De: gauss@deinfo.ufrpe.br <gauss@deinfo.ufrpe.br>
Assunto: Re: [ABE-L]: Banalização da Pós!
Para: daniellesteffen@yahoo.com
Cc: abe-l@ime.usp.br
Data: Terça-feira, 5 de Maio de 2009, 21:40
Cara Danielle,
Concordo em gênero, número e grau com os pontos colocados
no seu e-mail. Pode-se perceber que você é uma pessoa
inteligente e muito antenada com a estatística.
O que você diz apenas complementa (e muito bem) meu email.
Muito alunos escolhem fazer o mestrado e o doutorado
por não serem absorvidos pelo mercado não-acadêmico que
está muito mais seletivo e exigente. Parece uma ironia
mas é uma verdade!
Fui professor de alguns graduados em estatística
na UFPE há uns 10 anos que, após a conclusão da
grduação,
foram logo trabalhar em bancos. Depois não conseguiram
dar conta do recado, ou seja, serem competitivos com outros
profissionais num ambiente de trabalho altamente exigente.
E, então, voltaram para fazer mestrado, por conta da
maior facilidade em entrar num curso de pós-graduação
que (muitas vezes) funciona como todo o serviço público:
de forma bastante ineficiente.
Sei que muitos alunos fazem mestrado ou doutorado por falta
de opção fora da academia e não têm nenhum entusiasmo
pela universidade. Muitos que têm mestrado e doutorado
podem
apresentar até grande competitividade nos concursos
públicos
das universidades federais, pois a relação candidato/vaga
pode ser muito baixa, sem terem até o mesmo conhecimento
dos bons alunos graduados que estão trabalhando no
mercado.
Em suma: nos anos 70 a maioria dos melhores alunos tinha
grande élan pelos cursos de pós-graduação que conseguia
atraí-los; hoje, somente uma pequena parcela de bons
alunos
se entusiasma por esses cursos e alguns deles (menos
conceituados)
conseguem atrair muitos alunos ruins e desmotivados para a
academia.
Portanto, existe a banalização da pós-graduação bem
enfatizada
no meu texto. Que adianta ser um doutor que não publica
nada
de qualidade e ensina mal?
Conheço estatísticos que gastaram enre 10 e 13 anos para
concluir um doutorado, fora 3 ou 4 de mestardo, financiados
com
salários de universidades federais e contemplados com
bolsas
de diferentes agências de fomento. Exemplo clássico de
despedício
de dinheiro público! Pior ainda, ensinam mal, nunca
produziram
nada de qualidade e no momento formam o baixo clero das
federais.
A universidade deve ser viva e não uma mera repartição
pública.
Infelizmente, no Brasil, isso é o que realmente os
péssimos
alunos almejam!
Um abraço,
Gauss
Quoting Danielle Steffen <daniellesteffen@yahoo.com>:
>
> Prof. Gauss,
>
> Ha um porem na sua msg. A regra na academia NO BRASIL
eh mostrar o mercado como sendo o refugo, com desprezo (em
contraste nos Estados Unidos, em que eh enfocado a questao
das vantagens comparativas), o lugar de quem nao tem
capacidade acaba caindo, como se a pos-graduacao fosse o
lugar dos "escolhidos", os "eleitos", os
"especiais". Esse preconceito permeia fortemente
diversas universidades e faculdades brasileiras. Eh um
discurso completamente descolado com a realidade, porque
boa parte do mercado e dos alunos acham que a academia eh
na verdade a segunda opcao. O que acontece por fim eh que
os alunos que desejavam ir para o mercado, mas que nao tem
habilidades necessarias para tal, acabam usando a pos como
refugio para conseguir mais tempo para de novo tentar ir ao
mercado, agora com um mestrado ou com um doutorado.
>
> Enquanto voces nao entenderem que a dualidade
pos/mercado eh uma questao de vantagens comparativas que
cada aluno apresenta, e que os alunos PRECISAM SER
APRESENTADOS para as vantagens e desvantagens verdadeiras
de ambos, voces vao continuar tendo uma quantidade grande
de alunos de pos que sao, na verdade, refugo do mercado,
porque nao conseguiram detectar a tempo que nao possuem
habilidade para tanto. Pessoas desiludidas que foram
desprezadas pelo mercado, que se sentem inferiores aos
demais.
>
> Eh isso que voces querem por alunos?
