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Re: [ABE-L]: Banalização da Pós!




Cara Danielle,

Concordo em gênero, número e grau com os pontos colocados
no seu e-mail. Pode-se perceber que você é uma pessoa
inteligente e muito antenada com a estatística.
O que você diz apenas complementa (e muito bem) meu email.

Muito alunos escolhem fazer o mestrado e o doutorado
por não serem absorvidos pelo mercado não-acadêmico que
está muito mais seletivo e exigente. Parece uma ironia
mas é uma verdade!

Fui professor de alguns graduados em estatística
na UFPE há uns 10 anos que, após a conclusão da grduação,
foram logo trabalhar em bancos. Depois não conseguiram
dar conta do recado, ou seja, serem competitivos com outros
profissionais num ambiente de trabalho altamente exigente.
E, então, voltaram para fazer mestrado, por conta da
maior facilidade em entrar num curso de pós-graduação
que (muitas vezes) funciona como todo o serviço público:
de forma bastante ineficiente.

Sei que muitos alunos fazem mestrado ou doutorado por falta
de opção fora da academia e não têm nenhum entusiasmo
pela universidade. Muitos que têm mestrado e doutorado podem
apresentar até grande competitividade nos concursos públicos
das universidades federais, pois a relação candidato/vaga
pode ser muito baixa, sem terem até o mesmo conhecimento
dos bons alunos graduados que estão trabalhando no mercado.

Em suma: nos anos 70 a maioria dos melhores alunos tinha
grande élan pelos cursos de pós-graduação que conseguia
atraí-los;  hoje, somente uma pequena parcela de bons alunos
se entusiasma por esses cursos e alguns deles (menos conceituados)
conseguem atrair muitos alunos ruins e desmotivados para a academia.
Portanto, existe a banalização da pós-graduação bem enfatizada
no meu texto. Que adianta ser um doutor que não publica nada
de qualidade e ensina mal?

Conheço estatísticos que gastaram enre 10 e 13 anos para
concluir um doutorado, fora 3 ou 4 de mestardo, financiados com
salários de universidades federais e contemplados com bolsas
de diferentes agências de fomento. Exemplo clássico de despedício
de dinheiro público! Pior ainda, ensinam mal, nunca produziram
nada de qualidade e no momento formam o baixo clero das federais.

A universidade deve ser viva e não uma mera repartição pública.
Infelizmente, no Brasil, isso é o que realmente os péssimos
alunos almejam!

Um abraço,

Gauss



Quoting Danielle Steffen <daniellesteffen@yahoo.com>:


Prof. Gauss,

Ha um porem na sua msg. A regra na academia NO BRASIL eh mostrar o mercado como sendo o refugo, com desprezo (em contraste nos Estados Unidos, em que eh enfocado a questao das vantagens comparativas), o lugar de quem nao tem capacidade acaba caindo, como se a pos-graduacao fosse o lugar dos "escolhidos", os "eleitos", os "especiais". Esse preconceito permeia fortemente diversas universidades e faculdades brasileiras. Eh um discurso completamente descolado com a realidade, porque boa parte do mercado e dos alunos acham que a academia eh na verdade a segunda opcao. O que acontece por fim eh que os alunos que desejavam ir para o mercado, mas que nao tem habilidades necessarias para tal, acabam usando a pos como refugio para conseguir mais tempo para de novo tentar ir ao mercado, agora com um mestrado ou com um doutorado.

Enquanto voces nao entenderem que a dualidade pos/mercado eh uma questao de vantagens comparativas que cada aluno apresenta, e que os alunos PRECISAM SER APRESENTADOS para as vantagens e desvantagens verdadeiras de ambos, voces vao continuar tendo uma quantidade grande de alunos de pos que sao, na verdade, refugo do mercado, porque nao conseguiram detectar a tempo que nao possuem habilidade para tanto. Pessoas desiludidas que foram desprezadas pelo mercado, que se sentem inferiores aos demais.

