ESTUDO PARA IMPLANTAÇÂO DE UM SISTEMA DE INFORMAÇÕES AUTOMATIZADAS PARA DEFICIENTES VISUAIS
1 INTRODUÇÂO
O presente projeto teve o objetivo de realizar um diagnóstico para subsidiar a criação de um sistema de informações automatizadas para deficientes visuais que pudesse ser adaptado a qualquer biblioteca ou centro de documentação, visando o melhor atendimento desses usuários. Tal projeto foi idealizado a partir da constatação de que as bibliotecas e centros de documentação em geral não têm a preocupação de adaptar seus serviços para o atendimento de pessoas deficientes e, em especial, dos deficientes visuais (DVs). Afinal, nosso dever como cidadão é lutar pela integração social e cultural dessas pessoas.
A deficiência visual inclui 2 grupos de condição visual: cegueira e visão subnormal.
"Cegueira: ausência total da visão até a perda da capacidade de indicar projeção de luz".
"Visão subnormal: condição de visão que vai desde a capacidade de indicar projeção de luz até a redução da acuidade visual ao grau que exige atendimento especializado".
A deficiência visual interfere em habilidades e capacidades, comprometendo não somente a vida do indivíduo afetado como também a de seus familiares, amigos, colegas, professores, empregadores, etc. Entretanto, a pessoa cega ou com visão subnormal pode alcançar sucesso na vida pessoal e/ou profissional se lhe oferecerem
os recursos necessários para seu desenvolvimento e inclusão social, possibilitando-lhe, assim, uma vida independente e produtiva.
Os DVs. precisam usufruir das mais diversas fontes de saber sobre o mundo, através de um contato pessoal com o registro das produções sobre artes, as várias ciências, a religião e a cultura em geral. Afinal, "toda pessoa tem direito à educação, ao ensino e à pesquisa". Inclusive a nova lei do direito autoral sancionada em 19 de fevereiro de 1998, libera a reprodução de obras literárias, artísticas ou científicas para uso exclusivo de DVs., sempre que a reprodução não tenha fins comerciais, e que seja reproduzida mediante o sistema braille ou outro procedimento em qualquer suporte para estes destinatários.(Lei nº 9610 art.46 D, publicada no Diário Oficial em 20 de fevereiro de 1998).
Segundo estimativa da Organização Mundial de Saúde (OMS), mais de 300 milhões de pessoas são portadoras de deficiências no mundo todo, sendo que 70% encontram-se em países em desenvolvimento e somente 1% tem acesso à programas de reabilitação, incluindo educação especial e treinamento profissional.
No Brasil, a OMS estima que existam, no mínimo: 7,2 milhões de deficientes mentais, 2,9 milhões de deficientes físicos, 2,2 milhões de deficientes auditivos, e 725 mil deficientes visuais.
Deficientes
Fig. 1 ESTIMATIVA DA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS)
A home page oficial do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) relaciona dados estatísticos sobre deficientes visuais por estados do Brasil e deficientes em geral do país todo, extraídos do censo de 1991.
Tabela 1 - Deficientes visuais no Brasil por estados (1991)
Unidade da Federação Cegueira População
Acre 404 417.097
Alagoas 2.719 2.513.653
Amapá 336 289.039
Amazonas 2.364 2.102.768
Bahia 13.636 11.867.340
Ceará 8.597 6.364.814
Distrito Federal 844 1.601.599
Espírito Santo 2.140 2.600.619
Goiás 2.804 4.017.502
Maranhão 6.454 4.929.670
Mato Grosso 1.600 2.026.057
Mato Grosso do Sul 1.277 1.780.377
Minas Gerais 14.460 15.743.529
Pará 5.488 4.949.204
Paraíba 4.039 3.201.332
Paraná 7.439 8.448.621
Pernambuco 8.804 7.127.947
Piauí 3.624 2.582.080
Rio de Janeiro 8.092 12.807.184
Rio Grande do Norte 3.123 2.415.078
Rio Grande do Sul 6.331 9.138.462
Rondônia 623 1.133.274
Roraima 204 217.585
Santa Catarina 7.980 4.542.032
São Paulo 26.563 31.588.825
Sergipe 1.693 1.491.879
Tocantins 995 918.387
Fonte: IBGE - Censo Demográfico
Tabela 2 - Deficientes no Brasil (1991)
Tipo de deficiência População
Cegueira 145.857
Surdez 173.579
Hemiplegia 208.572
Paraplegia 201.592
Tetraplegia 46.998
Falta de membro(s) ou parte dele(s) 145.168
Mental 658.917
Mais de um 87.071
Nenhum dos enumerados ou sem deficiência 144.616.762
Sem declaração 531.234
Fonte: IBGE - Censo Demográfico
O mais importante e efetivo recurso criado para a educação dos DVs., o Código Braille, teve início em 1834 através de um cego chamado de Al-Iman AI-Amadi, o primeiro a usar caracteres táteis. Ele fabricava caracteres em relevo a fim de reconhecer o título e o preço dos livros que vendia. Desse modo surgiu a leitura tátil.
Charles Barbier propôs a utilização de pontos em relevo para a escrita de textos "Escrita noturna" em 1808. Em 1819 ele criou um sistema para cegos baseado na utilização de 12 pontos, servindo para transmitir mensagens escritas durante a noite nos acampamentos de guerra, sem que fosse necessário utilizar luz.
Louis Braille, que nasceu em quatro de janeiro de 1809 na pequena cidade de Compvray, próximo a Paris, brincava na oficina de seu pai com pequenos retalhos de couro quando sofreu um acidente, atingindo o olho esquerdo com uma sovela. Por falta de auxílio médico, o olho direito também foi atingido por uma infecção, causando-lhe cegueira total com a idade de 4 anos. Estudou em Paris no Instituto Real para Jovens Cegos, tornando-se mais tarde professor da mesma escola. Ao tomar conhecimento do sistema de leitura e escrita para DVs., criado por Charles Barbier, e considerando-o muito complexo, Louis Braille decidiu aperfeiçoá-lo consideravelmente. Assim ele reduziu os pontos para seis, tornando mais fácil a leitura com os dedos. O Sistema Braille ficou então formado pela combinação de seis pontos em relevo, dispostos de modo vertical em um espaço determinado, em duas colunas de três pontos, da seguinte maneira:
Cela Braille Fig.2 Ele permite 63 combinações, representando as 26 letras do alfabeto, os acentos, a pontuação, os números, os símbolos matemáticos, químicos e notas musicais. Inicialmente o braille era escrito apenas com reglete e o punção, compreendendo:
Fig. 3 Reglete
Desde o surgimento do alfabeto braille (Anexo I), da reglete e do punção, foram realizadas numerosas pesquisas a fim de se inventar máquinas de escrever e de comunicar em Braille.
