"Leis" e aforismos de Setzer
Valdemar W. Setzer
www.ime.usp.br/~vwsetzer
Esta versão: 22/3/24; para localizar as últimas inserções,
faça uma busca com (novo
Número de itens (incluindo corolários e excluindo comentários
e justificativas): 82
Ver também a versão em inglês
Índice
Computadores e computação
Meios eletrônicos
Ciênca, tecnologia
Educação
Sociedade
Ser humano
Espiritualidade
Computadores e computação
- Com o computador é possível fazer coisas mal feitas (programas,
sistemas) que funcionam.
Comparação. Tente-se fazer algo mal feito com um torno,
para se ver se funciona.
- Para se desenvolver um programa ou um sistema bem feito e bem
documentado, é necessário despender 10 vezes mais tempo e o custo
será 10 vezes maior.
Corolário. Se uma empresa participar de uma licitação
e honestamente cotar um sistema bem feito, vai perdê-la.
- A origem dos problemas de um programa que não funciona é que
ele foi programado.
Corolário. Use somente geradores de aplicações.
- No desenvolvimento de um sistema computacional, quanto mais
se planeja, menos se programa.
- Em processamento de dados, sempre que se reinventa a roda ela
sai quadrada.
Exemplos clássicos. OSs dos velhos IBM /360, /370, etc.;
MS DOS, Windows; a linguagem C, UML (quanto à modelagem de dados).
- Somente idiotas necessitam de uma definição de inteligência.
Corolário. Computadores são idiotas.
- Se um produto de processamento de dados é bem aceito pelo mercado,
certamente poderia ser muito melhor no estado da arte de sua área.
- Um programa que simula algum comportamento humano demonstra uma
maneira como o ser humano não "funciona".
- Um computador (ou qualquer outro tipo de máquina) só deveria
substituir o trabalho de um ser humano quando esse trabalho degrada-o,
e não deve substituir o trabalho que o eleva.
Restrição. O citado trabalho deve ser substituído
somente se a pessoa substituída puder exercer algum outro trabalho
menos degradante.
Problema. Caracterizar adequadamente o que significa
"degradar" e "elevar" o ser humano.
Comentário. "A educação é a atividade que mais
eleva o ser humano" (Ruy Barbosa).
Corolário. o computador não deve substituir o professor, nem
mesmo parcialmente.
- Para ser atrativo , o computador deve apresentar tudo sob forma
de show ou de jogo eletrônico.
(Inspirada em "Para ser atrativa, a TV tem que transmitir tudo
sob forma de show" Neil Postman, em Amusing Ourselves
to Death.)
- Computadores induzem indisciplina.
Comentário. Trata-se da indisciplina da pior espécie,
a mental.
Exemplos. A maneira como, em geral, trabalham os programadores
(visível na quase totalidade dos programas, pois neles se encontram
falta de documentação, ou documentação inadequada ou obsoleta), e
como textos são digitados usando-se um editor de textos (compare-se
com a enorme disciplina interior exigida quando se escreve a mão,
sem corrigir).
- Atividade artística é o melhor antídoto para o pensamento computacional
Corolário. Programadores ou pessoas infelizmente obrigados
a trabalhar horas seguidas, todos os dias, com um computador, deveriam
praticar alguma atividade artística.
Comentário. Ver o meu artigo "Um
antídoto contra o pensamento computacional".
- Xadrez é um jogo idiota, pois até computadores jogam-no bem.
Comentário. Atenção enxadristas,
isso é uma piadinha!
- (Autoparáfrase da semelhante na seção Educação)
A medicina está tão ruim, mas tão ruim, que até
computador diagnostica e receita melhor.
Comentário. Este é mais um passo na perda
da intuição, da individualidade e da ação
individual
Meios eletrônicos
- Telespectador ou um usuário compulsivo de internet
é uma pessoa que sabe cada vez menos sobre cada vez mais até saber
nada sobre tudo.