Eh isso que voces querem por alunos?

Abracos,
Danielle Steffen Sanchez
Estatistica ENCE/IBGE - 2003
Curso de Ciencias Moleculares/USP (inconcluso) - T2


--- Em ter, 5/5/09, gauss@deinfo.ufrpe.br <gauss@deinfo.ufrpe.br> escreveu:

De: gauss@deinfo.ufrpe.br <gauss@deinfo.ufrpe.br>
Assunto: [ABE-L]: Banalização da Pós!
Para: abe-l@ime.usp.br
Data: Terça-feira, 5 de Maio de 2009, 22:27
Caros Redistas,

O grande problema da pós-graduação no Brasil nos dias de
hoje é sua banalização decorrente da mediocridade e
corporativismo
existentes no cerne da universidade brasileira, saldo
algumas
exceções. Além da mediocridade existe outro fator
deletério:
a desonestidade.

Os mais jovens não sabem, mas nos anos 70 havia uma
propaganda
de cigarro em que o grande campeão Gérson (da copa de
1970)
dizia:

"Eu gosto de levar vantagem em tudo, certo?",

referindo-se a um marca que custava mais barato. Ficou
conhecida
como Lei de Gérson! Alguns alunos querem se aproveitar da
falta
de qualidade de certos cursos de pós-graduação em
benefício próprio,
como correr atrás do orientador mais "camarada"
para poder fazer
sua dissertação sem qualidade, sem se importar se
conhecem ou
não a área de estudo e, muito pior, de forma imoral.
Muitos
professores aceitam essa prática que penaliza fortemente o
curso e, mais ainda, o futuro profissisonal do aluno.

A proliferação dos cursos de graduação no Governo FHC
empurrou
a universidade brasileira para o mais baixo nível de
qualidade,
salvo as honrosas exceções de algumas universidades
públicas que
conseguem manter um bom nível em seus cursos.

O gigantismo da pós-gradução brasileira patrocinado pela
CAPES
é perverso, porque contempla alunos sem condições reais
de cursar
uma pós-graduação e, pior ainda, professores sem
conheciemnto
algum para orientar um trabalho de qualidade apenas
regular.
O máximo para esses alunos seria uma graduação mas se
arvoram
a fazer uma pós sem maturidade, trabalho e afinco nos
estudos.
Há até aqueles que querem fazer tudo isso à distância.

Como alguns sabem, por solicitação minha, foi
constituída
uma comissão de inquérito na UFRPE para apurar uma
dissertação
que foi defendida de forma desonesta. Vergonha das
vergonhas!
Mas nem todos os personagenes são professores da UFRPE
e há, também, um professsor uspeano. Meu objetivo não é
penalizar ninguém mas quero o canônico: o aluno de
mestrado
fazendo sua dissertação com esforço próprio, estudando
no local do curso e sendo orientado realmente por um
professor
que não seja "um orientador laranja", e não com
a
malandragem bem enfatizada nos autos da minha
solicitação.

Gostaria que ficasse registrado aqui, que se pelo menos uma
das pessoas envolvidas no processo faltar com a verdade dos
fatos, conforme esses me foram realmente relatados por
eles próprios (no período entre 20/12 e 15/1), eu irei
- sem titubear-, após o término do trabalho da comissão
de
inquérito, tornar público todos os detalhes dos autos aos
membros do comitê assesor da CAPES e ao Reitor da USP.

Por outro lado, se corroborarem com a verdade dos fatos,
uma
prova de boa conduta e arrependimento, o processo deverá
ser
encerrado no âmbito da própria UFRPE, com o parecer
soberano
da comissão de inquérito.

Muitos segmentos da universidade podem se comportar até
como
a "Casa-da-Mãe-Joana", mas se depender de mim,
nunca no local
em que eu trabalho com afinco e honestidade por mais de
12 horas/dia. E faço isso há 40 anos.

Cordiais Saudações,

Gauss Cordeiro


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