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Re: [ABE-L]: projeto de lei regulamentandop a profissao de estatistico
- Subject: Re: [ABE-L]: projeto de lei regulamentandop a profissao de estatistico
- From: "Luis Paulo Vieira Braga" <lpbraga@im.ufrj.br>
- Date: Sun, 22 Oct 2006 11:55:31 -0300
É sintomático que o tema tenha motivado tantas mensagens para a lista da
ABE. Expõe a fragilidade do mercado de trabalho no Brasil, motivando,
infelizmente, a abordagem meramente corporativa para a questão do exercício
de atividades relacionadas com a estatística. Discussões semelhantes se dão
em outras áreas de caráter interdisciplinar, como a administração e a
informática.
Tudo começou com um alerta sobre a tramitação de um projeto de lei (Pl 7346)
que visa fortalecer e aprimorar a lei no. 4739 de 15-07-1965 e a sua
regulamentação através do decreto 62.497 de 1-04-1968. Vou me ater somente
às questões relativas ao ensino superior, que pareceram ser objeto da
maioria das mensagens. Pela legislação vigente muito do que ocorre nos
departamentos de estatística viola a lei, pois o ensino superior em cursos
de estatística é privativo da carreira de estatístico, basta ler o Art. 12
da regulamentação vigente:
DECRETO n.o 62.497, DE 1.o DE ABRIL DE 1968
Art. 12 - Na administração pública, autárquica, paraestatal e de economia
mista, inclusive bancos de que forem acionistas os Governos Federal,
Estadual ou Municipal, nas empresas privadas e nas empresas sob intervenção
governamental, ou nas concessionárias de serviço público, o provimento ou o
exercício de cargo, função ou emprego de assessoramento, chefia ou direção
de órgão, serviço, seção, turma, núcleo ou setor de Estatística, bem como o
magistério das disciplinas de Estatística, constante dos currículos dos
cursos dessa natureza, em estabelecimentos oficiais ou reconhecidos,
requerem como condição essencial, que o interessado apresente a carteira
profissional de Estatístico.
(fonte http://www.confe.com.br/pag-002.htm)
Ocorre que com o fortalecimento da pós-graduação no Brasil, os corpos
docentes dos cursos de pós-graduação em estatística passaram a incluir em
seus quadros - engenheiros, psicólogos, arquitetos, médicos, e outras
carreiras, desde que tivessem se doutorado em uma área afim ou específica da
estatística. A influência da pós-graduação, principalmente, nas IFES e nas
IEES, cresceu a tal ponto, que as graduações passaram cada vez mais a serem
tuteladas pelo ponto de vista da pós. Não é por acaso, que uma das mensagens
enviadas para o forum da ABE, é de alguém quem foi buscar fora do país
melhores oportunidades de trabalho, e advoga uma restrição maior ainda para
alguém exercer a profissão de estatístico (dentro ou fora da universidade) -
a de ter pós-graduação. Segundo ele, os cursos de bacharelado no Brasil
formam na media (sem trocadilho) um bacharel em estatistica, que é no
maximo um imputador/depurador/organizador de dados. Mais ou menos na mesma
linha outra mensagem defende o médico estatístico, porque o mesmo teria
feito uma pós-graduação em bioestatística. Curiosamente, esta pós-graduação
não figura dentre os cursos de pós-graduação em estatística reconhecidos
pela CAPES, cujos critérios renovados foram divulgados recentemente neste
forum.
Portanto, em oposição à investida do conselho federal de estatística, que
pretende fortalecer sua posição no cenário nacional através de uma lei que
se faça cumprir efetivamente, erige-se a reação de algumas lideranças da pós-
graduação, que vislumbram a certificação do profissional em estatística pela
via da pós. Ambas as abordagens são corporativistas e passam ao largo do
problema da formação profissional em caráter amplo - função pública, ética
profissional e defesa dos valores nacionais. Tão em desuso nos tempos atuais
para além da política, em que não se precisam sequer justificar os meios
pelos fins, porque não há mais fins, mas somente meios para alcançar ganhos
e privilégios.
Encerro relatando uma conversa com um diretor de uma famosa consultora
multinacional que havia resolvido os problemas com os conselhos regionais de
administração e contabilidade, guardando em um armário junto com as
vassouras alguns profissionais com as carteirinhas em dia, para que, no caso
de ser necessário, eles atestarem que os sistemas administrativos e
contábeis desenvolvidos por matemáticos, engenheiros, economistas e outros
foram supervisionados pelos mesmos.
Enquanto de um lado houver uma tarefa importante a ser realizada, e de outro
houver alguém capaz de realizá-la eficientemente, não haverá conselho
regional ou comitê de pós-graduação capaz de impedir que os dois lados se
encontrem. Somente num país burro como o nosso, que prefere destruir PIB em
nome dos privilégios, é que ainda se tenta impedir este encontro.
Prof. Luis Paulo
DME
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21945-970 Rio de Janeiro, RJ
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