir num país uma sociedade da informação?
A criação da sociedade da informação em países desenvolvidos apoiou-se
no desenvolvimento da tecnologia da informação, como já dissemos.A TI começou a
ser desenvolvida nos anos setenta, com o surgimento dos microcomputadores. A TI
está diretamente ligada à tecnologia dos computadores e, principalmente, à
organização desses computadores em rede. Os computadores armazenam informações
em forma digital e as redes encarregam-se de distribuir essa informação.
A dependência de tecnologia na SI explica seu surgimento primordialmente
em países desenvolvidos. O desenvolvimento dessa tecnologia só foi possível com
um alto investimento em áreas de pesquisa. Tal desenvolvimento é tanto maior
quanto o investimento nessa tecnologia. Como os países desenvolvidos têm mais
dinheiro e fazem maiores investimentos na área de pesquisa, é natural que a SI
tenha sido criada neles.
E o que acontece com os países pobres? O investimento em pesquisa nos
países pobres é bem menor que nos países ricos. Os resultados são também mais
modestos. Uma solução bastante comum para ter acesso à tecnologia nesses países
é a compra dessa tecnologia dos países que a possuem. Os países desenvolvidos
cobram preços altos por suas tecnologias, consumindo muitos recursos dos países
pobres. Os produtos de alta tecnologia vindos das nações desenvolvidas
desequilibram a balança comercial, uma vez que os paises pobres não podem cobrar
preços altos em seus produtos de exportação, os quais são em sua maioria,
agroindustriais.
Mas não basta comprar tecnologia para criar a SI. É preciso implantar a
tecnologia no país. É bom lembrar que a SI está fortemente baseada em redes de
computadores, e não apenas em computadores. O país deve então ter uma boa
infraestrutura de telecomunicações. Caso ainda não a tenha, precisará comprar
mais essa tecnologia. Os custos de implantação, como podemos observar, são
bastante altos.
Quem deve arcar com esses custos? O capital estatal ou o privado?
Voltamos a lembrar que o capital privado, na forma das grandes
corporações multinacionais, é um dos maiores beneficiados com a SI. Mas é pouco
provável que os maiores investimentos venham dessa fonte. Se uma empresa quiser
se instalar num outro país, certamente vai procurar algum com infraestrutura.
Caso não encontre, provavelmente vai providenciar infraestrutura para si mesma,
e não arcar com ou custos de infraestrutura para todo o país.
Dessa forma, o capital estatal é o mais provável financiador da
sociedade da informação.
Há ainda um outro problema a ser resolvido. Vamos supor que um país
pobre já tenha feito os investimentos descritos acima. Um grande passo já foi
dado, mas não podemos nos esquecer da adaptação da sociedade à nova tecnologia.
Precisamos resolver o problema do “analfabetismo digital”. De nada adianta uma
sociedade da informação sem a sociedade propriamente dita. O grande problema
existente para a alfabetização digital em países pobres é o analfabetismo real.
Sem resolver esse problema, é inevitável nos depararmos com um novo tipo de
exclusão social. O número de analfabetos digitais será sensivelmente maior que
o de analfabetos reais. Os novos analfabetos enfrentarão dificuldades para entrar
na nova economia.
Quais as Conseqüências da Implantação da Sociedade da Informação
A questão do retorno dos investimentos de implantação é bastante
delicada.
Talvez simplesmente não haja outro caminho a ser seguido pelos Estados a
não ser arcar com todos os eventuais prejuízos, uma vez que é bastante provável
que o novo sistema capitalistade produção mundial basei-se daqui por diante na
SI. Dessa forma, qualquer país que não arcar com os custos de implantação da SI
estará fadado à exclusão no sistema produtivo mundial, se bem que os países
pobres já estejam um tanto quanto excluídos de tal sistema.
Mas existe sim uma possibilidade de retorno dos investimentos. Na
verdade, é possível até que um país subdesenvolvido ocupe uma boa posição na SI.
A pesquisadora argentina Suzana Finquielievich, doutora em sociologia urbana
orientada por Manuel Castells, um dos mais conhecidos estudiosos da SI acredita
que “A sociedade da informação não precisa cometer os mesmos erros da sociedade
industrial”. Segundo a pesquisadora, os países do terceiro mundo podem ocupar um
lugar de destaque na nova economia.