Comentário. inspirada em "Especialista é uma
pessoa que sabe cada vez mais sobre cada vez menos, até saber tudo
sobre nada", atribuída a G.B. Shaw.
- A TV anestesiou o tédio.
Comentário. Inspirada em Tio Vánia, de Tchiékhov
- Quem é a favor do uso de meios eletrônicos por
crianças e adolescentes simplesmente não conhece a literatura
científica que mostra os seus enormes efeitos negativos, especialmente
naquelas idades.
Comentário 1. Ver, por exemplo, meu artigo "Os
efeitos negativos dos meios eletrônicos em crianças,
adolescentes e adultos", onde há a citação
de mais de 100 artigos científicos. Ver também o artigo
"Os
meios eletrônicos e a educação, no lar e na escola:
uma síntese de problemas e recomendações"
Comentário 2: Tenho a impressão de que
os efeitos negativos dos meios eletrônicos, em qualquer idade,
mas principalmente para crianças e adolescentes, ultrapassam
infinitamente os poucos benefícios que eles podem trazer.
Exemplo. Em uma palestra sobre meios eletrônicos
(de quase uma centena sobre esse tema), uma pessoa pediu a palavra
e disse: "Meu sobrinho aprendeu inglês jogando video games
violentos." O leitor deveria imaginar qual foi a minha resposta
(deixo umas linhas em branco em seguida):
"Será que não há um meio mais sadio de se
aprender inglês?"
Ciência, tecnologia
- A estatística está para a ciência assim como a cirurgia está
para a medicina.
Comentário. Uma constata a falência da outra.
- O darwinismo induz a mentalidade de que os seres humanos são
animais; a Inteligência Artificial, de que os seres humanos são máquinas.
Comentário 1. É linguisticamente incorreto dizer que seres
humanos são máquinas, pois todas as máquinas foram projetadas e construídas
por seres humanos, eventualmente com o auxílio de outras máquinas;
nenhum ser humano foi projetado e construído por outro ser humano.
A expressão correta é "o ser humano é um sistema puramente físico"
(ver o DCCC abaixo).
Comentário 2. Ser humano é ser humano, e animal é animal;
não é por que há certas estruturas e funções em comum entre eles que
devem ser identificados, o que degrada a visão que se tem do ser humano.
Afinal, ninguém chama os animais de "plantas móveis", por que se haveria
de chamar o seres humanos de "animais racionais"?
Comentário 3. O ser humano tem estruturas e capacidades
que nenhum animal tem. Por exemplo, respectivamente, coluna vertebral
com um duplo S que permite a postura ereta por longos períodos,
pé não chato, abóboda palatina curva que permite
articular os sons na fala, lentidão de crescimento em relação
ao tempo total de vida, falta de pelo, couro, penas ou escamas, oponência
do polegar (pegar com os dedos como pinça), falar, pensar,
memória consultável, autoconciência, criatividade.
- O acaso é uma ilusão física.
Comentário 1. Observando fenômenos físicos
e suas causas físicas e/ou não físicas, o acaso
desaparece.
Comentário 2. Uma das desculpas para justificar
a hipótese da existência do acaso é a impossibilidade
de se detectar todas as causas e efeitos físicos devido à
complexidade dos sistemas físicos, isto é, o número
de variáveis ou fatores envolvidos e as interações
entre eles.
Comentário 3. É possível observar
objetivamente fenômenos não físicos por meio de
órgãos de percepção suprassensível
latentes em todos os seres humanos.
Exemplos. O pensar, o sentir, o querer, a memória,
o sono, o sonho, a consciência, o crescimento em seres vivos,
e muitos outros, são fenômenos não fisicos, com
consequências físicas. A intuição é
uma percepção de algo não físico. Conceitos
não são físicos (ver meu artigo "Conceitos
e o cérebro". O pensar é um órgão
de percepção de conceitos (cf. A Filosofia da Liberdade,
de Rudolf Steiner).
