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reflexão



Reflexão

Caros Colegas:

Acompanho com atenção a discussão sobre a criação do comitê de estatística no
CNPq.  Fico sempre com a impressão que não estamos preparados para tal nova
situação.  Em um país como o nosso onde a ciência caminha com dificuldades, as
pessoas ainda pensam em não considerar o trabalho de colaboradores ou assessores
de outras áreas.  Falamos em Annals, Jasa e outros sonhos de nossa carreira. 
Tirando pequenos grupos de colegas que abriram o caminho da JRSS e da
Biometrika, quantos somos os que publicam nos annals da vida?  Creio que poucos
de nós.  Além disso, os que publicam não produzem assim tão regularmente.  Seria
por incompetência?  Não creio nisso!  
Mas minha opinião sobre esse fato não vem ao caso para esta mensagem. 
 
Fazer o sucesso de o comitê depender de tais publicações não é coisa trivial. Se
assim for feito não teremos mesmo o comitê.  Não teríamos o volume necessário de
publicações para tal criação.  

Em minha opinião qualquer trabalho estatístico tem de ser, de alguma forma,
considerado.  O valor dessa consideração é que pode receber pesos diferentes. 
Vejam amigos que até o IMS abriu revistas de aplicações para que pudessem
diferenciar e automaticamente considerar trabalhos aplicados.  Não podemos, nem
devemos desmerecer o trabalho de nossos COLEGAS.  

Sobre o comentário de meu irmão, com respeito à inveja saudável, devo dizer que
essa é a forma de admiração.  Admiração é o que tenho por um Nelson Rodrigues. 
Alem de não ser de minha área de trabalho, nunca chegaria, nem de perto, aonde
chegou.  Mas quando olho o currículo de Jay Kadane, afirmo, com muita
satisfação, ?Invejo aquela ÍNVEJÁVEL produção acadêmica e científica?.  Então,
além de admirar, eu quero acreditar que eu poderia ter conseguido alcançar
aquela sabedoria.  É isso que chamo de inveja necessária e saudável.  Se tiverem
tempo colegas olhem o currículo do Jay e vejam em quantas áreas ele já
trabalhou.  Cada um de nós tem seus heróis, e se não tiver, corre o risco de
produzir muito pouco.  

Minha experiência ao longo de tantos anos é grande, penso eu.  No meu mestrado,
concluído em 1971, forcei a consideração de disciplinas de genética.  Com alguma
discussão os matemáticos da época se renderam sim.  Usar Bayes e verossimilhança
parcial naquela época me abriu caminho nas áreas de genética, toxicologia e
citogenética onde colaboro até hoje.  Mas não sei nada destas áreas para poder
ser considerado pelo comitê de biologia.  Da Bioinformática digo o mesmo, mesmo
sendo diretor do BioInfo da USP.  Imaginem agora a Cirurgia Vascular onde
trabalhei junto ao saudoso Maximiano Albers.  Nosso trabalho de meta análise
foi, de fato, reconhecido pela sociedade americana de cirurgia vascular.  

Minha procura pelos grupos científicos não é por acaso.  Dev Basu me disse
quando terminava meu doutorado que a estatística não existe por si só.  Disse-me
para ser um operário da ciência, pois assim me sentiria mais feliz e iria poder
produzir com criatividade metodologias ?necessárias?. Dennis Lindley ao nos
visitar escreveu em seu relatório (peço sempre aos meus visitantes) para a
FAPESP: Não vi uma Universidade, mas um número considerável de bons Institutos
de Pesquisa (em minha tradução).  Ele ficava preocupado em não ver algum
cientista nos seus seminários.   Levei Dennis para conhecer os diversos grupos
de pesquisa com que eu trabalhava na época.  Disse-me que a carreira dele foi
também fruto do que assistiu em diversos seminários de outras áreas.  Seu
trabalho em Direito é bastante considerado em Ciência Forense.  

Para finalizar gostaria de fazer dois desafios aos colegas: 

1.	Pensem em um comitê de quatro estatísticos apenas.  Quantos comitês
diferentes e apropriados você conseguiria formar com membros de nosso grupo?
2.	Não seria mais fácil e razoável lutarmos para a inclusão de dois membros (um
probabilista e um estatístico) no comitê de matemática até formarmos nossa
consciência sobre um comitê de estatística? 
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Não! Seria a reposta que eu daria a pergunta ?se poderíamos deixar de usar o
inglês nos anais de congressos?!

Carlos Alberto de Braganca Pereira <cpereira@ime.usp.br>