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Re: [ABE-L]: Deus, Bayes e muita, muita fé
- Subject: Re: [ABE-L]: Deus, Bayes e muita, muita fé
- From: Jose Carvalho <carvalho@statistika.com.br>
- Date: Sun, 2 Sep 2007 21:21:00 -0300
Recebi este livro de presente (original), há algum tempo. Li-o de uma só
feita, tanto me diverti e me ilustrei. O prazer veio, em boa parte, da
linguagem direta, irônica muitas vezes, do autor, ao tratar questões
religiosas e outras nem tão religiosas assim, como muitas passagens da bíblia
e fatos históricos. Ateus são discriminados, pois a liberdade religiosa,
quase sempre, é a liberdade de escolher a religião, alguma religião. É
preciso coragem, em muitos ambientes, para se declarar ateu. Nos EUA, então,
isso é verdade em "quase toda parte" (exceto em um conjunto de medida nula).
Recomendo a leitura. Para ateus e não ateus. É leitura agradável, instigante,
qualquer coisa; menos maçante.
Quanto à referência à inferência Bayesiana, não vejo que Dawkins tenha feito
alguma crítica ao método Bayesiano, neste caso. A crítica é ao argumento
desse Unwin, mal usando Bayes. Ou alguém aceita um argumento tão mal feito?
Mas Dawkins dá um pequeno escorregão - " e aliás, quem é que está interessado
em juízos subjetivos?" Depende, não é? Depende de contexto, claro. O Unwin,
este ganhou o descrédito com o argumento tal como relata Dawkins.
Aliás, deixem-me engrossar. "Delusion" não é delírio. Erro do tradutor. Vejam:
Delusion \De*lu"sion\n. [L. delusio, fr. deludere. See
Delude.] The act of deluding; deception; a misleading of the mind.
--Pope.
[1913 Webster]
The state of being deluded or misled.
[1913 Webster]
Delusion é mais enganação, mesmo.
Tenho um livro de título: Extraordinary Popular Delusions
and the Madness of Crowds (de Charles McKay). É neste sentido que Dawkins usa
o termo. E eu assino embaixo.
On Sunday 02 September 2007 18:42:14 Francisco Cribari wrote:
> Ao ler o livro "Deus, um Delírio" do biólogo evolucionista (e ateu)
> Richard Dawkins (professor da Universidade de Oxford), eu me deparei com
> algo que talvez seja do interesse dos colegas bayesianos e também dos
> mais sensatos. A última seção do capítulo 3, destinado a refutar
> argumentos que já foram lançados para provar a existência de Deus, é
> intitulada "Argumentos Bayesianos". O autor inicia essa seção com a
> seguinte afirmação:
>
> "Acho que a tentativa mais estranha de tese sobre a existência de Deus
> que já vi é o argumento bayesiano."
>
> Esse argumento foi apresentado por Stephen Unwin no livro "The
> Probability of God: a Simple Calculation that Proves the Ultimate
> Truth".
>
> Escreve Dawkins sobre o Teorema de Bayes usado por Unwin:
>
> "Trata-se de um mecanismo matemático para combinar muitas estimativas de
> probabilidades e chegar a um veredicto final, que possui sua própria
> estimativa de probabilidade. Mas é óbvio que essa estimativa final não
> pode ser melhor do que os números originais que foram fatorados. Esses
> números normalmente são resultado de um juízo subjetivo, com todas as
> dúvidas inevitáveis. O princípio GIGO (Garbage In, Garbage Out -- Entra
> Lixo, Sai Lixo) é aplicável aqui -- e, no caso do exemplo de Deus usado
> por Unwin, aplicável é um termo leve demais."
>
> Mais:
>
> "Unwin é um consultor de risco apaixonado pela inferência bayesiana e
> que milita contra métodos estatísticos rivais. Ele ilustra o Teorema de
> Bayes não usando um assassinato, mas a maior prova de todas, a
> existência de Deus. (...) O problema é que (repetindo) os seis pesos não
> são quantidades mensuradas, mas simplesmente juízos particulares de
> Stephen Unwin, transformados em números só para se encaixar no
> exercício."
>
> Unwin encontra que, com probabilidade 67%, Deus existe. Escreve Dawkins:
> "Unwin decide então que seu veredicto bayesiano de 67% não é alto o
> suficiente e toma a bizarra decisão de aumentá-lo para 95% com uma
> injeção emergencial de `fé'. Parece piada, mas é assim mesmo que ele
> procede."
>
> Mais adiante, o autor evolucionista escreve: "Mas os argumentos que ele
> admite em seu portal bayesiano são, parece-me, tão fracos quanto. Sem
> contar que os valores de probabilidade que eu determinaria para eles
> seriam diferentes, e aliás, quem é que está interessado em juízos
> subjetivos?"
>
> A seção mencionada se encontra nas páginas 148 a 153 do livro "Deus, um
> Delírio" (tradução de The God Delusion), Companhia das Letras, 2007.
>
> Saudações, a todos (bayesianos ou não, ateus ou não).
>
> FC
>
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>
> Bayes was a Bayesian, albeit a reluctant one. --Yudi Pawitan
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