- Examinando-se fisicamente as causas de qualquer fenômeno
físico, as causas dessas causas, e assim sucessivamente, sempre
se chega a um beco sem saída, isto é, algo para o qual
não há explicação.
Exemplo. Isso é absolutamente claro em qualquer
fenômeno interno de um ser vivo. Mova-se um braço, e
procure-se a sequência de causas físicas que levaram
a esse movimento.
Corolário. Toda teoria física é
incompleta.
- A vivência humana do tempo está para o tempo da
física assim como a vivência humana da matéria
está para a matéria elementar da física: um não
tem nada a ver com o outro.
Justificativa. 1. Temos a vivência precisa do
momento presente, que não faz sentido para a fíísica.
Por outro lado, para esta, a "flecha do tempo" só
tem algum significado em termos da 2ª lei da termodinâmica,
a do aumento da entropia (nunca ninguém viu um leite derramado
voltar para a garrafa); no entanto, nossa vivência do passado
e do futuro faz uma distinção absoluta entre eles. 2.
As "partículas elementares" da física são
totalmente incompreensíveis. Exemplos: o elétron não
é uma bolinha e não gira em torno do núcleo,
e o spin das partículas atômicas não pode
ser compreendido, pois não tem limite clássico, que
é o nível da matéria que vivenciamos.
- Em relação à matéria, a física
destruiu o óbvio.
Justificativa. Temos a vivência absolutamente
concreta do que é a matéria: qualquer objeto sólido,
líquido, ou gás visível (como as nuvens ou a
fumaça). No entanto, com seu método a física
não sabe o que é a matéria. Por exemplo, não
se sabe de onde provém a massa dos prótons; o elétron
é pontual (não tem dimensão) mas tem massa e
carga elétrica (aliás, ele não gira em torno
do nucleo!); os cálculos indicam que 95% da massa no universo
são compostos 70% de energia escura (que dá origem à
expansão acelerada do universo) e 25% de matéria escura
(que faz com que estrelas de galáxias em alta rotação
não se desgarrem), desconhecidas. A física jamais vai
saber o que é uma partícula atômica em seu estado
natural, pois para observá-la é necessário extrair
ou inserir nela alguma energia. Por menor que seja essa energia, isso
mudo o estado da partícula. Portanto, a física jamais
vai saber o que é um átomo, uma molécula etc.
em seus estados naturais. Também não se sabe o que é
o cérebro, pois não se sabe o que é a memória,
o que são os pensamentos, as sensações, os sentimentos
e os impulsos de vontade; aliás, temos a vivência absolutamente
concreta deles: ninguém duvida que tem memória, que
pensa, que sente e tem impulsos de vontade. No entanto, são
atividades interiores ocultas para o exterior; por exemplo, ninguém
consegue sentir o que outra pessoa está sentindo.
- Materialista ou fisicalista é uma pessoa que vive e trabalha
num prédio que não tem o andar térreo.
Comentário. Consequência do que foi exposto
na "lei" anterior, isto é, não se sabe o que
é matéria do ponto de vista da física.
- Os limites do universo físico não fazem sentido
físico.
Comentário 1. De fato, o que haveria depois desses
limites, o nada? Até onde vai o nada?
Comentário 2. Até a Teoria
da Gravitação de Newton, a Igreja Católica usava
o modelo de Aristóteles, de que havia várias esferas
físicas onde estavam os planetas, o Sol, e finalmente uma em
que estavam as estrelas, isto é, admitia-se que o universo
era finito. Aí Giordano Bruno (1548-1600), que considerava
o universo como sendo infinito, formulou um experimento mental, mais
ou menos assim: "Se eu atirar uma flexa no limite do universo
para fora dele, o que acontece? Ele se expande ou ela vai para o nada?"
Por causa disso ele foi queimado pela Inquisição, e
é considerado o primeiro mártir da ciência.
- A física não está no negócio de
explicar a natureza. Seu negócio é deduzir modelos,
fórmulas matemáticas, envolvendo variáveis que
assumem grandezas físicas medidas por instrumentos. A partir
desses modelos, a outra parte do seu negócio é prever
aproximadamente o futuro.
