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índices de muito impacto
- Subject: índices de muito impacto
- From: "Luis Paulo Vieira Braga" <lpbraga@im.ufrj.br>
- Date: Sun, 22 Mar 2009 19:29:11 -0300
Não à hierarquia
Índice para classificar revistas de humanidades provoca rebelião de editores
Fabrício Marques
Edição Impressa 157 - Março 2009
Pesquisa FAPESP -
Editores de revistas acadêmicas de disciplinas ligadas às humanidades
insurgiram-se contra uma tentativa de enquadrá-los em critérios consagrados
na avaliação das ciências e engenharias. Um manifesto conjunto assinado
pelos responsáveis por 61 periódicos de história e de filosofia da ciência,
entre outras disciplinas, propôs um boicote ao European Reference Index for
the Humanities (ERIH), um índice criado pela European Science Foundation que
pretendia graduar cerca de 12 mil publicações do velho continente em três
categorias, de acordo com seu impacto e disseminação: A (alto nível
internacional), B (nível internacional padrão) e C (publicações de
importância regional).
Segundo um dos signatários, Michael Lynch, da revista Social Studies of
Sciences, a adoção do índice é imprópria por dois grandes motivos. Um deles
seria a baixa representatividade dos quatro acadêmicos que seriam
encarregados de classificar os jornais. ?Não foi consultada nenhuma das
organizações disciplinares que atualmente representam nosso campo, tais como
a European Association for the History of Medicine and Health, a Philosophy
of Science Association ou a Society for Social Studies of Science?, afirma
Lynch.
Mas a grande questão tem a ver com o estrago que a iniciativa teria, segundo
os signatários, sobre a diversidade das revistas científicas
europeias. ?Nossos periódicos são diversos, heterogêneos e distintos. Alguns
se dirigem a conjuntos amplos, gerais e internacionais de leitores, outros
são mais especializados em seus conteúdos e audiência implícita. O ERIH
confunde internacionalidade com qualidade de uma forma particularmente
prejudicial a periódicos especializados e publicados em outras línguas que
não o inglês?, diz o editorial conjunto assinado pelos editores das 61
publicações. ?Iniciativas como o ERIH podem tornar-se profecias
autorrealizáveis. Se forem adotadas como base para as decisões de agên¬cias
de financiamento, muitos pesquisadores concluirão ter pouca escolha e
limitar suas publicações a periódicos da primeira divisão. Existirão menos
periódicos, com muito menor diversidade, empobrecendo assim nossas
disciplinas.? Segundo Robin Osborne, professor de história da antiguidade da
Universidade de Cambridge, o modelo do ERIH prejudicaria também os jornais
de nível A, ao inundar as mesas de seus editores com um número
desproporcional de submissões de artigos. ?A sobrecarga de artigos tornaria
mais difícil o trabalho de submetê-los a uma adequada análise por pares?,
afirma. Pressionada, a European Science Foundation viu-se forçada a recuar.
No final de janeiro, anunciou que abria a classificação em três níveis para
desenvolver um modelo mais flexível. Michael Worton, membro do comitê
diretor do ERIH e vice-reitor da University College London, disse que a
iniciativa está sendo alvo de um grande mal-entendido. ?Não havia a intenção
de criar uma hierarquia de jornais, mas apenas distinguir as grandes
características. Essa mudança tornará as coisas mais claras?, afirmou.
Segundo ele, o fato de um periódico ter alcance apenas regional não implica
um juízo de valor sobre a qualidade do que divulga, uma vez que há boa
pesquisa divulgada regionalmente. Worton defende o ERIH como uma forma de
mensurar a diversidade do conjunto das pesquisas no campo das humanidades,
fragmentado pela publicação em várias línguas e mais de 12 mil periódicos e
pela adoção de metodologias e práticas variadas. ?O objetivo do ERIH é
aumentar a visibilidade do trabalho dos pesquisadores europeus?, afirma.
Boicote retórico - Os editores exigiam, no manifesto, que suas publicações
fossem retiradas das listas do ERIH. Trata-se de um boicote apenas retórico.
Como os periódicos são de domínio público, o máximo que os signatários
poderiam fazer seria não cooperar com o projeto, recusando-se a prestar
informações complementares. O recuo da European Science Foundation se
explica não apenas pela ameaça de boicote, mas pelo golpe que o manifesto
pode ter produzido na credibilidade do índice. ?As agências financiadoras
não vão colocar em risco a relação de confiança que têm com a comunidade
acadêmica para adotar um índice polêmico?, disse John MacColl, da
Universidade St. Andrews, na Escócia, membro de uma organização de pesquisa
voltada para conectar bibliotecas e reduzir os custos da informação
acadêmica, a OCLC. Segundo MacColl, também há o temor de que o imbróglio do
ERIH contamine o debate sobre as mudanças previstas na avaliação das
universidades do Reino Unido, que em 2011 adotará um conjunto maior de
critérios bibliométricos, em substituição ao esquema atual, no qual o
Research Assessment Exercise (RAE) se baseia preponderantemente em revisão
por pares (ver Pesquisa FAPESP nº 156).
A resistência europeia à adoção de critérios bibliométricos nas humanidades
não chega a ser surpreendente. Em muitos países do continente os
pesquisadores preservam o costume de publicar seus textos em livros e anais,
não em revistas acadêmicas ? algo que também acontece no Brasil. ?Nos
Estados Unidos essa resistência é muito menor entre os pesquisadores de
disciplinas como a sociologia e a antropologia, que publicam bastante em
revistas científicas?, diz Rogério Meneghini, coordenador científico da
biblioteca eletrônica SciELO Brasil e especialista em cienciometria,
disciplina que busca gerar informações para estimular a superação dos
desafios da ciência. ?Entre os pesquisadores das humanidades da Europa, é
persistente uma visão segundo a qual os critérios bibliométricos, como
números de artigos e citações, não são seguros para atestar a qualidade de
sua produção acadêmica?, afirma. O texto assinado pelos 61 editores deixa
transparecer essa desconfiança, ao falar de uma ?contabilidade supostamente
precisa? ou dizer que ?o ERIH baseia-se numa incompreensão fundamental da
conduta e da publicação da pesquisa nas humanidades em geral?.
Prof. Luis Paulo
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