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Re: [ABE-L]: Norberto Dachs (por Djalma Pessoa)



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Corrigindo: ... primeiros estatisticos brasileiros a se doutorar no exterior...

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Em 31/03/2009 17:12, gauss@deinfo.ufrpe.br escreveu:



Caros Redistas,

O Prof. Djama Pessoa escreveu um artigo muito interessante
sobre o Norberto Dachs que serà publicado no prÃximo Boletim
da ABE.

Se alguÃm na rede nÃo conhece o Djalma, ele foi um dos primeiros
brasileiros a se doutorar no exterior, o Primeiro Presidente
da ABE e um dos criadores da nossa associaÃÃo.

Ele me autorizou a circular na rede da ABE o seu texto abaixo,
haja visto que muitos redistas nÃo sendo sÃcios em dia da ABE
nÃo receberÃo o Boletim. Aproveito a oportunidade, para
sugerir a esses redistas que agora, entÃo, se associem a ABE.

SaudaÃÃes,

Gauss



Norberto Dachs (por Djalma Pessoa)


Foi motivo de grande pesar para mim a notÃcia do falecimento do
Norberto. Tinha grande admiraÃÃo e amizade por ele . Conhecemos-nos no
fim da dÃcada de 1960, como alunos do programa de doutorado em
EstatÃstica de Berkeley, onde estava quando ele chegou. Apesar de
sermos oriundos do ITA, onde eu trabalhara no Departamento de
MatemÃtica, nÃo o conhecera por lÃ. Logo estabelecemos uma grande
amizade, alimentada pelo convÃvio diÃrio: morÃvamos na mesma vila da
universidade e tÃnhamos escritÃrios no mesmo velho prÃdio de madeira.

Na locomoÃÃo para universidade fazÃamos revezamento de automÃvel,
parando sempre no mesmo lugar para nos abastecer de doghnuts para o
lanche. As conversas sobre os mais diversos assuntos eram
interminÃveis, e as nossas preferÃncias eram distintas em relaÃÃo ao
Depto. Ele foi TA do Hodges numa disciplina introdutÃria de
NÃo-ParamÃtrica e tinha grande entusiasmo pelo assunto. Defendia que
uma boa forma de introduzir as idÃias estatÃsticas, sem muito us o de
Teoria de Probabilidades, era atravÃs de testes de permutaÃÃo.
Na sua tese de doutorado, comeÃou trabalhando com o Lehmann, de quem foi
grande amigo. Depois, passou a trabalhar sob a orientaÃÃo do Bickel, que
havia sido meu orientador.

Quando retornei ao Brasil, ele ainda permaneceu em Berkeley, e eu
deixei vÃrios pepinos para ele resolver. Cordialidade e generosidade
sempre foram caracterÃsticas suas. Por ocasiÃo de seu retorno ao ITA,
eu jà estava me transferindo para o IMPA. Na mudanÃa, meus filhos
deixaram para a Daniela, filha do Norberto, o cachorrinho deles,
Calunga. Infelizmente, nÃo tive a satisfaÃÃo de ser seu colega de
trabalho. Antes de ele sair do ITA, conseguiu encaminhar vÃrios alunos
para o programa de Mestrado em EstatÃstica no IMPA, que estava se
instalando. Todos tiveram excelente desempenho e foram importantes
para a consolidaÃÃo do progr ama.

Norberto teve participaÃÃo ativa no fortalecimento da EstatÃstica no
Brasil. As discussÃes sobre a criaÃÃo da ABE comeÃaram durante os
ColÃquios Brasileiros de MatemÃtica de PoÃos de Caldas. Lembro-me de
sua preocupaÃÃo de nÃo se criar mais uma instituiÃÃo elitista,
exclusiva de membros da comunidade acadÃmica. Defendia que a ABE
tambÃm atraÃsse a comunidade profissional de EstatÃstica, o que estÃ
ainda por acontecer. Quando estava no ITA, ele apresentou no 1Â
SINAPE, em 1974, o trabalho: "Um sistema iterativo de
anÃlise exploratÃria de dados utilizando computador digital com
unidade exibidora".

A AnÃlise ExploratÃria de Dados era um tema de grande interesse para
ele e posteriormente, jà na Unicamp, escreveu uma apostila sobre o
tema, popular entre os alunos e um marco sobre o assunto no Brasil.

Quando saiu do ITA, mudou-se para o Rio de Ja neiro, onde teve uma
passagem curta pelo IBGE. Foi uma experiÃncia interessante, que merece
ser relatada. O presidente do IBGE na Ãpoca era o Prof. Isaac
Kerstenetsky, que conseguiu o apoio do ministro Reis Veloso para criar
um grupo de elite em computaÃÃo. Foi entÃo criado no IBGE o Instituto
Brasileiro de InformÃtica (IBI) sob a lideranÃa de Luis Carlos Gomes e
Antonio Olinto. AlÃm do Norberto, vÃrios doutores participaram dessa
experiÃncia, entre eles, Marco Antonio Raupp, SÃrgio BraganÃa, Renato
Flores, JoÃo Lauro e LÃlio FacÃ, Nelson do Vale. O Norberto esteve
envolvido na criaÃÃo de um sistema chamado SADE, Sistema de AnÃlise de
Dados EstatÃsticos. Seu entusiasmo pelo projeto era grande.
Sem dÃvida, tinha as qualificaÃÃes desejÃveis para prestar uma grande
contribuiÃÃo: ao lado da formaÃÃo estatÃstica juntava sua grande
experiÃncia na Ãrea de computaà Ão. Infelizmente, quando o projeto jÃ
estava em estÃgio adiantado, por razÃes polÃticas, foi decidida a
compra de um pacote estatÃstico jà pronto. Fui testemunha do
entusiasmo inicial do Norberto e de sua grande decepÃÃo quando o
projeto foi encerrado.

Depois de sua saÃda do IBGE, foi trabalhar no Departamento de
EstatÃstica da Unicamp, onde teve papel fundamental na criaÃÃo do
programa de pÃs-graduaÃÃo em EstatÃstica. Sempre foi um excelente
professor, alÃm de orientar grande nÃmero de dissertaÃÃes de mestrado.
De vez em quando, me convidava para participar da banca de dissertaÃÃo
de algum orientado, e nessas ocasiÃes tÃnhamos a oportunidade de
colocar em dia os assuntos de famÃlia.

Perdemos o contacto depois que ele saiu da Unicamp e foi trabalhar na
OrganizaÃÃo Panamericana de SaÃde, em Washington. A Ãltima vez que nos
encontramos foi no SimpÃsio sobre o Ensino de EstatÃstica e
EstatÃstica no Ensino, realizado no IMPA em julho de 2003. Ele estava
retornando para a Unicamp, depois de longo perÃodo no exterior,
entusiasmado com a perspectiva de se engajar em um projeto de
aplicaÃÃo da EstatÃstica na Ãrea de EducaÃÃo.
Seu falecimento foi nÃo sà uma grande perda para a EstatÃstica no
Brasil como um motivo de grande tristeza para mim.