Comentário. Essas variáveis e seus valores
não são a natureza; representam uma ínfima sombra
desta.
Exemplo trivial. A fórmula de Newton da força
de atração gravitacional de dois corpos f = g*(m1
x m2)/d2 envolve medidas m1
e m2 das massas, d da distância entre
os centros de gravidade dos corpos, g da aceleração
da gravidade. Ela não explica abolutamente nada sobre a origem
da gravitação; ela não explica por que os corpos
se atraem. Mas não deixa de ser útil: explica por que
as órbitas dos planetas são aproximadamente elipses,
permite o projeto de foguetes e satélites etc.
- Desconfie de qualquer explicação simplista da natureza.
Comentário. Até uma pedra é de uma complexidade infinita;
imaginem-se todos os milhões de anos e de processos que foram necessários
para formá-la.
Exemplos. 1) A teoria de que o sangue circula no corpo
humano por que é bombeado pelo coração. Imagine-se a potência que
essa bomba deveria ter para bombear um fluido viscoso como o sangue
por milhares de km de vasos sanguíneos (já ouvi que formam 100.000
km!), sendo que a maior parte é capilar. Não se sabe por que o sangue
circula. 2) A ideia de que o átomo é um sistema planetário (átomo
de Rutherford, de 1909). O elétron não é uma bolinha e nem circula
em torno do núcleo, pois senão, segundo esse modelo da mecânica
clássica, irradiaria energia eletromagnética e cairia no núcleo.
3) As marés são devidas à atração gravitacional da Lua e do Sol. Elas
são devidas a um sistema enormemente complexo de forças e de movimentos
que interagem com as bacias oceânicas, levando a uma situação de ressonância.
As marés altas rodam em torno de um ponto sem maré (ponto amfidrômico).
4) A teoria da evolução neodarwinista (mutações genéticas aleatórias
mais seleção natural). Estão aparecendo cada vez mais evidências científicas
de que mutações levando a novas formas anatômicas viáveis e melhores
são fantasticamente improváveis. Por exemplo, apenas um par de mutações
nos hominídeos confluindo para uma mudança funcional ocorreria em
média em mais de 200 milhões de anos, segundo cálculos recentes.
- Jamais uma máquina vai ter sentimentos.
Justificativa. Todas as máquinas são universais; isso
é absolutamente claro com as máquinas digitais programáveis: qualquer
uma pode simular qualquer outra, dada capacidade suficiente (a Máquina
de Turing, segundo Rogério Y. Santos, "o arquétipo
de todos os computadores", é uma máquina universal).
Todas as máquinas analógicas (como, por exemplo, as geladeiras), também
são universais, pois seu projeto e construção são os mesmos para toda
uma certa série de máquinas. Por outro lado, sentimentos são absolutamente
individuais: ninguém pode sentir o sentimento de outrem (mas podemos
pensar o mesmo pensamento, o que é claro no caso dos conceitos matemáticos).
Ver a esse respeito
meu artigo sobre Inteligência Artificial.
- Jamais uma máquina vai pensar como o ser humano.
Justificativa. Qualquer pessoa pode fazer a observação
mental de que é capaz de determinar seu próximo pensamento. Para isso,
basta, por exemplo, fechar os olhos, produzir uma calma interior e
pensar em dois números com os quais não se tem nenhuma associação
a algum fato passado (memória) e, em seguida, concentrar a mente num
deles. Ora, essa escolha e a concentração mental seguinte é autodeterminação;
as máquinas são deterministas ou aleatórias, e portanto não têm autodeterminação.
Em outras palavras, qualquer um pode observar, por meio de seu pensamento,
que com ele pode exercer o livre arbítrio (na verdade, o livre arbítrio
existe na vontade, no caso, as decisões envolvidas); isso significa
que o pensamento transcende a matéria, pois esta é sujeita inexoravelmente
às leis físicas. Obviamente, um materialista coerente vai dizer que
o livre arbítrio é uma ilusão. Felizmente, pouquíssimos deles são
coerentes, pois sem liberdade não há nem responsabilidade nem dignidade,
e só há egoísmo, que é destrutivo por natureza (ver meu artigo
"Consequências
do materialismo").
