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Fwd: Norberto Dachs (Texto do Flávio Bartmann)



Caros Redistas,

Acho importante todos lerem o texto abaixo do FlÃvio Bartmann sobre a vida

acadÃmica (com detalhes) do Norberto Dachs. Observem com um bom professor pode

influenciar jovens engenheiros para a EstatÃstica. Ele me pediu para corrigir

o portuguÃs, mas isso ficarà (para mim e Elisete) quando da publicaÃÃo final

no Boletim da ABE.

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Cordiais SaudaÃÃes,

Gauss


Em 27/03/2009 17:47, Flavio Bartmann < fcbartmann@hotmail.com > escreveu:


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Gauss,

Soube indiretamente que voce esta organizando/acumulando uma memoria em homenagem ao Norberto, uma otima ideia.ÂEu gostaria de contribuir. Eu escrevi o texto abaixo. Se voce julgar o texto aceitavel em principio, eu te pediria alguns favores, antes de escrever o texto final:

1. Editar o meu portugues. Como nao escrevo na lingua faz mais de 20 anos, o resultado e horrivel.

2. Colocar os acentos e cedilhas no lugar certo.

3. Fazer sugestoes e comentarios.


No mais a vida continua. Estou de volta aos Estados Unidos fazem 12 anos agora. Passei 11 antes em Londres. O tempo passa. Meus garotos tem 16 anos (o Max) e 14 (a Isabel). Ambos Londrinos.

E como vao as cervejas com os camaroes fritos na beira da praia?


Um grande abraco


Bartmann




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Norberto Dachs

Norberto Dachs tinha uma enorme capacidade de trabalho. Desde 1973 quando ele voltou para o ITA depois de concluir o seu doutorado em Berkeley, ele trabalhou em varias areas, em varias instituicoes e em um numero muito grande de projetos. Comecou ministrando cursos em Analise Exploratoria de Dados, Simulacao, Estruturas Discretas e com um seminario em Metodos Robustos (o Masao Sakai e eu eramos os alunos). Dirigiu ainda o Laboratorio de Processamento de Dados (de fato o Departamento de Computacao). Apesar de ter ficado somente dois anos no ITA, fez com que varios dos alunos (incluindo o Sebastiao de Amorim, Kaizo Beltrao, Luiz Hotta e eu)Â fossem fazer o mestrado no IMPA, doutorado no exterior and seguir carreiras academicas.

Ficou um ano no IBGE antes de mudar para a UNICAMP em 1976 onde iria ficar treze anos envolvido no ensino, graduacao e pos-graduacao (na verdade foi o Norberto que criou o programa de Mestrado do IMECC), na criacao do laboartorio de estatistica, em pesquisa, na administracao, em projetos de de desenvolvimento de software. Orientou mais de dez teses de mestrado na Unicamp.Colaborou com dezenas de pesquisadores nas areas de medicina, saude publica, educacao, engenharia e agronomia. Foi para Washington em 1989 para trabalhar na Organizacao Panamericana de Saude. Trabalhou la quatorze anos em projetos de saude publica e. epidemiologia. Voltou para Unicamp em 2003.

Ao longo de 36 anos Norberto foi meu professor, orientador e colega. Conheci o Norberto, por recomendacao do âvelho guerreiroâ Djalma Galvao Carneiro Pessoa, ainda em 1973, logo depois da sua volta da California. Meu primeiro trabalho com ele foi no seminario que ele deu sobre metodos robustos mencionado acima. Depois ele foi o orientador do meu Trabalho de Graduacao no ITA em 1974. Aprendi muito com Norberto nesses dois anos, coisas que ficariam comigo a vida inteira. Dele herdei duas perspectivas fundamentais em relacao a pratica da estatistica como ciencia aplicada: o ceticismo em relacao a modelos parametricos e a importancia dos metodos de analise exploratoria de dados. O Norberto sempre enfatizou as limitacoes dos modelos parametricos, a importancia dos residuos e dos metodos robustos. Era uma perspective particularmente interessante dado que ele era um produto do departamento de estatistica em Berkeley. A segunda influencia fundamental estava relacionada com a necessidade de se entender os aspectos mais importantes do problema antes de se fazer um experiment ou uma analise complicada. Ele era um grande admirador dos metodos (quick and dirty) desenvolvidos por John Tukey. Uma das primeiras coisas que recebi do Norberto foi uma copia do manuscrito do que viria a ser o livro laranja (EDA).

Mas talvez a mais importante influencia que o Norberto teve em mim (e, certamente, em muitos outros) foi a atitude frente ao trabalho do pesquisador e professor universitario. Por um lado, ele foi muito consciente de que nao existe uma formula magica, ideal, para o trabalho intellectual. Sempre teve muita suspeita dos esforcos de se copiar literalmente as estruturas da Europa e dos Estados Unidos. Mas era igualmente critico daqueles que usavam a ârealidade brasileiraâ como justificativa para trabalho de qualidade insatisfatoria. Norberto sempre trabalhou em problemas que eram importantes no contexto social do Brasil e da America Latina. Nunca deu muita bola para politica partidaria. Mas era um intelectual engajado. Tinha uma disciplina muito grande e conseguia produzir muito mesmo quando as condicoes de trabalho eram precarias, os recursos quase inexistentes.. Nunca reclamou. Muitas vezes me disse: âBartmann, a gente faz o que pode, nao aquilo que gostariaâ.

Acima de tudo, o Norberto foi um grande amigo. Aquele que a gente liga a qualquer hora para discutir as frustracoes do dia-a-dia, o progresso no trabalho, as dificuldades nos projetos e na vida em geral, com o papo indo ate tarde da noite, o amigo que faz uma falta enorme depois da partida. Foram centenas de cervejas, a primeira, gelada, na casa dele e da Linda, no H-montao do CTA, quando a Daniela ainda era um bebe, muitas outras no Lamas do Largo do Machado e no Caneco 70 no Leblon, no Giovanetti e no Cleso em Campinas. Foram centenas de conversas, sobre a renuncia do Nixon, a queda inevitavel da ditadura, a lentidao do processo de desenvolvimento, as dificuldades do casamento e da educacao da filha, as relacoes complicadas, o Maverick inconsertavel, Margarita, a menina de Buenos Aires que seria sua companaheira, amiga e mulher por 30 anos, o acidente na Dutra e mais recentemente, por telefone e sem cerveja, sobre o cancer implacavel, Oliver Sacks, Edward Wilson, Rush Limbaugh e Barack Obama.

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