A partir de um protótipo de 1939 do professor David Abraham da Escola Perkins para o Cego, a máquina de escrever braille começou a ser produzida na Howe Press (Imprensa Braille - EUA) em 1946. A máquina braille representa para o DV. aquilo que a caneta ou o lápis são para as pessoas com visão normal. Sua produção no Brasil foi iniciada através de um convênio entre a Perkins School for the Blind dos Estados Unidos e a Laramara - Associação Brasileira de Assistência ao Deficiente Visual. São produzidas atualmente cerca de 100 máquinas por mês no Brasil, ou seja, aproximadamente 5 por dia.
Fig. 4 Máquina de escrever braille
Em um espaço de tempo relativamente pequeno, ocorreram transformações políticas, econômicas e educacionais, decorrentes do surgimento de novas tecnologias. Tais mudanças se iniciaram no século XVIII, através da Revolução Industrial, quando surgiram os primeiros computadores, que eram enormes e rudimentares quando comparados aos atuais.
Desde o seu nascimento, a informática exerceu grande influência no desenvolvimento do braille. As máquinas de escrever braille foram substituídas pelas tele-impressoras, verdadeiros terminais de computadores, e os softwares de transcrição surgiram no mundo todo.
Assim, o transcritor manual foi substituído pelo computador e a tele-impressora.
O surgimento recente do scanner foi uma etapa importante no processo de transcrição automática do texto em braille. Sua vantagem é permitir a tradução de um livro desde sua publicação, o que antes era impossível a curto prazo.
O thermoform veio facilitar a vida dos DVs., pois trata-se de um duplicador de materiais que emprega calor e vácuo para produzir relevo em película de PVC. A máquina thermoform significa para o DV. o mesmo que a máquina xerox para pessoas com visão normal.
Fig. 5 Thermoform
A informática foi um grande avanço em nossa história. O computador tem sido indispensável no processamento, armazenamento e recuperação de informações de modo rápido e eficiente. Contudo, seu uso ainda é restrito a pequena parcela da população, a qual possui um poder aquisitivo suficiente para usufruir de tal tecnologia. Além disso, o mercado visa atender principalmente uma clientela com desenvolvimento cognitivo normal, explorando o aspecto gráfico e visual.
Os DVs. são capazes de interagir com o computador apesar da deficiência; todavia a escassez de software e hardware especializados dificulta a expansão de seus conhecimentos. Podem ser encontrados também no mercado, softwares e hardwares estrangeiros que possibilitam o uso do computador pelos DVs., mas que têm custo elevado, impossibilitando a sua adoção. Pode-se perceber uma melhora significativa na auto-estima do DV. quando este tem acesso às novas tecnologias existentes no mercado, principalmente em se tratando de sua capacitação profissional para seu ingresso no mundo do trabalho.
Os computadores para DVs. devem possuir as seguintes características:
Os softwares para DVs. utilizam basicamente magnificadores de tela ou ampliação dos caracteres na tela do computador para as pessoas que perderam a visão parcialmente, e recursos de audio, teclado e impressora braille para aqueles que perderam toda a visão.
Com relação aos softwares desenvolvidos para uso dos DVs., podem ser citados:
Nome do software : Biblivox
Desenvolvido por: Andréa dos Santos Rodrigues
Características: Software que permite o gerenciamento de informações bibliográficas, possibilitando inclusive a realização de pesquisas e controle de empréstimos. Para a sua utilização, é necessário um computador 486 (no mínimo) e o sintetizador de voz Dosvox.
Inicialmente este software foi desenvolvido para funcionar em DOS pois o Dosvox ainda estava em fase de mudança da versão DOS para Windows. O Biblivox foi usado na fase de testes do Instituto de Educação e Reabilitação de Cegos de Natal em 1994.
Nome do Software: Canta Letras
Desenvolvido por: Ricardo Rosas e colaboradores - Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Chile
Características: Sistema multimídia para suporte no processo de aprendizagem da leitura e da escrita por DVs., através de uma interface auditiva, impressão braille e características interativas. Este sistema trabalha com letras e números, sílabas e fonemas e utiliza o recurso de histórias como auxílio à compreensão auditiva e motivação para leitura.
Nome do software: Delta Talk
Desenvolvido por: MicroPower
Características: é um software que pode ser acessado por pessoas com ou sem deficiência visual e que permite a leitura de qualquer texto selecionado em qualquer janela do Windows. Dessa forma a produtividade aumenta e o trabalho com o computador torna-se mais agradável e menos cansativo.
Nome do software: Dosvox
Desenvolvido por: José Antônio dos Santos Borges, Marcelo Pimentel Pinheiro e colaboradores - Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Características: Sistema para microcomputadores da linha PC que se comunica com o usuário através de síntese de voz, na língua portuguesa. Esse sistema já é utilizado por mais de 2000 usuários no Brasil, sendo distribuído em 2 versões, para DOS e para Windows.
Nome do software: El Toque Mágico
Desenvolvido por: Ricardo Rosas e outros - PUC (Chile)
Características: Sistema multimídia que auxilia o desenvolvimento da linguagem, da lógica matemática e da orientação espaço temporal.
Nome do software: Virtual Vision
Desenvolvido por: MicroPower
Características: Leitor de telas para Windows 95e/ou 98, capaz de informar aos usuários os controles (botão, lista, menu, etc.) presentes nas janelas do programa, funcionando como qualquer aplicativo desenvolvido para o mesmo, acessando o Word, Internet e correio eletrônico.
Além disso, há vários sites na Internet que possibilitam a ampliação do tamanho das letras na tela, facilitando, assim, seu acesso por DVs.