- Jamais vai se descobrir o código computacional usado pelo
cérebro, pois ele não existe.
Comentário 1. Estou me baseando na evidência
pessoal de que temos livre arbítrio no pensar (ver o item anterior),
e portanto ele não pode ter origem física.
Comentário 2. O máximo que se poderia
dizer, cientificamente, é que o cérebro participa
dos processos mentais. Dizer que ele gera esses processos não
tem base em fatos científicos, é mera especulação.
Comentário 3. Praticamente toda
a pesquisa em neurociência hoje em dia parte de um modelo computacional
do cérebro, portanto está na direção errada.
Metáfora. Isso lembra a historinha de um bêbado
que estava procurando algo à noite, embaixo de um poste de
luz. Passa um guarda e o ajuda a procurar alguma coisa, mas logo percebe
que não há nada por lá, e pergunta: "
O que o Sr. perdeu?" " Minhas chaves." "
Mas o Sr. tem certeza que as perdeu aqui?" " Não,
eu as perdi lá, mais adiante." " Mas então
por que está procurando aqui?" " Uaaaai [devia
ser mineirim...], por que lá está escuro e aqui há
luz!" É assim que funcionam em geral os cientistas: procuram
onde conseguem aplicar suas teorias e onde seus aparelhos conseguem
medir algo, e não onde deveriam procurar. E assim jamais vão
achar a essência fundamental das coisas.
- Quando a tecnologia é usada sem consciência, ela
adquire autonomia e tende a dominar o ser humano.
Exemplos. TV, pois normalmente ela diminui a consciência
do telespectador, devido à avalanche de imagens não
é possível pensar conscientemente em cada imagem vista
e a mente tende a "desligar", a "relaxar", o que
é comprovado pela diminuição da atividade cerebral.
Smartphones e tablets usando a Internet, pois têm
um alto risco de provocarem dependência, prejudicam a capacidade
de concentração (ver meu artigo "O
que a Internet está fazendo com nossas mentes") e
rompem relações sociais reais, fora inúmeros
outros problemas.
- A pesquisa em animais devia ter como finalidade mostar como
eles diferem dos seres humanos, e não suas semelhanças
Comentário 1. O ser humano é muito diferente
dos animais, como por exemplo no bipedalismo, na coluna em duplo S,
na oponência do polegar (fazer uma pinça com polegar
e o dedo indicador), a pele nua (sem pelo, couro, penas, escamas ou
couraça), as pernas em X, a fala e, o mais importante, o pensamento
consciente.
Comentário 2. Quando li o livro do Desmond Morris
O Macaco Nu (The Naked Ape), que ele escreveu para mostrar
as similaridades entre os humanos e os macacos, eu ficava em cada
trecho pensando: "Nunca pensei que as diferenças fossem
tão grandes!"
- (Novo! 22/3/24) Pergunte-se a um
sistema generativo de linguagem (tipo ChatGPT, Gemini etc.) algo como
"dê algo totalmente novo sobre..." para ver o que
acontece.
Comentário 1. Pedi
to Gemini, em 22/3/24, para dar uma nova demonstração
do Teorema de Pitágoras. A resposta obviamente não foi
nova, e foi muito arrevesada. Pedi para ele dar a prova puramente
geométrica mais simples desse teorema (eu conheço uma
com apenas duas rotações de triângulos formados
por um quadrado inscrito em um outro), e a resposta, também
arrevesada, tinha um monte de álgebra.
Comentário 2. Pedir algo novo sobre um assunto
requer que tudo o que foi escrito sobre esse assunto seja conhecido
e analisado pelo sistema. E se aparecer algo novo, será apenas
combinação do que já está escrito anterioremente.
