Para aqueles que se dedicam à pesquisa estatística é muito desconfortante sabermos que estamos representados no CNPq em quantidade bem inferior aquelas áreas que citei em e-mail anterior. Embora, saibamos, que muitos estatísticos e uns poucos probabilistas atuem em outros CAs mas que assim fazendo desenvolvem mais as outras áreas.
Seguindo o que disse o Vermelho, essa discussão de estudarmos a possibilidade de termos um CA próprio no CNPq é certamente muito mais importante e deve persistir na rede para convergirmos para um patamar aceitável do que ?a disputa terceiro mundista? entre frequentistas e Bayesianos e/ou às assertivas infundadas que circulam na rede afirmando, por exemplo, que a "área X da Estatística não é importante nos dias de hoje".
A Estatística (incluo aqui Probabilidade) e seus métodos são imprescindíveis para o desenvolvimento científico e tecnológico de qualquer País. Isso é verdadeiro. Portanto, não podemos concordar que no Brasil a representatividade dos seus cientistas esteja bem abaixo de várias outras áreas, tais como, ciência social, zootecnia, veterinária, engenharia de produção, e por aí vái.
Saudações,
Gauss Cordeiro
Para: Pedro Luis Nascimento Silva <pedronsilva@gmail.com>
De: Francisco Cribari <cribari@de.ufpe.br>
Data: 27/09/2007 21.11
cc: abe-l <abe-l@ime.usp.br>
Assunto: Re: [ABE-L]: Placar 189 x 42
Caro Pedro,
Concordo com praticamente tudo o que você escreveu, mas gostaria de
discordar, "data venia", da seguinte afirmação: "Pela ampliação da
participação da ABE na definição dos destinos de fundos públicos de
pesquisa na área da Estatística no Brasil." A definição do uso de
recursos do CNPq cabe ao CNPq; idem para a CAPES, FINEP, FAPESP, FAPERJ,
FAPEMIG, FACEPE, etc. Cada agência tem o direito de ter as suas
diretrizes e de estabelecer as sistemáticas de escolha de seus
assessores.
Acho que seria muito complicado envolver as dezenas (centenas?) de
associações científicas no processo de alocação de verbas de
financiamento à pesquisa e à pós-graduação. Há áreas que não contam com
associação científica e há áreas que têm várias (Economia é uma delas).
No que tange à formação de um CA no CNPq para a área de Estatística e
Probabilidade, não creio que seja tarefa fácil. Todavia, se houver o
entendimento de que tal passo é desejável, acho que o caminho seria uma
gestão dos muitos pesquisadores da área (inclusive da Probabilidade)
junto à presidência do CNPq através da ABE.
Para que cheguemos lá, contudo, é necessário que o debate seja
retomado.
Dois aspectos potencialmente daninhos que são citados sobre a criação de
um comitê assessor específico para a nossa área são: (i) haveria maior
latitude para corporativismo; (ii) junto com a Matemática temos mais
força no âmbito do CNPq; sem ela, seríamos pequenos e teríamos menos
cacife de barganha.
Adicionalmente, como a Matemática e a Estatística/Probabilidade são, no
CA-MA, "vasos comunicantes", temos espaço para nos posicionar acima de
certos tetos. Por exemplo, temos mais de 10% dos pesquisadores de nossa
área acima do limite máximo de 10% determinado pelo CNPq (5
pesquisadores 1A para 42 pesquisadores). Isso só é possível porque
estamos juntos com a Matemática; sem essa parceria, teríamos no máximo 4
pesquisadores 1A. Esse é apenas um exemplo.
Um aspecto positivo da criação de novos CAs que é comumente mencionado é
que ela tipicamente vem com um $v_0$, uma dotação "enxoval". No caso em
tela, seria importante que esse $v_0$ fosse, claro, superior à nossa
atual dotação dentro do CA-MA.
Como você e os demais colegas enxergam esses dilemas?
Um abraço.
