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Re: Banalização da Pós!



Caro prof. Gauss, Danielle e demais, 

Também ja observei alguns sair da academia (não conseguiram terminar pós-graduação) e ir para o mercado e outros que sair do mercado e voltar para a academia (fazer pós-graduação). Se todos atualmente estão felizes e ganhando dinheiro ou produzindo artigos, então o que ocorreu foi um erro de julgamento no que cada um achou inicialmente que seria a sua vocação. Talvez esse tipo de erro não ocorresse se na graduação o aluno já fizesse estágios e iniciação científica. Ambos! Portanto, não acho que os ruins vão para o mercado ou para a academia. Acho que é, ou deveria ser, uma questão de vocação. 

Há também aquele que arranjou um bom emprego e mais tarde volta a fazer pós, não porque desistem do mercado, mas para aperfeiçoamento. Por isso, acho que pensar que a pós graduação é apenas para pesquisador é uma visão simplificada, realidade de um país sub-desenvolvido. Nos países desenvolvidos, o mercado emprega mestres e doutores, que com certeza tem mais capacidade de modelar problemas mais complexos. Há PhDs em grandes empresas, alguns publicam e dão conferências nos congressos. A estatística de estudos clínicos, por exemplo, necessita de PhDs para atender às exigências do FDA (http://www.fda.gov/cder/Offices/Biostatistics/). 

Mesmo que haja uma "universalização" da pós graduação, com certeza sua banalização deve ser evitada. Via seleção, qualificação, exigência de artigos, etc. Aliás, pesquisa com qualidade é fundamental para o desenvolvimento pessoal, da ciência, da sociedade, etc. 

Talvez exista banalização no bacharelado também. Pois, é lamentável: 1) ver estatísticos aplicados fazendo regressão linear simples em séries temporais ou dados espaciais. 2) ver que demorou décadas a "popularização" do GLM. 3) ser ensinado apenas uma filosofia de inferência, minando a capacidade de entender novas técnicas. 

Nas diretrizes curriculares de 1999, fez-se a classificação de três perfis de estatísticos: pesquisador, educador, aplicado. A cada perfil foi sugerido uma grade curricular que restringe o que é ensidado em função do perfil (http://www.ime.usp.br/~asimonis/Dir.html). Não há licenciatura em estatística, portanto temos o pesquisador e o aplicado. O pesquisador é aquele que desenvolve técnicas, por isso justifica-se necessitar de probabilidade e inferência avançadas. Os aplicados precisam entender como usar as técnicas e aprender as técnicas novas (o mais rapidamente possível) para resolver melhor os problemas ou enfrentar problemas novos.

Da forma como está a graduação e a pós-graduação, quanto tempo vai demorar até ver o estatístico aplicado utilizar o modelo Generalized Weibull, PSGNM ou outros modelos do prof. Gauss, ou graphical models, ou outras técnicas recentes que são tão aplicáveis na prática? Não é possível aprender tudo num bacharelado. Um ponto positivo é que muitas técnicas modernas são rapidamente implementadas e disponibilizadas. 

No e-mail do prof. Jorge foi colocada uma visão muito difícil de implementar, dada a lei da inércia. Acho que seria mais fácil focar o ensino da estatística nos problemas, ou seja todo estatístico deve: 
1) saber o que é uma amostra aleatória, um experimento e um processo estocástico, um estudo longitudinal, etc.; ser capaz de identificar esses processos geradores de dados e saber identificar e estimar pelo menos os modelos mais simples para cada um (desde distribuições de probabilidade e seguindo por modelos de regressão, processos estocásticos, modelos de séries temporais, etc.) 
2) Pesquisador: Melhorar os métodos existentes e inventar novos métodos. Aplicado: Perceber quando não consegue resolver um problema com as técnicas que conhece e buscar outra técnica 
3) Ter facilidade de entender uma nova técnica, seja para que serve (o aplicado) e/ou detalhes teóricos (o pesquisador) 

Com isso, o aplicado não será apenas operador de software e estará preparado para resolver problemas novos e aprender coisas novas. E o pesquisador estará em condições de tornar verdade que "Like mathematics, history, and other fields, the intellectual domain of statistics is worthy of resources and development because it helps us understand our world and society in aggregate." Bertrand Clarke, IMS Bulletim, vol 36 issue 6, july 2007.

aT+,

Elias T. Krainski
http://geocities.yahoo.com.br/eliaskrainski


--- Em ter, 5/5/09, gauss@deinfo.ufrpe.br <gauss@deinfo.ufrpe.br> escreveu:

> De: gauss@deinfo.ufrpe.br <gauss@deinfo.ufrpe.br>
> Assunto: Re: [ABE-L]: Banalização da Pós!
> Para: daniellesteffen@yahoo.com
> Cc: abe-l@ime.usp.br
> Data: Terça-feira, 5 de Maio de 2009, 21:40
> Cara Danielle,
> 
> Concordo em gênero, número e grau com os pontos colocados
> no seu e-mail. Pode-se perceber que você é uma pessoa
> inteligente e muito antenada com a estatística.
> O que você diz apenas complementa (e muito bem) meu email.
> 
> Muito alunos escolhem fazer o mestrado e o doutorado
> por não serem absorvidos pelo mercado não-acadêmico que
> está muito mais seletivo e exigente. Parece uma ironia
> mas é uma verdade!
> 
> Fui professor de alguns graduados em estatística
> na UFPE há uns 10 anos que, após a conclusão da
> grduação,
> foram logo trabalhar em bancos. Depois não conseguiram
> dar conta do recado, ou seja, serem competitivos com outros
> profissionais num ambiente de trabalho altamente exigente.
> E, então, voltaram para fazer mestrado, por conta da
> maior facilidade em entrar num curso de pós-graduação
> que (muitas vezes) funciona como todo o serviço público:
> de forma bastante ineficiente.
> 
> Sei que muitos alunos fazem mestrado ou doutorado por falta
> de opção fora da academia e não têm nenhum entusiasmo
> pela universidade. Muitos que têm mestrado e doutorado
> podem
> apresentar até grande competitividade nos concursos
> públicos
> das universidades federais, pois a relação candidato/vaga
> pode ser muito baixa, sem terem até o mesmo conhecimento
> dos bons alunos graduados que estão trabalhando no
> mercado.
> 
> Em suma: nos anos 70 a maioria dos melhores alunos tinha
> grande élan pelos cursos de pós-graduação que conseguia
> atraí-los;  hoje, somente uma pequena parcela de bons
> alunos
> se entusiasma por esses cursos e alguns deles (menos
> conceituados)
> conseguem atrair muitos alunos ruins e desmotivados para a
> academia.
> Portanto, existe a banalização da pós-graduação bem
> enfatizada
> no meu texto. Que adianta ser um doutor que não publica
> nada
> de qualidade e ensina mal?
> 
> Conheço estatísticos que gastaram enre 10 e 13 anos para
> concluir um doutorado, fora 3 ou 4 de mestardo, financiados
> com
> salários de universidades federais e contemplados com
> bolsas
> de diferentes agências de fomento. Exemplo clássico de
> despedício
> de dinheiro público! Pior ainda, ensinam mal, nunca
> produziram
> nada de qualidade e no momento formam o baixo clero das
> federais.
> 
> A universidade deve ser viva e não uma mera repartição
> pública.
> Infelizmente, no Brasil, isso é o que realmente os
> péssimos
> alunos almejam!
> 
> Um abraço,
> 
> Gauss
> 
> 
> 
> Quoting Danielle Steffen <daniellesteffen@yahoo.com>:
> 
> > 
> > Prof. Gauss,
> > 
> > Ha um porem na sua msg. A regra na academia NO BRASIL
> eh mostrar o  mercado como sendo o refugo, com desprezo (em
> contraste nos Estados  Unidos, em que eh enfocado a questao
> das vantagens comparativas), o  lugar de quem nao tem
> capacidade acaba caindo, como se a  pos-graduacao fosse o
> lugar dos "escolhidos", os "eleitos", os
>  "especiais". Esse preconceito permeia fortemente
> diversas  universidades e faculdades brasileiras. Eh um
> discurso completamente  descolado com a realidade, porque
> boa parte do mercado e dos alunos  acham que a academia eh
> na verdade a segunda opcao. O que acontece  por fim eh que
> os alunos que desejavam ir para o mercado, mas que  nao tem
> habilidades necessarias para tal, acabam usando a pos como 
> refugio para conseguir mais tempo para de novo tentar ir ao
> mercado,  agora com um mestrado ou com um doutorado.
> > 
> > Enquanto voces nao entenderem que a dualidade
> pos/mercado eh uma  questao de vantagens comparativas que
> cada aluno apresenta, e que os  alunos PRECISAM SER
> APRESENTADOS para as vantagens e desvantagens  verdadeiras
> de ambos, voces vao continuar tendo uma quantidade  grande
> de alunos de pos que sao, na verdade, refugo do mercado, 
> porque nao conseguiram detectar a tempo que nao possuem
> habilidade  para tanto. Pessoas desiludidas que foram
> desprezadas pelo mercado,  que se sentem inferiores aos
> demais.
> > 