O ser humano é criativo, pode introduzir algo novo no mundo
que não é simples combinação do que já
é conhecido.
Educação
- O ensino não é uma ciência, nem uma técnica, indústria ou comércio:
é uma arte.
Comentário. Inspirada pela Pedagogia Waldorf.
- Bom professor é aquele que entusiasma seus alunos pela matéria
e, a partir desse entusiasmo, propicia o desenvolvimento adequado
e necessário de seus estudantes.
Corolário. Bom professor é o que não
ensina, mas faz o aluno aprender por si.
- Há duas atitudes básicas do bom professor: amar
cada um de seus alunos e compreendê-lo.
- O ensino está tão ruim, mas tão ruim, que até computador ou ensino
a distância (EAD) ensinam melhor.
Comentário 1. Publicado na seção
impressa do Fórum dos Leitores do jornal O Estado de São
Paulo de 20/4/2011, sem a parte de EAD
Justificativa. Pergunte a tabuada de multiplicar (por
exemplo, 5 x 7), para qualquer aluno de ensino público fundamental
ou médio. Se ele não souber, o que será, em minha
experiência, o caso da grande maioria, segure-se bem e pergunte
a tabuada de somar (5 + 7). Se por um milagre o aluno souber as tabuadas,
pergunte quanto é 2% de 90. Fiz essa pergunta em 7 palestras
em 2011 como "embaixador docente" da USP, falando sobre
o vestibular, para alunos de 2o. e 3o. anos do ensino médio;
ninguém soube responder. 2% de 90 questões era o bônus
mínimo da nota na 1a. fase da FUVEST para quem tinha feito
todo o ensino médio em escola pública.
Comentário 2. Este é mais um passo na
perda da individualidade e da ação individual.
- Quanto mais tecnológico o ensino, menos humano.
Comentário. O que estamos precisando é de
um ensino mais humano, e não mais tecnológico.
- prender é como nadar contra a corrente: parando, retrocede-se.
Comentário. Essa é uma paráfrase da frase
do poeta polonês Stanislaw Jerzy Lec "Aquele que quer chegar
à fonte deve nadar contra a corrente", em tradução
livre da versão
em inglês (acesso em 17/7/20).
Sociedade
- A realidade da miséria que é criada pelo ser humano ultrapassa
a imaginação mais pessimista.
Comentário: Isso é um caso particular
da conhecida frase "Na prática a teoria é outra."
Exemplo: a invasão da Ucrânia pela Rússia.
- Não há limite para o fundo do poço em que
a humanidade consegue cair.
Comentário. Inspirada por uma frase do saudoso
Dr. Walter Leser (ex-Secretário da Saúde do Estado de
São Paulo), algo como "Uma boa caracterização
do infinito é o limite da imbecilidade humana".
- Qualquer competição é antissocial: o ganhador fica contente às
custas da frustração do perdedor.
Corolário 1. Esportes devem ser praticados (idealmente,
diariamente) sem competição.
Exemplos. Jogar peteca em uma rodinha, jogar tênis apenas
batendo bola sem contar pontos, games e sets, jogar
futebol misturando as equipes após cada gol, praticar esportes individuais
(como eu faço diariamente) etc.
Corolario 2. Jogos competitivos deveriam ser banidos do
lar e da escola, substituídos por jogos cooperativos.
Comentário. Não é preciso ensinar uma criança ou
adolescente a ser competitivo; a vida adulta vai ensinar isso quando
e enquanto ainda for, infelizmente, necessário. (A educação
para a competição está tão enraizada em
certos países e na mentalidade das pessoas que provavelmente
pouca gente compreenderá estas palavras...)
- Propaganda é a ciência, a técnica e a arte de influenciar pessoas
a fazer aquilo que não fariam sem essa influência.
Corolário. A propaganda atenta contra a liberdade, isto
é, contra a humanidade.
Comentário. O correto é fazer promoção
de ideias e de produtos, isto é, mostrar objetivamente suas características
e eventual preço.