Conforme artigo publicado na "Folha de São Paulo", desde 1996 está sendo desenvolvido um projeto nos Estados Unidos por Krista Caudill, uma estudante de computação cega e surda da Universidade de Delaware, que visa a construção de um computador que sirva de intérprete para deficientes visuais e auditivos. Assim, o computador "falaria" quando o cego e/ou surdo digitasse textos e traduziria a fala de outras pessoas para o braille. O referido projeto passou a ser financiado pela
Fundação Nacional de Ciência a partir de 1998. Em entrevista por e-mail à Folha, a estudante revelou que "a idéia é que se produza um sistema portátil que contenha o software para o braille, o sintetizador de voz e o dispositivo que reconhece a fala".
Na website
www.bbpatlantico.pt (acessada em 1 de março de 2000), obteve-se a informação de que se encontra em desenvolvimento um programa da Philips Research Laboratories, na Holanda, o qual transforma imagem em som, através de uma pequena câmara. Para utilização do referido software, o DV. precisa aprender o significado de cada som, para associá-lo a indicações como distância e movimentos de objetos, intensidade luminosa, etc.
E de acordo também com um artigo da "Folha de São Paulo", a estudante de jornalismo espanhola Nuria del Saz tornou-se a primeira apresentadora de televisão cega da Europa desde setembro de 1997, apresentando e redigindo um noticiário de 15 minutos. Para tanto, Nuria utiliza um computador normal, uma impressora em braille e um tipo de display que também funciona em braille, permitindo a leitura das notícias.
Fig. 6 Impressora braille
No Brasil, há alguns DVs. que atuam no campo da mídia, como por exemplo os radialistas Marco Aurélio (Radio CBN-AM) e Paulo Fernando (Radio MEC-AM).
Conforme reportagem publicada em 29 de novembro de 1999 na Gazeta do Nordeste, que é um suplemento da Gazeta Mercantil, a Trilha Sistemas de Comunicação está testando em seu call center um software interativo para telemarketing, desenvolvido especialmente para DVs. Criado para o ambiente Windows, o Call Trix-Voz interage com o usuário, vocalizando tudo que é necessário ser feito. A empresa verificou que os DVs. também têm habilidade para o trabalho, contando com grande capacidade para memorização. Isto ajuda a desmitificar a visão preconceituosa com relação às capacidades e habilidades profissionais dos DVs.
A website
www.matemart.com.br/arrastao/rumos/rum6.htm (acessado em 18 de março de 2000), informa que foi lançado no dia 11 de outubro de 1999 o Braillenet na França, sendo um sistema multimídia que auxilia o DV. no uso intuitivo da Internet. Uma placa com uma grade de relevos chamada Concept Keyboard, ou teclado conceitual é acoplada ao computador, permitindo que o DV. navegue pelo site pressionando o dedo levemente sobre o teclado. Ele pode escolher entre ler os textos em braille ou ouvi-los, podendo ver a página principal em hipertexto para ter uma idéia geral da mesma ou se aprofundar nos hyperlinks, que são apresentados entre colchetes.A vantagem é que o DV. pode ir a uma universidade e acessar gratuitamente textos em braille, que seriam muito caros se fossem comprados na forma de livro. Também podem ser feitas conexões com os principais jornais franceses como Le Monde e Liberátion, e com as agências de notícias como a France Press. Podem ainda ser acessados cursos on-line de matemática avançada, Internet, e linguagem HTML e Java. é mais um avanço da tecnologia em prol da democratização da informação. O Braillenet pode ser acessado através da website
www.braillenet.jussieu.fr (acessada em 21 de maio de 2000)
Fig. 7 Teclado conceitual
2
OBJETIVOS
2.1 Objetivo geral
Análise dos sistemas atualmente disponíveis nas bibliotecas ou centros de
documentação para DVs., visando fornecer subsídios para que as mesmas possam implantar um sistema de informações automatizadas que possa ser acessado pelos próprios usuários.
2.2 Objetivos específicos
3 MATERIAL e MÉTODOS
Foram visitadas as seguintes entidades que prestam serviços aos DVs.:
Laramara - Associação Brasileira de Assistência ao Deficiente Visual; Fundação Dorina Nowill para Cegos; Biblioteca Braille do Centro Cultural São Paulo, Disque Braille do Sistema Integrado de Bibliotecas da Universidade de São Paulo (SIBi-USP); Núcleo de Apoio Cultural ao Cego (NACC) - Biblioteca Municipal Francisco Patti-SP.
Quando da visita à Laramara, constatou-se que a mesma visa assistir o DV. de 0 a 16 anos, sob os aspectos emocional, psicológico, apoio à escola, orientação e mobilidade, conhecimento dos recursos visuais e de computação disponíveis no Primeiro Mundo. A entidade não tem a preocupação de implantar uma biblioteca braille, dispondo somente de pequeno acervo direcionado aos seus profissionais, ou seja, livros técnico-científicos.
Quanto à Fundação Dorina Nowill para Cegos, esta tem a finalidade de atender às necessidades de crianças, jovens e adultos com cegueira e visão subnormal, prioritariamente nas áreas de educação, reabilitação, profissionalização, cultura e prevenção da cegueira. O acervo de sua biblioteca é composto de 7.600 livros gravados em 60.626 fitas cassetes e, de uma edição da revista Veja, gravada semanalmente. São livros didáticos básicos, desde o ensino fundamental até a universidade, transcritos para o braille (ou gravados) a pedidos de escolas ou órgãos ligados à educação, ou de solicitantes de todo o Brasil. A entidade tem como prioridade a produção de publicações em braille e livros gravados, bem como sua distribuição às bibliotecas e aos DVs., os quais podem recebê-los através de correio.
Já a Biblioteca Braille do Centro Cultural São Paulo realiza transcrição de provas impressas em tinta para a escrita braille e também transcreve provas em braille para a escrita em tinta, atendendo candidatos ao vestibular e estudantes que não contam em seus colégios ou universidades com salas especiais para portadores de deficiência visual, bem como com professores especializados.
O usuário pode também ter acesso à audioteca, onde as obras didáticas, literárias, artigos de jornais e revistas são gravados em fitas cassetes por colaboradores voluntários especiais chamados ledores. Todo o acervo está disponível para circulação entre seus usuários, incluindo os moradores de cidades vizinhas, que são atendidos através de remessa postal. Seu acervo é de 5.000 títulos transcritos em 18.500 volumes, contando também com 460 títulos (entre livros e revistas) gravados em 2.900 fitas cassetes.
A consulta é de livre acesso, tendo disponível um catálogo dicionário em braille.