Ainda sob o ponto de vista da pesquisadora, é fundamental que a
sociedade inteira se reorganize sob o prisma da SI. É preciso fazer com que o
cidadão comum tenha contato direto com as novas tecnologias. A educação
coletiva da população parece ser o meio mais barato e produtivo de atender esse
fim. Num país pobre, é impossível que todos os habitantes tenham computadores,
uma vez que os custos são bastante elevados. Os países desenvolvidos estão
enfrentando dificuldades para promover o acesso à Internet para parcelas significativas
da população, uma vez que toda a infraestrutura do país em telecomunicações
precisa ser ampliada para atender a demanda. Dessa forma, a educação coletiva é
o único meio a ser seguido pelos países subdesenvolvidos para resolver o
probema do analfabetismo digital.
Um outro problema que costuma ser ignorado pelos que tentam implantar
uma SI é o curto período de vida dos equipamentos recém instalados. O avanço
tecnológico dos computadores é exponencial e torna totalmente obsoletos equipamentos
de ponta em cerca de dois anos. Dessa forma, os investimentos de manutenção de
uma SI são tão caros quanto os de implantação. As tecnologias de transmissão de
dados também são aprimoradas continuamente, permitindo bandas de transmissão de
dados cada vez maiores. Velocidade na transmissão e processamento de dados na
SI é fundamental. O investimento continuado é um mal necessário à sobrevivencia
competitiva.
A nova economia, ao mesmo tempo que cria novos empregos baseados numa
vida “on-line” dos cidadãos, provoca enormes adaptação em muitos empregos do
passado, casusando inclusive extinções de alguns deles. Quais são as características
dos novos empregos e dos extintos?
Como já dissemos, a alfabetização digital está diretamente relacionada
com a alfabetização real. Isso é um forte indício das características dos empregos
criados na nova economia da SI. A mão-de-obra qualificada é bastante valorizada
na nova sociedade.
A nova economia dá valor à rapidez em transações comerciais. Tende à
automação de tarefas, ao auto-atendimento. Ao que parece, empregos como caixa
de banco, frentista, cobrador de ônibus, atendente em lojas de departamento,
etc, não são muito valorizados. O e-commerce põe em cheque essses tipos de
emprego.
Nos últimos anos o índice de desemprego mundial teve um crescimento
significativo. O capitalismo global aparentemente foi um dos responsáveis pelo
aumento do desemprego. Não podemos nos esquecer que o capitalismo global é
baseado na sociedade da informação. Há estatísticas que dizem que o desemprego
na Europa aumentou, mas isso não ocorreu tão fortemente nos Estados Unidos. Os
EUA estão bastante à frente da Europa em termos de SI. Então a conclusão óbvia é
que os empregos extintos pela nova organização são repostos pelos recém-criados.
Mas não podemos deixar de observar que os EUA são hegemonia no mundo atual, e
talvez não tenha sentido os efeitos do desemprego causado pela SI justamente por
isso.
Vamos analisar agora a realidade dos países pobres. A mão-de-obra de
baixa qualificação é bem mais numerosa que a qualificada, reflexo direto do
analfabetismo real desses países. O desemprego e o grande número de pessoas
trabalhando na economia informal já é realidade há muito tempo. A implantação
da SI tende então a aumentar mais ainda o índice de desempregos e a levar mais
e mais pessoas para a economia informal. Na verdade, o grande vilão da história
não é a SI, e sim o alto índice de analfabetismo. Não seria então prioridade
investir em educação antes de implantar a SI num país subdesenvolvido? Não
seria desastroso para a população priorizar a SI ao invés da educação?
Vamos supor que o desemprego não seja um grande problema para a SI, que
os índices não se alteraram após a implantação. Uma característica do
capitalismo global é a grande mobilidade física das empresas. Segundo Gilberto
Dupas, pesquisador na área de globalização, emprego e cadeias produtivas, em
seu livro Ética e Poder na Sociedade da Informação, revela que “... A
mobilidade do capital e a possibilidade de alocar segmentos da cadeia produtiva
em outras regiões desestabilizam a estrutura dos salários ...Uma recente
pesquisa efetuada em seiscentas empresas dos Estados Unidos revelou que, em 50%
dos casos, elas utilizaram o argumento de tranferência da produção para outros
locais como pressão sobre os sindicatos. Em 10% daqueles casos a ameaça foi
cumprida e parte da produção foi transferida para o México”
Aparentemente um país de terceiro mundo foi beneficiado, mas uma análise
um pouco mais cuidadosa mostra que as empresas situadas nesses países podem
usar o mesmo argumento contra os trabalhadores, diminuindo o poder dos
sindicatos.