FC
On Qui, 2007-09-27 at 22:38 +0100, Pedro Luis Nascimento Silva wrote:
> Prezados Gauss, Francisco e Enrico,
>
> Penso que uma das razões para o pequeno tamanho da ABE, em comparação
> com o tamanho muito maior da 'Estatística' no Brasil, tem a ver com
> esta 'opção' que tem sido mantida pela nossa associação no que diz
> respeito à questão da sua inserção nos comitês de pesquisa do CNPq e
> CAPES. Minha opinião pessoal, que expressei no comitê do qual o
> Cribari fala, é de que deveríamos ter como bandeira ou meta um comitê
> específico para cuidar da área de Estatística. Esse é o nome da nossa
> associação, e deveria ser o nome do nosso comitê. Notem que não
> proponho excluir ou separar a probabilidade da estatística, como não
> fazemos em nossa associação.
>
> Muitos pesquisadores em estatística fazem suas carreiras através de
> comitês de outras áreas porque não encontraram ou não teriam espaço
> para reconhecimento de suas contribuições nos comitês dominados por
> pessoas que não os considerariam como pares. Acho que o Enrico tocou
> no ponto chave: muitos de nós não nos sentiríamos entre pares nos
> comitês atuais. Não estão errados os membros dos comitês. O que está
> errado é ter comitês em que os pares não são os responsáveis pelo
> julgamento da contribuição.
>
> Gostaria ainda de salientar que, apesar de importantes como instância
> de valor simbólico para uma comunidade de pesquisa, tais comitês são
> peça pequena num momento em que as agências de fomento não tem como
> suprir todas as necessidades de financiamento das atividades de
> pesquisa e desenvolvimento. Nossa comunidade precisa se organizar para
> disputar com melhores chances de sucesso espaços e recursos que vão
> sendo alocados por outras fontes, e de outras formas que não a
> modalidade das bolsas de produtividade em pesquisa. Há um mundo de
> oportunidades associadas ao desenvolvimento de produtos e processos,
> de pesquisas em grupos onde o saber principal não é o da Estatística,
> mas onde não se faz nada de relevante sem este saber, do qual a
> comunidade dita da Estatística participa de maneira completamente
> desarticulada, sem visão de conjunto, e provavelmente, apenas na base
> do esforço individual.
>
> Pela criação do comitê da Estatística nos órgãos de fomento.
>
> Pela ampliação da participação da ABE na definição dos destinos de
> fundos públicos de pesquisa na área da Estatística no Brasil.
>
> Pela maior articulação da participação dos membros da comunidade em
> projetos e iniciativas caracterizadas por envolverem forte conteúdo de
> Estatística.
>
> Saudações a todos e todas.
>
> Pedrão.
>
>
> Em 27/09/07, Francisco Cribariescreveu: m minicurso de MLG
> Caro Gauss,
>
> Quando eu entrei no CA-MA do CNPq como assessor da área de
> Estatística e
> Probabilidade (em setembro de 2003), essas áreas contavam (se
> lembro
> bem) com 38 bolsas de produtividade em pesquisa. Se estamos
> com 42
> bolsas agora, houve um aumento de cerca de 10% em 4 anos.
> Quando eu
> estava no CA-MA fiquei feliz ao ver alguns pesquisadores
> jovens
> brilhantes ganharem bolsas e fiquei triste ao ver pessoas de
> mérito
> comprovado que não conseguiram entrar no sistema. Da mesma
> forma, fiquei
> feliz ao assistir a promoções de nível altamente meritórias e
> frustrado
> ao notar que pesquisadores muito ativos não conseguiram
> ascender. Essa
> "bipolaridade" marcou o meu mandato no CNPq. Creio que outros
> representantes tenham sentido o mesmo.
>
> A ABE formou uma comissão e a encarregou de discutir a
> possibilidade de
> criação de um CA de Probabilidade e Estatística. Esta comissão
> foi
> formada por mim, pela Eulália e pelo Pedro. As discussões
> foram
> frutíferas, mas foram, tenho que reconhecer, menos conclusivas
> do que
> gostaríamos. A ABE realizou ainda uma consulta junto a
> pesquisadores da
> área sobre três possibilidades: (i) manter o "statu quo"; (ii)
> solicitar
> a criação de um novo CA (para Probabilidade e Estatística);
> (iii)
> solicitar a inclusão de mais um representante no CA passando o
> CA a ter
> um representante para a Estatística e um para a área de
> Probabilidade).