Através de convênio firmado entre a Prefeitura Municipal de São Paulo (PMSP) e a Fundação Dorina Nowill para Cegos, a biblioteca recebe desta entidade obras impressas e gravadas a título de doação.
O Disque-Braille do Departamento Técnico do Sistema Integrado de Bibliotecas da Universidade de São Paulo (DT/SIBi/USP) destina-se a atender os portadores de deficiência visual através de consultas por telefone, correspondências ou pessoalmente, para localização de informações bibliográficas nos acervos de bibliotecas e instituições que possuem material em braille e de livros falados na cidade de São Paulo e Grande São Paulo, por meio de um catálogo coletivo central informatizado, que está localizado no Serviço de Biblioteca e Documentação da Faculdade de Educação da USP.
O Núcleo de Apoio Cultural ao Cego da Biblioteca Municipal Francisco Patti é resultado da experiência pessoal de dois profissionais cegos, sendo um bibliotecário e uma advogada, juntamente com outros profissionais da biblioteca. Seus objetivos são os seguintes: descentralização do serviço de atendimento ao DV. no que se refere a materiais didáticos ou não, imprescindíveis à sua informação e formação cultural; ampliação do atendimento à população dos bairros adjacentes e, eventualmente, das populações provenientes de municípios vizinhos; apoio social ao DV., proporcionando-lhe oportunidades de convívio e orientação socio-cultural, no âmbito de atuação de uma biblioteca pública. O acervo da biblioteca é constituído por 1500 volumes em braille (400 títulos) e 500 fitas gravadas (100 títulos).
Foram realizadas as entrevistas, conforme questionário (anexo II,III) com os funcionários das instituições abaixo mencionadas:
Maria Helena de Carvalho e a bibliotecária Maria Helena Chenke.
o Cego (NACC): bibliotecária chefe Sueli Nemen Rocha; bibliotecário da Seção de Referência Cypriano Assumpção Neto; advogada Leila Bernaba Jorge Klas; auxiliar técnica Zilda de Jesus Costa; usuária do Núcleo e estudante de letras e tradução Cristiane Mello Cerchiari.
Decidiu-se entrevistar as referidas pessoas com o uso de gravador e através de questionários escritos, por julgar-se ser esse o meio mais adequado para a coleta de dados. Alguns dados foram coletados através de e-mails enviados às instituições, que, de alguma forma, deram respaldo ao nosso projeto. Os critérios para a escolha das pessoas a serem entrevistadas foram baseados nas funções relevantes que as mesmas exercem nas respectivas instituições, bem como o fato de que a maioria é portadora de deficiência visual, coincidindo com o objeto de nosso estudo.
Realizou-se também entrevista com Cristiane Mello Cerchiari, estudante de Letras e Tradução, e que utiliza os serviços da biblioteca braille desde a adolescência,
para se obter um parâmetro na avaliação das reais necessidades e dificuldades encontradas pelos DVs. na recuperação de informações.
Antes das entrevistas, foram realizadas visitas às instituições para DVs. com a finalidade de observar o tratamento dispensado aos mesmos, bem como as dificuldades por eles enfrentadas no uso de computadores e outros equipamentos nas respectivas bibliotecas. Além das entrevistas, os outros instrumentos utilizados para coleta de dados foram sites da Internet referentes aos DVs., teses, artigos de eventos e outras bibliografias consultadas.
4 RESULTADOS
Com base nas entrevistas realizadas, apresentamos os resultados de cada instituição visitada:
4.1 FUNDAÇÂO DORINA NOWILL PARA CEGOS
Histórico da Instituição
Anteriormente denominada Fundação para o Livro do Cego no Brasil, foi fundada em 11 de março de 1946 por iniciativa da professora Dorina de Gouvêa Nowill e da Sra. Adelaide Reis Magalhães, com a colaboração de um grupo de voluntários.
Objetivos da Instituição
A Fundação Dorina Nowill não possui biblioteca braille, pois esta funciona como distribuidora de livros em braille e falados. Pode-se citar o Centro Cultural São Paulo (CCSP) e a Biblioteca Pública Municipal Francisco Patti como exemplos de instituições que periodicamente recebem doações dessa entidade.
Biblioteca Circulante do Livro Falado
Pertence à Fundação Dorina Nowill para Cegos e foi fundada em 1972.
Acervo
Conforme entrevista realizada com a bibliotecária Tereza França de Oliveira, da Seção Biblioteca de Livros Falados, fomos informadas que a biblioteca dispõe de um acervo total de 450 títulos, 6.370 exemplares e 48.271 cassetes sonoros. O acervo é constituído por um grande número de obras literárias e didáticas, que visa atender também às necessidades do usuário, conforme solicitações.
Fig. 8 Biblioteca Circulante do Livro Falado
As obras mais consultadas são as de ficção, sendo que as didáticas são usadas para atendimento escolar e concursos de vestibulares. O empréstimo pode ser feito pessoalmente ou através de correio, utilizando o cecograma (serviço de remessa postal específico para DVs., com isenção de taxa de correio).
Consulentes
São atendidos semanalmente 406 usuários, sendo em sua maioria adultos. é disponibilizada para consulta uma listagem impressa em tinta contendo o acervo da biblioteca.
Recursos humanos
Os profissionais são constituídos por bibliotecários, três voluntários com visão normal, donas de casa e aposentados que trabalham no atendimento, bem como uma equipe de quarenta profissionais que grava os trabalhos em casa.
Projetos / Informatização do acervo
Durante a entrevista, fomos informadas que a biblioteca encontrava-se em fase de informatização e que pretendia-se utilizar o Microisis para o armazenamento e a recuperação de informações do acervo. A bibliotecária relatou-nos ser interessante o acesso do usuário à leitura de jornais através da Internet. Os funcionários e usuários portadores de deficiência visual ainda não tinham acesso à Internet na biblioteca quando da realização da entrevista, mas já havia um projeto para tal.
A bibliotecária tinha o objetivo de inserir na Internet desde os catálogos da biblioteca, a gráfica da instituição e até mesmo a ficha de inscrição, visando o cadastramento de cada usuário através de códigos quando de seu acesso à Internet. Também nos foi informado sobre a possibilidade de um trabalho conjunto entre a bibliotecária e o analista de sistemas para a implantação do Microisis.