- Propaganda subliminar é a propaganda dirigida ao subconsciente,
isto é, é registrada por este mas não pelo consciente.
Corolário. A propaganda atenta contra a humanidade; a propaganda
subliminar é criminosa.
Exemplo. A propaganda exibida ao lado do conteúdo
de alguma página da Internet; esse é apenas um dos muitos casos
da propaganda subliminar da Internet (um outro exemplo: páginas
"modernas", com dezenas de caixas com textos, figuras e
animação).
Comentário. Eu jamais leio essa propaganda, de
modo que ela funciona subliminarmente em mim. O quanto estou sendo
inconscientemente influenciado por ela?
- Não se deve julgar uma pessoa pelo seu ambiente.
Comentário. Inspirado no livro de Randi Crott e
Lillian Crott Berthung Erzähl es niemandem! Die Liebesgeschichte
meiner Eltern ("Não conte a ninguém! A história
de amor de meus pais"), Köln: DuMont 2012. O livro conta
a saga da segunda autora, mãe da primeira, que se apaixonou
por um soldado alemão durante a invasão nazista da Noruega,
e foi agredida pelos seus conterrâneos. Seu marido jamais participou
das batalhas, tinha sempre uma ação nos escritórios.
- A humanidade jamais terá feito um passo decisivo no sentido
da autoconsciência enquanto os homens usarem gravatas.
Comentário. A gravata é um penduricalho puramente
cosmético, sem nenhuma, absolutamente nenhuma utilidade. Nem
pode ser usado para assoar o nariz! Acho-a absolutamente ridícula.
Curiosamente, tenho essa concepção desde os 14 anos.
Atendendo a pedidos de minha esposa, eu a usava em casamentos e enterros.
Deixei de fazê-lo há bastante tempo.
- Em um país onde impera a corrupção, os políticos
em geral não têm vergonha, têm Bolso.
Comentário 1. Alguém conhece um país
assim? Eu conheço um, e muito bem...
Comentário 2. Publicado no Fórum dos Leitores
da versão impressa do jornal O Estado de São Paulo
em 1/8/22, p. A4. O meu Bolso foi mudado para bolso.
- Só há um jeito para o Brasil: começar tudo
de novo, de maneira diferente.
Justificativa exagerada: o país inteiro está
errado.
Ser humano
- A denominação ser
humano não é boa, pois ele está em permanente
transformação. Melhor seria devir humano.
Exemplo. O/a leitor/a não será exatamente
o mesmo depois de ter lido essas duas linhas. Ver o próximo
aforismo.
- O ser humano incorpora todas as
suas vivências.
Comentário 1. A maior parte delas fica
memorizada no sub- ou no inconsciente.
Comentário 2. Mesmo sentimentos e pensamentos ficam
memorizados dessa maneira.
Corolário. Não se deve pensar coisas ruins
ou negativas.
- Errar inconscientemente não diminui o ser humano; o que o diminui
é não reconhecer seu erro ou não corrigi-lo e compensá-lo.
- Uma atividade que exige excelência e só pode ser
feita com sucesso por adolescentes ou jovens adultos não tem
substância humana profunda.
Exemplo. Competições esportivas que exigem
força ou destreza.
- Todas as decisões humanas deveriam ser tomadas levando
em conta as condições do momento presente.
Justificativa. O mundo todo e cada pessoa estão
em permanente transformação.
Corolário 1. Todo planejamento
deve dar lugar a algum improviso. Em caso contrário, degrada-se
a natureza, o ser humano e as instituições a máquinas.
Corolário 2. Toda aula deve ser parcialmente improvisada.
- Ter consciência de algo é estar percebendo esse
algo e pensar sobre ele, ou senti-lo, isto é, focar a atenção
sobre a percepção.
Exemplo 1 Dizer "Estou consciente deste caqui à
minha frente" é o mesmo que dizer "Estou percebendo
com meus sentidos este caqui à minha frente, e estou pensando
sobre ele."