> > Eh isso que voces querem por alunos?
> > 
> > Abracos,
> > Danielle Steffen Sanchez
> > Estatistica ENCE/IBGE - 2003
> > Curso de Ciencias Moleculares/USP (inconcluso) - T2
> > 
> > 
> > --- Em ter, 5/5/09, gauss@deinfo.ufrpe.br
> <gauss@deinfo.ufrpe.br> escreveu:
> > 
> >> De: gauss@deinfo.ufrpe.br
> <gauss@deinfo.ufrpe.br>
> >> Assunto: [ABE-L]: Banalização da Pós!
> >> Para: abe-l@ime.usp.br
> >> Data: Terça-feira, 5 de Maio de 2009, 22:27
> >> Caros Redistas,
> >> 
> >> O grande problema da pós-graduação no Brasil
> nos dias de
> >> hoje é sua banalização decorrente da
> mediocridade e
> >> corporativismo
> >> existentes no cerne da universidade brasileira,
> saldo
> >> algumas
> >> exceções. Além da mediocridade existe outro
> fator
> >> deletério:
> >> a desonestidade.
> >> 
> >> Os mais jovens não sabem, mas nos anos 70 havia
> uma
> >> propaganda
> >> de cigarro em que o grande campeão Gérson (da
> copa de
> >> 1970)
> >> dizia:
> >> 
> >> "Eu gosto de levar vantagem em tudo,
> certo?",
> >> 
> >> referindo-se a um marca que custava mais barato.
> Ficou
> >> conhecida
> >> como Lei de Gérson! Alguns alunos querem se
> aproveitar da
> >> falta
> >> de qualidade de certos cursos de pós-graduação
> em
> >> benefício próprio,
> >> como correr atrás do orientador mais
> "camarada"
> >> para poder fazer
> >> sua dissertação sem qualidade, sem se importar
> se
> >> conhecem ou
> >> não a área de estudo e, muito pior, de forma
> imoral.
> >> Muitos
> >> professores aceitam essa prática que penaliza
> fortemente o
> >> curso e, mais ainda, o futuro profissisonal do
> aluno.
> >> 
> >> A proliferação dos cursos de graduação no
> Governo FHC
> >> empurrou
> >> a universidade brasileira para o mais baixo nível
> de
> >> qualidade,
> >> salvo as honrosas exceções de algumas
> universidades
> >> públicas que
> >> conseguem manter um bom nível em seus cursos.
> >> 
> >> O gigantismo da pós-gradução brasileira
> patrocinado pela
> >> CAPES
> >> é perverso, porque contempla alunos sem
> condições reais
> >> de cursar
> >> uma pós-graduação e, pior ainda, professores
> sem
> >> conheciemnto
> >> algum para orientar um trabalho de qualidade
> apenas
> >> regular.
> >> O máximo para esses alunos seria uma graduação
> mas se
> >> arvoram
> >> a fazer uma pós sem maturidade, trabalho e afinco
> nos
> >> estudos.
> >> Há até aqueles que querem fazer tudo isso à
> distância.
> >> 
> >> Como alguns sabem, por solicitação minha, foi
> >> constituída
> >> uma comissão de inquérito na UFRPE para apurar
> uma
> >> dissertação
> >> que foi defendida de forma desonesta. Vergonha das
> >> vergonhas!
> >> Mas nem todos os personagenes são professores da
> UFRPE
> >> e há, também, um professsor uspeano. Meu
> objetivo não é
> >> penalizar ninguém mas quero o canônico: o aluno
> de
> >> mestrado
> >> fazendo sua dissertação com esforço próprio,
> estudando
> >> no local do curso e sendo orientado realmente por
> um
> >> professor
> >> que não seja "um orientador laranja", e
> não com
> >> a
> >> malandragem bem enfatizada nos autos da minha
> >> solicitação.
> >> 
> >> Gostaria que ficasse registrado aqui, que se pelo
> menos uma
> >> das pessoas envolvidas no processo faltar com a
> verdade dos
> >> fatos, conforme esses me foram realmente relatados
> por
> >> eles próprios (no período entre 20/12 e 15/1),
> eu irei
> >> - sem titubear-, após o término do trabalho da
> comissão
> >> de
> >> inquérito, tornar público todos os detalhes dos
> autos aos
> >> membros do comitê assesor da CAPES e ao Reitor da
> USP.
> >> 
> >> Por outro lado, se corroborarem com a verdade dos
> fatos,
> >> uma
> >> prova de boa conduta e arrependimento, o processo
> deverá
> >> ser
> >> encerrado no âmbito da própria UFRPE, com o
> parecer
> >> soberano
> >> da comissão de inquérito.
> >> 
> >> Muitos segmentos da universidade podem se
> comportar até
> >> como
> >> a "Casa-da-Mãe-Joana", mas se depender
> de mim,
> >> nunca no local
> >> em que eu trabalho com afinco e honestidade por
> mais de
> >> 12 horas/dia. E faço isso há 40 anos.
> >> 
> >> Cordiais Saudações,
> >> 
> >> Gauss Cordeiro
> > 
> > 
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