Fomos ainda inteiradas sobre a existência de um projeto visando à preparação dos DVs. para o uso de novas tecnologias na biblioteca. Tais projetos, após a sua elaboração pela bibliotecária competente, são enviados ao diretor para análise e aprovação.
Infra-estrutura
Os recursos existentes tais como equipamentos, pessoal, espaço físico, material de suporte, mobiliário e acervo estariam atendendo à demanda mas tendiam a ser aperfeiçoados.
4.2 CENTRO CULTURAL SãO PAULO
Histórico da Instituição
Foi inaugurada em 13 de maio de 1982, tendo como autores de seu projeto arquitetônico Eurico Prado Lopes e Luís Benedito Telles.
Objetivos da Instituição
Visa o planejamento, a promoção, o incentivo e a documentação de criações culturais e artísticas, oferecendo condições para o estudo e a pesquisa nos campos do saber e da cultura, como apoio à educação e ao desenvolvimento científico e tecnológico
BIBLIOTECA BRAILLE DO CENTRO CULTURAL SãO PAULO
Foi idealizada por Dorina Gouvêa Nowill e, por empenho de Lenyra Fraccarolli, inaugurada em 29 de abril de 1947 nas dependências da Biblioteca Infanto-Juvenil Monteiro Lobato.
Em 1986, a Biblioteca Braille foi transferida para o Centro Cultural São Paulo, como uma das coleções especiais da Divisão de Bibliotecas, embora sem espaço próprio e atendendo ao público de forma provisória. Foi reinaugurada em novo local em 24 de janeiro de 1992.
Acervo
Durante entrevista realizada com a chefe da biblioteca Maria Helena de Carvalho e com a bibliotecária DV. Maria Helena Chenke, fomos informadas que a biblioteca braille possui um acervo constituído por 5.633 títulos, transcritos em 18.658 volumes, 598 títulos de livros falados, gravados em 3.796 fitas cassetes e 8 títulos de periódicos nacionais e internacionais transcritos em braille.
O acervo inclui obras de assuntos gerais, didáticas, infanto-juvenis e de ficção. Além disso, a biblioteca possui obras de referência em braille e em tinta. O empréstimo pode ser feito pessoalmente ou através do cecograma.
Todas as atividades da biblioteca são registradas e armazenadas em quadros estatísticos, tais como frequência, consulta, empréstimo e produção do livro braille e falado.
Consulentes
O atendimento ao portador de deficiência visual é realizado a partir de sua alfabetização. A consulta ao acervo é de livre acesso às estantes, ou através de catálogo de autor, título e assunto em tinta ordenados alfabeticamente. Os livros e mesmo as estantes possuem indicadores em braille. Periodicamente uma listagem de autor e títulos do acervo é impressa em tinta, podendo ser consultada pelos DVs. com o auxílio de um funcionário com visão normal.
Recursos Humanos
O quadro de funcionários da biblioteca é composto por bibliotecários, professores de educação especial, copistas e revisores braille, instrutor cultural, encadernador e auxiliar de serviços administrativos, totalizando dezessete funcionários e dois bolsistas, sendo quatorze DVs. e cinco com visão normal.
Projetos / Informatização do acervo
As verbas para aquisição de equipamentos e melhorias na biblioteca são fornecidas pela Prefeitura Municipal de São Paulo (PMSP) e obtidas também através de projetos enviados às entidades que subsidiam programas sociais, como por
exemplo a Organização Nacional dos Cegos de Espanha-ONCE e VITAE-Apoio à Cultura, Educação e Promoção Social.
Na época da entrevista, fomos informadas que a biblioteca estava utilizando o Microisis como sistema de armazenamento e recuperação do acervo, embora ainda não estivesse disponível para funcionários DVs. por incompatibilidade de softwares.
A biblioteca também possui o Virtual Vision (leitor de telas em ambiente Windows), o Dosvox (programa fechado que permite a edição de textos) e o SNM (Sistema de Mala Direta) para cadastro de usuários.
A bibliotecária nos relatou que o acesso à Internet não havia sido liberado aos funcionários e nem aos usuários da biblioteca, e que a instituição não fornece cursos visando a preparação dos DVs. para uso de novas tecnologias disponíveis na
biblioteca. Para tanto, ela se utiliza dos cursos ministrados pela Companhia de Processamento de Dados do Município (PRODAM).
Infra-estrutura
Na época da entrevista, os recursos disponíveis na biblioteca supriam as necessidades imediatas de atendimento aos usuários, embora pesquisas e projetos estivessem sendo elaborados no sentido de aprimorar constantemente os serviços a comunidade portadora de deficiência visual.
4.3 BIBLIOTECA MUNICIPAL FRANCISCO PATTI / NúCLEO DE APOIO CULTURAL AO CEGO-NACC
Objetivos da Instituição
Visa proporcionar as condições básicas para aprendizagem permanente, autonomia de decisão e de desenvolvimento cultural dos indivíduos e grupos sociais.
Histórico
A Biblioteca Municipal Francisco Patti, anteriormente denominada Biblioteca Circulante da Lapa, foi inaugurada em 23 de dezembro de 1953, com sede à Rua 12 de outubro, 266 mudando-se em 26 de novembro de 1966 para a Rua Catão, 611, sendo o referido prédio projetado por Prestes Maia.
O Núcleo de Apoio Cultural ao Cego - NACC, anteriormente denominado Núcleo de Atendimento e Apoio Cultural ao Deficiente Visual, integrante da Biblioteca Pública Municipal Francisco Patti, foi inaugurado em 5 de abril de 1990, sendo resultado da experiência do bibliotecário Cypriano Assumpcão Neto e da advogada Leila Bernaba Jorge Klas, ambos DVs., e de outros profissionais da Biblioteca Francisco Patti.
Acervo
Foi relatado que a biblioteca dispõe de um acervo contendo aproximadamente 50.000 volumes, incluindo livros em tinta, em braille e falados, fitas de vídeo, curso de línguas em fitas cassetes, CD-ROMs, periódicos em tinta e em braille, mapas e obras de referência.
O acervo em braille é constituído por 400 títulos, totalizando 1.500 volumes; quanto aos livros falados são aproximadamente 100 títulos, somando 500 fitas. O leitor tem à sua disposição literatura de autores nacionais e estrangeiros, livros didáticos de nível fundamental e médio e alguns de nível superior, bem como obras de referência (dicionários de língua portuguesa, de história da literatura, de mitologia latina e periódicos doados mensalmente, vindos do Rio de Janeiro e de outros países como: Portugal, Espanha e Venezuela).
