Imagem: Fabio Tadeu
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Notas adicionais de V.W.Setzer
(1) Criança que vê TV não é mais 100% criança.
Veja-se O Desaparecimento da Infância, de Neil Postman.
(2) Uma de minhas maiores preocupações é presenvar a infância
das crianças; sem elas, tem-se jovens e adultos com inúmeros problemas
psicológicos e psíquicos. A fantasia é uma das características
mais marcantes das crianças. O ideal é que a capacidade de fantasiar
se preservasse até a idade adulta, para se ter um adulto realmente inteligente
do ponto de vista social e profissional. Os meios eletrônicos matam a
fantasia da criança, ajudando nesse processo o que já se fazia
de errado no lar e na escola.
(3) O raciocínio lógico-simbólico é um raciocínio
matemático particular; na verdade, o computador força um raciocínio
lógico-simbólico mais particular ainda: o algorítmico.
(4) Garanto que a Profa. Marisa, e praticamente todos que usam esse argumento,
aprenderam a usar um computador quando adultos, e não quando crianças,
sendo exemplos vivos de que não é necessário usar um computador
muito cedo para poder dominar essa técnica muito bem mais tarde, na vida
adulta e profissional. Esse argumento da necessidade de as crianças começarem
muito cedo é uma das maiores falácias que se pode formular sobre
o computador. Eu esperaria que ele fosse usado por vendedores, e não
por acadêmicos, ou mesmo pessoas com um mínimo de cultura. Quanto
ao medo, o computador tornou-se tão corriqueiro, que talvez apenas algumas
pessoas muito idosas ainda têm "medo" dele, e provavelmente por que nunca
o experimentaram. Por outro lado, quando uma criança usa um computador
só há mistificação, pois ela não tem a mínima
capacide de compreender seu funcionamento. Por exemplo, ela pode achar que ele
é muito superior ao seres humanos, que erram, esquecem, executam as funções
computacionais muito mais lentamente, etc. Isso talvez leve a uma catastrófica
admiração pelas máquinas, com chances de perdurar até
a idade adulta. Pior, parece-me que isso leva a uma terrível mentalidade
de que o ser humano seja uma máquina, e muito imperfeita. O que essas
crianças farão quando adultos deixará os horrores desumanos
do nazismo, do comunismo e do maoismo como meras sombras.
(5) Crianças devem adquirir conhecimento da realidade, e não daquilo
que pode ser transmitido por meio de informações, ou melhor, dados.
(6) O computador só pode promover o desenvolvimento de capacidades lógicas
formais, o que viola totalmente as características infantis. Por exemplo,
o computador força o uso de uma linguagem estritamente formal; mas nenhuma
criança deveria falar com exatidão, pois nesse caso não
comporta-se mais como criança. Por outro lado, as capacidades cognitivas
proporcionadas pelo computador são também somente formais, impróprias
para crianças, que devem ser infantis.
(7) Interessante. A Profa. Marisa reconhece que o computador pode trazer problemas.
O problema é que esses problemas não são físicos,
como é o caso de uma criança fumar, tomar drogas ou álcool,
ou mesmo guiar um automóvel. Não sendo físicos, não
são reconhecidos pelas pessoas. Nesses casos citados, garanto que a Profa.
Marisa é radical, isto é, é totalmente contra seu uso por
crianças. Eu sou radicalmente contra o uso dos meios eletrônicos
por crianças por reconhecer o prejuízo que eles causam. Mas para
isso é necessário ter uma visão do ser humano que, para
começar, não o encara como máquina.
(8) Não, é muito pior: é altamente prejudicial, pois força
o uso de músculos e coordenação motora que não deveriam
estar maduros. Hoje em dia, reconhece-se que o uso do "andador" é um
crime, pois causa inúmeros problemas posteriores. Não consigo
compreender o que têm na cabeça os pais que os usam. Não
há nenhuma criança normal que deixou de aprender a andar; por
que acelerar esse processo, em lugar de deixá-la desenvolver-se em seu
próprio ritmo e maturação? Pois bem: o "mouse" é
um "andador manual"; o computador é um "andador mental". Quando o mundo
reconhecer os prejuízos que esses dois fazem às crianças,
muitos milhões delas terão já sofrido com eles, como se
passou com os andadores.
(9) Muito melhor seria contra histórias de tartarugas, ou mostrar uma
pintura artística de uma, e deixar a criança imaginar o movimento.
Quanto mais rústico o brinquedo ou a figura, mais haverá para
ser imaginado. Há uma grande chance de tratar-se, no caso descrito, de
desenhos animados. Sou totalmente contra eles para crianças, pois representam
uma caricatura do mundo, em geral sem arte e sem respeito. Não é
esse o conceito de mundo que as crianças deveriam absorver.
(10) Pode, mas não deve; deve é comprar um lindo livro, sem monstros
e caricaturas.
(11) Certamente esse filtro bloqueava alguns "sites" conhecidos. E todos os
outros incovenientes para crianças?
(12) Será possível que não se perceba como o computador
é perigoso para crianças?
(13) Coitada de sua filha, forçada a ser um adulto precoce. Ela deveria
é estar brincando de casinha, lendo contos de fadas, etc. - como sua
mãe provavelmente fez, se os pais foram inteligentes e não a deixaram
ver TV.
