Caros Redistas,
Permitam-se traçar aqui alguns pontos sobre o estatístico que mais admiro.
Maurice Bartlett nasceu em 1910 em Londres e - no meu entender-, foi um
dos maiores estatísticos do Século XX. É o estatístico que mais admiro
- principalmente pelo seu lado humano -, apesar de ter convivido muito
de perto, entre setembro de 1979 e dezembro de 1982, com nomes
tão famosos quanto ele, como Frank Yates, John Nelder, David Cox,
Egon Pearson, Maurice Kendall, Henry Daniels, entre outros. Os ingleses
(de um modo geral) são sarcásticos e não aprecio muito esse estilo.
Bartlett foi aluno de pós-graduação de John Wishart, logo após ele ter
publicado a sua distribuição, que o influenciou a trabalhar na análise
multivariada. Bartlett foi, também, aluno de Paul Dirac, mas
foi mais influenciado por Fisher e Haldane. Aos 23 anos, em 1933, ele
(juntamente com Egon Pearson) criaram o Departamento de Estatística
do University College, Londres.
Os seus três papers mais importantes sobre informação e suficiência
foram publicados em 1936 e 1937. Bartlett, também, publicou, entre
1953 e1955, três artigos (que continuam a produzir grande impacto
nos dias de hoje) em aproximação de intervalos de confiança,
onde ele apresenta a idéia de um método geral para calcular os cumulantes
do estimador de máxima verossimilhança e a fundamentação teórica
das famosas identidades de Bartlett. São muito importantes seus
trabalhos em epidemiologia, processos estocásticos e séries temporais.
Tive três contactos com Bartlett, no máximo de meia hora cada, entre
março e julho de 1982. Bartlett foi meu examinador externo e achou
interessante eu ter apresentado (na minha tese) uma correção
para o teste de homogeneidade de variâncias em populações normais que
era superior a correção dele de 1937. Entretanto, eu disse que a minha
correção dava um pouco mais de trabalho para ser calculada, porque a
natureza não dava nada de graça a ninguém!
Depois que defendi minha tese - na última vez que o vi em novembro de
1982 - ele me perguntou se eu iria continuar a trabalhar na área de correções
de Bartlett quando voltasse para o Brasil, pois ele achava que aqui eu
encontraria coisas mais interessantes para fazer.
Convidei Bartlett em duas ocasiões para vir aos SINAPEs de 1984
e 1986 e ele me escrevia delicadamente que não era viável viajar
para tão longe. No seu aniversário de 90 anos mandei um postal de Recife
para ele.
Maurice Bartlett morreu em Exmouth (Devon) aos 92 anos, em 2002, permanecendo
até seus últimos dias sempre interessado na Estatística.