Cristiane Mello Cerchiari, usuária do NACC, relatou-nos durante a entrevista que seria necessário a aquisição de um número maior de livros em braille para nível superior.
Através de convênio firmado com a Fundação Dorina Nowil, o Núcleo recebe livros e fitas cassetes daquela instituição. A comunidade e os próprios funcionários têm contribuído para o enriquecimento do acervo, sendo que houve até mesmo a doação de um microcomputador 386, feita pela usuária Cristiane e de um sintetizador de voz (Dosvox), feita pela funcionária Zilda.
O acervo da Biblioteca Municipal Francisco Patti e principalmente do NACC possui identificação em braille para que o funcionário e usuário DV. possam recuperar as informações.
Fig. 9 Acervo do NACC com identificação em braille
Fig. 10 Acervo do NACC
Consulentes
Os usuários são em sua maioria adolescentes e adultos, havendo muitas consultas por parte de estudantes de Direito. Alguns deles preferem os livros em braille e outros os falados. Os livros em tinta são emprestados para que os DVs. os utilizem com o auxílio de parentes. A estatística da biblioteca compreende dados relativos às Seções de Referência, de Pesquisa e do NACC.
O referido núcleo atende cerca de cem DVs. mensalmente, com idade entre 18 a 25 anos, porém ocorre o atendimento de algumas pessoas com até 60 anos, embora a maioria dos usuários sejam jovens. As consultas mais frequentes são as obras de referência, como os dicionários e revistas recém-chegados. Além disso, os DVs. buscam o aprendizado do alfabeto braille, que é ministrado pela advogada Leila.
Fomos informadas que a biblioteca dispunha de um catálogo em braille com dados essenciais dos materiais bibliográficos. Em paralelo, foi montado um catálogo em tinta para utilização de usuários com visão normal.
Fig.11 Parte do "Manual prático do advogado" em braille
Fig.12 Publicação em braille do Acervo do NACC
Recursos Humanos
De acordo com a entrevista realizada com a bibliotecária chefe Sueli Nemen Rocha, fomos informadas que ela realiza atividades de administração da biblioteca e de atendimento aos usuários.
Segundo suas palavras, "quando falo em administração é no geral, sendo toda a parte de relação com os funcionários e com a comunidade, e referente à ação e animação cultural que são realizadas na biblioteca".
A biblioteca dispõe de dezoito funcionários, sendo três bibliotecários, um auxiliar de biblioteca, uma assistente técnica administrativa, uma advogada e vários funcionários remanejados de outras secretarias, contando também com três voluntárias fixas e outros esporádicos.
No NACC, a funcionária Leila Bernaba Jorge Klas, DV., realiza pesquisas sobre assuntos culturais, organiza os livros falados nas estantes e transcreve livros em tinta para o braille com o auxílio de voluntários, através de ditado.
Zilda de Jesus Costa, também funcionária do Núcleo, ministra cursos de teclado para que os DVs., provenientes de todas as regiões da cidade, aprendam a digitar e
conheçam os recursos do computador. Quando da entrevista, ela trabalhava meio período e tinha em média dois alunos por dia, atendendo dez pessoas por semana, com utilização de um único computador.
Projetos / Informatização do acervo
A verba para manutenção do acervo é concedida pela Secretaria Municipal de Cultura (SMC), não havendo autonomia da biblioteca para a realização de projetos internos ou em parceria com o setor privado.
Porém foi firmado um convênio entre a Prefeitura Municipal de São Paulo (PMSP) e a Fundação Dorina Nowill para Cegos em 1995, quando foi liberada a quantia de R$ 200.000,00, estabelecendo que a Fundação deveria produzir os livros em braille e falados de acordo com as solicitações da Bibliotecas Braille do CCSP e da Biblioteca Pública Municipal Francisco Patti.
Na época da entrevista, fomos informadas também que a biblioteca dispunha do Sistema Dobis/Libis, que estava sendo utilizado somente para a realização de matrículas do usuário. Questionou-se a bibliotecária chefe quanto à possibilidade de adaptação do referido sistema para funcionar com um sintetizador de voz, visando sua utilização pelos próprios DVs, sendo sua resposta:
"..... imagino que nós poderíamos acoplar o Dosvox ou Virtual Vision ao Sistema Dobis/Libis".
Fig. 13 Sintetizador de voz
A advogada Leila nos relatou, durante a entrevista, que não havia nenhum sistema automatizado de armazenamento e recuperação de informações no Núcleo, que pudesse ser acessado pelos DVs., mas gostaria de um sistema que interagisse com os mesmos, informando-os sobre a existência do livro solicitado em braille ou falado, visando a descentralização do atendimento ao usuário. Fomos informadas que a consulta estaria sendo feita através de listagens em braille, ou através de livre acesso às estantes e fichários. A divulgação do NACC e seus serviços é realizada na Revista Cultural da SMC, no jornal do bairro da Lapa, ou ainda através de divulgação pessoal pelos DVs.. que frequentam entidades, associações e escolas.
De acordo com Leila, é possível a realização de um trabalho conjunto entre bibliotecários e os analistas de sistemas da instituição para implantação de um sistema automatizado de recuperação de informações do acervo para DVs. Na época da entrevista, os funcionários e usuários não tinham acesso à Internet, sendo oferecido um curso de teclado para os mesmos. Quando da necessidade de aperfeiçoamento profissional dos funcionários DVs., os mesmos se utilizam dos cursos da PRODAM.
E a auxiliar técnica Zilda almeja a aquisição de um computador com maiores recursos, com drive de CD-ROM para uso de software atualizado conhecido como Virtual Vision. Ela planeja utilizar este equipamento para aperfeiçoamento dos trabalhos escolares dos DVs., pois os usuários do Núcleo são em sua maioria estudantes de baixa renda. Ela julga interessante o armazenamento em disquetes de artigos de periódicos on-line coletados através de pesquisa na Internet, visando o atendimento dos alunos na elaboração de seus trabalhos escolares.
A usuária do NACC Cristiane Mello Cerchiari relatou-nos durante a entrevista que seria desejável a informatização da biblioteca braille, visando a agilização do processo de busca e organização do acervo. Para o acesso dos DVs. ao computador, ela sugeriu o sintetizador de voz e o leitor de tela.
