Matérias anunciando o debate
que iria ocorrer, publicadas no suplemento
Folhinha de 29/9/12, p. 4, copiadas do original
no site da Folha de São Paulo.
Especialistas dizem que 'eletrônicos são terríveis';
outros defendem uso moderado
BRUNO ROMANI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Especialistas se posicionam contra e a favor do uso
do tablet na infância.
Veja trechos de entrevista da "Folhinha" com Valdemar W. Setzer,
71, professor do departamento de Ciência da Computação
do Instituto de Matemática e Estatística da USP, e Andréa
Jotta, 38, psicóloga do Núcleo de Pesquisas da Psicologia
em Informática da PUC São Paulo.
"Qualquer aparelho eletrônico é terrível para
a criança." A frase, que costuma gerar polêmica, é
de Valdemar W. Setzer. Leia mais.
Apertar os botões
Qualquer aparelho eletrônico é terrível para crianças.
Elas deveriam brincar ativamente. O que fazem, por exemplo, quando brincam
com um carrinho de controle remoto? Mexem os dedos para apertar botões.
Um bom brinquedo deve ser simples. A criança deve entender o seu
funcionamento, como uma boneca de pano. Nenhum adulto compreende o funcionamento
de um tablet. Se eu quebrar o chip, não saberei montar.
O bom brinquedo
O brinquedo também deve despertar a imaginação. No
caso da boneca, por exemplo, a criança usa a imaginação.
Aparelhos com tela, como computador, tablet e TV, entregam imagens prontas.
Não há o que imaginar. Os brinquedos também deveriam
exigir movimento, como jogar bola ou pular corda. Os meios eletrônicos,
começando pelo iPad, deixam a criança parada.
Sem conversa
Graças ao iPad e outros jogos eletrônicos, os pais estão
falando menos com os filhos. Você vai a um restaurante e vê
famílias com crianças jogando seus tablets na mesa. Não
há conversa e brincadeiras. Isso é cômodo para os
pais.
***
"O uso do tablet por crianças só é prejudicial
se houver abuso. Do contrário, é uma brincadeira."
Essa opinão é de Andréa Jotta. Leia mais.
Demônio?
A tecnologia é inevitável. Não adianta olhar para
isso como algo do demônio [ruim]. As crianças não
fazem diferença entre algo que é tecnológico [como
tablet ou computador] e algo que não é [bola ou boneca,
por exemplo]. Para elas, é tudo igual. Brincam com um ou outro
sem problemas. O tablet faz parte de um mundo cheio de informações,
que chegam com facilidade às pessoas -e isso pode deixá-las
mais inteligentes.
Brinquedo?
A criança precisa aprender a brincar no tablet, mas também
a montar quebra-cabeça e a visitar parques. São os pais
que devem decidir se uma criança deve ou não ganhar um iPad
como brinquedo, que custa R$ 1.500. Mas a criança não é
preparada para ter um brinquedo num valor tão alto. Não
é recomendado que os pais briguem se ela quebrar ou perder o tablet.
Uso moderado
Não há idade certa para usar tablet. O importante é
a criança, independentemente da idade, ter opções
diferentes de atividades, brincar das mais diferentes maneiras. Uma criança
que aos cinco anos só brinca com tablet, aos dez ganha console
e aos 12 está viciada em tecnologia não foi estimulada a
brincadeiras sem os eletrônicos.
***
Entre as duas colunas com a matéria acima havia duas caixas com
os seguintes textos.
"Eletrônico é terrível para crianças.
Elas deveriam brincar ativamente. O que fazem quando brincam com carrinho
de controle remoto? Apertam botões."
Valdemar W. Setzer
"Não há idade certa para começar a usar tablet.
O importante é a criança, qualquer que seja a sua idade,
ter opções diferentes de atividades."
Andréa Jotta.
Matéria comentando o debate,
publicada no caderno Cotidiano, p. C7,
do jornal Folha de São Paulo de 10/10/12; ver o original
no site da Folha.
"Escolas não devem adotar tablet só
porque é moda"
Debate da 'Folhinha' trouxe opiniões radicalmente
opostas
sobre o uso do aparelho durante a infância
Embate entre professor contrário ao uso de tecnologia
por crianças e psicóloga favorável mobilizou a plateia
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O tablet não deve ser usado por escolas só porque "é
moda". Para que o aparelho entre em sala de aula, é preciso
antes desenvolver um projeto pedagógico para seu uso e preparar
o professor.
Essa foi uma das sugestões do debate "Tablet na Infância
- Educação e Entretenimento", realizado anteontem,
no Teatro Folha, em São Paulo. O encontro, promovido pela "Folhinha",
teve parceria do Instituto Ayrton Senna e foi acompanhado por 190 pessoas,
a maioria professores e pais. Durou quase três horas e foi caloroso,
com embate entre ideias opostas e manifestação da plateia.
"Se a escola pede tablet no material escolar, o ideal é
que tenha um plano pedagógico. Se não sabe como será
usado, recomendo que o pai não compre. E mais: eu tiraria meu
filho de uma escola assim", disse Thiago Tavares, presidente da
SaferNet Brasil, ONG que trabalha com segurança na internet.
Outro alerta é que o tablet não tenha acesso 3G e funcione
pela rede da escola, o que possibilita um maior controle da navegação
do aluno.
O conflito de opiniões entre a psicóloga Andrea Jotta,
do Núcleo de Pesquisas da Psicologia em Informática da
PUC-SP, e Valdemar W. Setzer, professor do departamento de Ciência
da Computação do Instituto de Matemática e Estatística
da USP, mobilizou a plateia.
Setzer foi o único debatedor radicalmente contra o uso de aparelhos
eletrônicos e da internet na educação infantil.
"Spam existe porque adultos são inocentes e caem. Agora,
imagine criança!", exclamou ele. "Elas são ingênuas
e estão sendo usadas para testar tecnologias", disse.
Para Setzer, as crianças devem ser incentivadas a brincar com
produtos não eletrônicos. Jotta discordou do professor
em diversas ocasiões -e chegou a ser interpelada por uma espectadora,
que defendeu Setzer. "As crianças dão conta de desenhar
no tablet, no papel, de conversar com as pessoas ao vivo e no mundo
virtual. Se os adultos conseguem educar essas crianças é
outro ponto. O descontrole que a gente vê é do adulto",
afirmou Jotta.
Mas todos concordaram em um ponto: a participação ativa
dos educadores no desenvolvimento das crianças. "Pais e
professores têm que estar perto das crianças. Eu me preocupo
mais com isso do que com o uso de tablet e internet", disse Adriana
Martinelli, coordenadora da área de tecnologia e educação
do Instituto Ayrton Senna.
Convidada à discussão, a psicóloga Rosely Sayão,
colunista da Folha, não pôde comparecer.
O debate foi mediado pela editora da "Folhinha", Laura Mattos,
e pelo editor do caderno "Tec", Leonardo Cruz.
(No jornal impresso, logo em seguida apareciam as seguintes chamadas,
que não constam do original do site da Folha.)
"Crianças dão conta de desenhar no tablet,
no papel, conversar ao vivo e no mundo virtual. Se conseguimos educá-las
é outro ponto."
Andréa Jotta - psicóloga do Núcleo de Pesquisas
da Psicologia em Informática da PUC-SP
"Para usar internet é preciso muito conhecimento,
discernimento, autoconsciência e autocontrole. A criança
não tem isso."
Valdemar W. Setzer - professor do departamento de Ciência da Computação
do Instituto de Matemática e Estatística da USP