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Deus, Bayes e muita, muita fé



Ao ler o livro "Deus, um Delírio" do biólogo evolucionista (e ateu)
Richard Dawkins (professor da Universidade de Oxford), eu me deparei com
algo que talvez seja do interesse dos colegas bayesianos e também dos
mais sensatos. A última seção do capítulo 3, destinado a refutar
argumentos que já foram lançados para provar a existência de Deus, é
intitulada "Argumentos Bayesianos". O autor inicia essa seção com a
seguinte afirmação: 

"Acho que a tentativa mais estranha de tese sobre a existência de Deus
que já vi é o argumento bayesiano." 

Esse argumento foi apresentado por Stephen Unwin no livro "The
Probability of God: a Simple Calculation that Proves the Ultimate
Truth". 

Escreve Dawkins sobre o Teorema de Bayes usado por Unwin: 

"Trata-se de um mecanismo matemático para combinar muitas estimativas de
probabilidades e chegar a um veredicto final, que possui sua própria
estimativa de probabilidade. Mas é óbvio que essa estimativa final não
pode ser melhor do que os números originais que foram fatorados. Esses
números normalmente são resultado de um juízo subjetivo, com todas as
dúvidas inevitáveis. O princípio GIGO (Garbage In, Garbage Out -- Entra
Lixo, Sai Lixo) é aplicável aqui -- e, no caso do exemplo de Deus usado
por Unwin, aplicável é um termo leve demais."

Mais:

"Unwin é um consultor de risco apaixonado pela inferência bayesiana e
que milita contra métodos estatísticos rivais. Ele ilustra o Teorema de
Bayes não usando um assassinato, mas a maior prova de todas, a
existência de Deus. (...) O problema é que (repetindo) os seis pesos não
são quantidades mensuradas, mas simplesmente juízos particulares de
Stephen Unwin, transformados em números só para se encaixar no
exercício." 

Unwin encontra que, com probabilidade 67%, Deus existe. Escreve Dawkins:
"Unwin decide então que seu veredicto bayesiano de 67% não é alto o
suficiente e toma a bizarra decisão de aumentá-lo para 95% com uma
injeção emergencial de `fé'. Parece piada, mas é assim mesmo que ele
procede."

Mais adiante, o autor evolucionista escreve: "Mas os argumentos que ele
admite em seu portal bayesiano são, parece-me, tão fracos quanto. Sem
contar que os valores de probabilidade que eu determinaria para eles
seriam diferentes, e aliás, quem é que está interessado em juízos
subjetivos?" 

A seção mencionada se encontra nas páginas 148 a 153 do livro "Deus, um
Delírio" (tradução de The God Delusion), Companhia das Letras, 2007.  

Saudações, a todos (bayesianos ou não, ateus ou não). 

FC

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Francisco Cribari-Neto               voice: +55-81-21267425
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    Bayes was a Bayesian, albeit a reluctant one. --Yudi Pawitan
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