O bibliotecário DV. Cypriano Assumpção Neto, um dos criadores do NACC e funcionário da Seção de Referência da Biblioteca Pública Municipal Francisco Patti, também comentou que seria necessário um sistema de armazenamento e recuperação de informações no NACC que tivesse as adaptações necessárias aos DVs., tais como sintetizador de voz, impressoras e scanner, para que estes pudessem ampliar sua atuação dentro da biblioteca.
Infra-estrutura
Na época da entrevista, a bibliotecária chefe nos informou que a infra-estrutura existente, incluindo o acervo, os funcionários e os equipamentos de informática, era insuficiente para o atendimento dos usuários.
Segundo Leila, o espaço físico do Núcleo estaria atendendo às necessidades, entretanto havia falta de máquinas para escrita braille, sendo sugerida por ela a quantia de 3 máquinas Perkins e um gravador, bem como pessoal de visão normal para realização de atividades de rotina.
Foi doado ao NACC um computador 386 com sintetizador de voz (Dosvox), bem como uma quantia significativa para a aquisição da primeira máquina Perkins.
Segundo Zilda, os recursos do computador são limitados, sendo necessária a aquisição de um equipamento mais avançado, com drive de CD-ROM para uso de software atualizado, conhecido como Virtual Vision. Ela também gostaria de adquirir mais equipamentos e de alocar espaço físico adequado para atendimento de maior número de alunos, pois atualmente só é possível o ensino do teclado para duas pessoas por semana. Também seria importante a aquisição de uma impressora braille para a impressão de apostilas utilizadas pelos professores nas escolas, bem como de uma impressora à tinta para os trabalhos dos alunos DVs., que seriam digitados a partir de um texto em braille e impressos em tinta para entregar ao professor.
5 DISCUSSÃO
Acervo
Pudemos constatar que as bibliotecas visitadas possuem acervos mais direcionados aos estudantes, adolescentes e adultos englobando, obras de assuntos gerais, didáticas, infanto-juvenis e de ficção. Ressaltamos que a Fundação Dorina Nowill não possui biblioteca braille, funcionando como distribuidora de livros em braille
e falados. O acervo da Biblioteca da referida instituição inclui apenas livros falados, ou seja, o conteúdo de livros gravados em fitas cassetes.
Os periódicos também são gravados em fitas cassetes nessa instituição, o que não acontece com os do CCSP e NACC, que são apenas transcritos em braille.
Pudemos perceber que não há interesse das instituições em destinar uma verba maior para o enriquecimento do acervo, visando um atendimento mais satisfatório de seus consulentes. Assim sendo, elas dependem das doações de empresários e da comunidade. Consequentemente, verificamos a necessidade de um número maior de obras de nível superior. Estas são transcritas somente conforme a solicitação do usuário, não sendo possível sua obtenção imediata. Devido à falta deste material, os
DVs. são obrigados a emprestar livros em tinta, ficando na dependência de terceiros para auxiliá-los.
Também verificamos que o acervo destinado ao público infanto-juvenil é reduzido, sendo encontrado apenas na biblioteca do CCSP. Pudemos concluir que a causa desse acervo limitado deve-se à falta de ilustradores voluntários e à prioridade dada à aquisição de obras para adolescentes e adultos.
Os leitores que não têm condições de ir às instituições para efetuar empréstimos do acervo podem fazê-lo através de um serviço do correio denominado cecograma. Este serviço é de grande utilidade para os mesmos, pois agiliza seu acesso às informações sem a necessidade de seu deslocamento até as bibliotecas.
As obras das três entidades são identificadas em braille para facilitar a pesquisa dos usuários e funcionários DVs.
Durante as entrevistas, foi detectado que as bibliotecas tinham acervos distintos, direcionados principalmente aos adolescentes e adultos. Em consequência disso, as crianças dispunham de acervo restrito para sua utilização.
Foi relatado que algumas bibliotecas não tinham autonomia para solicitar subsídios externos para aquisição de acervo, equipamentos, mobiliários, etc., contando com uma pequena verba somente para composição do acervo. Nesse caso, a infra-estrutura das mesmas era precária, havendo a necessidade de recursos financeiros para a sua melhoria.
Observou-se a necessidade de pessoas com visão normal e DVs., bem como de funcionários especializados em serviços direcionados a estes últimos, tais como leitura do braille, datilografia em máquina Perkins, ensino do teclado normal de computador com o uso de sintetizador de voz.
Em todas as entrevistas realizadas, notou-se que a informatização das bibliotecas braille traria grandes benefícios, uma vez que o próprio DV. poderia estar acessando as informações no computador. Isso viria agilizar a consulta e o acesso ao material solicitado, bem como o seu empréstimo.
Porém, verificou-se que as bibliotecas ainda estavam utilizando as listagens impressas em tinta e/ou em braille para consulta ao acervo e que seus funcionários e usuários não tinham acesso à Internet, sendo que a sua disponibilização viria ampliar e facilitar as pesquisas em geral.
Consulentes
Mencionamos no item acervo que as obras são geralmente destinadas aos estudantes, adolescentes e adultos. Consequentemente, estes constituem a maioria dos consulentes, normalmente com idade entre 18 e 25 anos. Porém, são atendidos também alguns usuários com até 60 anos.
Dentre os usuários estudantes, citamos os da área de Direito. Devido à facilidade de expressão que o DV. adquire, essa área é uma boa opção de estudo, pois exige maior habilidade oral e sensibilidade para percepção do caráter humano.
Também mencionamos que a única biblioteca que atende o público infanto-juvenil é a do CCSP. Assim sendo, esta atende crianças a partir de sua alfabetização.
Os DVs. que adquirem problemas de visão desde o nascimento preferem os livros braille aos falados, ao contrário dos que adquirem tais problemas na fase adulta, pois estes têm maior dificuldade em aprender o alfabeto braille.
Raramente os DVs. emprestam livro em tinta pois, neste caso, necessitam do auxílio de parentes.
Na Fundação Dorina Nowill e no CCSP, a consulta às listagens que contêm o acervo só é possível com o auxílio de pessoas com visão normal, pois estas são impressas somente em tinta. Verificamos, portanto, que o leitor não pode fazer a sua pesquisa de modo independente. Já o NACC disponibiliza tanto a listagem em tinta quanto em braille. Se o consulente preferir, pode verificar as obras diretamente nas estantes.
