Lista de Discussão da Disciplina Biologia Computacional
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- From: "Fabio H. Viduani Martinez" <fhvm@ime.usp.br>
- Date: Mon, 23 Oct 2000 13:50:57 -0300
((http://www.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u739.shtml))
21/10/2000 - 05h05
Cientista critica sequenciamento
EHSAN MASOOD, da "New Scientst"
Acabou a festa das plantações de organismos
geneticamente modificados (OGMs)? Alguns cientistas
temem que sim. Mas o biólogo molecular Richard
Jefferson acredita que a revolução dos OGMs está
apenas esquentando.
Jefferson chefia o Cambia, um centro de pesquisa em
biotecnologia de plantas sem fins lucrativos de
Canberra, Austrália. Treze anos depois de liberar no
ambiente a primeira variedade de plantas
geneticamente modificadas, Jefferson, 44, está
virando de ponta-cabeça as idéias sobre genética de
plantas. Por exemplo, ele afirma que o
sequenciamento de genes de plantas é uma perda de
tempo.
Pergunta - O sr. lançou o Cambia há uma década
prometendo fazer ciência de uma forma
diferente. Qual é a diferença entre a sua abordagem
e a de outros laboratórios de biotecnologia?
Richard Jefferson - A ciência tende a ignorar o
desenvolvimento de métodos e torná-lo secundário ao
ato elitista de coletar conhecimento. A maioria dos
cientistas demonstra uma tendência a definir
problemas em termos do que se pode resolver e não do
que precisa ser resolvido. O Cambia está lá para
inventar e para fornecer àqueles sem privilégios as
ferramentas e tecnologias que eles mesmos ajudaram a
conceber. É o que nós chamamos de "democratizar a
inovação".
Pergunta - Mas como o sr. quer fazer as coisas de
forma diferente?
Jefferson - O exemplo clássico no qual venho
insistindo há anos é a apomixia. Apomixia é a
habilidade natural de muitas plantas -como o
dente-de-leão e a amora preta- de se reproduzir
assexuadamente, mas por meio da semente. Se uma
cultura de plantas puder se reproduzir assim, isso
pode significar que fazendeiros não precisariam
comprar novas sementes todo ano para a
reprodução. Isso também reduziria de forma
significativa a propagação de doenças em culturas.
Pergunta - O sr. é crítico do sequenciamento do
genoma de culturas como o arroz. Por quê?
Jefferson - Há 88 teclas em um piano. Eu sei o que
significa cada uma das teclas, mas isso não me
explica como tocar Beethoven. O segredo não está nas
teclas em si, mas nas suas combinações, a ordem, a
duração e a intensidade. É a mesma coisa com os
genes. Nós não vamos conseguir o segredo que está
trancafiado no genoma por meio do sequenciamento do
DNA. Estamos fazendo-o porque conseguimos fazê-lo,
não porque necessariamente vá nos dar aquilo que
queremos.
Pergunta - Mas todo o esforço sendo aplicado no
sequenciamento de plantas não é aproveitável?
Jefferson - É claro que vai ser aproveitado. Mas a
questão é: isso é tão útil quanto ter um estilo
diferente de fazer ciência? As pessoas dirão: "Olhe
todas as coisas que resultaram disso". Mas isso é
porque têm muitas pessoas fazendo isso e muito
dinheiro sendo jogado nisso.
Há um grande geneticista de milho na Universidade de
Wisconsin em Madison chamado John Doebley. Ele
estuda a genética do milho e do teosinto, uma forma
primitiva do milho que parece uma erva daninha mas
que é da mesma espécie da planta de milho do
Meio-Oeste dos EUA. Aparentemente quase todas as
diferenças entre os dois são causadas por apenas
alguns genes e quase toda a diferença na forma das
duas plantas está associada a um único gene.
Doebley sequenciou aquele gene e descobriu que a
sequência de proteína do gene do teosinto é
exatamente igual à do gene do milho. A diferença
está na forma como cada gene é expresso. Mas você
nunca encontraria aquela informação no
sequenciamento de um gene.
Pergunta - O sr. poderia dar um exemplo do
desenvolvimento de uma cultura de OGMs sem usar o
sequenciamento de genes e sem inserir genes de
outras espécies?
Jefferson - Há vários, usando o método que
desenvolvemos chamado transgenômica. Ele permite
manipular genomas de planta de uma forma totalmente
distinta. Porque, diferentemente do sistema em voga,
ele não introduz um DNA pré-definido de uma outra
espécie na planta. Ao invés disso, nós manipulamos
os padrões de expressão no DNA da própria planta
para obter um resultado melhor, simulando o que a
planta faz naturalmente na sua evolução.
Pergunta - O que o sr. pensa sobre a controvérsia
dos OGMs?
Jefferson - Recentemente tive um encontro com o
principal gerente de pesquisa e desenvolvimento de
uma multinacional de biotecnologia. Estávamos
conversando sobre a crise dos OGMs e ele riu quando
perguntei se eles estavam preocupados. Sabe o que
ele disse? "Meus contadores estão felicíssimos com a
crise dos OGMs." Agora eles estão fazendo muito mais
dinheiro vendendo herbicidas e pesticidas.
A crise das colheitas de OGMs não tem nada a ver com
segurança de alimentos ou ambiental. Há um legítima
reclamação por trás da inquietação pública sobre as
culturas de OGMs.
Mas é sobre um capital sem rosto, o controle
excessivo por parte das multinacionais e o fato de a
moderna pesquisa não ser mais guiada pelos
princípios de "bem público".
Comida e agricultura foram tiradas das mãos dos
pequenos fazendeiros e empresas. O principal
problema não é que essas empresas sejam más. Mas é
preciso haver uma possibilidade de os verdadeiros
jogadores serem os pequenos inovadores, contribuindo
para a agricultura, ciência e negócios em escala
local. O atual clima de patentes consolidadas para
as principais tecnologias faz com que isso pareça
impossível.