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Re: [ABE-L]: reflexão



Tenho acompanhado esta discussão e penso em não meter-me nela. Muito do que 
penso já foi dito. E também foi dito muito com que não concordo. A discussão 
tem sido boa e tem me trazido informação, no sentido de ajudar a formar minha 
opinião.

Mas este texto do Carlinhos levou-me ao entusiasmo. Se eu tivesse algo a 
dizer, apenas serviria para dizer o mesmo de outra maneira. Mas qual! Até a 
forma é brilhante. 

Mudando de assunto - vi uma mensagem de um colega dizendo que probabilidade 
deveria ficar com a estatística. Ah, é? E por que? Estatísticos, como tais, 
criam especialmente em probabilidades? Probabilistas, como tais, criam de 
modo exclusivo em estatística? Claro que não. Físicos tembém usam, e 
desenvolvem, probabilidades. Nossos amigos engenheiros eletricistas dão de 10 
a 0 na gente, trabalhando com probabilidades. Ora, teoria de probabilidades 
é "apenas" matemática. Como são análise real, topologia (ainda existe?), 
álgebra e o que mais há no vasto campo conhecido como matemática. Mas se se 
abrir o IEEE Transactions em Teoria de Controle, muitos de nós ficarão 
surpresos com o que se faz, usando-se matemática  (otimização), processos 
estocásticos e cálculo de probabilidades em geral. Vem-me à mente a figura 
gigantesca do baixinho Oscar Kempthorne, dizendo, em seu jeito sempre animado 
e contundente: "Diabo, o filtro de Kalman deveria ter sido inventado por um 
de nós" (leia-se: estatístico)!!!
Em suma: teoria de probabilidades é matemática. Estatística não é matemática. 

Bem, não se deixe que este parágrafo confunda o enorme agradecimento ao 
Carlinhos, por sua contribuição a esta discussão. Gostei muito. É isso aí. 
Carlinhos: gigante e baixinho, como seu amigo Oscar?

Zé Carvalho

On Sunday 27 April 2008 01:07:39 Carlos Alberto de Braganca Pereira wrote:
> Reflexão
>
> Caros Colegas:
>
> Acompanho com atenção a discussão sobre a criação do comitê de estatística
> no CNPq.  Fico sempre com a impressão que não estamos preparados para tal
> nova situação.  Em um país como o nosso onde a ciência caminha com
> dificuldades, as pessoas ainda pensam em não considerar o trabalho de
> colaboradores ou assessores de outras áreas.  Falamos em Annals, Jasa e
> outros sonhos de nossa carreira. Tirando pequenos grupos de colegas que
> abriram o caminho da JRSS e da Biometrika, quantos somos os que publicam
> nos annals da vida?  Creio que poucos de nós.  Além disso, os que publicam
> não produzem assim tão regularmente.  Seria por incompetência?  Não creio
> nisso!
> Mas minha opinião sobre esse fato não vem ao caso para esta mensagem.
>
> Fazer o sucesso de o comitê depender de tais publicações não é coisa
> trivial. Se assim for feito não teremos mesmo o comitê.  Não teríamos o
> volume necessário de publicações para tal criação.
>
> Em minha opinião qualquer trabalho estatístico tem de ser, de alguma forma,
> considerado.  O valor dessa consideração é que pode receber pesos
> diferentes. Vejam amigos que até o IMS abriu revistas de aplicações para
> que pudessem diferenciar e automaticamente considerar trabalhos aplicados. 
> Não podemos, nem devemos desmerecer o trabalho de nossos COLEGAS.
>
> Sobre o comentário de meu irmão, com respeito à inveja saudável, devo dizer
> que essa é a forma de admiração.  Admiração é o que tenho por um Nelson
> Rodrigues. Alem de não ser de minha área de trabalho, nunca chegaria, nem
> de perto, aonde chegou.  Mas quando olho o currículo de Jay Kadane, afirmo,
> com muita satisfação, “Invejo aquela ÍNVEJÁVEL produção acadêmica e
> científica”.  Então, além de admirar, eu quero acreditar que eu poderia ter
> conseguido alcançar aquela sabedoria.  É isso que chamo de inveja
> necessária e saudável.  Se tiverem tempo colegas olhem o currículo do Jay e
> vejam em quantas áreas ele já trabalhou.  Cada um de nós tem seus heróis, e
> se não tiver, corre o risco de produzir muito pouco.
>
> Minha experiência ao longo de tantos anos é grande, penso eu.  No meu
> mestrado, concluído em 1971, forcei a consideração de disciplinas de
> genética.  Com alguma discussão os matemáticos da época se renderam sim. 
> Usar Bayes e verossimilhança parcial naquela época me abriu caminho nas
> áreas de genética, toxicologia e citogenética onde colaboro até hoje.  Mas
> não sei nada destas áreas para poder ser considerado pelo comitê de
> biologia.  Da Bioinformática digo o mesmo, mesmo sendo diretor do BioInfo
> da USP.  Imaginem agora a Cirurgia Vascular onde trabalhei junto ao saudoso
> Maximiano Albers.  Nosso trabalho de meta análise foi, de fato, reconhecido
> pela sociedade americana de cirurgia vascular.
>
> Minha procura pelos grupos científicos não é por acaso.  Dev Basu me disse
> quando terminava meu doutorado que a estatística não existe por si só. 
> Disse-me para ser um operário da ciência, pois assim me sentiria mais feliz
> e iria poder produzir com criatividade metodologias “necessárias”. Dennis
> Lindley ao nos visitar escreveu em seu relatório (peço sempre aos meus
> visitantes) para a FAPESP: Não vi uma Universidade, mas um número
> considerável de bons Institutos de Pesquisa (em minha tradução).  Ele
> ficava preocupado em não ver algum cientista nos seus seminários.   Levei
> Dennis para conhecer os diversos grupos de pesquisa com que eu trabalhava
> na época.  Disse-me que a carreira dele foi também fruto do que assistiu em
> diversos seminários de outras áreas.  Seu trabalho em Direito é bastante
> considerado em Ciência Forense.
>
> Para finalizar gostaria de fazer dois desafios aos colegas:
>
> 1.	Pensem em um comitê de quatro estatísticos apenas.  Quantos comitês
> diferentes e apropriados você conseguiria formar com membros de nosso
> grupo? 2.	Não seria mais fácil e razoável lutarmos para a inclusão de dois
> membros (um probabilista e um estatístico) no comitê de matemática até
> formarmos nossa consciência sobre um comitê de estatística?
>
> Não! Seria a reposta que eu daria a pergunta “se poderíamos deixar de usar
> o inglês nos anais de congressos”!
>
> Carlos Alberto de Braganca Pereira <cpereira@ime.usp.br>