> Não lembro bem o resultado da pesquisa; a Lúcia poderá
> fornecer mais
> informações. Todavia, creio que não houve preferência pela
> criação de CA
> para a área. Essa é uma discussão complexa e que envolve
> vantagens e
> desvantagens em cada esquina. Eu mesmo tenho "mixed feelings"
> sobre cada
> alternativa.
>
> Faço esse histórico para sugerir que a ABE retome a discussão
> e os
> encaminhamentos sobre essa importante questão. Idealmente, a
> discussão
> deveria envolver também os pesquisadores da área de
> Probabilidade.
>
> Um abraço para você.
>
> FC
>
>
>
> On Qui, 2007-09-27 at 12:02 -0300, gausscordeiro wrote:
> > Caros,
> >
> >
> >
> > Há mais de 23 anos, sempre defendi que a Estatística tivesse
> um comitê
> > próprio
> >
> > no CNPq face ao crescimento a passos largos dessa área no
> país.
> >
> >
> >
> > Sem querer polemizar (e para o meu dileto colega Luís Paulo
> não pedir
> > para eu
> >
> > "apontar minha metralhadora mais para cima") gostaria apenas
> de citar
> > um fato
> >
> > que constatei esta semana, ao ministrar u
> na
> > excelente
> >
> > Pós-Graduação em Zootecnia da Universidade Estadual de
> Maringá (nível
> > 6 na Capes).
> >
> >
> >
> > A área de zootecnia no CNPq (4 membros no seu comitê
> assessor próprio
> > mais um suplente)
> >
> > detém cerca de 189 bolsas de produtividade de pesquisa, das
> quais 18
> > estão na
> >
> > Pós-Graduação acima.
> >
> >
> >
> > A nossa área de probabilidade e estatística em todo o país,
> detém
> > somente
> >
> > 42 bolsas de produtividade de pesquisa, ou seja, ínfimo 22%
> do peso
> > da
> >
> > participação da zootecnia. Eu acredito que esta discrepância
> global
> > persista em
> >
> > relação a outras áreas do conhecimento tais como: engenharia
> de
> > produção,
> >
> > economia, veterinária, agronomia etc.
> >
> >
> >
> > Algumas pessoas podem argumentar que existem bolsas de
> pesquisadores
> > que
> >
> > trabalham com estatística em outras áreas. Isso é verdade,
> embora um
> >
> > comitê próprio de probabilidade e estatística, no meu
> entender, seria
> > salutar e
> >
> > imprescindível para agregar os estatísticos e dar o valor
> científico
> > real que a nossa
> >
> > área merece.
> >
> >
> >
> > Tenho um amigo que costuma me dizer que os estatísticos
> adoram atirar
> > nos próprios
> >
> > pés. Eu gostaria de refutar em breve a sua assertiva com
> fatos
> > concretos.
> >
> >
> >
> > Saudações,
> >
> >
> >
> > Gauss Cordeiro
>
> --
> Francisco Cribari-Neto voice: +55-81-21267425
> Departamento de Estatística fax: +55-81-21268422
> Universidade Federal de Pernambuco e-mail:
> cribari@de.ufpe.br
> Recife/PE, 50740-540, Brazil
> http://www.de.ufpe.br/~cribari
>
> "Dear friend, theory is all grey and the golden tree of life
> is green."
>
> --Goethe
>
>
>
>
>
> --
> Pedro Luis do Nascimento Silva
> Southampton Statistical Sciences Research Institute
> University of Southampton
> Highfield
> Southampton, SO17 1BJ, UK
> Tel: 44-23-80597169
> Fax: 44-23-80595763
> Alternate e-mail: pedrolns@soton.ac.uk
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--Goethe