[Prévia] [Próxima] [Prévia por assunto] [Próxima por assunto]
[Índice cronológico] [Índice de assunto]

pesquisas eleitorais



.


---------- Forwarded message ----------
Date: Wed, 11 Oct 2006 07:14:52 -0300
From: Sergio Wechsler <sw@ime.usp.br>
To: sw@ime.usp.br
Subject: g

A questão levantada pelo nosso ilustre colega e amigo Prof. José Ferreira de
Carvalho é correta e relevante, tanto para pesquisas de intenção de voto
quanto para as de boca-de-urna. Ela é, entretanto, insuficiente para
responder o que todos queriam saber: Qual a probabilidade de haver segundo
turno?



Às 17:00 do penúltimo domingo, o Brasil inteiro perguntava se haveria
2oturno. E era impossível responder sim ou não (a não ser apelando-se
para
búzios ou outras formas proféticas aqui não consideradas). Frente a tal
impossibilidade, a única resposta científica, objetiva e direta era a *
probabilidade* de haver 2º turno. E esta probabilidade (ou chance, termo
também utilizado) jamais é obtida e anunciada pela metodologia dos
intervalos e suas margens de erro ? quer tenha o plano amostral indicado
seleção por quotas ou probabilística. (*)



A técnica de estimação de proporções por intervalos ? seja com quotas ou com
seleção probabilística, repetimos ? jamais logra obter probabilidades de uma
proporção ser maior que outra, pela sua própria concepção. Trata-se de uma
técnica brilhante, concebida no século XX, quando os atuais recursos
computacionais eram ainda inexistentes.  Contudo, sempre foram inadequadas
para responder às singelas perguntas feitas por eleitores, candidatos,
jornalistas, analistas políticos, enfim por todos: *O candidato A vai ter
mais votos do que o L? Qual a chance? Haverá 2º turno? Qual a chance?*  E
não cabe tachar os que fazem tais perguntas de leigos. São perguntas
naturais. A profissão não pode continuar calada nem se limitar a anunciar as
típicas evasivas resultantes da verificação ou não de overlapping entre
intervalos para proporções:* Nada pode ser afirmado! Talvez haja 2º turno!
Há um empate técnico! A disputa é acirrada!  *A ciência seria tão impotente?
Não é!



O estudante de primeiro ano, ainda livre dos preconceitos que cercam métodos
indutivos de inferência, sabia, às 19:15 do último domingo, que o 2º turno
era bem mais provável que a vitória do candidato Lula no 1º turno. E por
volta das 20:45 tinha praticamente certeza da ocorrência de 2º turno.
(Também sabia, por exemplo - e desde sexta-feira - que as chances de
Crivella ir ao 2º turno eram remotas. Os institutos com seus intervalos e
suas margens de erro anunciavam disputa *acirradíssima no *Rio*.*)  Ah!
Quantos equívocos foram cometidos nessa eleição pelos institutos de
pesquisa.  E sempre por culpa do *acaso *ou da* variação amostral.*



Perguntas bem formuladas, objetivas e justas merecem dos métodos científicos
respostas não menos simples ou diretas. Merecem, enfim, ser respondidas!



(*) Curiosamente, por sinal, as margens de erro têm sido quase que
invariavelmente iguais a 2%, para todos os tamanhos de amostra nas pesquisas
de intenção de voto e de boca-urna...





Carlos Alberto de Bragança Pereira e Sérgio Wechsler

Professores de Estatística do

Instituto de Matemática e Estatística ? USP