[Prévia] [Próxima] [Prévia por assunto] [Próxima por assunto]
[Índice cronológico] [Índice de assunto]

índices de muito impacto



Não à hierarquia
Índice para classificar revistas de humanidades provoca rebelião de editores
Fabrício Marques
Edição Impressa 157 - Março 2009
Pesquisa FAPESP -  


Editores de revistas acadêmicas de disciplinas ligadas às humanidades 
insurgiram-se contra uma tentativa de enquadrá-los em critérios consagrados 
na avaliação das ciências e engenharias. Um manifesto conjunto assinado 
pelos responsáveis por 61 periódicos de história e de filosofia da ciência, 
entre outras disciplinas, propôs um boicote ao European Reference Index for 
the Humanities (ERIH), um índice criado pela European Science Foundation que 
pretendia graduar cerca de 12 mil publicações do velho continente em três 
categorias, de acordo com seu impacto e disseminação: A (alto nível 
internacional), B (nível internacional padrão) e C (publicações de 
importância regional).  

Segundo um dos signatários, Michael Lynch, da revista Social Studies of 
Sciences, a adoção do índice é imprópria por dois grandes motivos. Um deles 
seria a baixa representatividade dos quatro acadêmicos que seriam 
encarregados de classificar os jornais. ?Não foi consultada nenhuma das 
organizações disciplinares que atualmente representam nosso campo, tais como 
a European Association for the History of Medicine and Health, a Philosophy 
of Science Association ou a Society for Social Studies of Science?, afirma 
Lynch.  

Mas a grande questão tem a ver com o estrago que a iniciativa teria, segundo 
os signatários, sobre a diversidade das revistas científicas 
europeias. ?Nossos periódicos são diversos, heterogêneos e distintos. Alguns 
se dirigem a conjuntos amplos, gerais e internacionais de leitores, outros 
são mais especializados em seus conteúdos e audiência implícita. O ERIH 
confunde internacionalidade com qualidade de uma forma particularmente 
prejudicial a periódicos especializados e publicados em outras línguas que 
não o inglês?, diz o editorial conjunto assinado pelos editores das 61 
publicações. ?Iniciativas como o ERIH podem tornar-se profecias 
autorrealizáveis. Se forem adotadas como base para as decisões de agên¬cias 
de financiamento, muitos pesquisadores concluirão ter pouca escolha e 
limitar suas publicações a periódicos da primeira divisão. Existirão menos 
periódicos, com muito menor diversidade, empobrecendo assim nossas 
disciplinas.? Segundo Robin Osborne, professor de história da antiguidade da 
Universidade de Cambridge, o modelo do ERIH prejudicaria também os jornais 
de nível A, ao inundar as mesas de seus editores com um número 
desproporcional de submissões de artigos. ?A sobrecarga de artigos tornaria 
mais difícil o trabalho de submetê-los a uma adequada análise por pares?, 
afirma. Pressionada, a European Science Foundation viu-se forçada a recuar.  
No final de janeiro, anunciou que abria a classificação em três níveis para 
desenvolver um modelo mais flexível. Michael Worton, membro do comitê 
diretor do ERIH e vice-reitor da University College London, disse que a 
iniciativa está sendo alvo de um grande mal-entendido. ?Não havia a intenção 
de criar uma hierarquia de jornais, mas apenas distinguir as grandes 
características. Essa mudança tornará as coisas mais claras?, afirmou. 
Segundo ele, o fato de um periódico ter alcance apenas regional não implica 
um juízo de valor sobre a qualidade do que divulga, uma vez que há boa 
pesquisa divulgada regionalmente. Worton defende o ERIH como uma forma de 
mensurar a diversidade do conjunto das pesquisas no campo das humanidades, 
fragmentado pela publicação em várias línguas e mais de 12 mil periódicos e 
pela adoção de metodologias e práticas variadas. ?O objetivo do ERIH é 
aumentar a visibilidade do trabalho dos pesquisadores europeus?, afirma. 
Boicote retórico - Os editores exigiam, no manifesto, que suas publicações 
fossem retiradas das listas do ERIH. Trata-se de um boicote apenas retórico. 
Como os periódicos são de domínio público, o máximo que os signatários 
poderiam fazer seria não cooperar com o projeto, recusando-se a prestar 
informações complementares. O recuo da European Science Foundation se 
explica não apenas pela ameaça de boicote, mas pelo golpe que o manifesto 
pode ter produzido na credibilidade do índice. ?As agências financiadoras 
não vão colocar em risco a relação de confiança que têm com a comunidade 
acadêmica para adotar um índice polêmico?, disse John MacColl, da 
Universidade St. Andrews, na Escócia, membro de uma organização de pesquisa 
voltada para conectar bibliotecas e reduzir os custos da informação 
acadêmica, a OCLC. Segundo MacColl, também há o temor de que o imbróglio do 
ERIH contamine o debate sobre as mudanças previstas na avaliação das 
universidades do Reino Unido, que em 2011 adotará um conjunto maior de 
critérios bibliométricos, em substituição ao esquema atual, no qual o 
Research Assessment Exercise (RAE) se baseia preponderantemente em revisão 
por pares (ver Pesquisa FAPESP nº 156). 

A resistência europeia à adoção de critérios bibliométricos nas humanidades 
não chega a ser surpreendente. Em muitos países do continente os 
pesquisadores preservam o costume de publicar seus textos em livros e anais, 
não em revistas acadêmicas ? algo que também acontece no Brasil. ?Nos 
Estados Unidos essa resistência é muito menor entre os pesquisadores de 
disciplinas como a sociologia e a antropologia, que publicam bastante em 
revistas científicas?, diz Rogério Meneghini, coordenador científico da 
biblioteca eletrônica SciELO Brasil e especialista em cienciometria, 
disciplina que busca gerar informações para estimular a superação dos 
desafios da ciência. ?Entre os pesquisadores das humanidades da Europa, é 
persistente uma visão segundo a qual os critérios bibliométricos, como 
números de artigos e citações, não são seguros para atestar a qualidade de 
sua produção acadêmica?, afirma. O texto assinado pelos 61 editores deixa 
transparecer essa desconfiança, ao falar de uma ?contabilidade supostamente 
precisa? ou dizer que ?o ERIH baseia-se numa incompreensão fundamental da 
conduta e da publicação da pesquisa nas humanidades em geral?. 



Prof. Luis Paulo
C.P. 2386
20001-970 Rio de Janeiro, RJ

outros e-mails

lpbraga@gbl.com.br
bragaprof@gmail.com


nosso BLOG
http://observatoriodauniversidade.blog.br