Exemplo 2. Dizer "Estou consciente de minha dor
de dente" é o mesmo que dizer "Estou percebendo minha
dor de dente, pois a estou sentindo."
Comentário 1: Só podemos ter consciência
de um órgão que não pode ser percebido com os
sentidos, como o fígado, se ele doer. Ter dor em um órgão
que normalmente não percebemos, isto é, não temos
consciência dele, significa que nossa consciência penetrou
nesse órgão (apud Rudolf Steiner).
Comentário 2: Podemos perceber inconscientemente,
por exemplo ver algo sem prestar atenção.
- Ter autoconsciência é perceber que se está
tendo consciência de algo de si próprio.
Exemplo 1. Se olho minha mão, fico consciente
dela. Estou tendo autoconsciência. Se percebo que estou sentindo
algo, estou sendo autoconsciente. Se observo meu pensar (com o pensar!)
estou sendo autoconsciente.
Comentário. Pensar sobre o pensar, em autoreflexão,
é o máximo da autoconsciência.
Exemplo 2: Se vejo um caqui, e penso sobre mim mesmo "Agora
estou vendo um caqui", estou sendo autoconsciente.
- Agir inconscientemente significa
agir sem pensar nas consequências do próprio ato.
Comentário 1. Uma ação inconsciente
pode provir de um impulso de vontade devido a uma sensação
ou sentimento, como a raiva, o medo, ou devido a um estado de inconsciência
devido a drogas, álcool, falta de sono ou exaustão,
ou uma percepção inconsciente etc.
Comentário 2. Animais sempre agem incsonscientemente
(devido ao instinto ou condicionamento), pois animais não pensam
(achar que animais pensam é uma falha de observação).
- O tempo está para o espaço assim como a melodia
está para o som
Comentário 1. Temos a percepção do
espaço, mas não temos a percepção do tempo,
que deve ser vivenciado. Rudolf Steiner fez uma observação
interessante: vivenciamos exteriormente o tempo quando vemos uma alteração
no espaço, como o movimento do Sol no céu ou o dos ponteiros
de um relógio. Ajunto: temos uma vivência interior do
tempo quando prestamos atenção à nossa pulsação
ou respiração.
Comentário 2. Não ouvimos uma melodia,
ouvimos os sons isolados que a formam. A melodia é criada interiormente,
pelo que se poderia chamar de alma.
- Nós nos sentimos como indivíduos porque temos memória e podemos
consultá-la conscientemente. Esquecendo a história, deixamos de nos
sentir como parte da evolução da humanidade.
Comentário: motivada pela notícia do
Simon Wiesenthal Center de 13/4/18: A new study released on Yom
Hashoah ["Dia do Holocausto"] found that 22% of millenials
said they havent heard of the Holocaust and that two-thirds
didnt know what Auschwitz was.
- Havendo comida, quem quer come, quem não quer passa fome.
Comentário: Isso se aplica também a ideias,
que devem ser apresentadas mas nunca impingidas. Não se deve
interferir na liberdade externa de um adulto responsável, pois
uma das missões da humanidade é desenvolver a liberdade
interna, o livre arbítrio.
- É natural o ser humano ser egoísta, mas o ser humano
não é um ser puramente natural.
Comentário. A natureza nos faz egoístas,
mas transcendemos a natureza, isto é, temos algo que não
é físico em nossa constituição (as evidências
para isso são muito fortes). Por isso podemos ter livre arbítrio
(que não faz sentido de um ponto de vista fisicalista ou materialista)
e, a partir dele, agirmos com amor altruísta, que é
o oposto do egoísmo.
Comentário. O materialismo deve necessariamente
levar ao egoísmo.
- (Novo! 22/3/24) Quem para
de aprender, está esperando morrer.
Comentário. O ser (devir) humano devia estar em
permanente transformação. Talvez a mais importante é
o aprendizado permanente.
Espiritualidade
Veja também
as leis de Fang.
Veja
também as leis da computação.
|