Além desse fato, Dupas também comentou que otrabalho à distância, uma
das inovações mais marcantes da SI também enfraquece o poder dos sindicatos,
uma vez que não mais ocorre a reunião dos trabalhadores em um só local e a noção
de objetivos comuns é perdida.
Mesmo num estágio superior, a concorrência é, para o capitaismo, um dos
grandes responsaveis pelos preços dos produtos. Quanto mais desenvolvido é um
país, menor é o custo de produção de um bem de consumo qualquer. São muitos os
fatores que levam ao barateamento dos produtos finais.
A SI tem como característica a globalização dos mercados. Em outras
palavras, usando a internet para e-commerce, podemos fazer compras em qualquer
lugar do mundo usando um cartão de crédito internacional. O consumidor prefere
produtos baratos e de boa qualidade. Em países pobres pode então se configurar uma
queda na demanda por produtos da industria nacional, os quais poderiam ser comprados
no exterior a um preço menor
Cabe então aos governantes a adoção de políticas de proteçao à industria
nacional, que fatalmente enfrentará uma concorrência sem precedentes e que pode
inclusive ser praticamente extinta e entregue ao capital estrangeiro.
A grande maiioria dos países do terceiro mundo tem econnomias baseadas
na exportação de produtos agroindustriais. São raros os países pobres que exportam
tecnologia ou produtos baseados em alta tecnologia. Quando isso ocorre, o
capital estrangeiro está envolvido na grande maioria das vezes.
No mercado mundial, o valor dos produtos agroindustriais é baixo com
relação aos produtos de tecnologia. A SI aparentemente não provoca mudanças
nesse quadro. Produtos de alta tecnologia continuam mais caros que produtos
agroindustriais.
A SI pode aumentar os lucros dos países pobres?
Se a economia desses países continuar agroindustrial a resposta à
pergunta provavelmente é não. O e-commerce pouco tem a oferecer para a
agroindustria. A automação da SI pode tornar os preços mais competitivos, mas
provavelmente não aumentara seus valores no mercado internacional.
Mas se a economia dos países pobres conseguir se destacar em tecnologia
da informação pode atrair investimentos estrangeiros e mudar o quadro
agroindustrial do país. A Índia já conseguiu grandes recompensas por investir
em TI. Na américa latina, o Uruguai também vem se destacando.
No entanto, é importante perceber que as economias que mais se
beneficiam com a SI são as baseadas em alta tecnologia, uma vez que são elas
que fornecem o know-how e a tecnologia propriamente dita para a inserção de
outros países na nova economia e que essa tecnologia é muito bem paga pelos
interessados.
O que se tem notado ultimamente é um interesse crescente dos países
desenvolvidos em vender tecnologia para países em vias de desenvolvimento. Ao
que parecem, os lucros obtidos em países em que os mercados ainda não são
maduros, ou seja, que não têm acesso à tecnologia usada nos países
desenvolvidos, são enormes. É possível fazermos uma comparação com as vendas de
ferrovias feitas há cerca de 100 anos atrás para alguns países pobres, sob o
mote “Onde chega a ferrovia chega o progresso”?
Cabe aos países pobres conduzir a compra dessas tecnologias de forma
cuidadosa e não eufórica. Aparentemente, a SI será uma transição inevitável
para as economias do terceiro mundo, mas é importante que tais países definam
cautelosamente suas prioridades e não julguem o abismo digital entre países
pobres e países ricos mais importante que os abismos reais.
A sociedade da informação na Europa
http://europa.eu.int/comm/dgs/information_society/index_en.htm
A sociedade da informação brasileira citada na Alemanha:
http://www.topicos.de/pdfs/2000/3/Buchbesprehung%20German.pdf
Brasil: samba e sociedade da
informação:
http://www.dcc.ufmg.br/~virgilio/artigos/art21.html
O projeto europeu
http://europa.eu.int/comm/dg10/publications/brochures/move/infoeduc/infso/txt_pt.html
A sociedade do desconhecimento
http://www.campus-oei.org/revistactsi/numero1/plonski.htm
Erros da revolução industrial que podem ser evitados:
http://www.nova-e.inf.br/bitniks/susana.htm
Interesse do g8 no fim da desigualdade digital:
http://www.ig.com.br/paginas/ig.com/colunistas/troyjo/2000_12_11.html
Infoexclusão:
http://www.ibict.br/cionline/290200/29020003.pdf
A SI no Brasil: Socinfo:
http://www.ibict.br/cionline/290300/2930003.pdf
Estatísticas e SocInfo:
http://www.rnp.br/newsgen/0101/e-gov.shtml