(14) O dia-a-dia é real, a internet é virtual. Não há
comparação. Mas o maior problema é que não se deve
ensinar ética para crianças formalmente, e sim por meio
de exemplos de vida e de histórias, imagens, de maneira individual -
justamente o que a Internet ou o computador não podem fazer. Uma criança
que aprende ética conceitualmente não é mais criança.
(15) É uima pena que os pais que deixam seus filhos usar joguinhos eletrônicos
violentos (95% destes), ou deixam seus filhos assistir programas violentos na
TV (a maioria), não aprendam com a Profa. Marisa que estão comentendo
um crime com seus filhos - afinal, para ela a ética é a mesma...
(16) Estão dentro de casa por que os pais querem - provavelmente por
ignorância do mal que os aparelhos fazem aos seus filhos. Eu não
tive TV em casa até minha filha menor ter se tornado adulta. Foi o melhor
presente que eu pude dar a eles (naquela época não havia microcomputadores
- eu não os teria deixado usá-los).
(17) Precisam preocupar-se, e muito. Não se deve subestimar a influência
perniciosa dos meios eletrônicos - independente do uso (a menos de se
usar a TV como mesinha, o computador como peso para papel, etc.). Esses
aparelhos foram feitos para atrair, e as crianças nào têm
capacidade e maturidcade para resisitir ou mesmo selecionar o seu uso. Se aprenderam
a fazê-lo, não são mais infantis, pobres coitadas.
(18) Se as suas crianças tiverem acesso a TV, joguinhos eletrônicos
e computador, esses frutos serão terríveis. Será possível
que não se perceba como a sociedade, os jovens estão piorando
dia a dia, e que isso é devido em grande parte aos meios eletrônicos?
(19) Será possível? Se é necessário estabelecer
limites, quer dizer que eles são perigosos (alguém precisou estabelecer
limites para brincar com bonecas, para ler bons livros? Pode acontecer, mas
é muito raro...). Mas como a Profa. Marisa quer que os pais estabeleçam
limites se o computador está no quarto dos filhos? Eles mudar-se-ão
para esse quarto?
(20) Todas essas coisas e atividades, pela maneira como ela fala, devem ser
controladas. Mas justamente o caminho mais seguro para não se poder controlar
é colocar no quarto das crianças. Não sei se há
um crime pior que se pode cometer contra o interior de uma criança do
que colocar uma TV em seu quarto.
(21) Mas o Zeca certamente faria as coisas inconvenientes muito menos na casa
dos amigos do que dentro de sua própria casa - afinal, onde ele passa
a maior parte de seu tempo? Quando meus filhos eram pequenos, não podíamos
pedir para uma mãe cujo filho iria receber a visita de um dos nossos,
que não ligasse a TV. Seríamos taxados de gente do outro mundo.
Só que o exagero dos programas hoje em dia é tal, que qualquer
mãe ou pai iria compreender que um outro não queira que seu filho
veja TV. Essa é uma característica comum às forças
que estão por detrás da tecnologia: sempre exageram. Basta uns
e outros abrirem os olhos para enxergarem os problemas que ela causa.
(22) Isto é, até as 22:00 o filho pode usar qualquer software
ou fazer acesso a qualquer "site", por mais impróprio que seja. Isso
é educação? Os jovens devem - e inconscientemente querem
- ser orientados, e não deixados ao léu, para aprenderem e fazerem
o que não devem.
(23) Se eu fosse professor de ensino fundamental ou médio, não
permitiria que os alunos entregassem trabalhos impressos pelo computador. Quem
capricha num trabalho desses? É a máquina, não o jovem.
Leiam-se meus trabalhos para se ver como o computador induz indisciplina mental.
(24) Só que o computador induz à preguiça. Tudo tem que
ser atratente, cheio de cosmético, tem que ser rápido e fragmentado.
O conteúdo não interessa mais, só a forma. Mata-se a capacidade
de se concentrar em algo sério. O ensino vira um joguinhho eletrônico.
(25) Um professor que aceitava um trabalho assim, só com cosmético,
não devia ser professor.
(26) Especializações? Será possível? Até
o fim do ensino médio o aluno deveria ser o mais generalistga possível!
Infelizmente, nossas universidades já exigem especialização
logo no começo, mas isso é uma aberração de formação
ampla de um indivíduo.
(27) O correto nesse caso é o uso de livros. Mas as crianças e
jovens computadorizados não terão paciência para ler um
livro, principalmente se isso exigir esforço.
(28) Essa necessidade simplesmente não existe. Como eu disse na entrevista,
há tempo para tudo. Vai ser cada vez mais fácil aprender a usar
um computador; uma disciplina de um semestre durante os últimos anos
do curso me'dio é suficiente para dar todo o conhecimento básico
do que vem a ser um computador, como se deve usá-lo bem e os males que
traz. Mas, para isso, deve-se encará-lo objetivamente, e não entrusiasticamente.
(29) Isto é, torná-los adultos precoces, com capacidade de discernimento
e do enorme auto-contrôle que os meios eletrônicos exigem para não
serem usados ou, no caso do computador, só de maneira positiva e comedida.