>
> Abracos,
> Danielle Steffen Sanchez
> Estatistica ENCE/IBGE - 2003
> Curso de Ciencias Moleculares/USP (inconcluso) - T2
>
>
> --- Em ter, 5/5/09, gauss@deinfo.ufrpe.br
<gauss@deinfo.ufrpe.br> escreveu:
>
>> De: gauss@deinfo.ufrpe.br
<gauss@deinfo.ufrpe.br>
>> Assunto: [ABE-L]: Banalização da Pós!
>> Para: abe-l@ime.usp.br
>> Data: Terça-feira, 5 de Maio de 2009, 22:27
>> Caros Redistas,
>>
>> O grande problema da pós-graduação no Brasil
nos dias de
>> hoje é sua banalização decorrente da
mediocridade e
>> corporativismo
>> existentes no cerne da universidade brasileira,
saldo
>> algumas
>> exceções. Além da mediocridade existe outro
fator
>> deletério:
>> a desonestidade.
>>
>> Os mais jovens não sabem, mas nos anos 70 havia
uma
>> propaganda
>> de cigarro em que o grande campeão Gérson (da
copa de
>> 1970)
>> dizia:
>>
>> "Eu gosto de levar vantagem em tudo,
certo?",
>>
>> referindo-se a um marca que custava mais barato.
Ficou
>> conhecida
>> como Lei de Gérson! Alguns alunos querem se
aproveitar da
>> falta
>> de qualidade de certos cursos de pós-graduação
em
>> benefício próprio,
>> como correr atrás do orientador mais
"camarada"
>> para poder fazer
>> sua dissertação sem qualidade, sem se importar
se
>> conhecem ou
>> não a área de estudo e, muito pior, de forma
imoral.
>> Muitos
>> professores aceitam essa prática que penaliza
fortemente o
>> curso e, mais ainda, o futuro profissisonal do
aluno.
>>
>> A proliferação dos cursos de graduação no
Governo FHC
>> empurrou
>> a universidade brasileira para o mais baixo nível
de
>> qualidade,
>> salvo as honrosas exceções de algumas
universidades
>> públicas que
>> conseguem manter um bom nível em seus cursos.
>>
>> O gigantismo da pós-gradução brasileira
patrocinado pela
>> CAPES
>> é perverso, porque contempla alunos sem
condições reais
>> de cursar
>> uma pós-graduação e, pior ainda, professores
sem
>> conheciemnto
>> algum para orientar um trabalho de qualidade
apenas
>> regular.
>> O máximo para esses alunos seria uma graduação
mas se
>> arvoram
>> a fazer uma pós sem maturidade, trabalho e afinco
nos
>> estudos.
>> Há até aqueles que querem fazer tudo isso à
distância.
>>
>> Como alguns sabem, por solicitação minha, foi
>> constituída
>> uma comissão de inquérito na UFRPE para apurar
uma
>> dissertação
>> que foi defendida de forma desonesta. Vergonha das
>> vergonhas!
>> Mas nem todos os personagenes são professores da
UFRPE
>> e há, também, um professsor uspeano. Meu
objetivo não é
>> penalizar ninguém mas quero o canônico: o aluno
de
>> mestrado
>> fazendo sua dissertação com esforço próprio,
estudando
>> no local do curso e sendo orientado realmente por
um
>> professor
>> que não seja "um orientador laranja", e
não com
>> a
>> malandragem bem enfatizada nos autos da minha
>> solicitação.
>>
>> Gostaria que ficasse registrado aqui, que se pelo
menos uma
>> das pessoas envolvidas no processo faltar com a
verdade dos
>> fatos, conforme esses me foram realmente relatados
por
>> eles próprios (no período entre 20/12 e 15/1),
eu irei
>> - sem titubear-, após o término do trabalho da
comissão
>> de
>> inquérito, tornar público todos os detalhes dos
autos aos
>> membros do comitê assesor da CAPES e ao Reitor da
USP.
>>
>> Por outro lado, se corroborarem com a verdade dos
fatos,
>> uma
>> prova de boa conduta e arrependimento, o processo
deverá
>> ser
>> encerrado no âmbito da própria UFRPE, com o
parecer
>> soberano
>> da comissão de inquérito.
>>
>> Muitos segmentos da universidade podem se
comportar até
>> como
>> a "Casa-da-Mãe-Joana", mas se depender
de mim,
>> nunca no local
>> em que eu trabalho com afinco e honestidade por
mais de
>> 12 horas/dia. E faço isso há 40 anos.
>>
>> Cordiais Saudações,
>>
>> Gauss Cordeiro
>
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