Lista de Discussão da Disciplina Biologia Computacional


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   ((http://www.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u739.shtml))


                  21/10/2000 - 05h05 
                  Cientista critica sequenciamento 

                  EHSAN MASOOD, da "New Scientst"

                  Acabou a festa das plantações de organismos
                  geneticamente modificados (OGMs)? Alguns cientistas
                  temem que sim. Mas o biólogo molecular Richard
                  Jefferson acredita que a revolução dos OGMs está
                  apenas esquentando.

                  Jefferson chefia o Cambia, um centro de pesquisa em
                  biotecnologia de plantas sem fins lucrativos de
                  Canberra, Austrália. Treze anos depois de liberar no
                  ambiente a primeira variedade de plantas
                  geneticamente modificadas, Jefferson, 44, está
                  virando de ponta-cabeça as idéias sobre genética de
                  plantas. Por exemplo, ele afirma que o
                  sequenciamento de genes de plantas é uma perda de
                  tempo.

                  Pergunta - O sr. lançou o Cambia há uma década
                  prometendo fazer ciência de uma forma
                  diferente. Qual é a diferença entre a sua abordagem
                  e a de outros laboratórios de biotecnologia?
                  Richard Jefferson - A ciência tende a ignorar o
                  desenvolvimento de métodos e torná-lo secundário ao
                  ato elitista de coletar conhecimento. A maioria dos
                  cientistas demonstra uma tendência a definir
                  problemas em termos do que se pode resolver e não do
                  que precisa ser resolvido. O Cambia está lá para
                  inventar e para fornecer àqueles sem privilégios as
                  ferramentas e tecnologias que eles mesmos ajudaram a
                  conceber. É o que nós chamamos de "democratizar a
                  inovação".

                  Pergunta - Mas como o sr. quer fazer as coisas de
                  forma diferente?  
		  Jefferson - O exemplo clássico no qual venho
		  insistindo há anos é a apomixia. Apomixia é a
		  habilidade natural de muitas plantas -como o
		  dente-de-leão e a amora preta- de se reproduzir
                  assexuadamente, mas por meio da semente.  Se uma
                  cultura de plantas puder se reproduzir assim, isso
                  pode significar que fazendeiros não precisariam
                  comprar novas sementes todo ano para a
                  reprodução. Isso também reduziria de forma
                  significativa a propagação de doenças em culturas.

                  Pergunta - O sr. é crítico do sequenciamento do
                  genoma de culturas como o arroz. Por quê?  

		  Jefferson - Há 88 teclas em um piano. Eu sei o que
		  significa cada uma das teclas, mas isso não me
		  explica como tocar Beethoven. O segredo não está nas
		  teclas em si, mas nas suas combinações, a ordem, a
		  duração e a intensidade. É a mesma coisa com os
		  genes. Nós não vamos conseguir o segredo que está
		  trancafiado no genoma por meio do sequenciamento do
		  DNA. Estamos fazendo-o porque conseguimos fazê-lo,
		  não porque necessariamente vá nos dar aquilo que
		  queremos.

                  Pergunta - Mas todo o esforço sendo aplicado no
                  sequenciamento de plantas não é aproveitável?
                  Jefferson - É claro que vai ser aproveitado. Mas a
                  questão é: isso é tão útil quanto ter um estilo
                  diferente de fazer ciência? As pessoas dirão: "Olhe
                  todas as coisas que resultaram disso".  Mas isso é
                  porque têm muitas pessoas fazendo isso e muito
                  dinheiro sendo jogado nisso. 

		  Há um grande geneticista de milho na Universidade de
		  Wisconsin em Madison chamado John Doebley. Ele
		  estuda a genética do milho e do teosinto, uma forma
		  primitiva do milho que parece uma erva daninha mas
		  que é da mesma espécie da planta de milho do
		  Meio-Oeste dos EUA.  Aparentemente quase todas as
		  diferenças entre os dois são causadas por apenas
		  alguns genes e quase toda a diferença na forma das
		  duas plantas está associada a um único gene.
		  Doebley sequenciou aquele gene e descobriu que a
		  sequência de proteína do gene do teosinto é
		  exatamente igual à do gene do milho. A diferença
		  está na forma como cada gene é expresso. Mas você
		  nunca encontraria aquela informação no
		  sequenciamento de um gene.

                  Pergunta - O sr. poderia dar um exemplo do
                  desenvolvimento de uma cultura de OGMs sem usar o
                  sequenciamento de genes e sem inserir genes de
                  outras espécies?

                  Jefferson - Há vários, usando o método que
                  desenvolvemos chamado transgenômica. Ele permite
                  manipular genomas de planta de uma forma totalmente
                  distinta. Porque, diferentemente do sistema em voga,
                  ele não introduz um DNA pré-definido de uma outra
                  espécie na planta. Ao invés disso, nós manipulamos
                  os padrões de expressão no DNA da própria planta
                  para obter um resultado melhor, simulando o que a
                  planta faz naturalmente na sua evolução.

                  Pergunta - O que o sr. pensa sobre a controvérsia
                  dos OGMs?

                  Jefferson - Recentemente tive um encontro com o
                  principal gerente de pesquisa e desenvolvimento de
                  uma multinacional de biotecnologia. Estávamos
                  conversando sobre a crise dos OGMs e ele riu quando
                  perguntei se eles estavam preocupados. Sabe o que
                  ele disse? "Meus contadores estão felicíssimos com a
                  crise dos OGMs." Agora eles estão fazendo muito mais
                  dinheiro vendendo herbicidas e pesticidas.

                  A crise das colheitas de OGMs não tem nada a ver com
                  segurança de alimentos ou ambiental.  Há um legítima
                  reclamação por trás da inquietação pública sobre as
                  culturas de OGMs.

                  Mas é sobre um capital sem rosto, o controle
                  excessivo por parte das multinacionais e o fato de a
                  moderna pesquisa não ser mais guiada pelos
                  princípios de "bem público".

                  Comida e agricultura foram tiradas das mãos dos
                  pequenos fazendeiros e empresas. O principal
                  problema não é que essas empresas sejam más. Mas é
                  preciso haver uma possibilidade de os verdadeiros
                  jogadores serem os pequenos inovadores, contribuindo
                  para a agricultura, ciência e negócios em escala
                  local.  O atual clima de patentes consolidadas para
                  as principais tecnologias faz com que isso pareça
                  impossível.