Recursos humanos
Observou-se que há necessidade de pessoas com visão normal e DVs. nas instituições, bem como de funcionários especializados em serviços direcionados a estes últimos, tais como leitura do braille, datilografia em máquina Perkins e ensino do teclado normal de computador com uso de sintetizador de voz.
Pudemos constatar que os auxiliares que atuam nas bibliotecas e que mantêm contato direto com o público DV. têm boas sugestões quanto aos serviços diferenciados que podem ser implantados, mas devido à infra-estrutura precária os mesmos não podem ser aplicados.
A falta de recursos financeiros para a melhoria da infra-estrutura torna inviável o aperfeiçoamento dos serviços e, consequentemente, o atendimento eficiente aos usuários.
Verificamos que, para a implantação de um sistema automatizado de armazenamento e recuperação de informações nas bibliotecas, visando o seu acesso pelos DVs., será necessário a capacitação dos profissionais videntes ou não na utilização das novas tecnologias.
Projetos / Informatização do acervo
As verbas para os projetos da biblioteca do CCSP são fornecidas pela PMSP e pelas entidades que subsidiam programas sociais. A Fundação Dorina Nowill também
obtém recursos financeiros de outras organizações para a realização de seus projetos, os quais são elaborados pela bibliotecária e enviados ao diretor para análise e aprovação. Já o NACC não tem autonomia para a realização de projetos internos ou em parceria com o setor privado, recebendo verbas somente da SMC. Através de convênio realizado entre a PMSP e a Fundação Dorina Nowill, ficou estabelecido que a Fundação deveria produzir os livros em braille e falados para a Biblioteca Braille do CCSP e a Biblioteca Pública Municipal Francisco Patti.
Conforme mencionado no item acervo, a informatização das bibliotecas braille poderia trazer grandes benefícios aos DVs., que teriam independência tanto para inserir quanto para recuperar os dados on-line.
Embora a biblioteca do CCSP já tenha sido informatizada através do Microisis, seus funcionários e usuários DVs. não têm acesso on-line ao acervo devido à incompatibilidade de softwares. Além do Microisis a biblioteca também possui o Virtual Vision, Dosvox e SNM, que necessitam ser atualizados.
Quando da entrevista, a biblioteca da Fundação Dorina Nowill encontrava-se em fase de informatização, mas também não previa o acesso on-line ao acervo pelo próprio DV.
Já a Biblioteca Pública Municipal Francisco Patti estava utilizando o Sistema Dobis/Libis apenas para a realização de matrículas de leitores, por falta de terminais de computador. A bibliotecária chefe revelou ser possível a adaptação do referido sistema para funcionar com um sintetizador de voz para a informatização do NACC.
As bibliotecárias relataram a possibilidade de um trabalho conjunto entre elas e os analistas de sistemas para a implantação ou aperfeiçoamento dos sistemas automatizados de armazenamento e recuperação de informações para os DVs.
As instituições visitadas não tinham acesso à Internet, mas planejavam inclusive seu acesso pelos usuários DVs. As bibliotecárias objetivavam disponibilizar vários produtos e serviços através da Internet. Para isso, seria necessário obter auxílio financeiro junto às entidades de fomento cultural.
Quando da informatização das bibliotecas, inclusive com acesso on-line pelos próprios DVs., será imprescindível a capacitação dos usuários internos e externos para o conhecimento do sistema.
Infra-estrutura
Em duas instituições visitadas, fomos informadas que a infra-estrutura estava atendendo às necessidades imediatas, enquanto na terceira atendia parcialmente.
Porém, com a informatização das bibliotecas, será necessária a ampliação do espaço físico, a aquisição de novos equipamentos, mobiliário e acervo.
Para tanto, será imprescindível a obtenção de apoio financeiro junto às entidades de fomento.
6 CONCLUSÕES
Conforme os relatos dos funcionários das bibliotecas visitadas, chegou-se à conclusão de que a criação de um sistema de informações para DVs. nessas entidades enfrentaria a dificuldade de obtenção de recursos financeiros. Haveria necessidade de patrocínio por parte de empresários do setor privado e/ou outras instituições para captar tais recursos, precisando para isso da autorização dos responsáveis pela supervisão das referidas entidades.
Observou-se, ainda, outro fator que viria influenciar o sucesso na implantação do sistema, que seria a adequação dos recursos humanos atualmente disponíveis nas instituições, ou seja, buscando um equilíbrio entre o número de pessoas com visão normal e DVs. atuando nas mesmas. Dessa forma, o sistema seria aperfeiçoado, buscando atender tanto o usuário com visão normal como os DVs.
Verificou-se ainda que os funcionários das referidas entidades têm sentido a necessidade e a importância da informatização das bibliotecas braille, com preferência por sistemas que possam ser acessados pelo próprio DV., visando a agilização da consulta e da recuperação do material solicitado, bem como seu empréstimo.
Nas instituições que já possuiam um sistemas automatizados de armazenamento e recuperação de informações, questionou-se a possibilidade de adaptá-los para funcionar com sintetizadores de voz existentes no mercado, mas chegou-se a conclusão de que, para isso seria necessária a realização de um trabalho conjunto envolvendo os analistas das instituições e o responsáveis pela criação dos sintetizadores de voz. Na impossibilidade da obtenção de uma resposta concreta com relação a essa adaptação, foram pesquisados vários sistemas existentes no mercado, com objetivo de encontrar aquele que fosse mais adequado as necessidades das instituições. Foi proposta a implantação do software Biblivox (cujos dados foram localizados na Internet), por tratar-se de um sistema bem interativo, que se utiliza de um sintetizador de voz. Através do Biblivox, o próprio DV. pode cadastrar as informações, desde que as mesmas estejam em braille. Assim, ele não precisa depender de terceiros para ler os dados antes de digitá-los. Embora o referido software tenha sido criado para ser acessado pelos DVs., ele não dispensa o trabalho de pessoas com visão normal, como por exemplo os copistas e/ou ledores, encarregados de transcrever e/ou ditar textos em tinta para o braille.
7 RECOMENDAÇÕES
Para implantação de um sistema de informações automatizadas para DVs. nas bibliotecas visitadas, foi sugerido: